terça-feira, 29 de janeiro de 2013

A próxima Festa do Avante vai realizar-se em Pyongyang

Ementa de pequeno almoço: criancinhas.

Bondade cristã




Aqui fica, sem quaisquer comentários (embora se pudessem fazer muitos e rotundos) esta noticiazinha colhida num periódico e que nos parece revelar uma pérola de caridade... dos noticiados tonsurados monsenhores.
  E assim é que certos sectores caritativos se desarrincam...!



Divulgação de documentos sobre casos de pedofilia nos anos 80 choca vítimas nos EUA
23 | 01 | 2013   05.42H

Vítimas de atos de pedofilia cometidos por padres católicos mostraram-se indignadas na terça-feira depois de a imprensa ter publicado documentos que sugerem que responsáveis do clero procuraram esconder esses crimes na Califórnia nos anos 1980, noticia a AFP.

Os documentos em questão, cujos extratos foram publicados na segunda-feira pelo Los Angeles Times, incluem a troca de correspondência entre o arcebispo de Los Angeles, Mahony Roger, e um conselheiro e seu principal assistente, monsenhor Thomas J. Curry, com reflexões sobre a forma de evitar que padres pedófilos sejam investigados pela polícia.

"Estamos chocados e revoltados com estes documentos", disse Joelle Casteix, da rede de sobreviventes de pessoas abusadas por padres, Snap, ao reagir às publicações.

in Destak

Alberto Gonçalves em grande forma




(imagem obtida aqui)


Duas crónicas suas, no DN (respectivamente aqui e aqui):





Quem se esquece do PS?


À semelhança de boa parte dos portugueses, as trapalhadas internas do PS interessam-me tanto quanto um concurso filatélico. Aliás, reconheço nem saber ao certo de que trapalhadas falamos. Parece que a impopularidade do Governo e uns pulinhos difusos nas intenções de voto convenceram o dr. Seguro de que chegara a sua hora. Parece que os herdeiros do eng. Sócrates, entusiasmados pelos mesmos peculiares motivos, querem remover o dr. Seguro e colocar alguém "confiável" no seu lugar. Parece que António Costa, cuja enorme relevância começou anteontem a ser inventada, é a escolha "natural" dos socialistas que se afirmam alternativa à austeridade. Conforme avisei, a coisa é de facto aborrecida. Excepto para um psiquiatra.


Fora do manicómio em que os políticos indígenas cirandam, os estragos causados nos últimos anos bastariam para erradicar o PS do mapa político. Dentro do manicómio, o PS não apenas se acha no direito de reclamar o retorno antecipado ao poder como julga mais provável consegui-lo na exacta versão que, de desastre em desastre, o levou a perder esse poder. O dr. Seguro, faça-se-lhe a honra, quis mostrar-se envergonhado das proezas do partido e, sem grandes resultados, tentou disfarçá-lo sob o verniz da responsabilidade. O dr. Costa não tem vergonha nenhuma e, se o pernicioso regresso aos mercados não lhe trocar as sondagens, pondera apresentar-se às massas enquanto o orgulhoso representante dos desvarios que condenaram as massas a apertos sem fim à vista. Se nada garante que tamanha extravagância vá longe, a sua mera plausibilidade é suficiente para recear a falta de memória e de juízo do bom povo.


Mesmo no futebol, que não será um universo particularmente lúcido ou vital, é difícil imaginar os sócios do Benfica ansiosos por devolver à presidência aquele fulano que costuma gravitar entre os luxos de Londres e a cadeia. Na política, porém, é teoricamente possível reabilitar com leveza o sicrano que, após reduzir uma população à penúria, experimenta, alegadamente a expensas da família e da banca, as delícias de Paris (mas não, salvo seja, a cadeia). Os apóstolos do sicrano andam desejosos de terminar o lindo serviço que iniciaram, e o próprio já é um nome "óbvio" para Belém. Um país assim dá sempre vontade de rir. Mas raramente dá vontade de habitar.


