quinta-feira, 30 de maio de 2013

ISLAMISMO, RELIGIÃO DE PAZ, LIBERDADE E PROGRESSO…




Diz-se e vê-se aqui:


Primeiro protesto em topless das Femen num país árabe

O alvo escolhido foi Tunes, na Tunísia. Três ativistas acabaram detidas

O grupo Femen fez o seu primeiro protesto num país árabe e não mudou a sua forma de atuação. Em topless, frases escritas no corpo e cartazes. Frente ao tribunal em Tunes, na Tunísia, gritaram pela libertação de Amina. Uma jovem detida por colocar fotografias suas, nua, na internet em Março último, alegando que o seu corpo «era seu e não a honra dos outros». No final, segundo a agência Associated Press, foram detidas três ativistas. Uma alemã e duas francesas.



A jovem Amina foi «escondida» pela família algum tempo, após vários religiosos radicais, a ameaçarem de morte. Mas no passado dia 19 de maio acabou detida. Deve ser presente a um juiz esta quinta-feira.

Mas além das ativistas, foram também detidos seis jornalistas que estavam no local a acompanhar o protesto. Segundo as autoridades, os meios de comunicação social estavam a alimentar o protesto. Poucas horas depois, os jornalistas foram libertados.



O incómodo causado pela nudez das jovens é bem visível nas imagens. Além da polícia, os próprios populares tentaram «tapar» as jovens seminuas.



Após a detenção de ontem, as Femen voltaram a protestar já esta quinta-feira, em Bruxelas, frente à embaixada da Tunísia.





Nota minha– E para quando a obrigatoriedade da burka? Hein?


(última imagem obtida aqui)

Da dignidade do burguês esquerdalho "digno" e chupista do contribuinte


..."Certamente que não serão apenas as companhias teatrais que sobrevivem à sombra da extorsão fiscal. Antes fossem. É assustadora a quantidade de empresas, sectores e corporações cuja actividade fundamental consiste em convencer os decisores políticos da sua absoluta imprescindibilidade. Não admira que estejamos falidos."...

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«No Facebook, Rui Sinel de Cordes, disse:

“A sério? Há uma manifestação no Teatro Aberto porque ficaram sem o subsídio de 300 mil euros do Governo? E estão lá autores e personalidades e Media? Eh pa, que aborrecimento, adorava ter ido.

Para lhes dizer que há 4 anos, pensei fazer o “Black Label” numa sala do Teatro Aberto – a sala 2, óptima para stand-up – que estava sem programação. Uma sala vazia, que ia ser utilizada sem custos para o Teatro, ia trazer público e comissão de bilheteira. Foi-me dito pela direcção que o stand-up comedy não era uma arte suficientemente digna para o Teatro Aberto.

Agora correm o risco de fechar porque não têm mama do Governo para fazerem peças dignas?

Azar do caralho.”

Não quiseram negócio porque são muito elitistas? Então agora jantem elitismo. Liberdade implica Responsabilidade.»

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Assim que cheguem os dias... (Tant qu'il aura des jours...)‏


Paul Cézanne, L'Estaque 


Sim - os dias, os grandes dias amenos na Provença e na Grand Prairie, tão justamente celebrados em novelas inolvidáveis por Marcel Pagnol, Jules Lemaitre e Marcel Scipion ou, já nas bandas do cinema, por Claude Berri, Jean Renoir, Marcel l'Herbier...

   Nesses lugares, se em boa companhia estamos, os dias são amáveis e fecundos. E se a companhia for, por exemplo, o filho do Sr. Antoine Morot (infelizmente já falecido) criador de vinhos, nomeadamente do famoso e gostoso Jolibleu Chambray e estivermos nas suas caves de La Jolle, acompanhados também pela presença de sua esposa Marcelle (ajudante vinhateira mas também pintora e ceramista-tapeceira) então a coisa magnifica-se, tanto mais que com aquele pundonoroso tintol costumam aprochegar-se iguarias de mui fino trato... para acalentarmos as papilas e a poesia que nisso tudo está inclusa.


