domingo, 29 de abril de 2012

Um pouco de paraíso (1)


  

Loja, contra-loja e armazém, de Carlos Garcia de Castro

O autor deste livro original – poeta e prosador doublé de professor que também foi radialista nos seus tempos de vilegiatura açoriana (durante 10 meses manteve na Rádio Angra o programa “Pensamento e Poesia”) e com tudo isto amigo de Manuel d’Assumpção, interlocutor de Régio, Manuel Inácio Pestana, Jacinto do Prado Coelho, João Rui de Souza, Tóssan e outros mais de que destacaríamos os professores Firmino Crespo e Manuel Duque Vieira - dá-nos no tomo um registo que vai além do simples memorialismo para se vazar claramente nas evocações comovidas de uma época e de uma cidade (região incluída) que têm a ver com a emoção emanada da escrita e seus múltiplos lugares de indagação do universo.
  
O título não é simbólico, certifica uma realidade próxima a que os tempos há pouco deram fim: o encerramento da conhecida e conceituada Loja Hermínio Castro, entreposto onde se cruzaram durante décadas, nos tempos duma Portalegre compósita com seus tons de lenda e de encantamento popular, o rico e o pobre, o remediado e o assim-assim, o urbano e o serrenho das terras em volta de São Mamede, ainda hoje um dos rincões mais isolados do Alentejo, alto meandro de vivências e de estórias que, aqui se deixa dito, o autor de “Davam grandes passeios ao domingo…” conferiu nos seus caminhares de colecionador fervoroso.
    
A loja, neste volume onde a prosa é adequadamente sulcada por poemas extraídos de vários livros anteriores (um deles, o excelente “Fora de portas” tive o gosto e a honra de o prefaciar e apresentar no Brasil em 2009 - São Paulo, Editorial Escrituras) é o elemento à roda do qual se encenam as reflexões e os factos relembrados. Não está ali como pretexto mas entidade viva. Sendo lugar onde se juntaram existências e figuras, foi nela que o autor entreviu experiências profundas de convivência e sentiu ritmos que o qualificaram como homem e como escritor.

E sendo claramente o livro de um poeta que evoca, pois como poeta e de alta qualidade ele se cifra aos nossos olhos, é também um livro de profunda rememoração de anos e de personagens doravante fixados num perfil exacto, sensível e inteiramente significativo.






Eis um dos poemas inseridos no livro:

Domingo, depois de almoço,
convictos, os funcionários,
que ao lastro da semana em liberdade
só raramente jantam com as famílias
(picar nos tascos desenrasca mais)
vão de automóvel para Castelo de Vide,
perpassam por Marvão sem nada à volta,
conversam na Portagem: – Vamos embora…
ou raspam-se para Valência, à gasolina.
– Então não vamos dar uma voltinha?
Ao sol de Março, em paz, que é luzidio,
sai-se de casa após mais alguns restos
de aconchegadas discussões diárias,
dum lapso de virtude, uma estalada (…)
– É assim mesmo, para saberes quem manda!
– Hoje é domingo, vamos jantar fora.
Por isso é que elas passam esparramadas,
sornas, algumas, a olhar para os lados
por trás dos vidros de automóveis limpos
que os maridos já lavaram,
depois da praça, Fonte do Açude.
Vejo-os passar e penso, deslizante,
como os orgasmos semanais da posse
de madrugada aos sábados confirmam
nestes lugares os meus irmãos da espécie.
Um filtro de amor, altivo,
sustenta equilibrado estas poupanças
que almoçam frango e febras no churrasco.
Vêem-se sempre passear à tarde
edificantes automóveis lestos
que em toda a parte, de semana, amargos,
se adoçam conformados aos domingos.
 (…) Enquanto, porém, mais outros,
também independentes mas pacíficos,
fundamentais, de gozo inda maior,
municipais se ficam com cervejas
fumando e resolvendo nos Cafés

os problemas do trânsito.

in Loja, contra-loja e armazém, Edições Colibri, Lisboa, Novembro de 2011

(Nota – Os textos de ns não seguem nunca os preceitos do Acordo Ortográfico)

sábado, 28 de abril de 2012

De novo António Justo


Ontem não abri o e-mail. Quando o fiz, agora mesmo, encontrei este texto que António Justo, uma vez mais, amavelmente me enviou. Publico-o, pois, com um dia de atraso em relação ao que seria desejável.


Falta um novo “25 de Abril”
Democracia de Base versus Democracia de Mordomias

O povo cada vez tem de cavar mais coutos para poder manter um só novo-rico. Por esta e por outras se vai ouvindo, com veemência, por todo o lado, que falta um novo “25 de Abril”. Isto é um desabafo de impotência e desilusão dum povo que se sente encurralado!

Vasco Lourenço, líder da A25A, que, há 38 anos, foi um dos grandes actores da Revolução dos Cravos, disse ontem, no discurso do Rossio em Lisboa, que tanto  responsáveis políticos como Assembleia da República  "já não representam a sociedade portuguesa" e que já não estão "à altura das funções para que foram escolhidos".  Acusa as elites portuguesas de actuarem "à porta fechada, escamoteando a realidade aos portugueses".