American idol

Foi exemplar a hesitação de Barack Obama quando, na tomada de posse, tropeçou ao pronunciar o nome do próprio país. É difícil falar em Estados Unidos se, além de cientificamente duvidoso (a referência dogmática ao "aquecimento global" caiu ali a que propósito?), o discurso que o Presidente terminara minutos antes constituiu uma tentativa de inventariar motivos de divisão e conflito internos.



Escrevo "tentativa" porque aludir à discriminação sofrida pelas mulheres, pelos homossexuais e pelos imigrantes soa um bocadinho a anacronismo ou a erro geográfico. Poucas nações exibem os índices de igualdade de género dos EUA. Raríssimas nações são tão progressistas no tratamento legal (e informal) dos homossexuais quanto os EUA. E, em última instância, decerto nenhuma nação acolhe "naturalmente" os estrangeiros como os EUA, aliás definidos em larga medida por esse milagre de integração.




Não digo que, hoje e sobretudo ao longo da História, o milagre estivesse isento de obstáculos. Digo que exagerar as diferenças num momento destinado à coesão demonstra o tipo de estadista que Obama é: um delegado de cliques e parcelas, para quem as políticas de "identidade" têm precedência face ao mundo real. O mundo de Obama não é habitado por indivíduos, mas por grupos que o elegem ou abominam e aos quais ele se preocupa em servir ou alienar. Não custa prever que o segundo mandato reforce a tendência insinuada no primeiro: os estados já estiveram de facto mais unidos. Vale que a partir de agora falta cada vez menos para a reforma de um objecto de veneração e um sujeito que não a justifica.

Tempo de Antena (01) . As causas da crise

André Abrantes Amaral e Paulo Laureano a conversar sobre as causas da crise que Portugal atravessa.

O Senhor Luvas: Opinião - A Oeste do Éden de Harry Harrison

O Senhor Luvas: Opinião - A Oeste do Éden de Harry Harrison

Caro Fiacha: a leitura deste livro é essencial para quem goste de FC.  Recusa a lê-lo só porque Harrison é um autor "americano" é ( sem ofensa) quase inaceitável. Tive um trabalho doido para o publicar, tanto mais que inclui todas as ilustrações originais. Além disso, este autor é uma figura incontornável dentro do género. Não me leves a mal, mas acho que recentemente não deves ter disponíveis muitos autores de literatura fantástica da Cracóvia ou do Ruanda para leres. É por issonque as colecções de FC acabam por cá. Fiz o que nunca ninguém fez, ao ponto de ter recebido uma carta do Harry Harrison a dar-me os parabéns por esta ser a MELHOR edição estrangeira do livro dele.e depois, por cá, não se vende...porque..."já li muitos autores americanos" ? Good grief, Fiacha, olha que me espetaste uma faca nas costas com essa afirmação....

Estado de servos

Está instituída mais uma estirpe de parcerias publico-privadas que consista na simbiose permitida, não inocentemente, pela lei, "assistentes sociais", estabelecimentos de "protecção" de menores e tribunais.

Por exemplo, se um adolescente pedir para ir dar uma volta com amigos aparecer em casa com uma cardina ou uma pedrada monumental e os pais lhe aviarem uma lostra, essa "criança" vai à GNR, apresenta queixa dos pais por agressão, a GNR intima os pais, avisa os assistentes sociais e há uma alta prbababilidade da "criança" ser retirada aos pais para ser "promovida" num centro estatal qualquer.

Na prática, o que começou por ser um processo para recolha de jovens que andavam aos caídos, fugiam de casa, e que, pela gravidade do seu comportamento tornava praticamente inviável a correcção da situação pelos próprios pais, passou, paulatinamente, a ser um processo pelo qual os pai passaram a ser, até prova em contrário, o perigo, a ameaça, a mais provável fonte de problemas.

