quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Portugal e os Doutores da Lei




(foto obtida aqui)



Transcrevo um excerto de uma crónica de Alberto Gonçalves, no DN:


(…)

Numa altura em que quase tudo parece ser inconstitucional, a Constituição só não mostra qualquer objecção à mentira e à bancarrota a que a mentira conduz. Os excelentíssimos senhores juízes do TC, que agora decidiram consagrar de vez o exotismo pátrio e comentar nos media as propostas do Governo, não dizem uma palavra acerca dos delírios que tornaram plausíveis propostas assim. À semelhança dos fundamentalistas dos livros sagrados, o TC torce a realidade até esta caber nas premissas de um documento rabiscado em tempos lunáticos e nunca alterado no essencial. Escusado dizer, a realidade não sai confortável do exercício: o criacionismo caseiro paga-se na austeridade de cada dia.

A opinião pública, que se julga muito irreverente, berra pela mudança de Governo como se isso resolvesse o problema. E meia dúzia de ingénuos sugerem a mudança da Constituição como se alguém os ouvisse. Se calhar, a solução é mudar os excelentíssimos senhores juízes do TC (…)

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Garantias constitucionais

No Blog De Arlindo:
Algures durante uma semana como outras (que podia ter sido a semana passada) numa escola de um subúrbio de Lisboa cujo nome não me vem à cabeça (e podia aliás ter sido outro) um aluno estava a provocar agressivamente dois colegas. Eles respondiam-lhe, e não havia maneira de a aula poder começar.
A professora tentou chamá-los à razão. Como não obedeceram, chamou duas funcionárias e pediu-lhes que levassem o provocador para a sala de estudo cumprir determinada tarefa – procedimento regulamentar, segundo parece. O provocador recusou a ordem. As funcionárias puxaram, ele resistiu, o impasse durou algum tempo. Por fim, elas disseram que iam chamar o conselho directivo.
Nessa altura o aluno levantou-se e, em tom desafiador, começou a andar vagarosamente para a saída,  distribuindo pequenos toques à sua passagem. A professora foi na mesma direcção, para fechar a porta. Aí ele olhou-a com raiva, pôs o pé a travar a porta, e disse que ela nunca devia ter saído do hospital.
A injúria assustou a professora. que se defendeu como podia, fechando a porta, à qual o aluno, já fora de si, começou a dar pontapés. Ao terceiro, conseguiu abri-la, com tanta força que acertou na professora, a qual caíu no chão, ficando a sangrar copiosamente da cara enquanto os alunos se levantavam gritando – e uma ou outra chorando.
As funcionárias foram chamar o conselho directivo, que não apareceu logo. Vários professores indignados reportariam depois o primeiro comentário que ouviram a um responsável da escola. Na mesma altura em que os bombeiros assistiam a professora ferida antes de a levarem para o hospital, esse responsável terá dito em tom sentencioso, referindo-se aos professores: É bom que se habituem a estes comportamentos hoje em dia.
A mensagem implícita, segundo quem ouviu, era que aquilo (a violência) acontecia aos docentes que não usavam os métodos pedagógicos adequados para lidar com turmas de ‘curriculo anternativo’ ou onde existem alunos que por qualquer motivo têm problemas. Quem precisa de ser educado, portanto, são os professores. Se não se portam bem – se não aplicam os métodos correctos – vem logo o castigo físico.
Pelos vistos, este velho método educativo já não é usado nos alunos (felizmente), mas pode ser usado nos professores mais ou menos à vontade. Será o currículo alternativo deles… Enfim, sempre é progresso.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Socialistas, não carteiristas!





(imagem obtida aqui)



Governo dinamarquês recusa ajudar maior produtora eólica do mundo

O Governo dinamarquês anunciou que não irá dar ajuda directa à Vestas Wind Systems, pelo que a maior produtora de turbinas de vento do mundo deverá necessitar de um resgate para sobreviver às dificuldades financeiras, avançou hoje a Bloomberg.

A Vestas tem registado custos superiores ao orçamentado para o desenvolvimento da turbina V112 (desenhada para trabalhar em terra e com ventos fracos e médios, produzindo 3 mega watts) e cortes nos subsídios atribuídos às energias verdes. Em Julho, a empresa anunciou que tinha chegado a acordo com os bancos para adiar o chamado teste de cláusulas financeiras, atrasando o pagamento de empréstimos depois das perdas de liquidez.

Em 2012, a Vestas efectuou duas rondas de despedimentos que atingiram mais de 3700 trabalhadores, cerca de 17% da sua força de trabalho, de modo a reduzir mais de 250 milhões de euros em custos fixos. Com grandes dificuldades em manter-se competitiva, a empresa enfrenta também uma quebra da procura na Europa e nos Estados Unidos.

“Não podemos e não ajudaremos uma empresa individualmente”, disse Martin Lidegaard, o ministro da Energia dinamarquês, citado pela Bloomberg. “É contra a política de ajuda geral do Governo”. Ainda assim, o Governo disse que não irá favorecer fornecedores locais e irá basear qualquer decisão em termos competitivos, disse Martin Lidegaard.

De acordo com os dados avançados pela Bloomberg, indústria eólica dinamarquesa, que emprega cerca de 25.500 pessoas, aumentou as exportações industriais do país em 6,4%, contabilizando um total de 8,96 mil milhões de dólares (6,94 mil milhões de euros) em 2011, de acordo com a Associação Dinamarquesa da Indústria Eólica. Já as vendas da Vestas na Europa chegaram aos 3,3 mil milhões de dólares (2,55 mil milhões de euros) no ano passado, comparando com as receitas totais de 7,5 mil milhões, cerca de 5,8 mil milhões de euros.

“A maior produtora de turbinas a nível mundial está a considerar a venda de 500 milhões de euros em acções a actuais investidores, caso as conversações para uma parceria estratégica com a Mitsubishi Heavy Industries falhem”, avançou ainda a Bloomberg.

