segunda-feira, 28 de julho de 2014

E aqui ficam mais 2...




... deste conjunto de 4 crónicas de Alberto Gonçalves:



Língua geográfica


Em Díli, Cavaco Silva garantiu que a CPLP se define através da língua e dos direitos humanos. Nem de propósito, a CPLP estendeu-se à Guiné Equatorial, onde a democracia é conceito discutível e onde se fala castelhano e dialectos. Mesmo no site do Governo local o anúncio da adesão foi feito apenas em espanhol, inglês e francês. Parece que o petróleo - e as pressões de Brasil e Angola - pesou nesta história. É a economia, estúpidos? Se calhar é, o que significa que pela primeira vez após anos de lirismo em redor das descobertas a CPLP descobriu uma razão de existir: a conversa da "projecção do português" era muito linda para juntar em cimeiras sujeitos que gostam de se juntar em cimeiras. Mas só.

Por pueril que soe dizê-lo em 2014, nem uma língua se "projecta" nem o seu peso depende de decisões políticas. O inglês não se tornou a língua franca dos nossos dias por decreto, e sim por causa da televisão e do cinema americanos, da música popular anglo-saxónica e da concentração das grandes empresas de informática na costa oeste dos EUA, que levam um fedelho a fazer search, download e convert antes de aprender a escrever "o popó da titi". Adicione-se, para os eruditos, o domínio do cânone literário contemporâneo, de Dickens ao "assimilado" Nabokov, de Fitzgerald a Bellow, e tem-se tudo aquilo que o português não tem e não terá. A pertinência dos escritores não aumenta ao enfiá-los no Panteão.


É grave? É assim. Os alemães, que em certo sentido (e apenas em certo sentido) possuem uma língua mais "restrita" do que a nossa, não se queixam. Os escandinavos, que comunicam em código cifrado, também não. E, coitados, vão vivendo, ao contrário dos guardiões oficiosos do português, que sofrem brutalmente com a respectiva insignificância. Em Setembro decorrerá em Brasília o Simpósio Linguístico-Ortográfico da Língua. O presidente da Academia de Letras lá do sítio publicou há dias um texto alusivo. O texto está repleto de locuções de sacristia e de erros primários, que ainda ninguém corrigiu. Em lugar de "projectar" o português, talvez fosse preferível escondê-lo.


Juventude inquieta



Com a excitação motivada pelos erros ortográficos de uma deputada socialista num texto do Facebook, ninguém reparou na publicação, já lá vão uns tempos, do novo romance de outra deputada socialista. Ninguém, ou quase ninguém, que o atento blogue Malomil fez há dias a indispensável recensão crítica de Apátrida, a obra com que Isabel Moreira demonstra aos escassos cépticos restantes que um assento parlamentar não só não é incompatível com o QI de Forest Gump como tal QI parece ser critério de admissão.

(imagem retirada de http://malomil.blogspot.pt)

Sobre o conteúdo de Apátrida, encaminho os curiosos para o blogue citado, acrescentando apenas que não consumo produtos alegadamente literários que incluam pérolas como: "unilateralidade sem dolo", "esmurra o vomitado nas casas de banho" e "fumei três ganzas e bebi uma garrafa de vinho tinto", embora a combinação de estupefacientes com o álcool justifique plenamente que se escreva assim. A mera frase "deus a mijar-se de medo pelas pernas abaixo" (limito as citações às transcritas no Malomil) resume a essência da coisa: uma adolescente com corpo de adulta e cérebro de criança convence-se de que, se enfileirar muitas letrinhas num ecrã de computador, obtém algo similar a um pequeno livro. Se encher o livro com o tipo de patetices usadas pelos petizes para maçar os parentes, consagra-se junto de 12 semianalfabetos como autora "irreverente". Há imensos irreverentes do género por aí, com sorte enclausurados nas EB 2/3. Com azar, habitam os auditórios das Fnac e o Parlamento. Antes de escrever livros, a Dra. Isabel devia experimentar ler pelo menos um.

domingo, 20 de julho de 2014

Ai batebate, bate com jeito! Ai batebate, esfrega ca mão! - ou Um muçulmano moderado

Das aventuras do Pato Donald







António, um rapaz de Lisboa





A cada semana, António Costa revoluciona a ciência económica. Primeiro foi a tese de que a riqueza é preferível à austeridade, inovadora aplicação na macroeconomia do princípio de Maria Antonieta. Depois, descobriu que o problema não é o excesso de licenciados, mas a falta de empregos para licenciados (criam-se os empregos e a chatice fica resolvida). Agora, explicou a uma embevecida plateia de sindicalistas que "não há crescimento sustentável com endividamento, mas também não há crescimento sustentável com empobrecimento", sentença que se comenta sozinha.

