sexta-feira, 31 de agosto de 2012

EM ESPANHA, COM BOM VENTO…





   Como disse Torga num seu poema do tomo "Poemas Ibéricos", celebrando o nosso homem, "Dom Miguel.../Fazia pombas brancas de papel,/ E guardava a mais pura na lapela."...

   Pois bem, é mesmo este Dom Miguel, o grande Unamuno que soube ver em Portugal "um povo de suicidas" (suicidados pela circunstância baixamente lusa, que até hoje dura e de que maneira?) que os XV Encontros Ibero-Americanos de Cultura irão ter como figura central nos dias 3 e 4 de Outubro na cidade de Salamanca.

   Aqui vos deixo em anexo, atalhando caminho e de forma cabal, a peça que as Agencias noticiosas espanholas, portuguesas e sul-americanas difundiram há um par de dias e que até a nossa santa TV, normalmente tão desatenta para tudo o que não seja bola e talk-shaws, não se deu ao descaramento de ocultar... O que só lhe fica bem!

   Para ter mais salero, a notícia vai no original espanhol.

 Como detalhe mínimo, mas defensável dum ponto de vista da humana cordialidade, consintam que refira que entre os diversos participantes dos diferentes países vou ter o gosto de ali reencontrar o poeta Gabriel Chavez Casazola, um dos mais significativos autores bolivianos da contemporaneidade e que foi meu seguro confrade na Bienal de Fortaleza.




Poetas iberoamericanos y españoles dedicarán su XV Encuentro a Unamuno


Estatua de Miguel de Unamuno frente a la que fuera su casa.


   El homenaje se llevará a cabo en el Teatro Liceo

Año tras año, se dan cita poetas de diferentes latinoamerica y este año decidieron hacerlo en homenaje de uno de los más grandes pensadores de España

  SALAMANCA, ESPAÑA.- Miguel de Un amuno será la estrella del XV Encuentro de Poetas Iberoamericanos que, bajo el título "Di tú que he sido", reunirá en Salamanca en 3 e 4 de octubre a escritores de Brasil, Venezuela, República Dominicana, Bolivia, Perú, Cuba, México, Ecuador, Portugal y España.

    El Teatro Liceo de la capital salmantina acogerá el evento los días 3 y 4 de octubre, coordinado por el poeta hispanoperuano Alfredo Pérez Alencart, informaron fuentes del Ayuntamiento de Salamanca.


  El pintor Miguel Elías ha preparado la ilustración de una antología, así como los retratos de todos los poetas invitados a esta cita  con el título ''Di tu que he sido'' extraido de uno de los versos del poema ''Salamanca'' del autor español

  Entre ellos figuran Pablo de Tarso Correia de Melo (Brasil), José Pulido (Venezuela), Basilio Belliard (República Dominicana), Gabriel Chávez Cazasola (Bolivia), Héctor Ñaupari (Perú), Reinaldo García Ramos (Cuba), Juan Ángel Torres Rechy (México), Aníbal Fernando Bonilla (Ecuador), Nicolau Saião (Portugal)
*, junto a los españoles Santiago Redondo (Valladolid), Rafael Soler (Valencia), Miguel Velayos (Ávila) y José Amador Martín (Salamanca).

  La publicación incluye también textos de Efraín Bartolomé (México), Juan Antonio Massone (Chile), Washington Benavides (Uruguay), los españoles Verónica Amat y Juan Carlos López, así como los brasileños Edir Meirelles, Marcia Barroca, Messody Benoliel, Jucara Valverde y Luiz Gondim.

   El encuentro, que coincide con los actos de conmemoración del 75 aniversario de la muerte del filósofo, que se desarrollan durante este año en Salamanca, será clausurado con la conferencia titulada "Unamuno poeta", que estará a cargo del presidente del Pen Club de Brasil y antiguo alumno de la Universidad de Salamanca (USAL), Claudio Aguiar.
………………
* (Para além da antologia, em tradução de Alfredo Pérez Alencart, colaboro com o texto “Unamuno no Além recordando os campos da Ibéria”)



segunda-feira, 27 de agosto de 2012

TEXTOS DIVERSOS (4)




O macaco e a essência


   Tempos atrás vi na TV uma cena que me esclareceu para sempre sobre as misérias e as grandezas da actividade pública – política, religiosa, militar, desportiva, judicial. Com um famoso condutor de massas, um desses seres excepcionais que movem multidões? 

  Nem por sombras!

  O protagonista que me elucidou foi um humilde vigarista de bairro.

  Melhor dizendo: modesto, insinuante. Com uma forma de estar na vida que depressa conquistou – pois participava num talk show posto a correr por uma esbelta serigaita das nossas noites televisivas – a assistência que o ouvia, quase fascinada.

  O inspector da polícia que em tempos o prendera, também presente no programa, bem se fartou de prevenir os espectadores de que era mesmo aquela a técnica de que o indivíduo se servia para perpetrar os seus golpes. E que propiciava que um simples mortal, depois de o ouvir, lhe entregasse tudo o que ele queria. “Já vos conquistou a todos!” - dizia o pobre chui (polícia) em desespero de causa – “ Digam lá se agora não entravam no negócio que ele vos propusesse…”. E o simpático vigarista, com um sorriso fraternal no rosto aberto e franco, saiu do cenário coroado por uma enorme salva de palmas.



Da série "Monstrinhos lusitanos"


   Eu e milhares como eu, decerto, acolhemos com proveito a inapreciável lição que ali nos fora dada.

  Lembrei-me disto e também de uma notícia referente ao ex-ministro Alain Joupé, que tinha tempos atrás sido condenado a 18 meses de prisão, com pena suspensa (é sempre pena suspensa a que estes ilustres cidadãos apanham), para além de 10 anos de impedimento de se candidatar a qualquer cargo – por ter cavilosamente manipulado uns dinheiritos chegados aos seus bolsos de forma esquisita.