Já não bastava a permanente desvalorização instigada pelo estado, nas escolas públicas e estatais, do papel dos pais trazendo-os ao nível dos filhos, temos agora a inquisição dos assistentes sociais que vêem nos pais e na família em geral um atentado à educação em moldes politicamente correctos e cuja sapiência é absorvida da ideologia maoista. A ida dos militantes da assistência social aos tribunais pretende apenas aplicar ao processo uma carimbadela de sacudidela de água do capote porque as famílias em causa dificilmente terão discernimento ou posses para recorrerem a um advogado. Ao fim e ao cabo, a generalidade delas está tão dependente do estado e tão amestrada por ele que apenas se sente assassinada na parte do seu 'eu' que corresponde aos filhos. Quanto aos filhos, são sistematicamente enviados para algures, a centenas de quilómetros do local de origem, sem saberem exactamente porquê ou sem saberem o que os distingue dos que têm pais capazes de fazer frente à triturante máquina assistencialista.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Socialismo: o anti-Cristo da família

Sem conceder que esta ribalta do estado e das assistentes sociais a tal nível de profundidade é um absurdo, será que as alminhas nem conseguem perceber que a ligação bilateral da mulher aos filhos é muito mais intensa que em relação ao pai?

Será que neste outro caso se levantarão também as lamúrias e acusações ao capitalismo, "especuladores" e FMI relativas a casos idênticos que têm ocorrido na Grécia provavelmente por causa da crise?

Arauto

No Fiel-Inimigo:
O delicadinho do 5º

Jon Stewart/Paul Krugman

Comunistas:

Afinal sempre comem criancinhas ao pequeno almoço.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Dos desapressados

A estratégia do PS era simples: deixar que o governo fizesse o que tem que ser feito e que ele sabe ter que ser feito, de forma a chegar-se às próximas eleições com o trabalho feito mas na cava do processo. O governo sabe que tem que acelerar para lá chegar já depois da cava. Evidentemente que o primeiro caso arrasta o período de sofrimento e o segundo abrevia-o. Para o PS, o sofrimento dos portugueses, aliás criado por ele próprio, é irrelevante, pois apenas lhe interessa estar instalado no poder alimentando de ego e não só, as suas tropas.

Para o PS, como para qualquer socialista, a realidade pouco interessa desde que a onda seja por eles cavalgada. A orgástica recente excitação resultou da sua subida nas sondagens. Este tique da "pressa?" resulta da presente descida.

É gente que vive não da realidade mas do que parece, do marqueting, dos 'sinais', da moda, da crença, do auto-convencimento, do umbigo. Em boa medida militam numa forma desviante de religião, substancialmente solipsista.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

A EURSS e o grito do Ipiranga do Reino Unido

"A questão é saber se quer governar o seu próprio país, pelo voto, numa democracia, ou ser governado como uma província dos estados unidos da europa".

 

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O vespeiro europeu

(imagem obtida aqui)

Também poderia ser intitulada assim, esta crónica de Ferreira Fernandes publicada hoje no DN:

Não há vespas más


Têm nome suave que mais parece um nespresso, velutina, mas são máquinas de guerra invasoras. Como num filme de ficção científica, chegaram ao porto de Bordéus talvez escondidas num vaso chinês, em 2004 ou perto, subiram já até Paris e a Alemanha treme com a chegada delas, desceram pelo País Basco e descobriram-se, há dias, 40 ninhos no Minho. Diz-se que em poucos anos a Vespa velutina nigrithorax pode dar cabo das colmeias europeias. O eurodeputado Nuno Melo perguntou ao Parlamento Europeu o que pensa e este respondeu como na crise financeira: que cada país se safe. A lenda diz que 40 destas recém-chegadas vespas conseguem dar cabo de 30 mil abelhas (uma colmeia pode ter 80 mil). Carnívoras, despedaçam a abelha, desperdiçam a cabeça, asas e patas, ficam só com o abdómen, que levam para o ninho, para alimentar as suas larvas. Lá longe, as abelhas japonesas têm um truque para sobreviver a uma vespa mais terrível, a mandarina: deixam-na entrar na colmeia, fecham as entradas e aquecem o ambiente abanando as asas. Com 43 graus, matam a vespa que é mais sensível ao calor do que as abelhas. Sempre mais inteligentes os japoneses. Mas como importar essa sabedoria?... Os cientistas franceses, os europeus mais aplicados no estudo da velutina, tentam acalmar dizendo que não há vespas más. O povo está assustado. E, como já vimos, as autoridades empurram a solução com a barriga. A Europa é previsível qualquer que seja o assunto.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Social-comunicação escondida com carteira de fora

