Na tradição, claro, eram
flores de alho e rosas brancas. E os monstros tradicionais, literários ou
doutra área incluindo a quotidiana, ficavam apardalados!
Digamos desta forma. O que
eles sentiam era um incómodo muito salutar (para os que eles queriam morder,
claro, que para eles era uma apoquentação que, em geral, antecedia a picada da
proverbial estaca de madeira bem no centro do meio do coração (que não tinham?).
Mas os tempos, mesmo os literários
ou de outras áreas...de retórica romba, mudaram. Ainda que não para melhor. E,
vai daí, os antídotos contra a tropa vampiresca também diversificaram o seu
cunho, a sua estrutura resistente.
E é aí que entram as amêndoas, os
bolos fintos, o coelho de cachafrio e o anho assado da minha região, as outras
coisas todas, saborosas e delicadas, das regiões de cada um.
Festejando, fruindo, ora pois não, a
Festa. A festa de cada um com aqueles que nos são queridos.
E - querem crer?! - já que estamos
em tempos de Páscoa e a alegria da confraternização nunca eles nos conseguirão
tirar (o que a vampiragem menos gosta é de gente determinada a não se
quedar macambúzia, descoroçoada, inerme frente ao temporal destino duma pátria
madrasta) insistamos em nos mantermos aprumados, vivos e ao alto
pois, como dizia Teófilo, "não basta que se esteja na posição
vertical, é preciso manter-se nela".
Nesta altura, desta natural e
específica maneira. E alma até Almeida!
Muito Boas Festas vos deseja o
vosso, com os proverbiais abrqs e bjh
ns
PÁSCOA
1.Vem dos tempos antigos a voz desse
tempo - antigos para mim, do meu tempo e não da História: era eu que levava ao
forno da padaria do senhor Júlio que fumava de boquilha e tinha um dente de
ouro (padeiro fino, não sei se me entendem) as latas com os bolos-fintos e as
"enxovalhadas" ou boleimas que a Mãe e a Mana artilhavam com saberes
de magas.
Eu não sabia que era feliz. Só sabia que naqueles dias, naquele tempo de
férias da escola, me davam amêndoas, me davam bolinhos doces, me davam alegrias
e o Pai até umas suaves moedinhas...
Eu não sabia que era feliz - e na sexta-feira às 3 da tarde soava o
apito da fábrica e isso assinalava que alguém, há muito tempo, morrera de morte
triste numa terra do Oriente. E sentia-se um estranho silêncio enquanto o apito
soava. E eu sentia um frémito porque eu gostava desse alguém que há muito tempo
morrera - sem me preocupar se ele era isto ou aquilo.
Era um estremecimento, digamos um abraço solidário que ia de mim para
ele, porque eu era criança. Ou seja: tinha tantos séculos!
E não sabia, nessa altura, muitas coisas - só um poucochinho, um
poucochinho mais do que sei hoje.
2. Ao longe a serra, ao longe como os tempos que passaram. Tempos de páscoa, serras de páscoa, recordações de momentos que depois preencheriam dias e lembranças.
Amêndoas, bolos desta terra e
daquela, festarolas tradicionais? Sim, isso tudo. E o mais que a emoção dá, que
é ir-se vivendo com um resto de inocência e de fraternidade vital.
Dentro de nós, fora de nós: para
nós e para os outros - que também tiveram/terão o seu tempo de maravilhamento e
nostalgia.
Nicolau Saião, Ecce Homo, vitral
2 comentários:
Bela celebração. Chapelada e...Boas Festas também para si
Amélia Mesquita
Óié!
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