Este é um depoimento importante que merecia ser analisado fora do discurso politiqueiro enquadrado no dia-a-dia português; é um verdadeiro ataque à partidocracia portuguesa que, de facto, desde a sua origem, nunca se manteve à altura do legado de Portugal nem dos interesses do Povo português. Consequentemente haveria que questionar a Constituição que privilegia os partidos e elaborar um novo sistema de representatividade.


Desde as invasões francesas a alma portuguesa encontra-se empalamada.

É um escândalo ver como suportamos parlamentos demasiado numerosos em países pequenos e como alimentamos eurodeputados insaciáveis. O mau exemplo vem das elites. A "realidade" de políticos e da propaganda partidária não tem nada a ver com a realidade do povo. Os vencimentos de personalidades políticas e de administradores de empresas públicas e privadas são a melhor prova de que o sistema falhou e se encontra ao serviço de alguns!


As organizações partidárias portuguesas encontram-se eivadas dum espírito mafioso engravatado e culto que não dá nas vistas. Em vez da preocupação pelo povo domina o interesse pela progressão na hierarquia partidária, por vezes sem quaisquer escrúpulos. A sociedade portuguesa foi habituada e alimentada com o discurso político à custa do discurso cultural, social e económico.

A situação económica em que nos encontramos é consequência da crise cultural e moral que criámos.  É urgente que políticos e elites, em geral, se convertam por atitude de inteligência ou mesmo oportunista. Se não se converteram à honra e  à dignidade humana, o nosso futuro tornar-se-á num inferno. A partidocracia aliada aos poderes subterrâneos tem desacreditado a democracia representativa e encontra-se com a colectividade a caminho da ruina.

A alternativa está numa metanóia de elites e de povo. A mudança passará da filosofia da afirmação do eu à custa do tu e do nós para uma ética de afirmação do nós onde o eu e o tu cresçam em dignidade e respeito. O nós passa a ser o ponto de partida e de chegada do nosso pensar e agir. O nós é mais que a soma do eu e do tu.

Realmente torna-se cada vez mais óbvio um novo “25 de Abril” mas não só de cravos vermelhos, no coração de cada um. Já chega de ramos de cravos vermelhos com atilhos pretos. Portugal terá de se tornar num jardim onde crescem todas as flores em dança de cores.

Portugal e a civilização ocidental têm que fazer uma cura. O primeiro tratamento será o de desenvenenar o pensamento!

A geração mais nova e em especial as próximas gerações terão razão acrescentada para pedir contas, a nós, os da geração 68, e ao regime.

Três textos e um testemunho




Soares não é fixe
Podia alegar falta de paciência para assistir à chumbada da cerimónia evocativa do 25 de Abril, que atura há 38 anos. Seria perfeitamente atendível.

Podia alegar o nojo sentido pelo resultado desastroso da governação dos seus amigos e correligionários. Seria obviamente compreensível.

Ao invés, optou por justificar a sua ausência com a discordância em relação aos caminhos escolhidos pelo actual governo. Pelo governo que é suportado por uma maioria parlamentar plenamente legitimada pelo voto popular. Pelo governo que há 309 dias não olha a esforços para resgatar rapidamente a nossa soberania, executando com rigor o programa aprovado na Assembleia da República e os dítames do contrato de hipoteca de Portugal ao estrangeiro, que foi corolário da desgovernação socialista.

Tal como acontecia com as suas referências ideológicas da velha república, para Soares, a democracia só existe quando ele e os amigalhaços estão no poder. Até no resultado há semelhança: Os primeiros levaram Portugal a uma ditadura de 48 anos, os amigalhaços de Soares aniquilaram a nossa independência, sabe Deus por quanto tempo.

Os nossos deputados 

descubra as diferenças
No Expresso: "Ex-primeiro-ministro islandês culpado por esconder a crise."
No JN: "Ex-primeiro-ministro islandês é culpado, mas livra-se da prisão".
No Económico: "Ex-primeiro-ministro islandês culpado por negligência".
No Correio da Manhã: "Tribunal condena primeiro-ministro".
No Sol: "Ex-PM islandês parcialmente culpado pela crise".

No DN: "Tribunal inocenta ex-chefe do Governo".
No Público: "Antigo primeiro-ministro da Islândia absolvido".

Califórnia como reflexo do futuro
Um dos principais temas da campanha americana será precisamente o papel que o estado deve desempenhar na sociedade e na economia. Vai ser aí que Obama e Romney vão centrar os seus discursos, sabendo à priori que o estado federal está prestes a falir, em virtude dos défices exagerados e da dívida  acumulada nos últimos anos. Com o crescimento previsível nas despesas sociais, como na Segurança Social e nos programas de saúde Medicare e Medicaid, os Estados Unidos no final da década estarão numa situação idêntica à dos países do Sul da Europa, onde infelizmente incluímos Portugal. Mas não é preciso perspectivar muito do que poderá acontecer se os Estados Unidos prosseguirem o caminho preconizado pela Administração Obama, que aumentou mais em três anos a dívida pública do que o também despesista George W. Bush em oito anos. Consideremos a Califórnia. 