Co-geração: fora com ela

Mais uma excelente medida começa a resultar deixando penduradas umas quantas sanguessugas que, instaladas, sugavam o contribuinte:

Novo tarifário leva ao fecho de unidades de co-geração
Isabel Venceslau/ Rui Alves Castro/ Pedro Pena 28 Out, 2012, 13:35 / actualizado em 29 Out, 2012, 10:05

O Governo reduziu as tarifas que paga pela electricidade produzida nas centrais de co-geração. O novo tarifário já levou ao encerramento de algumas unidades. A associação que representa o sector diz que a co-geração está condenada a desaparecer em Portugal.

domingo, 28 de outubro de 2012

"Recuperar a Honra de Portugal" - O ponto de vista de António Justo





Um texto que também pode ser lido aqui:



Portugal entre o Colapso financeiro sem a Troika e a Ruina com ela

Estados fortes e Plutocracia contra Estados débeis e Pobres

Recuperar a Honra de Portugal

 “Temos uma mentira institucionalizada no país… que não deixa que as coisas tenham a pureza que deviam ter" ”, diz o general Pires Veloso. Quando, os bem alimentados da nação, se atrevem já a falar assim é mesmo grave o estado da nação e justificada a insatisfação. O actual regime democrático, mais que fruto do desejo de liberdade e de bem comum, foi cinicamente construído amoralmente e baseado na manipulação ideológica que permitiu muitos “iluminados” arrogantes apoderarem-se do Estado, e manter o povo na submissão, já não sombria mas risonha. Pessoas corruptas, com o apoio militar, instauram um estado corrupto, sem razão crítica, sob o pretexto dos abrilistas serem os libertadores de Portugal. Sanearam Portugal à sua imagem e semelhança! O povo, atraiçoado pelas elites conservadoras e pelos oportunistas engravatados da ocasião, deixou-se enganar e agora acorda molhado. O maior roubo que se pode fazer a um país é tirar-lhe a esperança, a autoconfiança e a dignidade. Construímos uma democracia duvidosa em que políticos não são responsabilizados pelo seu mau comportamento mas o cidadão sim. As ideologias e os interesses pessoais e de coutos sobrepuseram-se aos de povo e nação.

Urge sanear o País desde o Estado à Constituição

A atitude do ministro Nuno Crato, mandando reavaliar todas as licenciaturas que foram atribuídas com recurso à creditação profissional, deveria ser um primeiro passo no saneamento do Estado no sentido de desinstitucionalizar a corrupção; deveria passar-se a rever também as medidas que possibilitam tal creditação. O trabalho seria colossal porque teria de chegar também aos diferentes órgãos de Estado e a uma revisão da constituição portuguesa, nascida sob auspícios ideológicos e partidários! O resto é só maculatura.

O saneamento da nação implicaria coragem e vontade para o abandono de regalias adquiridas na base de legislações nepóticas (favoritismo!) e de acções como as de forças de pressão orientadas apenas pela ganância à custa da destruição da economia nacional, tal como acontece com a greve dos maquinistas e outras. Um país que orienta a sua acção na base de aquisição de regalias mata de início a solidariedade e destrói-se a si mesmo impossibilitando a governação.

Há muitos portugueses que anseiam pela revolução, esperando que a rebelião comece em Espanha. Os alemães, os franceses e os Ingleses temem a instabilidade do Euro; mais que a desgraça da Grécia ou de Portugal, preocupa-os sobremaneira a insatisfação popular incontida duma Espanha ou duma Itália. As consequências para o projecto EU (Euro) seriam catastróficas. Por enquanto entretemo-nos com a periferia; com o tempo também a França passará a entrar na dança.

Uma Alemanha que exige contenção económica aos países menos fortes como Grécia, Portugal, Espanha e Itália, continua a endividar-se apesar duma economia florescente. Endividando-se aposta já na inflação que aos outros não é permitida devido a um Euro de várias velocidades! (A RFA, no seu orçamento federal para 2013 prevê, nos seus gastos totais, 33,3 bilhões com a dívida federal que ocupa o terceiro lugar, depois da defesa também com 33,3 bilhões e dos gastos no âmbito laboral e social com 118,7 bilhões). No que respeita a endividamento para empréstimo, o Estado alemão não tem dificuldade com isso, porque ganha com a diferença do crédito (pede dinheiro emprestado a 2% e empresta-o a 6% ou mais). Por outro lado o banco central europeu empresta dinheiro aos bancos a 1% em vez de o emprestar directamente aos Estados deficitários, favorecendo assim a usura dos bancos que depois concedem créditos a terceiros a preço especulativos. Não será que no caso duma reforma monetária quem mais sofrerá será quem mais poupou? O Japão e os USA não se encontram em melhor situação que a EU. Só que o dólar é suportado mundialmente, podendo os USA produzir bilhões de notas por mês sem que o mundo berre, ao contrário do que faz com a Europa. É que a Europa apesar das diferenças gritantes ainda reserva um bom óbolo para os desfavorecidos do sistema e da natureza e isso desagrada aos tubarões do mercado.

Povo vítima de Instituições corruptas e da própria Apatia

Os responsáveis pelo colapso económico não são chamados à responsabilidade pelo Estado português que, ao contrário do que acontece na Islândia, assalta a carteira do povo, poupando a dos que se encheram. Facto é que o povo português foi vítima dos governos de Portugal e da especulação financeira internacional. O apoio da EU (União Europeia) e a concessão de créditos aos países pobres parece ter sido para estes poderem fazer compras aos países ricos e ao mesmo tempo terem a oportunidade de beneficiarem as grandes empresas para a competição internacional da nova realidade global (turbo-capitalismo). “Confiaram” na capacidade política e financeira dos políticos estatais e agora vem a Troika, controlar a nação sem se interessar pelo Estado nem para onde foi o dinheiro. Como precisam dos seus mercenários governamentais para executarem as suas exigências não lhes tocam.

