(retirado daqui)
Guterres tentou vender a TAP. Sócrates tentou vender a TAP. E Passos
Coelho está a tentar vender a TAP. Diferenças, há uma: desta vez é muito
provável que aconteça. E a iminência da privatização assustou muita gente que,
passados estes anos, subitamente encontrou nessa intenção um plano neoliberal.
Não me vou alongar aqui acerca da privatização, que vejo como necessária para
salvaguardar a prestação de um serviço público de qualidade. O que pretendo é
discutir a opção do Governo pela requisição civil e este tipo de greves
drásticas como “arma” negocial. (…)
(…) alguns alegam que não são interesses particulares que
estão em jogo, mas sim a verdadeira defesa do interesse público – neste caso, a
resistência à privatização da TAP. Desculpem, mas não é verdade. Primeiro,
porque se a questão é a privatização, esse é um dossier político, a ser
debatido pelos partidos políticos com o Governo, e não pelos pilotos. Segundo,
porque nesta greve sempre estiveram em causa assuntos particulares, e não de
interesse público.
Para o confirmar, basta consultar a irrealista lista de exigências dos
sindicatos da TAP. E basta ver a razão que levou a que não se
conseguisse acordo entre estes e o Governo: os pilotos querem uma fatia maior das
acções da companhia, sem contrapartidas financeiras. Agora
expliquem-me: de que modo é que a pretensão dos pilotos, que impediu o acordo
entre sindicatos e Governo, é parte da defesa do interesse público?
O que me choca realmente é que
este tipo de iniciativas sindicais – irrazoáveis e claramente motivadas por
interesses particulares – reúna tamanho apoio na opinião pública. Mas aí está a
hipocrisia do debate: ninguém quer saber o que motiva os sindicatos, desde que
a oposição ao Governo seja feroz e provoque danos políticos. Daí que haja
tamanho aproveitamento político destas iniciativas sindicais por parte de partidos
políticos cuja representação na Assembleia da República é minoritária. É neste
ponto que estamos: o que verdadeiramente interessa a todos é que estas greves
são o mais apreciado e eficaz instrumento político para encostar ministros à
parede.
Ora, isso parece justificar tudo.
Incluindo afirmar, como faz Mariana Mortágua,
que esta greve defende os emigrantes portugueses, mesmo que estes ficassem
privados de passar o Natal em família (como se a privatização acabasse com as
rotas aéreas). Se as razões acima não fossem suficientes, até para combater
esta hipocrisia a requisição civil foi uma boa solução.
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