A Califórnia, que apesar do vigor de Sillicon Valey e de empresas como a Google, Facebook ou Apple, encontra-se numa situação de pré-falência e decadência acelerada. As políticas progressistas, que engordaram o estado, distribuíram milhões de dólares pela dita "economia verde" e colocaram barreiras inconcebíveis às empresas,  empurraram o estado para o declínio. Pela primeira vez desde que está na União, a Califórnia tem vindo a perder população para estados com economias mais vibrantes, como o Texas, o Arizona ou o Utah, e na última década a criação de emprego estagnou e a pobreza aumentou. Segundo este artigo de Joel Kotkin, são cada vez mais os californianos que vivem sem pagar impostos e que estão dependentes dos programas sociais e do Medicaid (programa federal de apoio na saúde aos mais desfavorecidos). A taxa de desemprego é a terceira mais elevada do país. O estado que cresceu, demograficamente e economicamente, mais nos últimos 100 anos está em total declínio. E como isso foi possível? Seguindo uma receita falhada e que Obama persiste em estender a toda a América. Se os americanos quiserem saber como será o futuro este presidente? Que olhem para a Califórnia.


sexta-feira, 27 de abril de 2012

Da surdez no clítoris -1



(foto obtida aqui)

Tenho andado a publicar aos poucos, no Fiel Inimigo, um texto que, já agora, deixarei, também aos poucos por aqui. Esta é a primeira das cinco partes que o constituirão.



Caríssimo Carmo da Rosa:

As vicissitudes da existência não me permitiram acrescentar mais nada ao único comentário que fiz a este seu post, no qual tecia algumas considerações a respeito deste outro, do Rio d´Oiro, que referenciava, por sua vez, um texto publicado por Pedro Picoito no Cachimbo de Magritte. Fiquei com a impressão, aliás, de ter sido muito pouco claro para si, porque reparei que, logo a seguir, respondeu a uma observação do Godot sobre o que este considerava —e muito bem— o essencial do que eu escrevera (obrigado, Godot, pelo apreço) dizendo que não me dera troco porque não percebera a que propósito vinha isso da excisão do clítoris. Coisa que me pareceu estranha, da sua parte, tanto mais que estou habituado a que procure, como poucos, esclarecer os assuntos que se lhe afigurem nebulosos, e que, por tal, mais me aguçou a vontade de repescar o assunto.

Ora tendo tido hoje maior disponibilidade para me achar “mais pachorrento” (parafraseando o velho Elmano Sadino), dispus-me a despachar o assunto. Só que, como se sabe, as palavras são como as cerejas e tal, e o que era na intenção para meia dúzia de linhas, por muito que eu me esforçasse e tressuasse em contrário, transformou-se numa montanha delas. Achei melhor, assim, publicar o que escrevi em três partes não só pelos danos que o computador causa à visão como também, confesso, porque me faltam para aí dois parágrafos, o jogo do Sporting já começou e eu estou muito longe de ser perfeito. Aqui fica, portanto, a primeira parte da minha resposta.

CdR:

Aumentar intencionalmente a possibilidade de vir gerar um ser humano privado da totalidade dos sentidos de que a espécie desfruta, argumentando com os eventuais limites educacionais que a limitação sensorial impôs a quem o pretende fazer, por querer ter, à viva força, um filho: não haverá muitos exemplos de tão grande monstruosidade de carácter, travestida da mais altruísta das motivações. Nem é difícil detectar nisto o mesmo princípio —teórico e prático— fundante das grandes ditaduras que a humanidade conheceu.

Princípio, aliás, que, de igual modo, serve de justificação à excisão do clítoris, travestida de medida de sanidade religiosa. Trata-se somente de inverter o conhecido “Se não podes com eles, junta-te a eles” num “Se não podes com elas, tira-lhes a pila — que, tirando-lhes o prazer, tiras-lhes o apetite para cuja satisfação tu, sozinho, não venhas, eventualmente, a ser suficiente, e assim terás c… vagina sem concorrência”. Apresente-se o apetite sexual da mulher como devassidão que contraria os preceitos de um Transcendente legislador e punidor e a coisa ganha então uma solidez quase indestrutível. Considerar a possibilidade da sexualidade humana possuir outros contornos e dimensões para além do apreensível e, eventualmente, suportável pelos que determinam a excisão clitoriana (incluindo a bissexualidade feminina), é algo que lhes é apavorante, na medida em que põe em dúvida a sua auto-compreensão.

A razão pela qual, porém, não é feito o paralelo entre o caso relatado e a mutilação genital feminina assenta em dois factores:

- Primeiramente, por a sexualidade se manter no topten das preocupações das sociedades ocidentais. E isto porque, por um lado, durante milhares de anos a consideração do que ela é ou possa constituir tem vindo a ser impedida por motivos semelhantes àqueles que acabei de referir, gerando confusões e a correspondente existência de elementos que nem sempre ajudam a uma visão mais clara e objectiva sobre o sexo e a sua vivência —antes, por vezes, a turvam ou impedem. Em consequência do que, por outro, a sexualidade, em especial a que respeita à do sexo feminino, em conjugação com a afirmação do feminismo, nos seus mais lúcidos e ilúcidos cambiantes, a torna num ponto da maior sensibilidade no que concerne às liberdades.

- Depois, porque a excisão do clítoris é perspectivada como acto de barbarismo, próprio de culturas primitivas, repressivas, que se firmam no obscurantismo das religiões. Enquanto que o casamento homossexual e o direito a educar uma criança dentro dele —por custódia parental, adopção ou geração laboratorial— é entendido como libertação de tabus e combate à repressão do “sistema”, em prol do aparecimento de uma Humanidade nova.