Os povos da periferia, com uma elite política não habituada a deitar contas à vida, deixaram-se iludir com promessas e histórias de paraísos turísticos, etc. Esta elite, “comprada”, com postos e ordenados especulativos internacionais, permitiu a destruição das pescas, agriculturas, têxteis e das pequenas e médias empresas da nação; pior ainda, concretizam, ainda hoje com zelo, medidas europeias tendentes a destruir as regiões e os seus produtos específicos em benefício das grandes multinacionais estrangeiras e de latifundiários. Agora que a periferia (Grécia, Espanha, Portugal, Itália, etc.) se encontra na dependura especula-se no centro da Europa, se não seria melhor estes Estados optarem pela antiga moeda para melhor regularem o próprio mercado, ou se não será melhor um euro “duro” e um euro “macio”! Tudo desculpa para manter o terreno conquistado!

As multinacionais receberam parte dos apoios da EU, destruíram as pequenas e médias empresas e foram-se embora deixando os consumidores dependentes da importação que essas mesmas firmas agora servem, a partir do estrangeiro. Um enredamento bem perpetrado! O chanceler Helmut Kohl preparou as grandes empresas para a concorrência internacional e o chanceler Schroeder açaimou o operariado para a concorrência com o operariado exterior...

As nações ricas, cada vez mais ricas ainda, criaram nelas também uma pobreza cada vez mais à medida da pobreza da periferia. A introdução do Euro correspondeu ao abandono da economia social tradicional em favor dum liberalismo económico americano (anglo-saxónico), tendente a criar os Estados Unidos da Europa à medida dos USA.

Porque há-de pagar a crise quem não tem dinheiro? Porque não se põem os mais ricos a contribuir para se resolver a crise? Estes já não trazem benefício para o Estado, numa fase em que o capitalismo comunista de Estado (China) tem poder económico e político para aniquilar o capitalismo de cunho privado (de multinacionais internacionais). Os magnates do dinheiro e as nações mais fortes têm-se permitido humilhar os povos da periferia porque ainda notam que estes se mantêm ordeiros. A situação está a tornar-se tão séria que só uma revolta popular séria poderá levar muitos representantes do povo (políticos mercenários) a arredar de caminho, porque a credibilidade internacional destes só vale na medida em que conseguem manter o próprio povo sem a revolta. A não ser que se aceite o surgir de grupos radicais no Ocidente à imagem dos grupos Al Qaida (sistema de guerrilha!). 

Os que se assenhorearam do Estado português (revolução de Abril no seu aspecto de assalto às instituições) começaram por, da sua janela, anunciar o poder e a liberdade para o povo e por roubar-lho pela porta traseira! A fusão de interesses mafiosos entre políticos, instituições, administradores de empresas públicas e conluio com a justiça inviabiliza um Portugal honrado.

Chegou a hora da mudança (conversão) ou da revolução! Como podem ricos e políticos dormir, quando há já gente com fome! Será que a globalização, a EU terá de acontecer à custa da fome. A Europa conseguiu a paz acabando com a fome; agora, que a fome vem, prepara-se a guerra. O povo começa a perceber que os seus governos têm os seus interesses salvaguardados sob a capa dum Estado “padrasto”.

O problema não está tanto na escolha de alternativas mas na mudança de mentalidade das elites governamentais (partidárias) que nos têm governado e administrado e dum povo habituado a dançar ao ritmo duma música tocada por outros. Não tempos tido governos nem partidos com capacidade para administrar um Estado e menos ainda uma nação. Os mesmos parlamentos que levaram o país à ruina perderam a autoridade para governar Portugal e a Troika que o governa agora não está interessada nem no povo nem na nação.

Resta ao povo a metanoia, não comprar produtos estrangeiros e chamar o Estado e os gestores financeiros ao rego da nação. Estes porém sabem que o povo, como a criança, só berra e não actua. Daqui a falta de esperança com a agravante de que a reconciliação do povo com o seu Estado significaria mais uma vez abnegação. As pessoas sérias do Estado deveriam proceder a um saneamento do Estado e das leis que protegem os que vivem encostados a ele. Só assim poderiam os administradores da miséria readquirir a honra perdida para Portugal poder voltar a cantar “Heróis do mar” e da terra também!

Bossa Nova by Luiz Bonfá


sábado, 27 de outubro de 2012

Corrupção

No Fiel-Inimigo:

Um leitor atento perguntou porque não abordamos aqui a problemática da corrupção.

Sem vasculhar a resposta exacta que lhe terei dado e falando por mim, diria que se fala de vez em quando do assunto, muito embora não necessariamente dos casos de corrupção que vêm aflorando cada vez mais insistentemente. Talvez no blog-primo, o Ab-Logando, se tenha falado mais na coisa mas, voltando à minha resposta e sem prejuízo de não ter, de facto, afinfado as marretadas que me apetecia nos referidos casos (a vida tem que continuar), interessa-me mais a corrupção como um todo, como oxidação da simples lógica das coisas necessária ao ataque que a moral e a ética têm inexoravelmente sofrido de há muitos anos a esta parte, não só na generalidade do mundo ocidental como em Portugal.

Não sei se conseguirei algum dia falar do assunto com alguma abrangência, não sei se terei mesmo pedalada para tal tarefa que exige um fôlego que nunca tentei. Uma coisa é certa, a corrupção mora em nós todos de tal forma que me parece por vezes que só corrompendo os seus próprios mecanismos, quando identificáveis, se poderá, provavelmente, atenuar em parte os seus efeitos. Teremos provavelmente que nos contentar com a grossa e óbvia, formal, material e pontual corrupção, porque a outra, mais geral e genética, não tem, provavelmente cura no horizonte de algumas gerações. Os desgovernos que resultam da primeira são de monta, mas a segunda assegura o retorno ao generalizado desgoverno, eufemismo para insipiência em auto-determinação pessoal que, extrapolado para o colectivo, redunda nem pantanal em que todos berram sabendo de quê mas não porquê.

Pelo-sim-pelo-não, em jeito de início de conversa, aqui vai alguma 'literatura', transmitido pela TV PUC-SP em 20 de setembro de 1998.