Paul Cézanne, Natureza morta com cesto de maçãs



 Resumindo: lá mais para o tempo quente terei ensejo de rever aqueles amigos, a que se juntarão talvez os confrades de Espanha Ignacio Maragall e Maria Darmyn. E poderei então contemplar os painéis (de azulejo e pano tapeceiro) que, comunicaram-mo hoje, já estarão encaixados nas paredes da sala de entrada da adega e no salão da vivenda próxima aonde residem.


 Para aquilatarem da qualidade lírica do vinhateiro em causa (risos), aqui vos deixo 3 poemas 3 da sua produção, que tem um travo frutado, prudentemente encorpado e com um eflúvio floral - mas que só trepa galhardamente se nos dermos a desmandos sem norte e sem estrela. Mas adiante!


Jules Morot


TRÊS POEMAS DE JULES MOROT


ANDANÇAS

   As minhas viagens são feitas de acasos e de sombras. Ou de sombras e de acasos, pois a soma e a sequência dos factores por vezes é arbitrária. Ou não será assim?
  Não importa de momento, agora o que é preciso evocar são as grandes presenças das florestas passando por mim, sobre mim, por sobre a minha cabeça, os meus pés, as minhas mãos e os meus ombros. A roupa que me veste e que de tempos a tempos me desnuda, o mar que sempre recordo, naquela tarde ensolarada, naquele fim de tarde quando uma estrela já luzia no céu, o banco de jardim onde me sentei um dia numa pequena terra de Espanha, os grandes lumes acesos na serra, as fogueiras que me deslumbravam, me deixavam surpreso pois ainda não conhecia o fogo e a sua incontável arquitectura plena de terrores e de encantamentos, a voz do vento lá por fora, pelos caminhos da montanha, solitários como flores num bosque que não se sabe bem em que lugar fica.

 As minhas viagens são feitas de amargura pois não mais voltarão. São como um rochedo num bosque silente na manhã, um bosque onde animais nasceram e animais morreram, a doçura de um raio de sol ou de luar sobre o dorso de um lobo ou de uma inconcreta aparição.

  Tenho a tua mão e não tenho a tua mão. Imagens rodeiam-me e são coisas que existem, o pão e a água trazida dos lugares mais remotos e que nos habitam. A minha água interior, a tua água que ressuma, que bebi no teu coração, os teus olhos que já não reconheço, o fulgor do passado. As casas que correm ao meu redor, o rufar repentino de um combóio perdido e aquela voz de mulher dizendo para a outra, a mais nova, a mais vistosa: “Ali era o nosso quarto, lembras-te? Tantas vezes que nos pusemos ali à janela, ainda o Pai era vivo!”. A memória que se esconde para sempre num recantozinho do cérebro, como um retrato humilde ao canto de uma mesa numa sala muito antiga.

  As minhas viagens são feitas de tudo o que nos ampara e desampara nas grandes caminhadas, ao longo dum rio ou dum deserto.

  As minhas viagens são como livros amados e iguais aos crimes de outro alguém que existe e não existe, um alguém que mora dentro de mim e do peito que ainda conservo mergulhado neste tempo, no outro tempo, em todos os tempos do universo.



 Nicolau Saião, A colheita (painel de azulejo, 150 x 315 cm)


MOZART

Lêem-se os gregos
suecos, alemães
ou a doce língua
de não sei quantos
de não sei que imóvel pedaço de página
claves de sol
talvez o latim o alano o islandês
e é sempre a mesma música
sempre como um veio numa flor grossa obscena
Diz um   um alfinete   diz outro
um parafuso
pois sim
uma fina difusa coisinha semimorta
semi-deitada
semi-cerrada
uma inteligente coisa muda
maior que um tiro na orelha
pois não
uma espécie de porta
de dor discreta.

Meu bom senhor
olhai
nos prados nas tabernas
nos ermitérios
nos armários
um rasto de cão

Nos óculos do primeiro violino
tudo desaparece.

Tendes vós sono, desejo
de novas estações? Tendes florins?
Tendes, acaso, em dias
já passados
mãos musicais, sinais
de outras mortes?