E foi precisamente neste ponto que se originaram os mal-entendidos presentes na caixa de comentários, das quais o Godot (obrigado pelo apreço!) se apercebeu muito bem, ao situar a questão da excisão do clítoris como o essencial da minha resposta, bem como a ligação que ela tem com a esquerda.

Cito, de novo,  um dos grandes vultos da cultura portuguesa do século XX, completamente esquecido após a sua morte, quase trinta anos atrás, com quase toda a obra por editar, e de quem eu (nessa altura um puto) tive o enorme privilégio de ser amigo, Manuel Grangeio Crespo, num livro que publicou pouco antes das primeiras eleições legislativas pós-25 de Abril: “Revolução Cultural é um pleonasmo: não há outra”. Com efeito, toda a revolução assenta na necessidade de se estar, de se viver de outro modo, mesmo que essa necessidade se apresente, de início, com contornos de menor precisão. O que não tiver tal necessidade por fundamento não passa de um mero golpe de Estado.

Ora a esquerda aponta, desde o seu início, para uma nova cultura, a cultura de uma Humanidade dos Amanhãs que Cantam, proveniente da racionalização da posse e utilização dos meios de produção assim como do consumo dos bens produzidos. A viabilidade e a necessidade dessa cultura baseiam-se, contudo, em princípios insuficientemente demonstrados, mas simpáticos para as tendências sociais dos tempos em que os formularam, ou até em meros postulados (para quem não saiba, figura da Lógica que designa algo não demonstrável, mas que terá que se supor verdadeiro para que todo um conjunto teórico possa ganhar sentido). Todos eles, como não poderia deixar de ser, intrinsecamente relacionados com o ensino e a pedagogia. Vejamos, mais que abreviadamente, aqueles que foram e continuam a ser determinantes, na respectiva sequência histórico-cultural.

(...)

quarta-feira, 25 de abril de 2012

PEQUENO MOSTRUÁRIO PARA VAMPIROS (2)



AMNISTIA INTERNACIONAL VEIO A PÚBLICO REFERIR QUE OS MUÇULMANOS “SÃO DISCRIMINADOS” NA EUROPA… - dos jornais
  
É preciso ser-se dono de um fenomenal descaramento, no mínimo, para vir como a A.I. terçar armas pelos muçulmanos duma forma no mínimo cínica ou enfermando de cegueira.
  
Reparem: em vista dos intuitos confessos dos chefes islamitas (apoiados pelos seus sequazes) que de forma expressa ou "branda" propagandeiam o seu desejo de domínio (califado), muito bem têm eles sido tratados. Nenhuma outra civilização consentiria tanto proselitismo descarado e subversivo letal portas adentro. Se compararmos com o que eles, nos seus redutos nacionais, fazem a outros fideístas (cristãos, judeus), que são até assassinados, perceberemos o cinismo politicamente correcto da AI, que nada diz sobre a intolerancia criminal dos adeptos de Alah. 



Nicolau Saião, Trio ao entardecer

Eu gostava de perguntar aos cínicos fingidamente humanistas da A.I. em que é que a burkka, a sharia, a discriminação das mulheres e o seu espancamento, o casamento de crianças, a excisão clitoridiana, o fechamento cultural e a submissão acéfala a postulados sectários concorrem para uma vida de qualidade, liberdade e felicidade humana geral.
  
Na verdade este prurido masoquista hipócrita da AI não é sério e é simplesmente um acto de propaganda e tenta estimular apoio ao fechamento islamita e às exigências absurdas com que procuram dominar as consciências que os não queiram ter como senhores totalitários.
  
Hipocrisia politicamente correcta, apenas.

Portugal, 25 de Abril de 2012



Não o conheço, mas teve a amabilidade de me enviar um texto seu, ontem aqui publicado. E que eu, pela minha parte, divulgo com a devida vénia a quem o escreveu.



MILITARES DE ABRIL QUEREM SAIR DE NOVO PARA A RUA
O Protagonismo político camuflado na A25A

A “Associação 25 de Abril” (A25A) fiel à ideologia inicial do seu “Abril não desarma” declara que “não participará nos actos oficiais nacionais evocativos do 38.º aniversário do 25 de Abril” mas sim em comemorações populares, traduzido isto em texto claro: participará em comemorações arruaceiras. A A25A quer ver os militares abrilistas na rua antes que o povo os chame à responsabilidade. Nestes festejos, a sociedade portuguesa deve estar atenta não só aos que comemoram a oficialidade como também aos mais populistas, aos “conscientes das obrigações patrióticas que a nossa condição de Militares de Abril nos impõe…”, aos que, oportunamente abandonam as bancadas, como faz agora Soares. Só assim, os portugueses poderão concluir do conluio entre irresponsabilidade política e popular para se tornar imune contra o oportunismo de ideologia e de rectórica alienante.
´
Aproveitando-se do mal-estar português, a A25A torna-se porta-voz de recalcados anseios dos seus “Militares de Abril” por um novo Golpe Militar. A A25A apoia descaradamente a opção militarista como solução para os problemas de Portugal, como Portugal fosse uma república das bananas interessada na solução árabe para Portugal. De facto, a A25A confessa, para quem lê nas entrelinhas:declaramos ter plena consciência da importância da instituição militar, como recurso derradeiro nas encruzilhadas decisivas da História do nosso Portugal”. Portugal “nosso” deles…


Continua-se com a mesma oratória de há 200 anos para cá, como se os problemas políticos e sociais das sociedades modernas pudessem ser solucionados com uma rectórica irresponsável. Têm ainda a insolência de afirmar: “a nossa atitude não visa as Instituições de soberania democráticas”, como se esta acção demagógica não partisse de pessoas ligadas às instituições de soberania como é o caso de Militares e não fosse apoiada como pessoas como M. Soares.