"O casal gay, a criança e o juiz"




(imagem obtida aqui)


A propósito desta notícia, escreve Henrique Monteiro, no Expresso:


Não vou discutir, nem tenho elementos, se a decisão de entregar uma criança deficiente à guarda de um casal gay foi justa ou não. Quero, apenas, colocar uma questão que reputo importante para a vida de todos, independentemente da orientação sexual: um juiz pode escolher o melhor projeto de vida para uma criança? É que me parece que essa perspetiva também esteve na origem da decisão.

À primeira vista, se determinada pessoa tem um bom projeto de vida para uma criança, melhor do que outra, parece fazer sentido escolhê-la como tutora. Mas podemos entendermo-nos sobre o que é o bem? Vários filósofos, ao longo da história, acham que não. Que é mais fácil socialmente determinarmos o mal do que o bem. Façam este exercício: perguntem para quem não será um mal a doença, a fome, a miséria, o roubo, o assassínio. E agora tentem fazer o mesmo exercício em relação ao bem. É muito mais difícil.

Por isso, os tribunais apenas deveriam pronunciar-se sobre aspetos concretos. De outro modo, qualquer pessoa rica ou bem na vida tem projetos melhores do que pessoas pobres e com fraca educação e cultura. Aos tribunais cabe dizer: esta determinada criança está a ser maltratada, pelo que deverá ser dada à guarda de outras pessoas (se um casal gay ou não já é outra discussão). E nunca em função de um projeto de vida. Imaginem que os juízes passam a avaliar os projetos de vida que cada um tem para os filhos... O que significa isso? Que os filhos dos ciganos ou de outras minorias não podem viver com os pais? Eu sei que o caso concreto não era esse, peço, uma vez mais, que pensem no geral e não no concreto, como deve fazer a justiça, que nunca é ad hominem.

Uma nota final para dizer uma coisa que nada tem a ver, mas que me parece relevante: um juiz que já tomou posição pública numa polémica deve aceitar julgar um caso que está relacionado com essa polémica. Podemos confiar que o seu juízo prévio (ou preconceito) não prevalece sobre a análise fria e justa dos factos? E aqui já estou a falar deste processo outra vez. 

Hospital de Braga: javardices

O Hospital de Braga (novo) continua um caos em disciplina interna.

Os sinais imediatos de displicência notam-se pela ausência de identificação de uma boa parte dos funcionários (indiciante de falta brio profissional), pela forma como se apresentam (piercings, pastilhas elásticas, penteados ninho-de-ratos, etc, etc,) pela falta de educação com que atendem as pessoas, pela javardice de modos, pela ostentação de estarem convencidos serem donos dos serviços onde trabalham ...

Irremediavelmente, a referida falta de profissionalismo acaba por reflectir-se em coisas mais graves. Uma delas, recentemente divulgada, provocou queimaduras e uma doente precipitando um desfecho fatal. Outro caso, que não veio a público, envolveu dois doentes que por terem nomes parecidos lhes foram submetidos a operações cirúrgicas trocadas. Em ambos os casos a operação foi um "sucesso". Um deles ficou sem um pedaço de baço que não tinha qualquer problema, e o outro sofreu uma "correcção" ao tendão de Aquiles que estava em perfeitas condições.

Felizmente  que as pessoas vão podendo evitar ir àquele hospital e ele tem estado mais ou menos às moscas. Espera-se que a administração aproveite para limpar dali os indisciplinados e incompetentes espetando com eles no olho da rua.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Nivaldo Cordeiro - Consolidando a hegemonia do PT




"Os artigos de Fernando Gabeira (http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,uma-hegemonia--tropical-,951146,0...) e Eduardo Graeff (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/74178-com-quantos-postes-se-faz-uma-he...) discutem os efeitos da hegemonia do PT que se desenhará com a vitória do partido em São Paulo. Ambos estão equivocados. A hegemonia que se aproxima ameaça as liberdades e as instituições. Todos sabemos que o PT não tem limites morais e nem políticos. Busca, a todo custo, o poder, nos termos propostos por Maquiavel. Uma senda para o totalitarismo "

E quem ajuda o Brasil?

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Nivaldo Cordeiro: Condenação simbólica de Marcos Valério



"A condenação de Marcos Valério a pena de cerca de 40 anos é simbólica. Finalmente um graúdo criminoso do colarinho branco recebeu pena proporcional ao mal que praticou. Assim deverá ser com a troica do PT, José Dirceu, José Genoíno e Delúbio, Soares. Não cabem dúvidas existenciais como as apresentadas no editoral da Folha de São Paulo de hoje (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/73897-para-quem-precisa.shtml). Prisão não pode ser apenas para pobres moradores dos morros e favelas. Essa gente mensaleira praticou grande crimes e deve pagar pelo que fez."

Judicial restraint (2)

No Estado Sentido:
O alerta de Fernando Ulrich é assaz pertinente. Não tenho por norma concordar com as atoardas de Ulrich, mas desta vez sou obrigado a corroborar as palavras do banqueiro-mor da pátria. De facto, estamos perante o risco, sério e palpável, de cair numa "ditadura do Tribunal Constitucional". A propensão que alguns sectores do judiciário revelam pela horripilante lógica do activismo judicial é suficientemente esclarecedora quanto ao que nos espera. Como escrevi na minha última posta "o papel do Tribunal Constitucional não é, nem deverá ser a emissão de um juízo político acerca das grandes opções de política fiscal tomadas pelo legislativo". A insistência num justiceirismo inerme à realidade por banda dos juízes portugueses arrisca-se a lançar o país numa ingovernabilidade sem precedentes.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Festividades e foguetório

No Fiel Inimigo:
A propósito disto, comentário que deixei no FaceBook de Ramiro Marques:

Só sossegarão quando chegarem ao artigo 138 da Constituição.

Depois aplica-se o artigo 19-1.

Depois dinamita-se o país aplicando o 289.

O balão ...