Nicolau Saião, A criação do mundo (tapeçaria, 150 x 300 cm)


O BESOURO

Soa lá fora
espalha-se pela casa
no calor das árvores que aguardam
o mais curto caminho
humano   na direcção do ribeiro
o besouro   o seu som de campainha
de sineta
astucioso repicar  e logo
lembranças vagas na tarde
pequeno fio de memória nos nossos ouvidos
e  é exacto  um esvoaçante ser que em rodopios
perpassa
por sobre os roseirais
a sombra hirta dos sentidos.

Um harpejo
de violinos no nosso olhar reflectido
nos vidros
de hoje e amanhã
Agora um gesto  um balbuceio
um simples animal   de metal furando a tarde
seguro   bem seguro
do seu talento  da sua carne temporária
lembrança de céus distantes
de anos repassados   de poeira

de roteiros felizes.


in Jules Morot, Le mardis-gras
Tradução de Nicolau Saião


(Dados a lume, respectivamente, no "TRIPLOV" e na "DiVERSOS – revista de poesia e tradução". Trechos do seu livro La chambre engloutie foram dados a lume por Floriano Martins na "AGULHA – revista de cultura", Brasil)

Nota - O tradutor, aqui como em textos de sua autoria, não segue os preceitos do chamado Acordo Ortográfico.

terça-feira, 28 de maio de 2013

"Aquecimento global" - 2 em jeito de rapidinha.


A NASA anunciou pela enésima vez que se tinha enganado e que, imagine-se, o CO2 é bem capaz de provocar ... arrefecimento global.

O CRU descobriu que, afinal, se tinham enganado e que os modelos que anunciavam o fim-do-mundo em aquecimento não se encaixam na realidade.

Pois. Pena é Rui Moura já não estar entre nós. Fez-me perceber, há pelo menos 10 anos, aquilo que as zenitais luminárias finalmente confessam: andaram a inventar.

Do tonto da eterna razão

A desvalorização não é solução mas se a regulamentação asfixiante não for travada e demolida, o mercado encarregar-se-á de desvalorizar a bem ou a mal, o euro ou o emprego.

Evidentemente que, a Seguro e relativamente a desregulamentação, não passa pela cabeça prescindir de tal 'valiosa' ferramenta marxista.

Sobre Seguro pode ainda afirmar-se que figura mais tonta não há. O 'rapaz' insiste, sempre insistiu (acha ele que lhe fica bem) em reclamar pela revisão do acordo com a troika. A 'ideia' sempre foi tão disparatada quanto pedir-se revisão de provas antes de se fazer o exame.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Dou, de novo, a palavra a Alberto Gonçalves...





... que escreve aqui:



O elogio da desconfiança

A pretexto da circum-navegação do Governo em redor do novo imposto sobre os pensionistas, dos cómicos apelos de Cavaco Silva aos santinhos tradicionais e aos do Conselho de Estado e da demagogia alucinada em que a oposição perpetuamente vive, os portugueses, povo de descobridores, descobriram pela enésima vez uma extraordinária coisa: os políticos não são de fiar. Ou, para usar o léxico em voga, os políticos não têm credibilidade. Ai, quanta saudade do tempo em que os políticos eram credíveis.

Lembro-me como se fosse hoje de quando elegíamos gente cumpridora, unicamente preocupada com os célebres interesses do País e alheia quer a interesses partidários quer pessoais. Gente altruísta que sacrificava a popularidade a fim de servir o bem-comum. Gente ponderada, que nunca criaria as condições para entregar a nação ao FMI. Gente lúcida, que jamais permitiria a destruição, paga em cheque, do sector primário. Gente esclarecida, que sabia aplicar com rigor e parcimónia os "fundos" europeus. Gente determinada, que não cedia à atracção dos sindicatos pelo caos. Gente precavida, que se negou a autorizar o crescimento incessante da máquina estatal. Gente racional, que preferiu perder votos a alimentar a ficção de um assistencialismo desaconselhável e inviável. Gente insubmissa, que não sossegou enquanto não desmantelou uma Constituição devotada ao socialismo e acarinhada pelos comunistas. Gente avisada, que sempre preservou o equilíbrio das contas públicas. Gente decente, que combateu por dentro os naturais apetites do Estado para controlar a ralé desde o bolso até ao hábito. Gente democrática, que acautelou a probidade do sistema judicial. Gente visionária, que garantiu a exigência e a qualidade do ensino. Etc.

