... recorde-se o que o
(na altura) Bastonário da Ordem dos Advogados António Marinho Pinto escreveu sobre ele no
"Diário do Centro".
MÁRIO
SOARES E ANGOLA
A polémica em torno das acusações das
autoridades angolanas segundo as quais Mário Soares e seu filho João Soares
seriam dos principais beneficiários do tráfico de diamantes e de marfim levados
a cabo pela UNITA de Jonas Savimbi, tem sido conduzida na base de mistificações
grosseiras sobre o comportamento daquelas figuras políticas nos últimos anos.
Espanta desde logo a intervenção pública da generalidade das figuras políticas
do país, que vão desde o Presidente da República até ao deputado do Bloco de
Esquerda, Francisco Louçã, passando pelo PP de Paulo Portas e Basílio Horta,
pelo PSD de Durão Barroso e por toda a sorte de fazedores de opinião,
jornalistas (ligados ou não à Fundação Mário Soares), pensadores profissionais,
autarcas, "comendadores" e comentadores de serviço, etc. Tudo como se
Mário Soares fosse uma virgem perdida no meio de um imenso bordel. Sei que
Mário Soares não é nenhuma virgem e que o país (apesar de tudo) não é nenhum
bordel. Sei também que não gosto mesmo nada de Mário Soares e do filho João
Soares, os quais se têm vindo a comportar politicamente como uma espécie de
versão portuguesa da antiga dupla haitiana "Papa Doc" e "Baby
Doc". Vejamos então por que é que eu não gosto dele(s). A primeira ideia
que se agiganta sobre Mário Soares é que é um homem que não tem princípios mas
sim fins. É-lhe atribuída a célebre frase: "Em política, feio, feio, é
perder". São conhecidos também os seus zigue-zagues políticos desde antes
do 25 de Abril. Tentou negociar com Marcelo Caetano uma legalização do seu (e
de seus amigos) agrupamento político, num gesto que mais não significava do que
uma imensa traição a toda a oposição, mormente àquela que mais se empenhava na
luta contra o fascismo.
JÁ DEPOIS DO 25 DE ABRIL, ASSUMIU-SE COMO O
HOMEM DOS AMERICANOS E DA CIA EM PORTUGAL E NA PRÓPRIA INTERNACIONAL
SOCIALISTA. Dos mesmos americanos que acabavam de conceber, financiar e
executar o golpe contra Salvador Allende no Chile e que colocara no poder
Augusto Pinochet. Mário Soares combateu o comunismo e os comunistas portugueses
como nenhuma outra pessoa o fizera durante a revolução e FOI AMIGO DE NICOLAU CEAUCESCU,
FIGURA QUE CHEGOU A APRESENTAR COMO MODELO A SER SEGUIDO PELOS COMUNISTAS
PORTUGUESES.
Durante a revolução portuguesa andou a gritar
nas ruas do país a palavra de ordem "Partido Socialista, Partido
Marxista", mas mal se apanhou no poder meteu o socialismo na gaveta e
nunca mais o tirou de lá. Os seus governos notabilizaram-se por três coisas:
políticas abertamente de direita, a facilidade com que certos empresários
ganhavam dinheiro e essa inovação da austeridade soarista (versão bloco central)
que foram os salários em atraso.