  Ora o Supremo Tribunal, instado a pronunciar-se, reduziu para catorze meses a pena aplicada, além de considerar que lhe bastava um aninho de travessia do deserto. E o nosso homem agora soma e segue…

  Em 1999, num encontro sobre Literatura Policial numa cidade francesa, defendi a tese de que “o sistema judicial é o cancro que está a destruir a Democracia”, a qual foi bem acolhida pela assistência que me quis ouvir. E disse ainda que o sistema judicial politicamente correcto, eticamente corrompido até à medula, não o era devido a magistrados receberem dinheiros desta ou daquela entidade mas sim por no seu coração e no seu cérebro – com as naturais excepções - aceitarem o jogo de que os poderosos são seus irmãos de cena e portanto credores de cuidados especiais, aliás generosamente dispensados.

   Mediante o estatuto granjeado pelas suas qualificações pessoais – companheirismo de formatura, de família (pessoal ou política), lábia poderosa e poderoso desembaraço, preparação e cultura – o homem público cai no goto do vulgus pecus e daí em diante praticamente tudo lhe é consentido. Passou-se com Joupé como se tem passado com outros simpáticos safardanas europeus e mundiais, que quais sempre-em-pés logo se erguem e seguem triunfantes ou pelo menos perdoados mal os atira a terra uma vigarice ou um acto assacanado. Ou o simples desprezo que acalentam pelo povo, sobre o qual tripudiam com o beneplácito dum universo societário podre e complacente para com esses irmãos naturais, que aliás lhe pagam com juros deixando os seus próceres bem ancorados no seu específico conforto corporativo.

   E tudo isto é mais eficaz – e muito mais inquietante - que a simples vigarice dum tratantezito de bairro…

  in As vozes ausentes

Da saga do eterno e bem socialista investimento "virtuoso" ...

O TVG Los Ângeles - San Francisco.

O "estímulo", "estímulo", "estímulo", "estímulo", "estímulo", "estímulo", "estímulo", .....

sábado, 25 de agosto de 2012

Neil Armstrong - 1930-2012


Conversa entre Olavo de Carvalho e Cesar Maia

[A qualidade de som de Cesar Maia é má]

A situação no Brasil e deste na América do sul.

Dilma tenta ajudar Chaves via Foro de S. Paulo.

Dilma tenta incorporar o Brasil no bloco bolivariano.

Brasil aposta em obras públicas sem significado macro-económico para tentar esconder que a economia brasileira está parada, que a indústria perdeu competitividade internacional, que a taxa de investimento relativo ao PIB caiu para 17%, da situação delicada da economia brasileira, com bolha de crédito, ...

As novas formas de organização dos comunistas globalistas.

O PT controla directamente todos os fundos de pensões.

O PT como isco ao crony capitalism ... como fazia Hitler, colocar o empresariado de joelhos.

A esquerda e a ocupação de espaço na media, ensino, cultura, etc, etc.


quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Nivaldo Cordeiro: A social democracia e as eleições nos EUA


Os EUA são o país em que a social-democracia, em crise no mundo todo, não alcançou hegemonia, de sorte que podemos ter, nas próximas eleições, a chegada ao poder da plataforma política republicana, comprometida com o desmonte do Estado gigante. Será uma ruptura e uma resposta à crise que assombra a mundo todo, com a derrocada da social-democracia. Os impactos podem ser muito poderosos, inclusive gerando referencial teórico e político para que o conservadorismo surja como contraponto e solução para a crise mundial. A esquerda social-democrata perderá a hegemonia. Se a crise for resolvida com a receita conservadora poderemos ter um projeto político para o futuro consolidado, por muitas décadas.

Corrupção: socialismo

No Estadão, por Demétrio Magnoli, via Nivaldo Cordeiro:


A assinatura da deputada Nice Lobão - campeã em faltas na Câmara e esposa do ministro Edison Lobão, protegido de José Sarney - no projeto de lei de cotas nas instituições federais de ensino superior e médio é um desses acasos repletos de significados. Por intermédio de Nice, a nova elite política petista se abraça às elites tradicionais numa santa aliança contra o princípio do mérito. Os aliados exibem o projeto como um reencontro do Brasil consigo mesmo. De um modo perverso, eles têm razão.

Nunca antes uma democracia aprovou lei similar. Nos EUA as políticas de preferências raciais jamais se cristalizaram em reservas de cotas numéricas. Índia e África do Sul reservaram parcelas pequenas das vagas universitárias a grupos populacionais específicos. O Brasil prepara-se para excluir 50% das vagas das instituições federais da concorrência geral, destinando-as a estudantes provenientes de escolas públicas.

O texto votado no Senado, ilustração acabada dos costumes políticos em voga, concilia pelo método da justaposição as demandas dos mais diversos "amigos do povo". Metade das vagas reservadas contemplará jovens oriundos de famílias com renda não superior a 1,5 salário mínimo. Todas elas, em cada "curso e turno", serão repartidas em subcotas raciais destinadas a "negros, pardos e indígenas" nas proporções de tais grupos na população do Estado em que se situa a instituição. Uma extravagância final abole os exames gerais, determinando que os cotistas sejam selecionados pelas notas obtidas em suas escolas de origem.

Gueto é o nome do jogo. Só haverá uma espécie viciada de concorrência entre "iguais": alunos de escolas públicas concorrem entre si, mas não com alunos de escolas privadas. Jovens miseráveis não concorrem com jovens pobres. "Pardos" competem entre si, mas não com "brancos" ou "negros", detentores de suas próprias cotas. Cada um no seu quadrado: todos têm um lugar ao sol - mas o sol que ilumina uns não é o mesmo que ilumina os outros. No fim do arco-íris, cada cotista portará o rótulo de representante de uma minoria oficialmente reconhecida. O "branco" se sentará ao lado do "negro", do "pardo", do "indígena", do "pobre" e do "miserável" - e todos, separados, mas iguais, agradecerão a seus padrinhos políticos pela vaga concedida.

Nice Lobão é apenas um detalhe significativo. O projeto reflete um consenso de Estado. Nasce no Congresso, tem o apoio da presidente, que prometeu sancioná-lo, e a bênção prévia do STF, que atirou o princípio da igualdade dos cidadãos à lixeira das formalidades jurídicas ao declarar a constitucionalidade das cotas raciais. O Estado brasileiro desembaraça-se do princípio do mérito alegando que se trata de critério "elitista". Na verdade, é o avesso disso: a meritocracia difundiu-se no pensamento ocidental com as Luzes, junto com o princípio da igualdade perante a lei, na hora do combate aos critérios aristocráticos de promoção escolar e preenchimento de cargos no serviço público. Naquele contexto, para suprimir a influência do "sangue azul" na constituição das burocracias públicas, nasceram os concursos baseados em exames.