Agora a sério: alguma vez Portugal teve políticos honrados, fiáveis, escapatórios, vá lá? Lamento, mas não. E é da natureza da política que assim seja. Da natureza de Portugal é a propensão para ambicionar o contrário. É escusado referir o brilhantismo das duas primeiras repúblicas: se o pai da terceira é um indivíduo da estatura moral de Mário Soares, não teria custado adivinhar o nível dos filhos, netos e enteados. A todos, o bom povo deu sucessivamente o aval nas urnas para em seguida perceber com pasmo que se enganou, esquecendo os enganos e os pasmos anteriores.

Infelizmente, notar tamanha evidência passa por "populismo". Não é. O entendimento corrente do populismo consiste em substituir os políticos habituais por políticos que fingem não o ser. Sobretudo porque não temos outra, o ponto aqui implica aceitar a classe política que temos - sem aceitar a ilusão de que esses senhores, que de resto não caíram do céu, concorrem para resolver os nossos problemas. Mudar de regime é uma aventura menos recomendável do que mudar os cidadãos. Dito de maneira diferente, discutir a credibilidade dos políticos é conversa fiada: o problema nacional é a credulidade dos portugueses.


Cem anos de mitificação

O centenário de Álvaro Cunhal, em Novembro, levou a TVI a antecipar festividades e a realizar uma daquelas reportagens que tentam revelar o homem por detrás da figura pública. O que conseguiu foi revelar as baixezas a que o jornalismo (?) hagiográfico pode descer. O trabalho recorreu a depoimentos da irmã, de camaradas de partido, que falam sempre com o tom e a cadência "do Álvaro", o modo pelo qual ainda tratam o eterno chefe, e de interlocutores avulsos, desde o médico Joshua Ruah ao distinto historiador Fernando Rosas, passando por Miguel Sousa Tavares. Não fora o prazer de assistir ao célebre romancista de Equador referir a "áurea" (sic) do "doutor Álvaro Cunhal", qualquer texto evocativo do Avante! teria alcançado idêntico efeito.

Ficámos então a saber que Cunhal era sensível, bem-disposto, atencioso, inteligente, criativo, culto, poliglota e óptimo dançarino. Ou seja, de tanto extrair o "político" da "pessoa", a reportagem deixou apenas um esqueleto enganador e etéreo, que fez o favor de passear, ou dançar, entre os mortais. Do conspirador manhoso que, antes de 1974, perseguia e destruía adversários internos e lutava contra a ditadura em prol de outra ditadura pior, nem uma palavra. Do esboço de tiranete que, depois de 1974, lutou contra a democracia em prol da ditadura do costume, pouquíssimas e, em geral, compreensivas palavras.

Em suma, mitificação em abundância. É natural. Por cá, o fascínio que uma criatura medíocre como Cunhal desperta só encontra paralelo em Salazar. Não vale a pena mencionar os devotos: mesmo os que odeiam o beato de Santa Comba e o estalinista de Seia atribuem--lhes propriedades quase sobrenaturais. Sem tradição de liberdade, os portugueses adoram quem segura a trela e promete mantê-la curta, e não é à toa que, há uns anos, colocaram essas duas recomendáveis peças nos primeiros lugares de um concurso destinado a "decidir" os melhores da nossa história. Nem é à toa que a nossa história deu nisto.