Afinal, quem são os “Militares de Abril”? Uma aparição salvadora? O protagonismo político, que a A25A cobre, é irresponsável, num momento em que Portugal ferve e deveria reflectir sobre si mesmo e sobre estratégias isentas para sair da crise. Fala-se do Militares de Abril como se na terceira república não tivéssemos também os militares de Novembro. Será que as forças militares se sentem obrigadas a ideologias ou a facção abrilista está interessada em criar o caos em Portugal?


Os interesses da facção dos “Militares de Abril” e seus aliados, em tempos de crise descobrem a rua e muitas autarquias locais como campo de acção, para, por trás do mito de Abril (Primavera) poderem continuar a vestir a pele de cordeiro e poderem, no ribeiro popular, afirmar que quem “suja” a água não são eles mas os outros, os maus. Camuflados dos ideais de liberdade, justiça e libertação enganam o povo dizendo “A A25A participará nas Comemorações Populares e outros actos locais de celebração do 25”.


É cinismo verificar como “Militares de Abril”, que, com os seus cúmplices de partido, atraiçoaram os interesses de Portugal, a nível internacional, se querem agora aproveitar da crise e das insatisfações do momento bem como correspondente descarga de culpas no estrangeiro. A culpa morreu solteira, sabia o povo de antigamente! Em nome de Abril, a terceira república meteu a carroça da nação na lama e os seus beneficiados querem-se agora ilibar, armando-se em libertadores da nação. Coisa semelhante aconteceu na primeira república que depois deu origem à do Estado Novo. A Nação portuguesa já está habituada a ser o bombo da festa de oportunistas à espera do momento para assaltar o Estado. Quem provou os seios do Estado foge do povo para se alimentar dele.


Na sua ética e moral jacobínias atiram pedras escondendo-se por trás de palavrinhas mágicas como liberdade, cidadania. Do alto do barranco do protagonismo político da A25A, pretendem a sua “Integração plena na sociedade portuguesa” como se eles não se tivessem de integrar na sociedade portuguesa. Esta mentalidade tem sido o cancro da nação: em vez de se pretender integrar as partes no todo pretende-se reduzir o todo à parte!


Que as condições mercantilistas impostas a Portugal devam ser contestadas é lógico mas que o movimento republicanista se lave as mãos da lixeira por ele criada, ultrapassa os limites do tolerável.

O que falta em Portugal é o sentido dum trabalho produtivo, um voltar à terra e ao povo deixando a ideologia que apenas serve os privilegiados, os tais de “corpo inteiro”, já que turbo-capitalismo e esquerdismo só valorizam o trabalho à custa da dignidade humana. 
Os quadros da ideologia e da economia, esses, os senhores da ética (que enriqueceram à custa do 25 falam agora de “ética como “palavra vã”) são os novos-ricos alimentados à custa da exclusão social e de dinheiros da UE. Senão observe-se a excrescência que o 25 de Abril tem produzido: gente esfomeada do dinheiro e da ideologia a viver seus nichos e uma pobreza cada vez mais envergonhada. Enriqueceram à custa da revolução e à sombra da revolução atiram pedras sabendo bem que quem paga a crise não são eles, os encostados à Nação mas sim o povo que a alimenta.


Construíram um Portugal dos oportunos (somos dos países com mais cargos em instituições internacionais e vêm agora queixar-se que “Portugal não tem sido respeitado entre iguais”. Precisam dum Portugal vítima para não terem de ser chamados à responsabilidade. Os delinquentes são sempre os de fora! Para si só importam o marisco!...


Falam de barriga cheia porque sabem que a crise, seja ela qual for, só ajuda os das margens da esquerda e os das margens da direita. A terceira república fomentou a irresponsabilidade, o medo sub-reptício, o conformismo e o oportunismo; tudo isto em nome do combate ao fantasma de Salazar, pensando que se pode viver à custa do trabalho dos outros. O povo não come moral nem ideologia e neste momento o que tem é fome, fome de justiça e de trabalho digno e de honra ganha com o próprio esforço.


Os Militares revolucionários de Abril queriam-nos um protectorado de Cuba, Pequim e Moscovo e, agora, no seu camuflado de libertadores abrilistas, acusam-nos de sermos um “protectorado”. Protectorado não é porque Portugal conhece bem o sol do oportunismo e a sua situação de terra maninha, a terra do que é mais forte. A nossa História dos últimos séculos só dá razão aos fracos no momento em que servem de plinto para os mais fortes subirem.


No manifesto da A25A, incapazes (a situação em que nos encontramos é disso a prova) acusam Portugal de ter “dirigentes sem capacidade autónoma de decisão” como se não tivessem sido eles, também, quem na altura abdicou de Portugal para se deixar ir na corrente mais forte.