O princípio do mérito não produz, magicamente, a igualdade de oportunidades, mas registra com eficiência as injustiças sociais. Os vestibulares e o Enem revelam as intoleráveis disparidades de qualidade entre escolas privadas e públicas. Entretanto, revelam também que em todos os Estados existem escolas públicas com desempenho similar ao das melhores escolas particulares. A constatação deveria ser o ponto de partida para uma revolução no ensino público destinada a equalizar por cima a qualidade da educação oferecida aos jovens. No lugar disso, a lei de cotas oculta o fracasso do ensino público, evitando o cotejo entre escolas públicas e privadas. Os "amigos do povo" asseguram, pela abolição do mérito, a continuidade do apartheid educacional brasileiro.

O ingresso em massa de cotistas terá impacto devastador nas universidades federais. Por motivos óbvios, elas estão condenadas a espelhar o nível médio das escolas públicas que fornecerão 50% de seus graduandos. Hoje quase todos os reitores das federais funcionam como meros despachantes do poder de turno. Mesmo assim, eles alertam para os efeitos do populismo sem freios. O Brasil queima a meta da excelência na pira de sacrifício dos interesses de curto prazo de sua elite política. Os "amigos do povo" convertem o ensino público superior em ferramenta de mistificação ideológica e fabricação de clientelas eleitorais.

No STF, durante o julgamento das cotas raciais, Marco Aurélio Mello pediu a "generalização" das políticas de cotas. A "lei Lobão" atende ao apelo do juiz que, como seus pares, fulminou o artigo 208 da Constituição, no qual está consagrado o princípio do mérito para o acesso ao ensino superior. Mas a virtual abolição do princípio surtirá efeitos em cascata na esfera do funcionalismo público, que interessa crucialmente à elite política. As próximas leis de cotas tratarão de desmoralizar os concursos públicos nos processos de contratação, nos diversos níveis de governo.

A meritocracia é o alicerce que sustenta as modernas burocracias estatais, traçando limites ao aparelhamento político da administração pública. Escandalosamente, a elite política brasileira reserva para si a prerrogativa de nomear os ocupantes de centenas de milhares de cargos de livre provimento, uma fonte inigualável de poder e corrupção. A ofensiva dos "amigos do povo" contra o princípio do mérito tem a finalidade indireta, mas estratégica, de perpetuar e estender o controle dos partidos sobre a administração pública.

O país do patrimonialismo, do clientelismo, dos amigos e dos favores moderniza sua própria tradição ao se desvencilhar de um efêmero flerte com o princípio do mérito. Nice Lobão é um retrato fiel da elite política remodelada pelo lulismo.

* SOCIÓLOGO,  É DOUTOR EM GEOGRAFIA HUMANA PELA USP.
E-MAIL: DEMETRIO.MAGNOLI@UOL.COM.BR


terça-feira, 21 de agosto de 2012

Fukushima, continuação do retorno à normalidade

Doses de radiação absorvida em Minamisoma abaixo da dose anual de radiação de origem natural.

Levantada ordem de evacuação.

O meu amigo alemão



Foi uma surpresa encontrar o Hans na esplanada de Odeceixe; foi ele quem me reconheceu, ser careca tem essa vantagem, não mudamos de cabeça com a idade...
Conheci o Hans há bem uns vinte anos atrás; era engenheiro de uma grande empresa alemã de equipamentos de telecomunicações e metrologia e viera a Portugal por causa de um concurso internacional aberto por uma empresa pública; contactara-me para saber as possibilidades de conseguir incorporação nacional para os seus equipamentos, crendo que isso seria uma vantagem para o concurso. Lá o informei que possibilidade existia, mas que seria um grave erro da parte dele porque os gestores das empresas públicas tinham horror a tudo o que fosse nacional, até porque não faltaria quem os acusasse de corrupção se se atrevessem a adjudicar alguma coisa no mercado nacional. Até as verbas do PEDIP, supostamente destinadas ao desenvolvimento da indústria nacional, eram preferencialmente atribuídas a empresas estrangeiras. Ele não me acreditou e lá lhe dei as informações que pretendia.

Mais tarde, pediu-me desculpa de ter duvidado de mim; contou-me que apresentou a sua proposta de incorporação nacional na primeira reunião de negociação e que a recepção foi tal que na reunião seguinte apresentou um declaração em como nem um parafuso dos seus equipamentos seria montado em Portugal! Disse-me então uma coisa de que nunca mais me esqueci:

 assim, o vosso país vai ao fundo e vão arrastar a Europa com vocês!

E foi exactamente com essa frase que começamos a conversa que se segue, enquanto as respectivas esposas iam apanhar sol para a praia. Tinhas toda a razão, e já várias vezes citei o que me disseste na blogoesfera, disse-lhe eu.

Não, não, esta crise não tem nada a ver com isso; aliás, o vosso primeiro-ministro anterior, o Sócrates, estava a colocar o vosso país no rumo certo. Esta crise é tão má para vocês como para nós.

Senti-me logo irritado; lembrei-me do Cavaco a dizer que também estava sem dinheiro ou do Vale e Azevedo a dizer que vivia da caridade dos amigos. Que mania esta a dos ricos de se vitimizarem. Ele deve ter percebido o meu desagrado porque se apressou a acrescentar:

Agora, pelo contrário, seriam vocês que podiam fazer qualquer coisa para se salvarem e salvarem-nos, a nós e à Europa.

Nós?!? Não pude reprimir o espanto. Como?

Lembro-me, do nosso contacto anterior, de que és uma pessoa lúcida; por isso, deves ter uma ideia do que esteja a causar a crise, não é verdade?