A palavra interdita

Ler na imprensa portuguesa as notícias sobre os motins em Estocolmo levará um leigo a imaginar centenas de protestantes loiros a incendiar automóveis noite após noite. Já os iniciados nos códigos da correcção política percebem que não se trata de protestantes nem de católicos, budistas, hindus, judeus, xintoístas, animistas, membros da IURD ou agnósticos: à semelhança dos psicopatas que esta semana degolaram um soldado britânico numa rua de Londres, os criminosos da Suécia agem em nome do Islão, termo que as boas consciências preferem esconder em favor de "sentimentos de exclusão social" ou delícia do género. A própria ministra sueca da Justiça usou o eufemismo sem se rir. Um dia, os que como ela defendem a abdicação perante cultos da morte não rirão por razões de peso.


Clichês na própria baliza

O futebol é um espelho do País? Parece que sim e, infelizmente, parece também que vice-versa. Não falo das falências. Nem do aborrecimento. Nem da corrupção. Falo das ideias feitas e do poder destas em subjugar a realidade: quando enfiamos um disparate na cabeça, não o conseguimos retirar nem com o auxílio de uma rebarbadora. Vejamos primeiro um exemplo da bola.

Graças à intervenção dos media e dos "especialistas" do ramo, ao longo dos últimos anos convencionou-se que o treinador do Benfica é um génio e o do Porto um monumento à incompetência. Não importa que a equipa do sr. Jesus perca quase todas as competições em que participa, nem que saia regularmente humilhado dos jogos com o Porto, nem que o génio em causa tenha dificuldade em fazer--se entender pelo cidadão (e, suponho, pelo jogador) médio, nem que revele uma arrogância altamente desproporcionada face ao seu currículo. E não importa que o sr. Pereira seja campeão duas vezes seguidas, ao que li com uma derrota em 60 partidas. Acima dos factos, o que importa é a força do clichê difundido, a qual é responsável pela vontade dos adeptos benfiquistas em ver a permanência do sr. Jesus no clube e pela vontade dos adeptos do Porto em ver o sr. Pereira à distância.

Absurdo? Não mais do que os clichês que tomam conta da actualidade nacional, ou do pedacinho da actualidade que escapa ao futebol. Para os media e os "especialistas" da política e da economia, logo para a vasta maioria da opinião pública, a austeridade em que caímos é opcional. O Governo desatou a empobrecer os portugueses só porque retira farto gozo do exercício e não porque uma dívida descontrolada nos deixara próximos do colapso e em plena dependência da caridade (a juros) do exterior. Poucos se dão ao trabalho de notar que sem os apertos vigentes (e os que faltam) a troika não nos atura, que sem a troika os apertos serão imensamente maiores e que no mundo real não há descontos: os golos sofrem-se muito antes dos 92 minutos.



Socialismo pandémico ou saída de cena em grande frete?

No Porto, está instalada uma borrasca por causa de uma daquelas coisas esquisitas 'assim tipo' recuperação de zona história 'e coiso' ....

Diz Rui Rio, aparentemente atacado de uma pandemia de socialismo, que  estado deve ...pátátí pátátá ... porque o sucesso da coisa é monumental ... e a piramidal aceleração da economia local ... e a atracção de turistas ... e o dinheiro captado ... e, finalmente, (last but not least) o Estado tem que entrar.

Porra!! Com tanto sucesso Rui Rio defende que os louros fiquem no estado, ou será que as vantagens localmente certificadas não são suficientes para cobrir as despesas havendo necessidade de se 'voluntariar' o contribuinte?

domingo, 26 de maio de 2013

E, mesmo a iniciar a semana...

The Lamia (Genesis)


Quanto a marxismo pode, com segurança, continuar a afirmar-se que continua ... sendo praticado sem 'desvios'

O esquerdalho português, como provavelmente por onde existem, move-se por um sucedâneo de religião. O esquerdalho é, hoje, um especialista do NÃO. Nada sabe sobre coisa alguma excepto como não é. Reagan tinha razão.

A 'fé' que os move e a maximização do não (niilismo) leva-os, frequentemente, a apostar tudo em quem esteja contra a sociedade capitalista "burguesa" independente do cheiro nauseabundo desses aliados.