Se não se aproximassem as férias, o Dr. Costa ainda estaria a tempo de dizer que: 1) o investimento público é melhor do que o privado excepto nos casos em que o investimento privado é melhor do que o público; 2) o Estado social é sustentável desde que saia baratinho aos cidadãos; 3) Portugal não deve sair do euro enquanto os euros entrarem em Portugal; 4) pelo menos na perspectiva dos destinatários, os salários altos são preferíveis aos salários baixos; 5) o Pato Donald é um boneco.

Brincadeiras à parte, o que é isto? Não é de agora que Portugal não se pode queixar em matéria de produção de políticos absurdos. Mas entre as nulidades sem uma ideia na cabeça e o Dr. Costa, em cuja cabeça fervilham centenas de ideias desconchavadas, vai uma diferença considerável. Já nem falo da tentativa de vender o homem a título de salvador da pátria: falo do homem propriamente dito e da deprimente comparação com aqueles a quem sonha suceder. Ao pé do Dr. Costa, Passos Coelho passa por um modelo de estadista, Sócrates por um sujeito quase ponderado, Santana por um governante responsável, Barroso por um gigante do pensamento, Guterres por um paradigma da racionalidade financeira e Cavaco, ele sim, pelo salvador da pátria que nunca foi. Perante o Dr. Costa, até o jovem António José Seguro parece habitar o mesmo planeta que os restantes mortais.

Em suma, o Dr. Costa é um embaraço ambulante. Logo, provavelmente será depois do Verão o líder do PS e, se os amigos o mantiverem calado entretanto, hipotético primeiro-ministro no ano que vem. Um pessimista vê à distância e, na lógica do "depois de mim virá", tende a imaginar que espécie de calamidade pode aparecer ao País após o Dr. Costa. Um optimista desconfia que, após o Dr. Costa, é improvável haver País.



O BE que fica e o BE que parte




Em geral, tendemos a pensar no Bloco de Esquerda enquanto uma agremiação divertida. Dispõe bem contemplar à distância os movimentos de grupos, subgrupos e facções de um único indivíduo que diariamente abandonam esse partido moribundo a caminho do PS e das carreiras com que o PS, sobretudo o PS do Dr. Costa, lhes acena. O facto de todos os fugitivos se desculparem com a necessidade de "contribuir para convergências à esquerda" torna a brincadeira hilariante. O pormenor de todos se esconderem atrás de siglas, organizações, princípios e estatutos solenes eleva a brincadeira ao nível da grande comédia.

Ocasionalmente, porém, um pedacinho da realidade irrompe para nos lembrar da natureza do BE, e de que esta não é só galhofa. O Médio Oriente, por exemplo. Bastou Israel reagir aos constantes ataques sofridos a partir de Gaza para o BE vir falar em "banho de sangue" e propor as sanções económicas do costume. E o costume inclui o desprezo do BE face a um Estado civilizado e a simpatia pela barbárie mais à mão. O costume é o BE negar as "causas" que lhe valeram 15 minutos de fama em favor do seu exacto reverso.

O ódio aos ricos? Os líderes de Gaza passeiam-se em aviões de luxo e apascentam fortunas em contas offshore. Os direitos LGBT? Em Gaza a homossexualidade é punida por lei e os seus praticantes fogem da tortura rumo a uma certa nação vizinha. A igualdade de género? A islamização do território reduz as mulheres a um pechisbeque silencioso e reprodutivo. A violência doméstica? Calcula-se que mais de metade das mulheres locais seja espancada pelos maridos pelo menos uma vez por ano - tradicional e recatadamente. E há as restrições às artes e à internet. O racismo oficial. A imposição violenta da "virtude". As conversões forçadas de cristãos. E, numa prática que o BE lamentará não se usar por cá, o fuzilamento de dissidentes.