INSULTO
A UM JUIZ
Em Coimbra, onde veio uma vez como
primeiro-ministro, foi confrontado com uma manifestação de trabalhadores com
salários em atraso. Soares não gostou do que ouviu (chamaram-lhe o que Soares
tem chamado aos governantes angolanos) e alguns trabalhadores foram presos por
polícias zelosos. Mas, como não apresentou queixa (o tipo de crime em causa
exigia a apresentação de queixa), o juiz não teve outro remédio senão libertar
os detidos no próprio dia. Soares não gostou e insultou publicamente esse
magistrado, o qual ainda apresentou queixa ao Conselho Superior da Magistratura
contra Mário Soares, mas sua excelência não foi incomodado. Na sequência, foi
modificado o Código Penal, o que constituiu a primeira alteração de que foi
alvo por exigência dos interesses pessoais de figuras políticas. Soares é
arrogante, pesporrento e malcriado. É conhecidíssima a frase que dirigiu,
perante as câmaras de TV, a um agente da GNR em serviço que cumpria a missão de
lhe fazer escolta enquanto presidente da República durante a Presidência aberta
em Lisboa: "Ó Sr. Guarda! Desapareça!". Nunca, em Portugal, um agente
da autoridade terá sido tão humilhado publicamente por um responsável político,
como aquele pobre soldado da GNR. Em minha opinião, Mário Soares nunca foi um
verdadeiro democrata. Ou melhor é muito democrata se for ele a mandar. Quando
não, acaba-se imediatamente a democracia. À sua volta não tem amigos, e ele
sabe-o; tem pessoas que não pensam pela própria cabeça e que apenas fazem o que
ele manda e quando ele manda. Só é amigo de quem lhe obedece. Quem ousar ter
ideias próprias é triturado sem quaisquer contemplações. Algumas das suas mais
sólidas e antigas amizades ficaram pelo caminho quando ousaram pôr em causa os
seus interesses ou ambições pessoais. Soares é um homem de ódios pessoais sem
limites, os quais sempre colocou acima dos interesses políticos do partido e do
próprio país. Em 1980, não hesitou em APOIAR OBJECTIVAMENTE O GENERAL SOARES
CARNEIRO CONTRA EANES, NÃO POR RAZÕES POLÍTICAS MAS DEVIDO AO ÓDIO PESSOAL QUE
NUTRIA PELO GENERAL RAMALHO EANES. E como o PS não alinhou nessa aventura que
iria entregar a presidência da República a um general do antigo regime, Soares,
em vez de acatar a decisão maioritária do seu partido, optou por demitir-se e
passou a intrigar, a conspirar e a manipular as consciências dos militantes
socialistas e de toda a sorte de oportunistas, não hesitando mesmo em
espezinhar amigos de sempre como Francisco Salgado Zenha. Confesso que não sei
por que é que o séquito de prosélitos do soarismo (onde, lamentavelmente,
parece ter-se incluído agora o actual presidente da República (Mário Soares),
apareceram agora tão indignados com as declarações de governantes angolanos e
estiveram tão calados quando da publicação do livro de Rui Mateus sobre Mário
Soares. NA ALTURA TODOS METERAM A CABEÇA NA AREIA, INCLUINDO O PRÓPRIO CLÃ DOS
SOARES, E NEM TUGIRAM NEM MUGIRAM, APESAR DE AS ACUSAÇÕES SEREM ENTÃO BEM MAIS
GRAVES DO QUE AS DE AGORA. POR QUE É QUE JORGE SAMPAIO SE CALOU CONTRA AS
"CALÚNIAS" DE RUI MATEUS?".
"DINHEIRO
DE MACAU"
Anos mais tarde, um senhor que fora ministro
de um governo chefiado por MÁRIO SOARES, ROSADO CORREIA, vinha de Macau para
Portugal com uma mala com dezenas de milhares de contos. *A proveniência do**
dinheiro era tão pouco limpa que um membro do governo de Macau, ANTÓNIO
**VITORINO, *foi a correr ao aeroporto tirar-lhe a mala à última hora. Parece
que se tratava de dinheiro que tinha sido obtido de empresários chineses com a
promessa de benefícios indevidos por parte do governo de Macau. Para quem era
esse dinheiro foi coisa que nunca ficou devidamente esclarecida. O caso EMAUDIO
(e o célebre fax de Macau) é um episódio que envolve destacadíssimos soaristas,
amigos íntimos de Mário Soares e altos dirigentes do PS da época soarista.
MENANO DO AMARAL chegou a ser responsável pelas finanças do PS e Rui Mateus foi
durante anos responsável pelas relações internacionais do partido, ou seja,
pela angariação de fundos no estrangeiro. Não haveria seguramente no PS ninguém
em quem Soares depositasse mais confiança. Ainda hoje subsistem muitas dúvidas
(e não só as lançadas pelo livro de Rui Mateus) sobre o verdadeiro destino dos
financiamentos vindos de Macau. No entanto, em tribunal, os pretensos
corruptores foram processualmente separados dos alegados corrompidos,com esta
peculiaridade (que não é inédita) judicial: os pretensos corruptores foram
condenados, enquanto os alegados corrompidos foram absolvidos.
Aliás, no que respeita a Macau só um país sem
dignidade e um povo sem brio nem vergonha é que toleravam o que se passou nos
últimos anos (e nos últimos dias) de administração portuguesa daquele
território, com os chineses pura e simplesmente a chamar ladrões aos
portugueses. E isso não foi só dirigido a alguns colaboradores de cartazes do
MASP que a dada altura enxamearam aquele território.