Em adenda ao artigo de Alberto Gonçalves, "A carteira e a vida", transcrito no post anterior do Manuel Graça, aqui deixo os vídeos nele referidos. Para que fique bem patente o grau de estupidez e violência de que, com o maior descanso d'alma, é capaz a gentinha que nos "informa" e nos quer "iluminadamente" e "democraticamente" formatar e dirigir.

Quatro por cento

[Alberto Gonçalves no DN]:

Segundo um estudo da seguradora Zurich, 96% dos portugueses não acreditam nos políticos. Como agora é habitual, estes dados foram apresentados com preocupação e imputados à austeridade. Basta espreitar um noticiário televisivo ou folhear um jornal para perceber que, no caldo ideológico vigente, a austeridade está na origem de todos os fenómenos ocorridos no país, desde os suicídios ao abandono de cães, passando pelos assaltos à mão armada e a decadência do Sporting.

Fora das alucinações em voga, a notícia merece aplausos. Descrer da classe política não é, ao contrário do que a própria classe gosta de sugerir, meio caminho andado para o advento de uma ditadura, mas o primeiro passo para a consolidação de uma sociedade livre. As ditaduras erguem-se sobre a adesão excessiva aos "salvadores" nascidos justamente da veneração e da fé cegas. Numa democracia autêntica, criatura nenhuma depositaria nos políticos mais confiança do que a estritamente indispensável. Os políticos são um mal necessário, que se tolera com a resignação dedicada a uma gripe em Fevereiro. É óptimo que os portugueses suspeitem dos políticos. É trágico que, provavelmente, isso seja mentira.

Uma coisa é resmungar em inquéritos contra os senhores que mandam. Outra é supôr que os resmungos traduzem a capacidade de compreender que os senhores que mandam, quaisquer que sejam, constituem o problema e não a solução. Infelizmente, palpita-me que as pessoas não criticam o poder porque o poder é por definição criticável. Criticam-no porque não recebem dele tudo o que desejam. O poder, em suma, não satisfaz as expectativas, e a mera existência de expectativas, no sentido em que os de "baixo" delegam aos de "cima" a orientação das suas vidas, é flagrante sinal de atraso.

Entre parêntesis, note-se os extraordinários 4% de indivíduos que, íntima e publicamente, proclamam acreditar nos políticos. Antes de nos espantarmos com tamanha demonstração de primitivismo, convém somar os eleitos para cargos nacionais e locais, os adjuntos, os assessores, os secretários, os motoristas, os compinchas, os parceiros de negócios e todos os que sonham atingir um dos postos anteriores. O número parece plausível.

Terça-feira, 15 de JaneiroA carteira e a vida
As patrulhas não dormem. Uma campanha da Samsung filmou uma jovem ligada à moda a enumerar desejos para 2013. O principal desejo consistiu numa carteira Chanel, que a jovem sonha comprar logo que junte dinheiro para tal. A irrelevância do anúncio é tamanha que nenhuma criatura psicologicamente equilibrada repararia nele. Por sorte, o Facebook está repleto de criaturas à beira de um colapso nervoso e o filmezinho em questão transformou-se depressa no que agora se designa por fenómeno viral. Muitos milhares de pessoas decidiram considerar criminosa a ambição pela tal carteira e, com a indispensável valentia que define a raça, começaram um processo de enxovalhamento da jovem, de seu nome Filipa Xavier.