Sob o verniz da trupe burlesca e as mesuras progressistas para consumo dos simples, o BE, o que parte e o que resta, é essencialmente isto: criaturas avessas à democracia que usam o sistema democrático para ganhar a vida. Darmo-nos ao trabalho de as distinguir é tão inútil quanto perguntar-lhes porque é que a indignação que Gaza lhes suscita não se estende à Síria ou ao Egipto. Ou porque é que só nas recentes implosões eleitorais descobriram intolerante um partido que nunca foi outra coisa. Ou porque é que, em suma, se confere relevância pública a declarados ou dissimulados inimigos do público.



Um mundo de fantasia




Desde os 10 ou 11 anos que não leio banda desenhada, incluindo aquelas de super-heróis. Se lesse, não as reconheceria. Ao que consta, Thor (o semideus escandinavo com martelo de São João) é agora uma mulher. E o Capitão América vai ser preto, perdão, afro-americano. Mas, informam os autores da mudança, não será um afro-americano qualquer, e sim "um homem moderno em contacto com os problemas do século XXI". Isto é, o novo Capitão América "terá uma maior empatia com os mais desprivilegiados" já que, cito, "foi assistente social". Apetecia-me deixar um comentário sobre a terminal idiotia do nosso tempo. Porém, enquanto o Homem-Aranha não for "transgénero" e Hulk não acumular as aventuras com a presidência de um observatório, julgo ainda haver esperança.


quinta-feira, 17 de julho de 2014

Ventos político-financeiros




Não consigo perceber a insistência histérica do PCP em exigir a nacionalização do BES.

Ou será que percebo...?

terça-feira, 15 de julho de 2014

Portugal por...






Contracultura

Não vou mentir: houve um momento em que quase duvidei da capacidade de António Costa para regenerar o País. A culpa não é minha. Sucede apenas que, de tanto se habituar a políticos medíocres, uma pessoa sente dificuldade em distinguir a grandeza à primeira vista. Porém, à segunda não falha.

A minha epifania com o Dr. Costa aconteceu no dia em que li o manifesto "A Cultura apoia António Costa", e reforçou-se no dia em que o Dr. Costa se reuniu com "centenas de intelectuais" disposto a demolir convenções caducas. Em situação de crise, o populista comum falaria do desemprego e prometeria trabalho, falaria da dívida e prometeria crescimento, falaria dos pobres e prometeria compaixão. E melhor saúde e justiça mais equitativa, e educação mais capaz. O Dr. Costa ignorou estas palermices, foi directo ao que de facto importa e prometeu um Ministério da Cultura. A casa, no caso o Mercado da Ribeira, em Lisboa, veio abaixo - felizmente em sentido figurado.

Confesso que me rendi naquele momento. Não faz sentido pensar em distribuir benesses aos pobres ou à classe média sem antes assegurar que os intelectuais recebem a sua parte do bolo. Nas palavras, sempre belas, da escritora Lídia Jorge, "o sector cultural é um pulmão do corpo social", e ninguém de boa-fé deseja que Portugal sufoque. De que serviria uma economia pujante (as pernas da sociedade) ou o equilíbrio das contas públicas (os cotovelos) se a Cultura, com gigantesco C, agoniza com enfisema por falta de intervenção estatal? Dito de outra maneira, de que nos vale uma nação próspera em que a dona Lídia carece dos estímulos necessários à respectiva obra?

E quem diz a dona Lídia diz qualquer um dos intelectuais empenhados em consagrar o Dr. Costa, os quais, por definição, sabem aquilo que nos convém a todos. Se Virgílio Castelo recomenda o Dr. Costa, para mim chega. E se Luís Represas também o faz, para mim sobra. Eu quero estar onde estão Paco Bandeira e Tomás Taveira, Io Apolloni e Maria do Céu Guerra, Nicolau Breyner e Isabel Alçada, o Sr. Júlio do cavaquinho e António Mega Ferreira, Diogo Infante e Júlio Pomar. Por que carga de água duvidaria da superior percepção, face aos mortais, do realizador João Canijo e da fadista Mísia? Haverá alguém suficientemente burgesso para questionar o caminho apontado por Ana Zanatti e Alice Vieira?