Sim, tenho, mas quero ouvir a tua versão, até porque não estou a ver como é que Portugal pode ter um papel na sua resolução, respondi-lhe, cauteloso, enquanto o olhar se distraía nas duas vistosas loiras que tinham acabado de chegar à esplanada

Já vais perceber. Deixa lá as loiras e presta atenção ao que te vou dizer.

(continua)


VESTÍGioS

ASSIM QUE PASSEM QUINZE ANOS…
  Foi nesta data, 15 anos atrás, que por um acaso fortuito propiciado pela cordialidade da minha colega de trabalho Maria José Maçãs (responsável pelo museu de José Régio “Casa do Poeta”, em Portalegre) vi pela primeira vez o autor de “Vestígios”.
  Ele estava, vindo de Ciudad Real, de passagem com dois familiares e demandava os Açores, que Michel Dorion lhe creditara como um lugar incontornável para quem se maravilha com paisagens surpreendentes – e a Maria José referiu-lhe que “também temos cá um colega que escreve”.
  Subidas as escadinhas que levavam ao Centro de Estudos adstrito, o encontro foi amável, foi cordial e, em seguida, foi estimulante.
  E agora que finalmente saíu no Brasil, por mim levado e traduzido (e com a sua complacência fraternal, doada e sem usura) o seu livro citado acima, creio que fará sentido – ainda que todos, é uma maneira de falar, estejamos em férias – dar aqui um trio de poemas, bem como a capa da edição a que faço referência.
 (Gérard André Loison Calandre nasceu em 1952, na Bretanha, França. Viveu na Itália, leccionando na cidade de Messina. De formação científica, tem-se mantido afastado do mundo das Letras. Autor do livro “Vestígios”, traduzido por NS e de textos esparsos sobre o seu ramo profissional e, ainda, no tomo work in progress “No Outro Lado”. Visitou Portugal em 1992 e 1997. Após o falecimento de sua mulher Jeanne Vaillon Remise foi viver para o Canadá francófono.
    Tem colaboração nas revistas “Diversos” – dir. José Carlos Marques, “Bicicleta” – orientada por Manuel Almeida e Sousa, “Agulha” – dir. Floriano Martins & Cláudio Willer, ”TriploV” - dir. Maria Estela Guedes ,”Abril em Maio” - dir. Eduarda Dionísio, “Carré Rouge” - dir. Alex Centeno, “Fanal” e, finalmente, no “Ablogando”.
Três Poemas

 À UNE LOUPE

 Avec toi j'ai vu les vers de Virgile
les couleurs élémentaires d'un torse de Piranesi
Je peux simuler que je vois comme dans un rêve les arbres
et les maisons qu'entre elles se dissimulent
Dans un manuscrit très ancien
Combien plus de temps cela me sera donné
Le découpage d'un té
le pédoncule d'une magnolia
l'oeil d'un poisson d'eaux profondes
le tournoyer d'une foudre dans une page occasionnel
Une nuit elle m'abandonnera  la poésie
Verre et métal   et dans des minutes
la definitive cécité
Je t'approche des lettres et voici
Ils grandissent comme des troncs Comme des troncs ils disparaissent
Et déjà il reste seulement la mémoire d'une fiévreuse minute.


A UMA LUPA

Contigo vi os versos de Virgílio
As cores elementares dum torso de Piranesi
Posso simular que vejo como num sonho as árvores
e as casas que entre elas se dissimulam
Num manuscrito muito antigo
Quanto tempo mais isso me será dado
O recorte de um tê
o pedúnculo duma magnólia
o olho dum peixe de águas profundas
o cirandar de um relâmpago numa página de acaso
Abandonar-me-á uma noite a poesia
Vidro e metal    e em minutos
a definitiva cegueira
Aproximo-te das letras e eis
Crescem como troncos Como troncos desaparecem
E já só resta a memória dum minuto febril.


LE VOYAGE

La femme qui avec le bras mi-soulevé
ouvre la corolle de sa main  Son visage moitié blanche
moitié foncée Le pouls un peu gonflé
De la taille en bas il ne se voit pas Une trace noire
la scinde, la ravage, la dévore.
Le vieux monsieur dévie un pied Je m'arrange
Je déteste le Mètre mais c'est ici qui habitent des séraphins des chérubins
Les huit maisons du trésor La place où l'on tue la soif
C'est mien le peu de que tous se revendiquent
Le frayeur la joie merveilleuse cadeau
Un visage coupé dans plusieurs angles
par la grâce de Dieu L'obstination d'un maître d'école
que Galilée s'appelait Je marche autour de la Terre
Je suis un fragment de montagne
Le vieux monsieur qui j'n'avais jamais trouvé
Il regarde le toit Ébloui Il reste trés calme Il soupire.


VIAGEM

A mulher que com o braço meio erguido
abre a mão em corola A face metade branca
metade escura O pulso um pouco inchado
Da cintura para baixo não se vê Um traço
negro cinde-a destroça-a devora-a
O velho senhor desvia um pé Ajeito-me
Detesto o Metro mas nele residem serafins querubins
As oito casas do tesouro O lugar onde se mata a sede
É meu o pouco de que todos se reivindicam
Susto alegria maravilhosa dádiva
Um rosto cortado em vários ângulos
pela graça de Deus A obstinação dum mestre-escola
que Galileu se chamava Ando à volta da Terra
Sou um fragmento de montanha
O velho senhor que jamais encontrara
Olha para o tecto Deslumbrado Fica muito quieto Suspira.


UNE POUPÉE DESSINÉE PAR UN ENFANT

Il y a quelque part quelque chose qui nous échappe
Ce nez qui se rétrécit Une jambe qui vole
Un chiffre dessiné Ce n'est pas bien un chiffre
C'est une petite étoile
Petite étoile du nord regarde bien
celui-ci est le bras pour beaucoup d'âges
l'âge du sud et de l'ouest
les mains qui sont des plantes nocturnes
Beaucoup d'années plus tard quelqu'un trouvera
le papier froissé dans un tiroir perdu
Regarde  c'est le visage du cousin Florentin
Florentin est un vieux Il sourit
Pendant  un moment il se rend nostalgique
Pendant un moment tout est immobile  et indemne.