O regime da terceira república configurou a Constituição Portuguesa e o povo na afirmação dos seus ideais e valores ideológicos e numa estratégia de derrube de tudo o que cheirasse a tradição ou a ética da responsabilidade pessoal e institucional. O povo dançou e dança nele ao toque das bandas políticas deles e da moda; agora sofre as consequências e os organizadores da festa têm o desplante de se armarem em homens bons. Porque “Abril não desarmou”, Portugal chegou onde chegou. Há 38 anos os militares de Abril na “convicta certeza „ de só eles serem os porta-vozes do povo, quando, o que fizeram foi substituir um regime autoritário por outro, e permanecer na “convicta certeza” de só terem certezas para oferecer, esquecendo que o que faz um povo crescer é a dúvida metódica. Se “Abril não desarma” o povo encontra em guerra: a guerra do oportunismo só serve os tais que sempre vivem encostados à “convicta certeza” como quer a A25A.


Ontem como hoje os portugueses gritaram e gritam por liberdade; ontem como hoje os responsáveis falam da culpa dos outros e o mesmo povo entra no jogo não notando que está sempre a canto! O que Portugal precisa não é de revolução, o que o precisa é de responsabilidade. Quem aposta na culpa dos outros precisa de um inferno para eles! Esquece que o paraíso que tem para oferecer é o inferno dos outros também!


Viva Portugal, termina o manifesto. Os mercenários internacionalistas de outrora camuflam-se agora de patriotas e gritam a palavra oportuna do momento: Viva Portugal!

António da Cunha Duarte Justo

terça-feira, 24 de abril de 2012

TEXTOS DIVERSOS (1)




  A DEMOCRACIA DELES…



“Mário Soares, no seguimento de declarações de Vasco Lourenço, diz que não participará nas celebrações oficiais do 25 de Abril” – dos jornais
  
  Soares, que de acordo com observadores bem colocados sempre foi um perito em camuflar a sua vaidade e videirice política amparado em activistas da mesma lavra como os almeidas santos da sua "entourage", nesta última fase da sua vida destapa-se e mostra a sua verdadeira face de prepotente (caso da multa), de insensato (não teve uma palavra para exautorar Sócrates ou Constâncio) e de, finalmente, antidemocrata quando contrariado no seu querer.

 Não apela à sedição, parece assumir já a própria face desta; alegadamente rancoroso e falso irmão, talvez julgue pôr na balança prestígio para tombar um prato - mas prestígio já não terá, o Povão agora já o conhece, já o situou: o ex-político eventualmente capaz de tudo, simbolicamente falando, para destroçar os adversos, mesmo que tal prejudique a Nação que votou de maneira que lhe não agrada.

   Um caso lamentável de aparente pedantice, perigosa e mesmo ridícula. Este indivíduo, na opinião de muitos, um dos responsáveis, por acção e omissão posterior, do estado a que chegámos, agora parece postular uma verdadeira golpada, bem como outras figuras reumáticas do mesmo jaez. 




 Nicolau Saião, Eles


   É a democracia que estes benjamins entendem? Seria triste, se não fosse simplesmente um exemplo de como, perdido o poder de que disfrutaram, perdem também a noção da dignidade democrática e verdadeiramente cidadã.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

ALGUNS POETAS BRASILEIROS (1)




C. Ronald ou os fogos da noite

  Para iniciar esta secção - dada a lume nestes tempos curiosos (surpreendentes?) em que poetinhas d’ aquém e d’além mar por obra e graça de “fazedores administrativos” são postos numa epígrafe de talento que de facto não merecem e só tem o intuito da mera propaganda para escarafunchar cabeças – nada melhor que a voz de um verdadeiro poeta, um poeta sem complacências e rodriguinhos de escrita e de que a Terra de Santa Cruz se pode e deve orgulhar ser dela e viver nela.
  Com simplicidade, mas com aquela atitude varonil e digna dos altos talentos, Carlos Ronald Schmidt vem de há décadas sustentando nas mãos o fogo da poesia, que é tão natural nele como um objecto familiar e que nos garante a todos na realidade quotidiana das melhores horas e dos melhores momentos.
 Aqui deixo quatro poemas que seleccionei da sua vasta Obra.






O GAROTO STRAVINSKY

Lendo Carl Spitteler numa primavera horrível.
Não é possível ser grande
com tamanha tagarelice.
Stravinsky (o certo) descobriu isso
despindo-se (noutra). Passa a língua nas notas.
Dia maravilhoso nesse bar de praia e dizer:
estou em falta contigo, "a tragédia
não tem nada a haver com a sujeira que
deixa". Uma volta nos arrabaldes (lavam as
máquinas matricidas) póstumos entre colunas
gregas. Ah, nunca, antes
de estremecer no horário o ano vindouro com
novela numa TV idiota.
E parturientes de acéfalos
já desligados da casca. Ora!
Igor sustenta nosso futuro. Por aqui, tudo bem. Então discutem sem
definição alguma, encolhidos na alcova. Especialistas de
cemitério tampouco vi. Claro, somente coveiros,
mas estes nunca levaram a sério uma cova
e tampouco a própria.

  (in Como Pesa!, 1993)


Eis a porta que range com aquele que entra:
domínio da incerteza para mais de um corpo
e o silêncio desfeito. A terra depois disto
e o tamanho inexato daquele que a tenta

como parente estranho que nem era homem
entregue ao acaso com a visão atiçada
no acúmulo de cartas quando pesa o nada
na permanência inútil e no lugar dos nomes.

Mãos em coisas pequenas só alargam a morte
no que consomem do outro. Mas o verbo firma-se
em cada grito de antes sendo ainda mais forte.