Agora a sério. O ódio da "Cultura" à independência e à liberdade, passe a redundância, talvez não seja tão grande quanto o desprezo pela sociedade que diz ajudar a respirar. Ainda assim, não sei o que é pior, se a desmesurada presunção dos vultos citados, se a possibilidade de no eleitorado haver uma quantidade significativa de gente influenciável pelos vultos. Caso a haja, merece tudo de mau, incluindo a Cultura dos simples e o Dr. Costa.


O regresso das caravelas

Antes do jogo do Brasil com a Alemanha, um colunista do jornal Globo acusou a Presidente indígena de usar o Mundial de futebol como indicador do sucesso do seu Governo. Não sei quem vive mais fora da realidade, se o colunista se a dona Dilma. Em matéria de "projecção" internacional, realizar um evento daquelas dimensões no Brasil foi uma ideia tão luminosa quanto fazer um filme promocional de Dresden em 1945. Ao começar por chamar a atenção para a bola, o Mundial acabou a chamar a atenção para o resto: a miséria, a violência, a repressão, o caos, o atraso, a corrupção e uma economia que, há um par de meses, o responsável de um banco dinamarquês considerou a pior entre as dezenas de países que visita anualmente.

Aparentemente, a ideia, típica dos populismos latinos e de dois ou três regimes do hemisfério norte, era a de que o êxito desportivo disfarçaria o desastre fora do desporto. Ao que consta, o Brasil levou com sete golos e cada um ajudou a realidade a aproximar-se da superfície: o campeão mundial dos fracassos (cito de novo o Sr. Steen Jakobsen) conquistou mais um triunfo. E, se reeleger uma criatura com o esclarecimento e a seriedade da dona Dilma, não ameaça perder o título nos próximos tempos. Os tumultos e as lágrimas posteriores à goleada sugerem que a realidade local, submersa em doses variáveis de ressentimento e sentimentalismo, continua a ser um mistério para os autóctones.

E para muitos estrangeiros também. Numa daquelas rajadas de inanidades que alegram o dia de qualquer um, o sociólogo Boaventura de Sousa Santos apareceu a explicar que a União Europeia "morreu com a crise grega" e que Portugal e a Europa devem procurar "alternativas, olhando para o Sul global". Ao cuidado dos que já desataram a rir, informo que o melhor ainda vem aí. Ei-lo: é urgente um "regresso das caravelas", com uma "política renovadora de conhecimento", em busca da "inovação e das experiências de luta e de resistência do Sul".

Traduzido em português menos alucinado: a Grécia (e Portugal) arruinou-se, logo há que encobrir as causas da ruína - em suma o excesso de estatismo, a inépcia e a trafulhice - e proclamar a falência do projecto europeu, que por sua vez abre as portas à aprendizagem com calamidades em forma de nação, do Brasil à Venezuela, da Bolívia ao Uruguai. Num ápice, os gregos (e os portugueses) ficariam com saudades da penúria vigente, mas sofreriam uma penúria terminal arquitectada pelo Dr. Boaventura, obviamente um consolo. No fundo, dado que o prestígio dos idiotas aumenta em função da desgraça alheia, trata-se de convencer os alcoólicos a acrescentar ao currículo os prazeres do jogo e da cocaína.

Em princípio, é improvável que um adulto diga estas coisas a sério. Sucede que, no Sul das "alternativas", milhões de adultos não só dizem coisas similares: pensam-nas e votam em conformidade. Não admira que o Sul desperte a inveja da Terra. E não admira que, numa prolongada vénia ao absurdo, o Dr. Boaventura arrisque um comentário sobre a selecção portuguesa, que acha "o espelho do País: sem soberania e sem aspirações". Miremo-nos, pois, no Brasil. As caravelas estão prontas?


O que é preciso é saudinha

Só um coração empedernido não se comoveria face à greve dos médicos, sempre a zelar pelo bem-estar dos utentes. No Telejornal, um utente particularmente felizardo explicava que fizera 70 quilómetros para uma consulta que, afinal, não houve. Como ele, muitos viram as consultas adiadas ou canceladas. Aos mais afortunados aconteceu o mesmo com as cirurgias.