Todo o esquerdalho acredita hoje que, nesse amanhã, um posto na estrutura dos animais de 4 patas lhe está reservado como posto merecido (paga seria um desvio burguês e compensação uma falha de neo-capitalismo) pelo "trabalho" como indefectível e iluminado apoiante, mesmo que essa fase tenha que passar pelo ano zero. Esse posto é merecido nunca como uma troca de alguma espécie mas como incentivo à continuação da construção (nessa altura já não pode ser "luta") pela causa.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Vuddoo, Satanás e o neoliberalismo


Como se sabe, o grande inimigo do socialismo e do totalitarismo, nas suas várias tendências, sempre foi o liberalismo. Hitler investia sobre ele com a mesma fúria que Estaline, Mussolini, Cunhal, e uma plêiade de políticos portugueses que vão do PNR ao BE, passando pelos outros partidos todos.
É relativamente fácil citar frases e textos destas e doutras personagens, que provam o meu ponto.

Um dos eficazes recursos da retórica esquerdista é a invenção de termos que, por si só, definem de forma indiscutível o valor moral de questões complexas.
Inúmeros exemplo se podem apontar, como, por exemplo, a “democracia burguesa”, a “resistência”, “revolução”, etc.

Um desses termos é “neoliberalismo”, qualificativo acusador que se vulgarizou como forma de descrever o Mal, “Eles”, enfim, tudo aquilo que não corre bem e de que alguém há-de ter e expiar a culpa.

Hoje em dia, qualquer caramelo que queira passar por esclarecido, escreve umas bojardas do contra, pespega-lhe umas pitadas de indignação contra os “neoliberais”, e já está. 
 Se lhe perguntam o que é exactamente o “neoliberalismo”, quem são os seus autores, e as suas obras emblemáticas, embezerram e chamam-nos burros, como se o Mal fosse cartesianamente evidente. E, claro está, não encontram tais autores e obras, por uma razão muito válida: é que não existem!
O “neoliberalismo” , tal como é citado por estes iluminados, parece pois, ser uma criação daqueles que o invectivam....uma espécie de boneco de vuddoo, criado expressamente para lhe serem espetados alfinetes, na esperança de que o Mal, “Eles”, enfim, os culpados cósmicos pelos nossos problemas, sejam eles quem forem, sofram a expiação dos males que nos afligem.

Na sua obra mais emblemática (1984) Orwell descrevia o uso da novilíngua, por parte do poder, com o a finalidade de restringir os sentidos das palavras, impossibilitando deste modo pensar conceitos e ideias que, por ausência de palavras, seriam inexistentes e vice-versa, isto é, atribuindo significados novos às palavras. Assim, na obra, o Ministério da Guerra chamava-se Ministério da Paz. 
Controlando a língua, o Grande Irmão controlava o pensamento e impedia o surgimento e difusão de ideias “erradas”.

A esquerda domina notavelmente bem a produção de conceitos e a inversão de significados. Há toda uma teorização estruturada, que passa por Gramsci, Lukacs, Adorno, etc.

Com o tempo o “neoliberalismo”, que começou por vagamente designar algumas adendas ao liberalismo, alcançou o estatuto supremo de Belzebu, responsável óbvio por todos os males do mundo.
Colocados os neoliberais, quem quer que eles sejam (nunca ninguém viu um mas todos acreditam que existem) no catálogo dos Mafarricos, é com a maior naturalidade que todo e qualquer bicho careta, completamente ignorante do significado dos conceitos, veja em tudo o que de negativo se passa do mundo, a mão maligna do neoliberalismo.
Desde Evo Morales ao Dr. Soares, passando por génios como Hugo Chavez, Zapatero, Amadinejad, Lula, Francisco Louçã ou Ana Gomes, o diagnóstico é unânime: a culpa é do neoliberalismo.