... anda a estudar filosofia mas ainda nada aprendeu (resultando em altamente improvável que venha, algum dia, a aprender o que quer que seja):
"o dever do político é dizer  o que se pode e deve fazer, não é explicar porque é que não se deve fazer  nada". "A retórica da futilidade convida a inação, a descrença, a expiação.  A ação política esclarecida, principalmente nos momentos difíceis, exige  confiança, decisão, vontade"

É um óbvio caso de inimputabilidade.  Alguém lhe explica que a acção política esclarecida inclui explicar com que se pensa paga o que se pretende fazer?

terça-feira, 23 de outubro de 2012

INATEL socialista







O Má Despesa Pública continua a receber e-mail de denúncias de trabalhadores da Fundação Inatel que fazem chegar ao ministro da tutela, mas que não obtêm qualquer resposta. 
“Os 4 anos de administração de Vítor Ramalho como presidente da Fundação INATEL foram férteis em despesismo, favorecimento aos seus amigos, gestão danosa, falta de transparência, mas sempre demonstrando muito empenho e carinho pelos socialistas da distrital de Setúbal”, refere uma das missivas. Aqui seguem, por tópicos, algumas das denúncias:

(imagem obtida aqui)

1. “Nestes 3 anos entraram mais de 300 pessoas, principalmente vindas das hostes socialistas do distrito de Setúbal para ocupar todos os cargos de relevo (e muitos foram criados para lhes dar o que não tinham, visibilidade). Alguns passaram para o quadro com apenas um ano de contrato, aqui não há precariedade”:

2“O artista cantor polivalente Carlos Mendes veio como Director da Director Cultural, passados meses como não se adaptou e também passou a assessor, mantendo o ordenado, regalias sem exercer qualquer actividade. Vai à Fundação em média  uma vez por semana”.

(imagem obtida aqui)

3 “As antigas delegações que passaram a agências, além de terem cada uma, um director (a maioria do PS, claro!) passaram a ter uma coordenação regional de delegados, além dos 21 directores, há mais 5 delegados regionais, além destes e ainda um coordenador nacional das agências, Rui Máximo”.

4. “O Ciclo de conferências em parceria com a Fundação Mário Soaras, realizado pelas país, nas diferentes capitais de distrito, que apesar de algumas focarem temas com algum interesse, nada tinham a ver com a missão e áreas de actuação da INATEL. Não trouxeram qualquer tipo de retorno para a Inatel. Não foi mais que uma acção promocional do Sr. Presidente com a ajuda do seu padrinho de longa data Dr. Mário Soares que custaram à casa 70 000,0€ mais as respectivas custas de alojamento, restauração e transportes de alguns colaboradores próximos do presidente, da própria administração e alguns dos seus convidados”.

(imagem obtida aqui)

5. O Director de Marketing (...) deve passar muito tempo a trabalhar para a Distrital de Setúbal e para o seu restaurante, porque para esta casa não é de certeza.

6. “Há também uma curiosidade muito interessante nesta casa que são os cargos Vitalícios (...) como é o caso do provedor, pobre senhor, porque não vai para casa, sempre são mais 42000€ que ficam em casa”.

7. “O presidente Vítor Ramalho oferece 25 quartos na Unidade Hoteleira de Santa Maria da Feira à CGTP-IN para os participantes na marcha contra o desemprego que houve no dia 8 de Outubro, não vão os pobres senhores depois de marcharem contra o governo, não terem um sitio digno para pernoitarem”.


No fim, escreve este grupo de colaboradores: “A instabilidade, a desconfiança, o despesismo e o esbanjamento que se vive na Fundação Inatel é de tal ordem que o ambiente é de cortar à faca. Senhor Ministro, fazemos um apelo urgente, tome decisões rápidas, com esta gestão, uma instituição que se orgulha de existir hà 76 anos, não vai durar mais 3. Não aguentamos assistir a esta destruição, é que nós morremos com ela”.

O livro "Má Despesa Pública" traz à luz do dia mais casos de má gestão no Inatel.

Ganha força a brigada "a minha pensão milionária é sagrada"

No ProfBlog:

"A brigada "a minha pensão milionária é sagrada" está a fazer um combate político e mediático feroz contra a aprovação e entrada em vigor do Orçamento para 2013. A última intervenção, com direito a uma hora de tempo de antena, ontem, na TSF, ao final da noite, coube a um ex-presidente da república: quer por força que Cavaco Silva mande a Lei do Orçamento para o Tribunal Constitucional. Ou muito me engano ou a brigada "a minha pensão milionária é sagrada" vai vencer o combate, destruindo a credibilidade reconquistada no último ano e lançando Portugal numa situação semelhante à que vive a Grécia. Surfando a onda que se agiganta, ampliada pelos media comprometidos com a causa dos direitos adquiridos, um grupo de docentes aposentados está a criar uma associação sob o lema "não toquem na minha pensão!"

A crer no que eles dizem e defendem, os cortes são apenas para os otários que estão no ativo, que tiveram o azar de nascer depois, e que não só têm de aguentar até aos 65 anos de idade, como correm o risco de chegar lá a ganhar uma ínfima parte do valor das pensões milionárias dos que nasceram uns anos antes e se aposentaram aos cinquenta e poucos anos."

Nigel Farage - 'Bailouts' are a means for total subjugation and EU control


Marta Andreasen - An EU Legacy of Failed Projects


Nivaldo Cordeiro: O desfecho do julgamento do mensalão

[Não me perguntem porque está a imagem deitada.]



