terça-feira, 17 de abril de 2012

PEQUENO MOSTRUÁRIO PARA VAMPIROS (1)




SCIENCE FICTION

- Pois bem, meu senhores - disse o mais velho, que parecia ter ascendente sobre os outros - Façamos então o ponto de situação...o ponto em que estamos de momento. Pode começar você, Lestat...
- De momento, meu caro Vlad - disse repuxando a boca bem desenhada o jovem louro e atlético - temos gente nossa bem motivada em todas as cidades do globo. O discurso que lhes é comum insiste num ponto: o nosso direito a dispormos dos nossos ritmos místicos, da nossa… "ideologia" se assim me posso exprimir. É a tecla em que temos batido sem desfalecimentos. A questão de sermos uma comunidade vilipendiada, perseguida... discriminada... ofendida. Creio que me faço entender!
- Bem visto! - ronronou Vlad Tepes com um luzir nos olhos ardentes - E a nível de jornais, de gente que faz a diferença... como páram as modas? Você, Sagramor, pode elucidar-nos?
- É p'ra já, meus amigos - preambulou o negro de estatura elevada e de musculoso recorte na sua voz cantante e fascinadora - Para já, os homens de negócios que estão à frente desse sector já se juntaram em grande parte a nós. Intuíram que têm de ser compreensivos, modernos, que tem de haver tolerância com o nosso… colectivo. E na classe política e intelectual também existe um equilíbrio paralelo...Alguns dos homens de topo e mesmo outros medianos já entenderam a razão dos nossos… direitos. E são partidários do diálogo: já se começaram a desobstruir reuniões… O próprio Jorge, o próprio Soa…
- Não me venha com esses nomes! – cortou do lado a mulher de estatura coleante, sensual, de cabelos e olhos negros retintos, agitando a mão de unhas longas e pintadas de vermelho - Esses estão para onde lhes dá a brisa, Sagramor!






- Não seja exagerada, Carmilla... - disse Vlad Tepes censurando-a com algum vigor - Esse tipo de operadores sociais pode ser bem útil à nossa causa. Os fala-baratos também têm lugar na nossa demanda, não se esqueça. Tornam as massas maleáveis, compreendeu? E quanto ao seu sector? Isso é que interessa, o resto... é fantasia!
- Bom - disse Carmilla von Karnstein - O elemento feminino vai-se portando como se espera... Um pouco de moda, um pouco de tratamento televisivo, um bocado de romantismo e de doçura para adequar as meninges... Tem sido, posso dizê-lo, uma festa para o país… Percebem?
   O jovem Lestat riu com gosto, pondo à mostra os dentes brancos e fortes como os de um lobo viril. 
 - Certo, cara Carmilla, certo. Boa jogada! As senhoras também terão um grande papel nesta opereta... A paz, a brandura de coração...O idealismo… Também o usei com esmero lá nos lindos Estados do meu sul natal. Parece que foi há três dias…e já lá vai uma eternidade!
- Porque bem vêem, meus amigos - disse Vlad Tepes com discernimento - O importante é levar isto, por enquanto, com mansidão e equilíbrio. O que se ganha com violências bruscas junto do grosso da opinião pública? Isso devemos deixar, quando fizer falta, para as unidades de combate... Elas sabem como agir. Quanto a nós é irmos pela diplomacia. De contrário ainda nos aparece aí de novo esse metediço, esse violento do Van Helsing e as suas exagerações. Não acham?
(E na sala mergulhada em amena penumbra criada por pesados reposteiros de veludo escarlate, em volta da magnífica mesa de carvalho escuro, as cabeças dos confrades acenaram afirmativamente, como se fossem uma só).

2 comentários:

Anónimo disse...

Excelente,eles andam em nossa volta, ainda que com outra indumentária. Mas o discurso
é o mesmo e as intenções também.

Ivo

alf disse...

O Rui Rio faltou a esta reunião..