UM BONECO DESENHADO POR UMA CRIANÇA

Há   algures   qualquer coisa que nos escapa
Este nariz que se retrai Uma perna que esvoaça
Um algarismo desenhado Não é bem algarismo
É uma pequena estrela
Estrelinha do norte repara bem
este é o braço para muitas idades
a idade do sul e do oeste
as mãos que são plantas nocturnas
Muitos anos mais tarde alguém encontrará
o papel amarrotado numa gaveta perdida
Olha   é a cara do primo Florêncio
Florêncio é um velho Sorri
O seu olhar fica saudoso Por um momento
Por um momento tudo fica parado   e incólume. 

GÉRARD CALANDRE

in Vestiges/Vestígios”

   Tradução ns

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A aldeia da roupa suja

Quem diria, o partido do politicamente correto, defensor-mor da moral, da ética e da justiça, está transformado num saco de gatos. Claro que uma parte dos felinos há muito tempo que está inquieta para rumar ao PS, mas ainda não tinha surgido a oportunidade. Com a saída do querido líder as portas começam a escancarar-se. É o principio do fim do Bloco.

sábado, 18 de agosto de 2012

Congresso da Esquerda Alegre

A esquerda alegre fundou mais um congresso para salvar resgatar Portugal: o Congresso Democrático das Alternativas. Mas espreita-se a comissão organizadora e verifica-se que de alternativa até pode ter muito, mas de democrática deixa muito a desejar: para além de ser quase tudo de doutor para cima, ainda não foi desta que médicos cardiologistas, matemáticos ou físicos nucleares aderiram a este tipo de iniciativas. Continuam a abundar psicólogos, psiquiatras, jornalistas, sociólogos, sindicalistas e militares de abril.

O polvo iraniano


sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Um cheirinho de mistério*

À memória de Dinis Machado, leitor e escritor de “polars”
Ao povo americano, que soube criar e manter uma democracia
AMÉRICA DE LUZES E SOMBRAS Para nós, amantes da Literatura Policial, a América tem sido o país das mil-e-uma-noites: nela brotaram flores de mistério e de maravilhoso, de mágoa e de tragédia através dos dias e dos anos, plantadas por escritores e visionários como Edgar Alan Poe, H.P.Lovecraft, Dashiel Hammett, August Derleth, Raymond Chandler, Charles Williams, William Faulkner, Melville Davison Post e tantos outros.

A América atravessámo-la nós com os vagabundos de Frank Gruber, com os “road runners” de W.R.Burnett. Contemplámos as vertentes do Ohio e os arranha-céus de Nova Iorque e Chicago até às montanhas do Colorado e aos desertos do Arizona e do Novo México com Bill Ballinger, Hammond Hines, Burt Spicer e Jim Thompson. Excursionámos pelas vilórias e pelas pequenas cidades do Midlle West com Ellery Queen e Ray Bradbury, perdêmo-nos nas alfurjas dos portos e nos “fumoirs” de Chinatown e da Bowery com Craig Rice, Thomas Burke e um certo chinês filósofo de bigode a quem chamavam Charlie Chan e que estava ali de passagem vindo da sua ensolarada Honolulu.

Numa certa noite de neve, sob a lua da Carolina do Norte, ouvimos tiros na estrada deserta por onde minutos antes haviam passado Bruce Robinson e Jonatham Latimer, que nos esclareceram o enredo.

Amámos e padecemos em quartos e em caves, de mãos atadas atrás das costas pelos “gangsters” de serviço. E fomos salvos “in extremis”, com o fato rasgado e o nariz deitado abaixo, por um tal Mickey Spillane e pelo seu amigo dilecto Mike Hammer. A iluminação brotou-nos da mente num momento de sagacidade perpetrada por um fulano que atendia pelo nome de Philip Marlowe. E foi homem a homem que derrotámos o mafioso crápula pseudo político que nos envinagrava o quotidiano, devido aos sábios ensinamentos dum tipo chamado Continental Op, em escaramuça devastadora numa viela do Bronx.

De manhãzinha, com o nosso elegante fato cinzento de discreta risca azulada, entrámos num palacete onde um ancião atormentado pela nostalgia nos pediu auxílio para encontrar o genro e fomos catrapiscados por uma “mulher fatal” que nos lançou na senda da aventura. De outra vez, acompanhando um sofisticado cavalheiro conhecedor de arte assíria e etrusca que nos disse chamar-se Philo Vance, tivemos a dita de nos introduzirmos nos ricos salões de Nova Inglaterra e de Manhattan e, em troca, de juntura com um tal Humphrey Bogart, levámo-lo até aos confins do Colorado, até à High Sierra, e aprendêmos a beber uns valentes “bourbons” sem ficarmos caídos de caixão à cova.

Com um jurista desembaraçado que nos disse apelidar-se Perry Mason, jornadeámos pelas artérias de Los Angeles e pelos desertos da Califórnia em busca de assassinos nefandos.

Ouvimos muitas vezes o bramir dos ventos, sentimos na pele o negrume das noites e a chicotada da chuva inclemente, enquanto – dissimulados a uma esquina, com a gola da clássica gabardina levantada – esperávamos a chegada dum companheiro empregado na mesma agência que se chamava Caution, Lemmy Caution e que era pai dum tal James Bond.

Tudo isto sentímos nessa América onde havia e há problemas e conflitos não resolvidos, mas onde também sempre houve esperança e alegria devido a umas coisinhas simples, mas espantosamente importantes, que dão pelo nome de liberdade de palavra, de reunião, de pensamento e da sua divulgação não obrigada a mote, como sucede hoje em muitos sítios supostamente civilizados.

E, agora que se tornou moda ou característica pôr-se sistematicamente em equação essa América (toda a América?!) como símbolo do mal e da desgraça - principalmente para se sentir melhor a nostalgia dum Leste implodido e de novos bárbaros a quem se santifica como mártires - lembremo-nos de todos os mosaicos intemporais que ela criou através de membros humildes ou repletos de cultura viva que, hoje por hoje e amanhã por amanhã, se calhar só serão epigrafados e em altas vozes se, de novo, tiverem de dar a vida como em 39-45 para continuarmos a desfrutar de um pouco de futuro possível.