A condenação da troica petista José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares, bem como dos demais denunciados pela Procuradoria Geral da República ao STF por crime de formação de quadrilha, hoje, foi o momento mais espetacular de todo o julgamento do mensalão. O STF calou a boca dos críticos e dos céticos, ao se agigantar e aplicar a lei, de forma lógica e simples, respeitando o contraditório. Uma vitória memorável do procurador-geral. Uma vitória dos brasileiros, que se sabem agora, mais do que nunca, protegidos pelas instituições. O STF não permitiu que aventureiros desalmados e imbuídos de maus instintos dominassem a República de forma criminosa. Foi também a proteção do próprio Estado. O STF foi mais do que um fórum julgador, pois fez também o exercício do poder moderador, pairando acima dos partidos e facções, comprometido que está apenas e tão somente com a legalidade. Um dia de honra para a Nação brasileira.

domingo, 21 de outubro de 2012

“Grécia vai vender alimentos fora do prazo a preço reduzido”



(imagem obtida aqui)


Este é o título da notícia que pode ser lida aqui, e que certamente irá entrar nos próximos discursos da esquerda, com o alarido que se imagina. Transcrevo-a, já agora:


Governo de Atenas promoveu a medida, que entra em vigor já na próxima semana.
Para travar a escalada do preço dos alimentos, o governo grego promoveu uma medida inédita: A partir desta semana, vão passar a ser vendidos bens alimentares fora do prazo de validade nos supermercados.
A medida permitirá reduzir o preço dos alimentos, numa altura de crise acentuada na Grécia na sequência das medidas de austeridade. Mas nem todos os alimentos serão abrangidos. É o caso da carne e dos lacticínios.
Os consumidores já criticaram a medida. Dizem que é uma clara admissão por parte do governo de que não consegue controlar a escalada do preço dos alimentos.

Ora tenho eu a dizer, a propósito disto, que, uns bons anos atrás, em conversa com um casal que viveu na Alemanha entre 1970 e 1998, a senhora me disse que, por lá, os supermercados tinham à venda, a preços mais em conta, alguns produtos cujo prazo de validade expirara, e que toda a gente os adquiria. Havia alguns que, como, por exemplo, o chocolate, ela não comprava porque, embora sem qualquer problema para a saúde, não gostava do sabor, mesmo que ainda apenas perto da data limite, embora houvesse gente cujo paladar não era sensível a essa mudança e que o levava para casa. E isto, dizia ela, porque "toda a gente sabia" que a validade desses produtos termina pelo menos uns dois meses depois da data afixada na embalagem, a qual se refere somente à alteração de estrutura ou gosto.
E isto lembrou-me outra coisa que me disse um amigo há uns dias. Num livro que leu recentemente, em que se dava conta do relato da viagem de um rico comerciante veneziano do século XVI ao que viria a ser a Alemanha, este referia-se não apenas à prosperidade nascente de um território ainda pobre mas também à surpreendente frugalidade dos abastados homens de negócios alemães.
E ainda uma outra. Disse-me também, recentemente, um alemão, aí dos seus setenta anos, casado com uma portuguesa, e que  - embora com algum tempo de estadia no Japão e visitas regulares de trabalho ao seu país -  reside sobretudo em Portugal desde a década de sessenta, que se sentiu chocado por, na mais recente visita que fez à sua terra natal, uma pequena cidade medieval, haver encontrado mendigos nas ruas, tanto estrangeiros como alemães.
Deixo as conclusões para quem ache dever retirá-las.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Duas notícias, algumas interrogações



O meu silêncio não é casual. Tenho andado, desde há uns dois meses, para escrever um texto sobre a minha avaliação da actual situação que se vive em Portugal e dos desfechos que julgo podermos esperar. Mas é-me tão doloroso exprimir o que penso a esse respeito, que tenho vindo a adiá-lo sucessivamente. Creio, no entanto, que será inevitável fazê-lo por mais ninguém do que por mim próprio, e que o farei nos próximos dias.
Por hoje, no entanto, deixo à consideração de quem esteja para me aturar algumas interrogações ocasionadas por duas notícias que li, ambas no DE.
A primeira, aqui:
Não conhece Portugal, mas garante que o país tem alguns economistas maravilhosos. Alvin Roth, 60 anos, professor de Harvard, que este ano se encontra em Stanford, é um dos dois galardoados com o "Nobel de Economia 2012". Lloyd Shapley, de 89 anos, da Universidade da Califórnia foi o outro premiado neste casamento Nobel, que juntou um homem da teoria (Shalpey) com um homem da prática (Roth). O resultado: desenvolveram, de forma separada, modelos sobre como associar diferentes agentes para optimizar a oferta e a procura em áreas nas quais as tradicionais regras de mercado ( em que o preço se ajusta de forma a que a procura iguale a oferta) não se aplicam.
Numa troca de emails com o Económico, Alvin Roth, que teve a capacidade de aplicar a teoria de jogos ao mundo prático, referiu que considera que "a economia é sobre a vida" porque "os economistas estudam a forma como as pessoas fazem escolhas. E procuram saber quem é que ganha o quê e como é que a coordenação e a cooperação moldam os resultados da vida." Sobre a actual crise financeira, ressalva que não tem uma visão profunda por ser um micro e não um macro economista. Refere, no entanto, que " é claro que muitos mercados financeiros deverão precisar de regras diferentes, na medida que um maior número de instituições, que não são denominadas de bancos ou de companhias de seguros, começam a trabalhar com as mesmas funções (ainda que não reguladas)."
Ainda em entrevista, Roth mostrou ter bastante admiração pelos economistas portugueses. E adianta mesmo que "em Portugal existe um bom grupo de teóricos de matching (matching theorists) em Lisboa, onde se inclui a Joana Pais". Outro dos nomes mencionados foi o de "Miguel Costa Gomes", com quem o Nobel trabalhou dois anos em Harvard."
É um génio", diz Costa Gomes sobre Alvin. Quem também tem muita admiração pelo Nobel é Joana Pais, professora do ISEG e especialista em Matching. "Conheço o professor Alvin, por quem fui convidada a passar uns tempos em Harvard", explica.
Mas a ligação de Alvin ao mundo lusófono não fica por aqui. "Não sei se serem de língua oficial portuguesa conta, mas a melhor professora brasileira de teoria de Matching é a Marilda Sotomayor. A Marilda foi co-autora, em 1990, no meu livro sobre Matching." 
Em declarações ao Económico, Marilda, que é professora da USP e cuja família tem origem portuguesa por parte da mãe, diz não se sentir injustiçada pelo Nobel ter sido só para o seu co-autor. E esclarece: "Houve essa confusão (de quem é seria a autoria da descoberta da equivalência dos algoritmos) na literatura e ainda há. Mas o mérito não é meu, e sim do Gale. Tenho as correspondências travadas sobre esse assunto com Gale em 1976. Além do livro, escrevi vários artigos com Alvin Roth quando ele trabalhava em Pittsburgh. Ele me enviou um email dizendo: 'Congratulations to you too! I shared with you much of my work!'. A ida dele para Harvard foi um passo à frente."
Sobre o prémio Marilda Sotomayor, co-autora do Nobel em "Two-sided Matching", explica: "O prémio que Alvin Roth e Lloyd Shapley receberam é sobre matching, e a importância de maching para a Economia é que Economia é sobre a vida real e o matching tem inúmeras aplicações à vida real. Através dessa teoria, vários mercados têm sido melhor entendidos, o que tem ajudado na sua organização.
A teoria dos matchings estáveis foi introduzida por David Gale e Lloyd Shapley em 1962, com o artigo "College admissions and the stability of marriage". A teoria dos matchings estáveis tem evoluído desde o artigo de 1962 e o conceito de matching estável tem se estendido. O algoritmo de Gale e Shapley tem encontrado inúmeras aplicações na vida real, em mercados não somente de escolas e estudantes, mas também em mercados de distribuição de médicos e hospitais nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha".
Primeira pergunta:
Porque é que, tendo Álvaro Santos Pereira  - segundo os conhecidos cães-de-fila da política portuguesa e a habitual matilha de caniches da social-comunicação que os secunda, "O desaparecido", "O inócuo" e por aí fora -  dado uma conferência de imprensa, transmitida pelos canais noticiosos da SIC, da TVI e da RTP, em que expôs detalhadamente o plano de estímulo à economia a pôr em prática já até Dezembro, nem uma palavra que se referisse a essa conferência foi divulgada através do SAPO, do Clix, no Correio da Manhã...? Só o DN lhe fez uma referência quase insignificante, atendendo à importância de que ela, segundo a própria social-comunicação, se revestiria. Ao contrário, continuou a publicar uma chuva de notícias alarmantes (escrevi primeiro, sem querer, "alarmentes", ai o avô Freud...!) sobre as medidas anunciadas por Vítor Gaspar.
Segunda pergunta:
Porque é que, no debate recente em que, entre outros, participaram o ponderado e directo Vítor Bento e a ressabiada Manuela Ferreira Leite, a "comunicação social televisiva" transmitiu os ataques desta à política económica do governo e não dedicou um segundo sequer à intervenção de Vítor Bento, que contrariava os fundamentos desses ataques?