Em Portugal, morrem por ano cerca de três mil pessoas por negligência médica ou, para usar um termo brando, por "evento adverso". A Deco calcula que 60% dos portugueses receiam ser vítimas de erros médicos e que 58% já se queixaram formalmente dos ditos. Não é preciso ser sobredotado para perceber que um simples dia de greve reduz em 1/365 semelhante flagelo, que um mês e pouco de greve reduziria o flagelo em 10% e que uma greve permanente e ininterrupta acabaria com o flagelo de vez.

Quando se acusa a classe médica de corporativismo, esquece-se que nenhuma outra corporação assumiria com tamanha frontalidade as próprias limitações e falhas. E quando os médicos dizem que a sua "luta" é em defesa da nossa saúde, não estão a brincar. Até porque, é sabido, com a saúde não se brinca.

domingo, 13 de julho de 2014

E não é que ela descobriu a pólvora?!

Esplendor socialista

Tudo junto: cronies, amigos de cleptocratas, defensores de coisas verdes, reconstrutores do mundo.

Corrupção é isto.

"Actualmente, Manuel Pinho lecciona na School of International and Public Affairs, na Universidade de Columbia, numa cátedra sobre energias renováveis patrocinada pela EDP. Paralelamente, mantém-se vice-presidente do BES África."

...

"Este sábado o semanário Expresso fez manchete sobre o BES desconhecer beneficiários de 80% da carteira de crédito do banco. Segundo o Expresso, o BES Angola terá perdido o rasto a 5,7 mil milhões de euros."

A EDP é hoje o verdadeiro Ministério da Cultura "patrocinando" tudo quanto é artista. A "arte" e a "cultura" de braço dado à mais pura e dura corrupção. Eles acham bem, é uma empresa "boa" de regime.

Corrupção, como diz um amigo meu do centro do país, não é o tosco negócio de ganhar a custas de outro, pela calada. É pura corrupção a que nem permite perceber-se que se entregou a alma ao diabo.

sábado, 5 de julho de 2014

Rui Tovar por Nuno Rebocho





Recordando um amigo – Rui Tovar


Há anos que o não via nem com ele falava, mas tinha por ele uma longa amizade – desde que, em 1974, pouco antes da revolução, o conheci na redacção do velho “República”, onde então trabalhava, como revisora, a minha mulher. Desde essa época aprendi a respeitar o bom Rui Tovar e manter com ele amizade enquanto a vida o ia atirando de redacção para redacção, tantas vezes ao sabor das ondas do amor pela liberdade e democracia que nos unia – o antigo “Século”, o “Dia”, as bancas da “Rádio Comercial”.

Morreu o Rui Tovar. Ele, que abominava colocar-se em bicos de pés, foi notícia em todos os jornais e poderia ter falecido com a consolação de que até aqueles que o criticavam e ferozmente o perseguiram, afinal, o admiravam… até quando o procuravam isolar. Vamos descobrindo tais coisas à medida que envelhecemos.


Algumas vezes o visitei. Com alguma constância quando nos uniu a mesma revolta contra a extinção da ANOP (de boa memória) ou quando eu buscava colaborações para o “Novo Observador”, onde fui subchefe de redacção, ou o Carlos Plantier mo invocava nas mesas do “Jornal Novo” e, depois, de “A Tarde”. Tive então oportunidade de conhecer de perto as suas capacidades como jornalista, dos melhores, sempre amplamente informado do assunto que, como poucos, dominava – o desporto.


Foi com indignação que assisti à perseguição que os sicofantas (que hoje vejo chorarem “lágrimas de crocodilo”) lhe moveram. Tentaram arrasá-lo e hoje incensam-no. Muitas vezes por motivos politiqueiros (porque o Rui não se vendia nem se bandeava e sempre recusou os acenos dos inimigos da liberdade e rechaçou qualquer forma de censura), tantas vezes por ciúme ou inveja: a verdade é que quantos o amesquinhavam pouco ou nada valiam.


Custa-me este comportamento de “duas caras” que se tornou hábito de muita gente. Bem sei que “todos os mortos são bons”, sobretudo porque já não pode directamente denunciar as infâmias. Todavia, o dever da amizade, do respeito e solidariedade que, para com ele, tinha impele-me a condenar veementemente a reles hipocrisia de certos sabujos que, infelizmente, cada vez mais encharcam os meios de Comunicação Social.


Nuno Rebocho 

Luís Morgadinho, No país dos lambe-botas
(imagem recolhida aqui)