(da Comunicação aos Encontros de Tours)

ns

(Mural em cerâmica de João Garção)

Um insulto à inteligência


(imagem recolhida aqui)

Como dizia não me lembro de quem, "Pior do que criminoso: é estúpido".

Município de Neuss destaca um Português




É o título deste texto de António Justo:

        José Gomes Rodrigues, assistente social, foi agraciado com o Prémio Municipal de Integração pela sua extraordinária dedicação em benefício da população de Neuss, durante 35 anos. Apresento aqui um bocado de história migrante documentada e narrada pelo próprio homenageado:

            “Falar de si mesmo é ser-se suspeito, assim define a sabedoria popular sobre o que aqui irei relatar. Perdoem a minha ousadia, mas faço-o, obedecendo ao desejo de alguns amigos e instituições que solicitaram a descrição e o desenrolar dum acontecimento agradável de que fui alvo. As entidades alemãs desta cidade de Neuss, responsáveis pela inserção social dos imigrantes, decidiram agraciar individualidades e associações que se tenham notabilizado de diversas formas na integração desta população específica.

            No próprio dia em que viajava a Portugal para participar no acostumado encontro anual de ex-colegas de estudos, recebo uma carta do Presidente da Câmara desta cidade solicitando a minha presença urgente na semana seguinte, dia 14 de Maio numa das novas salas de recepção oficial da Câmara. Teria sido uma das pessoas propostas, segundo o teor do convite, para a atribuição do prémio de integração da cidade  (Integrationsförderpreis).

            Esquivar-me, seria a melhor alternativa, mas, segundo o coordenador da efeméride, a minha presença era irrefutável. Após o regresso da cidade de Viriato e vestido a rigor, de fato bem polido e engomado, de gravata a condizer com as riscas verdes da camisa, lá me apresentei no bem delineado anfiteatro, há pouco inaugurado.  A minha esposa e companheira fiel de longa data, acompanhou-me, não fosse o fato ainda engelhar ou os passos me conduzirem para outro local sem tanta praxe.

            A sala estava repleta. Muitos dos presentes eram-me familiares, pois tínhamos cooperado e partilhado experiências e vivencias do ofício ao longo destes 33 anos de serviço. O meu trabalho estava, há anos, orientado na integração de estrangeiros ou, melhor dito, concidadãos oriundos de diversas culturas e do mundo. Estes totalizam, nesta cidade, dormitório da metrópole de Düsseldorf, mais de 15% dos habitantes o que perfaz numa população de 151.000 habitantes, 20 mil com cidadãos possuidores dos de passaportes de mais  de 90 nacionalidades

            Representantes das mais diversas associações, organizações e instituições que se dedicam à promoção sócio-cultural destes concidadãos não faltaram ao evento. O diversificado colorido partidário da cidade, os representantes das Igrejas e de outras religiões, coroaram, com a sua presença, a ocorrência. Uma orquestra da câmara emoldurou o evento.

            Foram galardoados comigo, com um lindo certificado-diploma, devidamente autenticado com as insígnias da cidade e a assinatura do Presidente da Câmara, outras individualidades e grupos que se tinham notabilizado pelo esforço abnegado em prol da integração da população migrante. Ao ouvir o meu nome, entre os agraciados, alegrei-me, levantei-me do meu lugar e, após uma pequena apresentação oral sobre a minha ação profissional rebatido com algumas palmas por parte da assembléia presente.

            Ao ser-me entregue este galardão pelas mãos do Presidente Conselho de Integração da cidade, em representação do Presidente da Câmara e, perante este importante auditório, revi, como uma película a cores,  toda a minha vida profissional durante os 35 anos dedicados à emigração. Mergulhei nas minhas singulares raízes. Pensei nas gentes calejadas e bem temperadas pelo abrasador sol dos áridos campos da minha aldeia, Vila Nova do Campo, que marcaram o meu caráter e a minha maneira de atuar. Os diversos professores, os muitos colegas de escola e de seminário, os amigos que, durante tantos anos, comigo caminharam, estiveram presentes como atores neste rápido filme. Sou, nada mais e nada menos, o fruto das muitas encruzilhadas.

            Agradeci o gesto tão simpático das autoridades civis e dediquei-o a todos com quem convivi e servi no meu caminho profissional e que foram os sujeitos e os obreiros desta pequena festa de reconhecimento publico. A minha família teve também, nesta efeméride, um lugar de relevo, não fosse a paciência e a necessária compreensão que sempre demonstraram.

            Não sendo eu a pessoa indicada para nomear as razoes que levaram a esta nomeação, deixo aqui a tradução do alemão da proposta escrita apresentada pela responsável dos serviços de Integração sócio-cultural  da Caritas, instutuicao que servi:

            “Desde 1977 até Dezembro de 2010, o José Gomes Rodrigues foi Assistente    Social, no departamento de Integração da Caritas. Antes desta data, tinha      exercido funções pedagógicas como professor da escola complementar de    Língua e Cultura Portuguesa das crianças e jovens nas cidades de Dortmund,           Mulheim/Ruhr, Duisburg e Bochum.

            Dedicou-se exemplarmente e durante a maior parte do seu tempo de serviço     à Integração dos concidadãos com passaporte estrangeiro. Iniciou, deu forma           e levou a cabo um grande número de projetos de inserção social. Duma forma           exemplar, é de mencionar a fundação dum projeto piloto de teatro        intercultural, em colaboração com a escola superior de teatro, a OFF-Theater     da Renania do Norte e Vestfália. Ele mesmo manifestou-se talentoso como      ator em palco. Esta iniciativa obteve tanto êxito, que lhe valeram três honrosos prêmios. Transformou-se, desde então, num campo de trabalho e      um método pedagógico frutífero e  prioritário na Integração intercultural dos             concidadãos             estrangeiros que ganhou raízes.

            O diálogo entre as diversas religiões presentes na cidade constituiu também      um dos seus campos de atuação tendo, com as suas diversas iniciativas,           aproximado os indivíduos na sua diversidade biográfica, cultural e religiosa.        Provocou o conhecimento recíproco, o respeito e a aceitação mútua entre as diversas religiões de maior presença nesta sociedade: o cristianismo e o             Islão, entre outras. O interesse e tenacidade que demonstrava no seu atuar        era de tal ordem que ultrapassava o seu horário regular de trabalho.