A segunda notícia, aqui:
A economia islandesa, a primeira ser resgatada após a crise de 2008, baixou a taxa de desemprego de 12% para 5% em dois anos.
"Fomos o primeiro a cair, mas também somos o primeiro a sair da recessão. Se há uma lição a tirar da recuperação islandesa é que a austeridade, por si só, não funciona", disse Össur Skarpheoinsson, chefe da diplomacia da ilha.
Após o colapso bancário do país, Reykjavik recebeu 2,1 mil milhões de dólares e doseou os aumentos de impostos com a desvalorização da moeda.
A economia caiu 6,8% em 2009 e 4% em 2010, mas desde o ano passado que regresso ao terreno positivo com um crescimento de 3,1%. Este ano deve voltar a crescer 2,8%, depois do governo ter liquidado mais cedo o empréstimo do FMI (sublinhado meu).

Outra pergunta:
Porque é que poucos órgãos da "comunicação social" referem que essa taxa de desemprego vem em paralelo com a liberalização do mercado de trabalho na Islândia? Não lhes ocorre qualquer relação de causa-efeito, neste caso?

"A criança de 5 anos a criança de 5 anos"


Uma crónica de Ferreira Fernandes, no DN:


Numa escola, uma criança não pode ser castigada por um erro que se sabe que ela não cometeu. Dito isto, passemos ao recreio. Há pais que não pagam o almoço escolar do filho, mas não prescindem das cervejolas que custam o mesmo? Sim, tá bem, adiante... O almoço nas escolas devia ser grátis? Sim, claro, e fechar os olhos às notícias também... A diretora da escola, como mostrou o cameraman, pinta as unhas? Pois, e as jornalistas vão para as reportagens de camisa coçada... Uma deputada da oposição interpelou o ministro pela desgraça da fome? Claro, e deve ter deixado de falar aos colegas que andam de Audi A5 público... Fim do recreio. Voltemos ao tutano: uma criança de cinco anos foi separada dos colegas e levada para uma sala onde não lhe deram almoço, deram-lhe outra coisa, porque os pais não pagaram a alimentação dela. E se calhar lá em casa o televisor é de plasma... Parou! Já disse que acabou o recreio. Estou-me nas tintas para os pais, para a diretora, para o raio que os parta. Aqui é a criança que conta, só ela. Aos cinco anos, elas são finas como jamais voltarão a ser: a castigada e as colegas perceberam que ela foi humilhada. Isso é que conta. E o extraordinário é que esse facto revoltante foi dissolvido em discussões laterais. Aqueles cinco anos segregados, para a sala ao lado e para ao lado do almoço, tornaram-se um mero pretexto. Tantas causas, tão pouca compaixão.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Os porcos, os sindicais mastins e o socialismo

[A presente greve dos estivadores leva-me a desenterrar esta anterior história.]


Na presença de mais uma “luta” de estivadores, recordei os velhos tempos em que a “gloriosa classe” travava uma “incessante luta contra o patronato reaccionário e explorador”.

À memória já me vão faltando pormenores, mas a coisa começou por alturas do glorioso PREC. Os estivadores, classe oprimida, encarregue da carga (para bordo) da produção da indústria exploradora do braço do operário, enceta uma luta que os levou aos píncaros do socialismo, aquele que fez do garboso “detentor da força de trabalho” um exemplo para os vivos de todo o mundo e, até, talvez, para os mortos.

Se bem me recordo a coisa começou com a “carga suja”. Carga suja era toda aquela susceptível de sujar as mãos do operário. A carga suja, coisa pestilenta, justificava um pagamento condigno. Ora bem, mesmo que de tambores de azeite se tratasse e mesmo que estivesse bem fechado, um gancho* bem aplicado ao tambor ou o rolar deste sobre um pequeno objecto provocava o derrame e ... o condigno pagamento.