Ai, meus Senhores, funde-se o pressentimento.
Não sois nada, nem há folha fora dessa bíblia
que não seja virada e lida cada noite...

(in Gemônias, 1982)


NA CANTINA DO BOSQUE

Recebendo o presente dos amigos, começo
uma idade nova sem mudar os hábitos.
Eu, animal ainda não notado na natureza.
Pronunciem um nome que a identidade se apresenta.
Não é um local apropriado para a alma
a realidade que os adultos inventam.

Qualquer lugar deste país, embrutece.
As aves choram o vermelho da terra esfolada.
Ah, regato perfeito, a voz humana
só é percebida depois de perdidas as palavras.
A sordidez é toda a História e ali
qualquer lembrança pode ser rival dos sentidos.

De certo há muita coisa a nos integrar.
Uma bela italiana a nos servir.
A alma rústica não sabe o que é pensar
antes que nos roubem, rápido, sua essência.
No cardápio o avesso foi escrito por alguém:
“Temos que comer o que nos é dado olhar”.

(in A Cadeira de Édipo, 1993)


PARA ESTAR NA PAISAGEM

Assim que entro, a casa estabelece as regras,
o apoio da terra, as mãos como duas naturezas
juntas e algo que não fui quando chego à cozinha:
algoz e vítima, alimento e gosto, amor e ódio
sobre o mesmo fogo. Tu estavas distante
dessa história, iluminada e nua. Débil eco
para quem precisa do encanto, das coisas antigas
e das novas. Ainda uma vez mais os sonhos tentam
o existido com o que fica dos mortos. O hábito
com que provo o tempo nessa noite de chuva.
Acima de nós, beleza e verdade confundem
a liturgia das raízes, o manancial dos enigmas
a graduar o acaso por tudo que tivemos juntos
entre frutos e flores.

(in As coisas simples, 1986) 



sexta-feira, 20 de abril de 2012

O que está a acontecer?



Já olharam com olhos de ver à vossa volta?
Já viram que quem governa afirma que não há futuro?
Que de agora em diante será um continuo afundar na austeridade?
Que há países europeus onde governantes eleitos são substituídos por tecnocratas nomeados do estrangeiro?
Que o enriquecimento ilícito é permitido e legal?
Que os Juízes não aplicam a Justiça aos poderosos (Isaltino, Portucale, ...)?
Que a Procuradoria se recusa a investigar assuntos dos poderosos (submarinos, etc.)?
Que os juízes do T Constitucional andarão a ser escolhidos pelas garantias que dão de respeitarem as decisões do Governo e não a Constituição?
Que a polícia anda a ser preparada para lutar contra os cidadãos?
Que a maior ameaça para a sociedade passaram a ser... os cidadãos???

Que mudança é esta? O que está a acontecer aqui? O que se prepara?

Sabem?

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Delicioso!


Ora leiam este email que recebi de uma amiga:


Da crónica de João Quadros no Negócio On-Line:


"Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE) demonstram que o Pingo Doce (da Jerónimo Martins) e o Modelo Continente (do grupo Sonae) estão entre os maiores importadores portugueses."

Porque é que estes dados não me causam admiração? Talvez porque, esta semana, tive a oportunidade de verificar que a zona de frescos dos supermercados parece uns jogos sem fronteiras de pescado e marisco. Uma ONU do ultra-congelado. Eu explico. 


Por alto, vi: camarão do Equador, burrié da Irlanda, perca egípcia, sapateira de Madagáscar, polvo marroquino, berbigão das Fidji, abrótea do Haiti… Uma pessoa chega a sentir vergonha por haver marisco mais viajado que nós. Eu não tenho vontade de comer uma abrótea que veio do Haiti ou um berbigão que veio das exóticas Fidji. Para mim, tudo o que fica a mais de 2.000 quilómetros de casa é exótico. Eu sou curioso, tenho vontade de falar com o berbigão, tenho curiosidade de saber como é que é o país dele, se a água é quente, se tem irmãs, etc.


Vamos lá ver. Uma pessoa vai ao supermercado comprar duas cabeças de pescada, não tem de sentir que não conhece o mundo. Não é saudável ter inveja de uma gamba. Uma dona de casa vai fazer compras e fica a chorar junto do linguado de Cuba, porque se lembra que foi tão feliz na lua-de-mel em Havana e agora já nem a Badajoz vai. Não se faz. E é desagradável constatar que o tamboril (da Escócia) fez mais quilómetros para ali chegar que os que vamos fazer durante todo o ano. Há quem acabe por levar peixe-espada do Quénia só para ter alguém interessante e viajado lá em casa. Eu vi perca egípcia em Telheiras… fica estranho. Perca egípcia soa a Hercule Poirot e Morte no Nilo. A minha mãe olha para uma perca egípcia e esquece que está num supermercado e imagina-se no Museu do Cairo e esquece-se das compras. Fica ali a sonhar, no gelo, capaz de se constipar. 


Deixei para o fim o polvo marroquino. É complicado pedir polvo marroquino, assim às claras. Eu não consigo perguntar: "tem polvo marroquino?", sem olhar à volta a ver se vem lá polícia. "Queria quinhentos de polvo marroquino" - tem de ser dito em voz mais baixa e rouca. Acabei por optar por robalo de Chernobyl para o almoço. Não há nada como umas coxinhas de robalo de Chernobyl. 