Esse epíteto chegou a ser dirigido aos mais
altos representantes do Estado Português. Tudo por causa das fundações criadas
para tirar dinheiro de Macau. Mas isso é outra história cujos verdadeiros
contornos hão-de ser um dia conhecidos. Não foi só em Portugal que Mário Soares
conviveu com pessoas pouco recomendáveis. Veja-se o caso de BETINO CRAXI, o
líder do PS italiano, condenado a vários anos de prisão pelas autoridades
judiciais do seu país, devido a graves crimes como corrupção. Soares fez
questão de lhe manifestar publicamente solidariedade quando ele se refugiou na
Tunísia. Veja-se também a amizade com Filipe González, líder do Partido
Socialista de Espanha que não encontrou melhor maneira para resolver o problema
político do país Basco senão recorrer ao terrorismo, contratando os piores
mercenários do lumpen e da extrema direita da Europa para assassinar militantes
e simpatizantes da ETA. Mário Soares utilizou o cargo de presidente da
República para passear pelo estrangeiro como nunca ninguém fizera em Portugal.
Ele, que tanta austeridade impôs aos trabalhadores portugueses enquanto
primeiro-ministro, gastou, como Presidente da República, milhões de contos dos
contribuintes portugueses em passeatas pelo mundo, com verdadeiros exércitos de
amigos e prosélitos do soarismo, com destaque para jornalistas. São muitos
desses "viajantes" que hoje se põem em bicos de pés a indignar-se
pelas declarações dos governantes angolanos. Enquanto Presidente da República,
Soares abusou como ninguém das distinções honoríficas do Estado Português. Não
há praticamente nenhum amigo que não tenha recebido uma condecoração, enquanto
outros cidadãos, que tanto mereceram, não obtiveram qualquer distinção durante
o seu "reinado". Um dos maiores vultos da resistência antifascista no
meio universitário, e um dos mais notáveis académicos portugueses, perseguido
pelo antigo regime, o Prof. Doutor Orlando de Carvalho, não foi merecedor,
segundo Mário Soares, da Ordem da Liberdade. Mas alguns que até colaboraram com
o antigo regime receberam as mais altas distinções. Orlando de Carvalho só veio
a receber a Ordem da Liberdade depois de Soares deixar a Presidência da República,
ou seja logo que Sampaio tomou posse. A razão foi só uma: Orlando de Carvalho
nunca prestou vassalagem a Soares e Jorge Sampaio não fazia depender disso a
atribuição de condecorações.
FUNDAÇÃO
COM DINHEIROS PÚBLICOS
A pretexto de uns papéis pessoais cujo valor
histórico ou cultural nunca ninguém sindicou, Soares decidiu fazer uma Fundação
com o seu nome. Nada de mal se o fizesse com dinheiro seu, como seria normal.
Mas não; acabou por fazê-la com dinheiros públicos. SÓ O GOVERNO, DE UMA SÓ VEZ
DEU-LHE 500 MIL CONTOS E A CÂMARA DE LISBOA, PRESIDIDA PELO SEU FILHO, DEU-LHE
UM PRÉDIO NO VALOR DE CENTENAS DE MILHARES DE CONTOS. Nos Estados Unidos, na
Inglaterra, na Alemanha ou em qualquer país em que as regras democráticas
fossem minimamente respeitadas muita gente estaria, por isso, a contas com a
justiça, incluindo os próprios Mário e João Soares e as respectivas carreiras
políticas teriam aí terminado. Tais práticas são absolutamente inadmissíveis
num país que respeitasse o dinheiro extorquido aos contribuintes pelo fisco. Se
os seus documentos pessoais tinham valor histórico Mário Soares deveria
entregá-los a uma instituição pública, como a Torre do Tombo ou o Centro de
Documentação 25 de Abril, por exemplo. Mas para isso era preciso que Soares fosse
uma pessoa com humildade democrática e verdadeiro amor pela cultura. Mas não.
Não eram preocupações culturais que motivaram Soares. O que ele pretendia era
outra coisa. Porque as suas ambições não têm limites ele precisava de um
instrumento de pressão sobre as instituições democráticas e dos órgãos de poder
e de intromissão directa na vida política do país. A Fundação Mário Soares está
a transformar-se num verdadeiro cancro da democracia portuguesa." O livro
de Rui Mateus, que foi rapidamente retirado de mercado após a celeuma que
causou em 1996 (há quem diga que "alguém" comprou toda a edição)”.
2 comentários:
Pois tive um colega capturado nessa redada em Coimbra -digamos que ele odiava soares- mas passava ali por acaso. Foram anos com esse estigma às costas
Já é tempo de a Justiça analisar este sector Soares. Ou estará ele acima da Lei?
Marcos Freitas
Enviar um comentário