            Apesar de desligado atualmente destas funções, por escolha própria, e por        idade, continua a dedicar-se como voluntário e mostrando muito interesse      nestes projetos de inserção”. Até aqui a responsável pelos serviços!

Termino este trabalho descrevendo o testemunho de alguém que deixou escrito no facebook.

            “O José Rodrigues vai ser, na próxima segunda-feira, homenageado pela          Câmara da cidade de Neuss, na Alemanha, com o prémio de integração           „Integrationsförderpreis „ Esta condecoração serve para reconhecer o grande contributo deste português na área das integrações dos povos e das culturas         nesta cidade germânica, na Renânia do Norte e Vestefália. Destaca-se que      José Rodrigues foi ao longo dos anos Assistente Social da Caritas.       Ultimamente, deslocou-se por alguns meses a Moçambique, onde está            envolvido em projetos de promoção social. Sem a mínima dúvida, José             Rodrigues, é na atualidade uma das personalidades da Comunidade     Portuguesa na Alemanha que mais simbolizam um espírito puro de       humanidade. Uma das suas áreas profissionais preferidas foi o diálogo      intercultural a nível religioso. O nosso parabéns e nosso reconhecimento!“

                  Perdoe-me quem me achar ainda suspeito, mas a minha intenção foi e continua a ser simplesmente a de elevar a comunidade portuguesa e de valorizar as nossas raízes.

            Continuo, e sem estar preso a horários a disponibilizar os meus serviços como solidariedade humana e crista. O voluntariado dá-me asas para sonhar num mundo mais justo, onde e ser cristão se traduz, antes de mais, numa maior responsabilidade na edificação da sociedade, nos moldes da fé que professo.

            Procuro libertar-me do peso dogmático e dum certo espiritualismo passivo, que me possam afastar do bater do coração do homem da rua que é meu próximo. O seu passaporte ou a crença religiosa que possam professar tem pouco ou nenhum peso nas minhas decisões.”

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

John Stossel - Freeloader Nation

Nação de pedintes ...??

Portugal: esquerda cripto-fascista

No Fiel Inimigo:


A esquerda é hoje, em Portugal, toda ela, uma só, apesar de separada por ódios mais ou menos tribais, clubísticos, de gang. Toda ela aspira ao poder total e, toda ela, pretende que o estado seja dirigente, timoneiro, dono do país, de todo o país. Toda a esquerda, não importa o gang, pretende viver com a democracia apenas até estarem reunidas as condições para acabar com ela, independentemente da fachada formal, consequentemente também a prazo. Mais, esta esquerda pretende que o país alinhe num esquema de governo mundial apoiado na ONU e pelo pretexto do homem ser culpado pela eminente destruição do planeta [... mas isso fica para outra altura].

A esquerda é cripto-fascista hoje para ser fascista amanhã e socialista depois, pretendendo a ditadura do proletariado, entenda-se, do seu auto-instituído proletariado, natural e forçosamente dominando a mão de ferro, incontornavelmente, quem se lhe oponha, pelo ferrete da acusação de "atentado aos mais elementares direitos civilizacionais". Nada que não tenha acontecido uma mão cheia de ocasiões nos últimos 100 anos.

Há hoje, como nunca, uma clivagem partidária entre a esquerda caceteira e fascista, e a direita mole, envergonhada, contaminada, auto-castrada. Apesar de talvez a mais clara clivagem esqueda-direita desde o 25 de Abril, à medida que a esquerda se tem revelado, a direita tem-se acobardado, apesar de, hoje, menos "social-democrata". O CDS é uma coisa indistinta, intragável.

À esquerda, o partido que se perspectiva chegar chegar ao poder, o PS, constitui-se marioneta e bombo da festa da pancadaria que as tribos concorrentes lhe desferem por "ceder aos desígnios da direita", preferindo projectar sobre as consequências das medidas que defende o fantasma "neo-liberal". Tendo sempre como fundo um socialismo mal explicado que "de rosto humano" já foi, o PS, entalado entre o socialismo que percebe de imediato inviável e uma ainda incontornável iniciativa privada, opta pela via fascista para o socialismo alinhando em todo o putrefacto caminho da fusão estado-privados, sempre convencido que 'controla'.

Na fusão, quer pelas malfadadas PPPs quer por protecção legal especial e directa a seleccionadas empresas, o PS tropeça no espelho que os seus, inevitavelmente infiltrados 'para lá' e ´para cá', algemando o governo, o estado e o contribuinte à perícia da coisa privada. Esta tentativa de fusão não é politicamente inocente porque, colocando as empresas de regime sob "protecção" estatal, o PS pensa poder vir a expandir os tentáculos do socialismo, por enquanto pela via fascista, acompanhando uma pretendida expansão dessas empresas por toda a economia e enquanto, paulatinamente, arreia a marreta da regulamentação controlada pelas ASAEs de fila nas restantes empresas, crescentemente debilitadas, algemadas, nacionalizadas em termos de decisão por via de imposta regulamentação e de proventos pela via do fisco. A perícia dos gestores das empresas de regime entrosados com os mais ferrenhos do partido, promitentes luminárias da coisa proletária, garantindo sucesso aos próprios estatela o país na inviabilidade económica do processo a que as outras tribos se apressam a aplicar o ferrete "ataque neo-liberal".

...

Na passada semana alguns casos espelharam bem esta estratégia. No caso da energia eléctrica, a implementação, pelo PS, do inenarrável processo "eólicas" de que resultou a mais imunda exploração dos proventos do trabalho do contribuinte e que estatelou o PS no passeio da fama por responsável pela barbárie económica que do seu "projecto de independência energética" resultou, vem reclamar que ... houve um falhanço da política energética!