Eu, às vezes penso: o que não poupávamos se Portugal tivesse mar.

terça-feira, 17 de abril de 2012

PEQUENO MOSTRUÁRIO PARA VAMPIROS (1)




SCIENCE FICTION

- Pois bem, meu senhores - disse o mais velho, que parecia ter ascendente sobre os outros - Façamos então o ponto de situação...o ponto em que estamos de momento. Pode começar você, Lestat...
- De momento, meu caro Vlad - disse repuxando a boca bem desenhada o jovem louro e atlético - temos gente nossa bem motivada em todas as cidades do globo. O discurso que lhes é comum insiste num ponto: o nosso direito a dispormos dos nossos ritmos místicos, da nossa… "ideologia" se assim me posso exprimir. É a tecla em que temos batido sem desfalecimentos. A questão de sermos uma comunidade vilipendiada, perseguida... discriminada... ofendida. Creio que me faço entender!
- Bem visto! - ronronou Vlad Tepes com um luzir nos olhos ardentes - E a nível de jornais, de gente que faz a diferença... como páram as modas? Você, Sagramor, pode elucidar-nos?
- É p'ra já, meus amigos - preambulou o negro de estatura elevada e de musculoso recorte na sua voz cantante e fascinadora - Para já, os homens de negócios que estão à frente desse sector já se juntaram em grande parte a nós. Intuíram que têm de ser compreensivos, modernos, que tem de haver tolerância com o nosso… colectivo. E na classe política e intelectual também existe um equilíbrio paralelo...Alguns dos homens de topo e mesmo outros medianos já entenderam a razão dos nossos… direitos. E são partidários do diálogo: já se começaram a desobstruir reuniões… O próprio Jorge, o próprio Soa…
- Não me venha com esses nomes! – cortou do lado a mulher de estatura coleante, sensual, de cabelos e olhos negros retintos, agitando a mão de unhas longas e pintadas de vermelho - Esses estão para onde lhes dá a brisa, Sagramor!






- Não seja exagerada, Carmilla... - disse Vlad Tepes censurando-a com algum vigor - Esse tipo de operadores sociais pode ser bem útil à nossa causa. Os fala-baratos também têm lugar na nossa demanda, não se esqueça. Tornam as massas maleáveis, compreendeu? E quanto ao seu sector? Isso é que interessa, o resto... é fantasia!
- Bom - disse Carmilla von Karnstein - O elemento feminino vai-se portando como se espera... Um pouco de moda, um pouco de tratamento televisivo, um bocado de romantismo e de doçura para adequar as meninges... Tem sido, posso dizê-lo, uma festa para o país… Percebem?
   O jovem Lestat riu com gosto, pondo à mostra os dentes brancos e fortes como os de um lobo viril. 
 - Certo, cara Carmilla, certo. Boa jogada! As senhoras também terão um grande papel nesta opereta... A paz, a brandura de coração...O idealismo… Também o usei com esmero lá nos lindos Estados do meu sul natal. Parece que foi há três dias…e já lá vai uma eternidade!
- Porque bem vêem, meus amigos - disse Vlad Tepes com discernimento - O importante é levar isto, por enquanto, com mansidão e equilíbrio. O que se ganha com violências bruscas junto do grosso da opinião pública? Isso devemos deixar, quando fizer falta, para as unidades de combate... Elas sabem como agir. Quanto a nós é irmos pela diplomacia. De contrário ainda nos aparece aí de novo esse metediço, esse violento do Van Helsing e as suas exagerações. Não acham?
(E na sala mergulhada em amena penumbra criada por pesados reposteiros de veludo escarlate, em volta da magnífica mesa de carvalho escuro, as cabeças dos confrades acenaram afirmativamente, como se fossem uma só).

segunda-feira, 16 de abril de 2012

A mentira da Educação



Diz Ramiro Marques, no ProfBlog (via Fiel Inimigo):



A nossa Educação Pública vive há décadas sobre uma mentira: a ideia romântica e inquestionável de que todas as crianças e adolescentes são capazes de chegarem até onde elas ou os pais delas quiserem.

Toda a gente finge que acredita neste axioma. Na verdade, ninguém acredita nele mas todos fingem que este axioma é uma verdade inquestionável.
Quem ousa manifestar dúvidas, apontando exemplos de crianças e adolescentes que, por mais que os professores se esforcem, não conseguem chegar onde os pais querem que elas cheguem, é estigmatizado de diversas maneiras. A mais comum é levar com a etiqueta de conservador.

Chegámos a uma situação em que é de mau tom afirmar aquilo que todos conhecem: há crianças muito inteligentes, outras que o são medianamente e outras ainda que são muito lentas a aprender. E há crianças que se esforçam muito, outras que se esforçam pouco. E há algumas que adoram aprender e outras que se cansam facilmente.

E, por fim, há crianças que adoram a escola e outras que a detestam.

A falácia da escolaridade obrigatória e de uma via única para todos é aceite de forma inquestionável. O resultado está à vista: os gastos com a Educação não cessam de subir e os resultados não passam da mediocridade.

Todos nós sabemos isso mas fingimos que não é verdade. E vamos repetindo até à exaustão o contrário. Fazê-mo-lo em todo o lado: nos relatórios que elaboramos, nos planos que desenhamos, nos trabalhos que redigimos.