É ou não é bonito? É, sim senhor. Sobretudo num país em que todos os dias figuras públicas, semi-públicas e anónimas exprimem sem pudor nem consequências alucinados apetites. O dr. Mário Soares pode ansiar por guerras civis, europeias ou mundiais que o vulgo não arrisca um comentário menos abonatório. O inqualificável prof. Freitas e o sr. Carlos da CGTP reclamam a dissolução do Parlamento e o vulgo acha o pedido normalíssimo. Diversos capitães de Abril reivindicam golpes de Estado e o vulgo não dá um pio. Comentadores encartados e o sr. Baptista da Silva convocam a "solidariedade" europeia a patrocinar-nos os delírios e o vulgo aplaude. Jornalistas que perceberam mal a natureza da profissão adoptam a retórica demagógica em vigor e o vulgo aprecia a proeza. O próprio vulgo, ou parte dele, ciranda por manifestações e "telejornais" a exigir em simultâneo protecção social e isenção de impostos. E nada disto suscita uma fracção do escárnio inspirado pela carteira Chanel. Ou uma chamada aos estúdios da Sic.

Numa das páginas mais embaraçosas do jornalismo pátrio, Filipa Xavier viu-se entrevistada no noticiário por aquela senhora que, durante dez minutos, tentou uma carreira como correspondente de guerra. "Entrevistada" é força de expressão: Filipa Xavier foi alvo de um interrogatório paternalista, onde acabou forçada a fazer votos de pobreza pessoal e familiar, a mostrar-se aflitinha com a situação económica e, juro, a garantir que ajudaria os desvalidos a vestirem-se para concorrer a um emprego. Entretanto, a referida "jornalista" esqueceu--se de exibir o guarda-roupa ou de anunciar a partilha do salário, decerto superior aos confessos 700 euros de Filipa Xavier. E a Samsung suspendeu a campanha. A pior crise está nas cabeças, não na carteira.

Quinta-feira, 17 de Janeiro A questão racial
No Alentejo, um pitbull matou uma criança e os portugueses descobriram novo pretexto para a polémica. Dezenas de milhares de pessoas assinaram petições contra o abate do bicho. Suponho que outras tantas exibiram posição contrária. Eu, que decidi não ter filhos por falta de paciência e sempre tive imensa paciência para os meus diversos cães, tendo resignadamente a concordar com a segunda escola de pensamento, ou no mínimo a achar absurda a promoção do convívio entre o ser humano e espécimes susceptíveis de o trucidar. Em simultâneo, não percebo o debate sobre as raças perigosas e as raças inofensivas. Sobretudo porque o problema canino está, justamente, no conceito de raça.

Um cão, companhia fiel e alegria permanente, só o é de facto quando resulta da aleatoriedade na procriação. As raças, principalmente se manipuladas pelos criadores, não são um aprimoramento dos animais, mas o seu exacto oposto. A humanidade não reprimiu quase universalmente o incesto apenas para promover alianças tribais: a verdade é que os filhos de parentes próximos tendem estatisticamente para a toleima, e não é à toa que certos biógrafos, por azar charlatães, procuram uma origem incestuosa no berço de Hitler.

Compreendo o apelo pelos cachorrinhos de "marca" que custam pequenas fortunas em lojas da aberrante especialidade. Infelizmente, é inegável que tais criaturas não se distinguem pela estabilidade "emocional", mesmo considerando os voláteis padrões da espécie. Não digo que os animais acabem por se mostrar perigosos. Digo apenas que existe esse risco, e que, de acordo com o bom senso, o risco é proporcional à respectiva envergadura. Um "chihuahua" resultante da mais grotesca endogamia nunca oferece perigo de maior. Um rottweiler de condição similar é uma ameaça latente.

Não vou cair na armadilha da psicanálise e sugerir que a necessidade de possuir cães potencialmente ferozes é uma compensação do pénis (assim de repente, apostaria na compensação do cérebro). Porém, há por aí demasiados rafeiros fiéis, espertos, meigos e gratuitos a precisar de um lar e de um dono que não os utilize como símbolo de status. Se Deus não me livrar de um dia vir a defender uma "causa", que seja esta.

