sexta-feira, 12 de outubro de 2012

As carraças "educativas" portuguesas

[Texto original de 2008].


Em pleno século XXI tropeça-se em peças que parecem saídas do mundo das carraças. Veja-se esta.

"Uma concepção do acto educativo que não se queira limitar a uma educação do tipo «externo-cleido-mastoideu», uma educação que pretenda ser arma de combate efectivo contra a exclusão social, contra a simples privação de desenvolvimento, cultural, afectivo e psicomotor, tem que responsabilizar o Estado por uma intervenção precoce.

Tudo muito giro. Uma educação que nada ensine, ou, dito de outra forma, que ensine apenas aquilo que todos sejam capazes de aprender sem esforço: nada.

Por isso defendemos a expansão da oferta educativa a montante, colocando sobre o Estado o ónus de garantir que todas as crianças tenham acesso à Educação para a Infância a partir dos 4 anos de idade. Seja em contexto familiar, quando as famílias explicitamente fizerem essa opção, seja em contexto de instituição educativa do Estado. "

É excelente garantir uma educação de nada para todos. Afinal, a “igualdade” é um direito constitucional que é preciso preservar. Como? Evitando que uns possam aprender mais que os outros. Como se consegue isso? Ensinando técnicas de “[...] combate efectivo contra a exclusão social, contra a simples privação de desenvolvimento, cultural, afectivo e psicomotor [...]”. Há que enviar os entendidos nesta matéria às madraças paquistanesas para lá fazerem um doutoramento.

"Sobre gestão e administração escolar o Bloco defende três princípios fundamentais para a organização da administração escolar:
• princípio da colegialidade,
• princípio da democracia e representatividade de todos os membros das comunidades educativas "

Há que meter ao barulho tanta gente quanto possível de forma a potenciar a possibilidade de conseguir uma maioria que, não percebendo rigorosamente nada daquilo em que está metida, seja capaz de transformar a coisa de forma a que a dita passe a estar ao alcance do que a douta “colegialidade” é capaz de entender.

"A recente discussão pública em torno da existência de escolas a funcionar com um reduzio número de alunos não pode escamotear a existência, por outro lado, de estabelecimentos de ensino que funcionam com turmas muito acima do que é pedagogicamente recomendável. "

Claro. Mas a utopia por que todos devemos dar o pescoço será alcançada no momento em que haja:
a) 1 professor por 10 alunos ?
b) 1 professor por aluno?
c) 10 professores por aluno?
d) 100 professores por aluno?
Nota importante: 10 professores por aluno já ultrapassa, em larga escala, as possibilidades da máxima família que o bloco tolera (mas não defende) - 1 casal com 1 filho. A ser assim, será finalmente possível decretar a extinção da família. Poderá, portanto, esquecer-se a posição d).

"A redução do número de alunos por turma é, assim, uma forma de aproximar o professor da realidade de cada estudante e do seu meio sócio-cultural, podendo dispor de mais condições para assegurar a desejável articulação das escolas com a população escolar."

Finalmente,  o professor alcançará a felicidade suprema perante a possibilidade de conhecer a realidade ou, melhor dito, de aprender com os doutos alunos. No balanço, adapta-se a escola à população escolar em vez de fazer o contrário: há que adquirir “competências” em ignorância, estupidez e burrice.

"É imperativa a certificação dos manuais a serem lançados no mercado"

Oh, evidentemente. E ninguém melhor do que o Bloco para desempenhar a distinta tarefa.

Enfim, a escola segundo a perspectiva da carraça. Abocanham o animal e multiplicam-se, multiplicam-se e, a cada sinal de fraqueza do bicho, decreta-se que se enterrem mais as mandíbulas. Quando finalmente o bicho soçobrar, vai-se ao armário dos esqueletos buscar a enciclopédia onde se explica que a ideia é demasiado bondosa para a qualidade do animal.

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