terça-feira, 30 de outubro de 2012

Garantias constitucionais

No Blog De Arlindo:
Algures durante uma semana como outras (que podia ter sido a semana passada) numa escola de um subúrbio de Lisboa cujo nome não me vem à cabeça (e podia aliás ter sido outro) um aluno estava a provocar agressivamente dois colegas. Eles respondiam-lhe, e não havia maneira de a aula poder começar.
A professora tentou chamá-los à razão. Como não obedeceram, chamou duas funcionárias e pediu-lhes que levassem o provocador para a sala de estudo cumprir determinada tarefa – procedimento regulamentar, segundo parece. O provocador recusou a ordem. As funcionárias puxaram, ele resistiu, o impasse durou algum tempo. Por fim, elas disseram que iam chamar o conselho directivo.
Nessa altura o aluno levantou-se e, em tom desafiador, começou a andar vagarosamente para a saída,  distribuindo pequenos toques à sua passagem. A professora foi na mesma direcção, para fechar a porta. Aí ele olhou-a com raiva, pôs o pé a travar a porta, e disse que ela nunca devia ter saído do hospital.
A injúria assustou a professora. que se defendeu como podia, fechando a porta, à qual o aluno, já fora de si, começou a dar pontapés. Ao terceiro, conseguiu abri-la, com tanta força que acertou na professora, a qual caíu no chão, ficando a sangrar copiosamente da cara enquanto os alunos se levantavam gritando – e uma ou outra chorando.
As funcionárias foram chamar o conselho directivo, que não apareceu logo. Vários professores indignados reportariam depois o primeiro comentário que ouviram a um responsável da escola. Na mesma altura em que os bombeiros assistiam a professora ferida antes de a levarem para o hospital, esse responsável terá dito em tom sentencioso, referindo-se aos professores: É bom que se habituem a estes comportamentos hoje em dia.
A mensagem implícita, segundo quem ouviu, era que aquilo (a violência) acontecia aos docentes que não usavam os métodos pedagógicos adequados para lidar com turmas de ‘curriculo anternativo’ ou onde existem alunos que por qualquer motivo têm problemas. Quem precisa de ser educado, portanto, são os professores. Se não se portam bem – se não aplicam os métodos correctos – vem logo o castigo físico.
Pelos vistos, este velho método educativo já não é usado nos alunos (felizmente), mas pode ser usado nos professores mais ou menos à vontade. Será o currículo alternativo deles… Enfim, sempre é progresso.

3 comentários:

Anónimo disse...

Lamentável e nojento. É pena que o nome do "responsável" e do aluno agressor não sejam citados, com indicação de que deviam ser processados criminalmente. O aluno por razões óbvias, o "responsável" porque não tem perfil nem vergonha nem sensatez para ocupar aquele cargo. Espero que sejam denunciados para valer. De contrário continuar-se-á ao nível do desabafo, mera atitude contemporizadora para com o crime.
E o resto é conversa.

Angelo Benevides

ora viva disse...

Mais lamentável e nojento ainda é o facto de situações deste tipo se multiplicarem desde há muitos anos, sem que ninguém se preocupe por aí além com isso.
E, pior, que o comentário do "responsável" seja igualzinho ao de uma multiplicidade de outros, tão "responsáveis" como ele, que infestam, sobretudo, os estabelecimentos do ensino público português.
Mas pior, mesmo pior do que tudo, é que comentários deste jaez sejam repetidos, em tom de "revolta conformada" por, pelo menos, 80% da sala de professores de qualquer escola oficial!
Porque isto é o melhor indicador do que vai na cabeça não apenas da "classe" docente mas de uma grande parte da população.

alf disse...

isto tem raízes na ideia erradíssima de que as pessoas são naturalmente boas; as pessoas nascem selvagens e têm de ser colocadas logo de pequeninas no mundo real, um mundo com limites; assim, o seu cérebro configura-se para a realidade. Deixadas à solta tornam-se tão selvagens como qualquer animal selvagem, como é natural.

Dado que muitos pais não têm um mínimo de condições para educar os filhos, a solução passa por pré-primária e assistência social. Isto é sabido há décadas mas cá continua-se a desprezar a pré-primária. E, como eu tive ocasião de perceber em tempos, é de propósito, não vão os filhos do povo ter as mesmas oportunidades dos das elites...