Sábado, 19 de JaneiroFalta de legitimidade
As razões apontadas para a alegada falta de legitimidade do Governo, hoje lengalenga recorrente, prendem-se com a discrepância entre o programa reformista que teoricamente o elegeu e o assalto fiscal que evidentemente pratica. Isto é, com a mentira.

Num certo sentido, a tese está correcta: ninguém duvida de que o dr. Passos Coelho mentiu, ou no mínimo enganou-se e enganou-nos muito. Sucede que daqui à "inevitabilidade" da queda vai uma certa distância. A distância que, por exemplo e para não recuar mais, manteve durante seis anos no poder os dois governos anteriores, cujos programas não correspondiam exactamente às políticas executadas. O PS do eng. Sócrates jurou em campanha duplicar a dívida pública? Obter recordes na dimensão do défice? Estimular o desemprego? Levar o país à bancarrota? Colocar-nos na dependência de credores? Se bem me lembro, nada disto foi prometido, tudo isto foi realizado - sem que se ouvisse um pio de discórdia dos críticos actualmente de serviço.

Em qualquer dos casos, a questão é meramente académica. Se o Governo actual ameaça (só ameaça) levar a cabo o vestígio de uma reforma, ou seja, aplicar o programa com que se apresentou nas urnas, os críticos estrafegam-no com idêntico vigor. Os que acusam o Governo de falta de legitimidade não têm legitimidade nenhuma.

O futuro da esquerda?
Primeiro o sr. Hollande anunciou um "pacote" de austeridade. Depois, pediu aos sindicatos a "flexibilização" das leis do trabalho. Em seguida, resolveu caçar terroristas islâmicos no Mali. Por fim, elogiou o Governo do dr. Passos Coelho. É isto o futuro da esquerda? Pelos vistos, sim, se apenas considerarmos a pequenina parte da esquerda às vezes capaz de recuar nos desvarios quando confrontada com a realidade. Há a esquerda restante, da qual os exemplos são numerosos e escusados.

domingo, 13 de janeiro de 2013

"A realidade não passará?" e "Os denunciantes"




(imagem obtida aqui)


São os títulos de duas crónicas de Alberto Gonçalves no DN, respectivamente aqui e aqui, que transcrevo de seguida.




A realidade não passará?

Agora é oficial: as exactas forças políticas que criticam os aumentos de impostos também não aceitam reduções na despesa. Se não tivesse outras virtudes, o relatório do FMI teria o mérito de confirmar que, perante um Governo indeciso, há uma oposição que sabe muito bem o que quer. Por acaso, quer o impossível, conforme já reivindicavam os "realistas" do Maio de 1968. E se as consequências de uns garotos mimados a berrar disparates não são graves, as consequências de partidos apesar de tudo representativos imitarem os garotos arriscam dar para o torto.

Sem surpresas, os "argumentos" contra os cortes no Estado não diferem dos "argumentos" contra a carga fiscal. Os cortes são ideologicamente orientados (como se os seus adversários agissem em nome de uma pureza desprovida de ideologia e de interesses). Os "cortes" não constam do Memorando assinado com a troika (como se se defendessem os "cortes" que constam do Memorando e se achasse este documento, afinal, louvável). Os "cortes" violam a Constituição (como se estraçalhar as finanças públicas à custa de negociatas e em seguida deslizar para Paris não violasse o artigo que prevê a punição política, civil e criminal das "acções e omissões" que os governantes "pratiquem no exercício das suas funções"). Etc.

Sobretudo o zelo constitucional é curioso. Aqui e ali, gente indignada fareja com regularidade incumprimentos da sacrossanta lei fundamental sem perceber, ou fingindo não perceber, que o problema não passa por aí. A situação para que, directa ou indirectamente, tantos entusiastas do legalismo arrastaram o País força o País a esquecer a constitucionalidade e a preocupar-se com a realidade. A primeira, apesar do escândalo, ainda é contornável; a segunda, cujo carácter imperativo não carece de tribunal próprio, não. De que adianta uma Constituição "garantir" a todos os cidadãos o direito ao Maserati na garagem se o stand de automóveis deixou de vender fiado?