No caso de Alqueva, projectado elefante branco que ficará, felizmente, na prateleira dos projectos "virtuosos" cuja implementação felizmente borregou, o PS vem querer saber junto da CGD, a razão da não atribuição de 1000 milhões de euros ao projecto, querendo ainda saber, dos promotores, porque razão não há condições como se, no presente estado de coisas, houvesse condições para uma megalomania daquelas. Diz o PS estar preocupado com o desemprego que dali resulta, dando, por um lado, a entender que alguma vez ali houve emprego (talvez promessas em forma de jobs for the boys) e, por outro, deixando claro que não sabe que um projecto falhado, apesar de dar emprego a uns quantos gera, sistematicamente, muitíssimo mais desemprego que emprego.

No terceiro caso, o da RPP solar, outro projecto megalómano em que o estado estava metido até às orelhas e que tresanda a investimento"virtuoso" e em que, não havendo dinheiro privado, havia "vontade política" para 'se' avançar com a despesa de ... 1000 milhões de euros, 128 milhões, para começar em projecto, assumidamente à conta do estado.

...

E que responde a isto a direita partidária? Basicamente nada. No mínimo, se quisesse começar a falar em língua de gente, teria que começar assim: "Esses filhos da puta, ..." ....

Elogio do cretino




Devo dizer
que gosto de cretinos. Não, garanto que não é por piedade
mas por apreço convicto. Talvez com uma pontinha de malícia
mas sem acinte nem ferrete. Uma (como dizer?) maneira
de tímida ternura.
Afinal - não é verdade?- o cretino
é uma espécie humanóide altamente meritória
e multifacetada: vive connosco à mão de semear, conhecemo-lo
das ruas, vemo-lo
na TV, lemo-lo nos jornais… Ele acompanhou sempre
nos mais expressos lugares
a rude humanidade
desde o fundo dos tempos, desde os primórdios
da vida. À roda da fogueira
lá nas épocas longínquas do período quaternário
quando ainda não havia cretinices modernas ( televisão, rádio
parlamento…) podeis crer que já havia, embora hirsuto
um ou outro cretinus sapiens. E pelos tempos fora
na idade dos ancestros da pré-história
que seria dos inícios adequados
da social organização
sem um par de cretinos a adorná-la?

Seja na arte ou na literatura
nos ramos do saber que o mundo louva
ou demais regras e ofícios
como poderiam os cretinos dispensar-se?  Cretino foi, ao acaso
o tolo do Caim, ou o pobre do Job
ou – na quadra das letras – o bom do Pinheiro Chagas
que teve a parvoíce de ser contemporâneo
do Eça magricelas.
E nos domínios vicejantes da pintura
o tremendo Bouguereau, que dizia de Cézanne
que este só fazia borradelas.
Ou nos salões do espírito
sagrado
o magistral Bossuet, a águia de Mons
que Deus tenha bem guardado.
Enfim, nobres exemplos
de douta cretinice. Pois o cretino é plural
e em todo o lado sabe imiscuir-se.

(Aqui um aparte
para os estudiosos de gabinete: não deve confundir-se
o propriamente cretino, cretinus boçalis,  com o pedaço-de-asno
que, sendo semelhante – a olhares  sem estética – claramente
pertence
a outra espécie cinegética).

Na boa sociedade, naquilo a que se chama
a melhor sociedade, a tal que se pauta por livros de etiqueta
escritos em geral por excelentes senhoras – às vezes
excelentes cretinas –
o patarata é um valor seguro: já pensaram
que seria das páginas sociais de afidalgados
ou mesmo só de notáveis burgueses agregados
sem um ror de cretinos e cretinas interessados
em lhes saber da folha, em lhes saber dos fados?

A vida sem cretinos
é como um lar sem pão, teatro sem enredo, jardim
sem flores ou passarinhos (olha que imagem cretina!),
como dizem as poetisas de arrabalde
com vaporosa graça
quase divina.

Numa recepção de Estado, no salão duma autarquia,
numa cerimónia de homenagem a um
que nada fez mas morreu tarde
ou demasiado cedo, co’os diabos do talento
seja na capital ou na feliz província
a presença de cretinos é uma jóia sem preço:
são os que convictamente
mais aplaudem, sem maldade
nem cálculo traiçoeiro
ou gritam apoiado
criando felicidade
no elenco inteiro
ou mais valia, nas forças vivas da cidade.
(E em geral,
por ironia do destino
o orador habitual
é que costuma ser,  por sinal
o maior cretino!)

Sim. Gosto de palonços. Ei-los que desfilam: na política,
no professorado
na res publica (que, como se sabe, significa coisa pública
– dou o esclarecimento
não esteja algum cretino a ler-me) o palonço
é fundamental.
Quem diz palonço diz palonça (explico já
não vá
alguma feminista cretina
pensar que o meu poema a discrimina).
A cretinice pura
é algo de adorável como tudo o que é puro:
um puro mel, um puro amor, uma pura
doidice, uma pura miséria…

Mas para que o cretino seja esplêndido
necessita de ambiente a condizer: bons ares e boas águas, está claro
mas também uma família recheada de atenções e de cuidados,
ao velho estilo patriarcal, cultivando modelarmente
os sãos e pacientes
cretinos valores.
Não precisa, todavia
de ser fundamentalista praticante
desses conceitos sem jaça: ele há tanto cretino oriundo
de meios inconvencionais! Como o cacto, o cretino
adapta-se a qualquer terreno, por mais adusto que seja!

Façamos-lhe justiça: o cretino, digamos, é como
um livro aberto - o que ali está
não engana. Por isso tantos cretinos, por serem senhores
graves e concentrados
até chegam a ministros,
a assessores,
a deputados.
(Também sucede que alguns
no entanto
nunca passam de criados…).

O cretino estimula as próprias artes, as próprias letras. Até a filosofia!
Lembremos
as expressões  fenomenal cretino, cretino piramidal, cretino apimentado,
cretino até dizer basta. Enfim, altos jogos verbais como
tudo o que o humano engenho inventa. Já houve quem dissesse
que ele é como as castanhas: nem sempre
as maiores são as mais saborosas!

Os cretinos rurais…
Os cretinos citadinos…
Os cretinos intermédios
sociais, profissionais…
Os viandantes cretinos…

Enfim, não divaguemos!

Vou, então, terminar.
Meter um ponto final
antes que, impaciente
o leitor inteligente
me apode gentilmente
de redundante ou, até,
de chatarrão

- espécie de parente
maganão
que também merece versos!