As cenas de derrame sucediam-se de tal forma que as companhias de navegação começaram a pagar carga suja mesmo que de chuchas se tratasse. Limpa ou suja, qualquer carga, se não sujasse em suja se tornava.

As conquistas do 25 de Abril iam por aquelas bandas de vento em poupa e ao mais pequeno estrebuchar do patronato reaccionário a greve era afinfada como carimbo de despacho do capitalismo para as abissais fossas do terror cósmico.

Qualquer tentativa de evitar a “justa luta da classe” esbarrava não só com o mais variado vandalismo sobre as cargas como novas e inovadoras reivindicações.

Para além de aumentos salariais em flecha, exigências de exclusividade em cada vez mais tipos de operação eram transformadas em conquista atrás de conquista. Pouco a pouco as conquistas eram tantas que já nem valia a pena assumir a conquista. Por exemplo, qualquer operação de trasfega de combustível implicava um terno de estivadores que, rapidamente, deixaram de lá por os pés. Evidentemente que de combustível nada percebiam e os tripulantes dos navios e os fornecedores de combustível asseguravam o serviço não querendo, aliás, ver estivadores sequer a meter o nariz naquele assunto. “Conquista” garantida, estivadores a milhas ... com o vil metal no bolso tilintando.

Mordomia atrás de mordomia, eis chegado o momento da estocada final na submissão do explorado face ao explorador, sendo instituída uma espécie de outsourcing de estiva em que cada estivador, ancorado a um “posto de trabalho” vitalício, sub-contratava a um preço irrisório a execução do que lhe competia.

E era, se a memória me não falha, ali para os lados do Jardim de Tabaco que bichas se organizavam em busca do trabalho de estiva ... por interposto “estivador”. Era o triunfo dos porcos e o momento em que o socialismo real, aquele em que sendo todos iguais alguns eram mais iguais que os outros, se afirmava resplandecentemente.

A coisa foi continuando, o Porto de Lisboa foi-se afundando e uns anos mais tarde, com a maioria dos armadores a impor outras rotas menos “progressistas”, um governo qualquer mandou tudo aquilo às urtigas atirando à cloaca da cidade os porcos, os sindicais mastins e o socialismo.
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* Suponho que tinha outro nome mas não me recordo.

New 'Free Market' Paradise Libertarian City: No taxes, No Fed, Small Govt


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O santo justiceiro


Fazendo jus àquela observação de não me lembro quem, segundo o qual "Aos 20 anos, quem não é comunista não tem coração; aos 40 anos, quem é comunista não tem cabeça.", também eu, na minha juventude fui, não comunista mas "de esquerda". E Fidel Castro, não sendo o meu modelo, era, apesar de tudo, uma referência.

A célebre entrevista que ele deu, na Sierra Maestra, a um jornalista americano, nunca a vi, porém, até há pouco tempo, quando ela passou num canal de TV, a propósito do falecimento desse jornalista. O qual, aliás, revisitando Cuba passadas décadas, e revendo aqueles que ajudou involuntariamente a promover, se mostrou visivelmente constrangido.

E devo dizer que, se, na altura, eu tivesse tido acesso a essa entrevista, Castro jamais me teria enganado, ainda que jovem. E interrogo-me como foi possível que, a não ser por interesses inconfessáveis (de conveniência de "estratégia política" ou outros) ou por cegueira incurável, aquela postura de "pinta aldrabófilo", de charlatão arruaceiro, de chefe de gang de bairro, haja logrado ser entendida como a de um político e não como a de um mero aventureiro gingão, que após o triunfo, refinou hitlerianamente a sua imagem de orador até à máscara de estadista santificado pelo seu inacessível nível ideológico.

E como dizia o "super-homem nazi" (que não o de Nietzsche), quem tem por objectivo o homem de amanhã não está preso a qualquer ética. 

Vem isto a propósito do que aqui se noticia:


Documentos dos serviços secretos alemães que eram sigilosos até esta segunda-feira indicam que Fidel Castro tentou contratar ex-oficiais das SS para treinar o exército cubano.

A procura da experiência de ex-oficiais nazis deu-se durante o episódio que ficou conhecido como a crise dos mísseis de Cuba, um dos momentos mais tensos da Guerra Fria, que aconteceu precisamente há 50 anos. Os soviéticos decidiram instalar mísseis nucleares em território cubano, levando a que os EUA bloqueassem a ilha por ar e terra e exigissem a retirada do armamento nuclear.

Segundo os documentos agora tornados públicos pela agência de serviços secretos alemã (oBundesnachrichtendienst, conhecido pela sigla BND), Fidel Castro procurou aliciar, em Outubro de 1962 e com recompensas financeiras avultadas, quatro antigos elementos das SS para treinar as forças cubanas, acabando dois destes por aceitar e desembarcar na ilha.

“Como pagamento foram oferecidos o equivalente a mil marcos alemães por mês, em moeda cubana, e mais mil marcos alemães por mês, na divisa desejada”, que seriam depositados numa conta num banco europeu, detalham os documentos, citados pela BBC. Este pagamento era quatro vezes superior ao salário médio alemão da altura.

“Obviamente, o exército revolucionário cubano não receava o contágio de ligações com pessoas de passado nazi, desde que isso servisse os seus próprios objectivos”, observou o responsável pela investigação histórica no BND, Bodo Hechelhammer, numa entrevista ao jornal alemão Die Welt.

Os documentos revelam ainda que o regime de Fidel Castro abordou intermediários ligados à extrema-direita alemã para comprar armas a comerciantes belgas, com o propósito de ter vias alternativas para equipar o exército cubano e não estar dependente apenas dos soviéticos.

Notícia corrigida às 9h54 de 17/10: corrigida a citação no penúltimo parágrafo, que anteriormente era “Obviamente, o exército revolucionário cubano não receava o contágio de ligações com pessoas de passado nazi, desde que isso servisse os seus próprios objectivos”.