Descontado o exagero, a retórica que vinga por aí teima no Maserati (ou no Opel, vá lá) e na isenção de o pagar. Para citar um recente convidado do Expresso da Meia-Noite, "temos de definir o padrão de vida de que não estamos dispostos a abdicar e então pedir solidariedade europeia". E não, o convidado não se chamava Artur Baptista da Silva, mas Nãoseiquê Nazaré, figura que suponho ligada aos futebóis e aos socialismos e que, diga-se, limitou-se a repetir a loucura vigente. Aos portugueses, compete respeitar escrupulosamente a Constituição. Aos europeus do Norte, cabe-lhes desprezar as constituições deles a fim de nos sustentar a folia, perdão, o padrão de vida de que não abdicamos. É a solidariedade unilateral.

De qualquer modo, a histeria geral está mal direccionada: o primeiro-ministro correu a avisar que o relatório do FMI "não é a Bíblia" e Paulo Portas admite que o dito relatório possui "coisas discutíveis" e "coisas inaceitáveis". Mesmo sendo verdade, o importante é o frenesim do Governo em abraçar a luta que o une aos que o desejam enxotar. No que depender de nós, nada muda. Feliz ou infelizmente, hoje pouco depende de nós. E, por este andar, amanhã ainda menos.




Os denunciantes

Ao arrepio da timidez típica na classe política, o Bloco de Esquerda não teme erguer a voz contra as injustiças. Há dias, o seu líder parlamentar denunciou um caso de negligência no Hospital de São Sebastião, em Santa Maria da Feira, onde um homem de 25 anos foi mandado para casa sem realizar qualquer exame e acabou por morrer devido a um aneurisma.

O único problema desta história, além de uma morte prematura, é a circunstância de ser tudo mentira - excepto, infelizmente, a morte. Afirmando-se triste com o uso da dor alheia para fins políticos, a própria mãe do falecido esclareceu que no estabelecimento hospitalar em causa "tiveram todos os cuidados, acompanharam-no sempre, realizaram todos os exames com diagnóstico imediato". Quanto ao BE, voltou-se contra as "incongruências" da fonte que lhe cedeu a informação e nem por instante admitiu que o pormenor de o Hospital de São Sebastião ser um exemplo pioneiro de gestão empresarial no Serviço Nacional de Saúde espevitou os apetites da rapaziada por expor as "falhas" do recurso aos métodos do sector privado (o sector público, escusado recordar, é imaculado).

Quem aqui falhou foi, como sempre, o BE. Desta vez fê-lo com espalhafato. Na maioria das vezes fá-lo à revelia do escrutínio público. Mas a repugnante natureza da coisa não muda: os senhores do BE sentem-se tocados pela graça, ungidos cuja missão na Terra é a de acusar, com o dedinho a tremer, as respectivas iniquidades, ainda que as iniquidades nem sequer existam ou ainda que as acusações escondam a defesa de iniquidades piores. De resto, a pior iniquidade é o BE.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Por Artur Baptista da Silva!

(foto obtida aqui)

Pc reparado, volto hoje para sugerir a constituição de um movimento cívico, com vista a levar Artur Baptista da Silva mais alto do que até hoje conseguiu ir politicamente: a lista distrital do PS que foi derrotada pela de António Costa. Os socialistas não o merecem.


O lugar legitimamente reclamável por Artur Baptista da Silva  dentro do actual panorama político e social português, nunca poderá, pelo sucedido, ser inferior ao da chefia de um grande órgão de comunicação social. Mas o posto que verdadeira e honrosamente lhe compete é: ou o de futuro chefe do Governo que substitua o actual; ou o de próximo Presidente da República.


Porque jamais qualquer responsável deste país pôde ou poderá, tão dignamente como Artur Baptista da Silva, escolher a seguinte frase como lema de campanha: "Não engano ninguém!"

(foto obtida aqui)