Ontem não abri o e-mail. Quando o fiz, agora mesmo, encontrei este texto que António Justo, uma vez mais, amavelmente me enviou. Publico-o, pois, com um dia de atraso em relação ao que seria desejável.
Falta um novo “25 de Abril”
Democracia de Base versus Democracia de Mordomias
O povo cada vez tem de
cavar mais coutos para poder manter um só novo-rico. Por esta e por outras se
vai ouvindo, com veemência, por todo o lado, que falta um novo “25 de Abril”.
Isto é um desabafo de impotência e desilusão dum povo que se sente encurralado!
Vasco Lourenço, líder
da A25A, que, há 38 anos, foi um dos grandes actores da Revolução dos Cravos,
disse ontem, no discurso do Rossio em Lisboa, que tanto responsáveis
políticos como Assembleia da República "já não representam a
sociedade portuguesa" e que já não estão "à altura das funções para
que foram escolhidos". Acusa as elites portuguesas de actuarem
"à porta fechada, escamoteando a realidade aos portugueses".
Este é um depoimento importante que
merecia ser analisado fora do discurso politiqueiro enquadrado no dia-a-dia
português; é um verdadeiro ataque à partidocracia portuguesa que, de facto,
desde a sua origem, nunca se manteve à altura do legado de Portugal nem dos
interesses do Povo português. Consequentemente haveria que questionar a
Constituição que privilegia os partidos e elaborar um novo sistema de
representatividade.
Desde as invasões francesas a alma portuguesa encontra-se empalamada.
É um escândalo ver como suportamos
parlamentos demasiado numerosos em países pequenos e como alimentamos
eurodeputados insaciáveis. O mau exemplo vem das elites. A
"realidade" de políticos e da propaganda partidária não tem nada a
ver com a realidade do povo. Os vencimentos de personalidades políticas e
de administradores de empresas públicas e privadas são a melhor prova de que o
sistema falhou e se encontra ao serviço de alguns!
As organizações partidárias portuguesas encontram-se eivadas dum espírito
mafioso engravatado e culto que não dá nas vistas. Em vez da preocupação pelo
povo domina o interesse pela progressão na hierarquia partidária, por vezes sem
quaisquer escrúpulos. A sociedade portuguesa foi habituada e alimentada com o
discurso político à custa do discurso cultural, social e económico.
A situação económica em que nos encontramos é
consequência da crise cultural e moral que criámos. É urgente que
políticos e elites, em geral, se convertam por atitude de inteligência ou mesmo
oportunista. Se não se converteram à honra e à dignidade humana, o nosso
futuro tornar-se-á num inferno. A partidocracia aliada aos poderes subterrâneos
tem desacreditado a democracia representativa e encontra-se com a colectividade
a caminho da ruina.
A alternativa está numa metanóia de elites
e de povo. A mudança passará da filosofia da afirmação do eu à custa do tu e do
nós para uma ética de afirmação do nós onde o eu e o tu cresçam em dignidade e
respeito. O nós passa a ser o ponto de partida e de chegada do nosso pensar e
agir. O nós é mais que a soma do eu e do tu.
Realmente torna-se cada
vez mais óbvio um novo “25 de Abril” mas não só de cravos vermelhos, no coração
de cada um. Já chega de ramos de cravos vermelhos com atilhos pretos. Portugal
terá de se tornar num jardim onde crescem todas as flores em dança de cores.
Portugal e a
civilização ocidental têm que fazer uma cura. O primeiro tratamento será o de
desenvenenar o pensamento!
A geração mais nova e
em especial as próximas gerações terão razão acrescentada para pedir contas, a
nós, os da geração 68, e ao regime.
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