Em Portugal, país a “caminho do socialismo”, onde tudo o que temos são variações entre social-democracia e comunismo, e cujos sucessivos governos gastaram e pediram fiado como se não houvesse amanhã, a culpa é, claro está, do “neoliberalismo”.
Na Europa, onde os Estados esmagam, interferem, taxam, e a regulação é draconiana, há que abater o “neoliberalismo”, culpado, olha quem, pelo desemprego e pelo anémico crescimento.
Nos EUA, onde o Governo Federal deu o incentivador pontapé de saída (através das hipotecas de risco concedidas pelas agências federais “ Fanny Mae” e “Freddy Mac”) na questão dos produtos tóxicos, a culpa é do “neoliberalismo”. Na Venezuela, onde falta papel higiénico e o governo nacionaliza até as mercearias, a culpa é do “neoliberalismo”



Há tempos um bloquista com quem calhei a discutir este bordão, confiou-me que a base ideológica do “neoliberalismo” era o Consenso de Washington!

Obviamente não me soube dizer o que era, em concreto. Deve ter ouvido o termo nas sessões de esclarecimento do BE, e bastou-lhe. Tudo levava a crer que ela via o Consenso de Washington como uma sinistra conspiração de neoliberais maléficos a cozinhar poções pela calada da noite, e a magicar a “Nova Ordem Mundial”, outro conceito redondo que a malta gosta de usar como se soubesse do que está a falar e como sinónimo de que “eles”, nos estão a preparar um caldinho.
Ora o Consenso de Washington é, basicamente, a designação das medidas desenhadas no âmbito do FMI e do Banco Mundial, para ajudar a “consertar” as economias falhadas dos países latino-americanos, na década de 80.

A 1ª coisa que há aqui a notar é que chamar “neoliberalismo” a medidas desenhadas por organizações exclusivamente constituídas por Estados, é tão paradoxal como chamar luar à luz do sol.
A 2ª coisa é que, como o própria designação indica, não se trata de imposições draconianas impostas pelos malvados “neoliberais” (e até ao momento ainda não conhecemos nenhum), aos pobres, oprimidos e explorados, mas medidas consensualizadas entre todos os países envolvidos, os que emprestam o arame, e os que recebem o carcanhol.



Quanto às medidas, vejamos então os 10 princípios que seriam, nas palavras do bloquista, os mandamentos do “neoliberalismo”:



1-Disciplina fiscal
2-Redireccionar a despesa pública da subsidiação indiscriminada para programas de crescimento e ajuda aos mais pobres, investindo na educação , cuidados de saúde, etc.
3-Refoma fiscal, reduzindo as taxas e aumentando a base de incidência.
4-Taxas de juro positivas e definidas pelo mercado.
5- Taxas de câmbio competitivas (desvalorização da moeda)
6- Liberalização do comércio (redução e eliminação de licenças e tarifas.
7-LIberalização do investimento directo estrangeiro
8-Privatização de empresas públicas
9-Eliminação de regulações excessivas que distorçam o mercado, mantendo apenas as que se relacionam com segurança, protecção do ambiente e do consumidor e supervisão do sistema bancário
10-Respeito pelos direitos de propriedade.



Ora isto, desculpem lá, parece do mais elementar bom senso. Se isto é o “neoliberalismo” e é mau, então, por exemplo, a “politica patriótica de esquerda”, (chavão permanente do camarada Jerónimo) seria o seu contrário, ou seja, indisciplina fiscal, sacar dinheiro à educação e à saúde e distribuir pela malta, aumentar as taxas de impostos, impedir o investimento estrangeiro, nacionalizar mais BPN,s, marimbar-se para os direitos de propriedade, parar com o comércio externo, sei lá, deixando de comprar petróleo, gás, carros, computadores, mangas, medicamentos, cereais, etc, etc, ou seja, tudo aquilo que não produzimos em quantidade suficiente.
Mas alguém, no pleno uso das suas faculdades intelectuais, acha que isto é “bom”?


Adiante....na novilíngua da esquerda, tudo isto é irrelevante. Os gatos convém que sejam pardos e os “neoliberais” dão um jeitão para fazer o papel de bode expiatório da estupidez de quem necessita sempre de algo ou alguém a quem atribuir culpas cósmicas.
E na dúvida aí vai disto: o neoliberalismo é o grande culpado pelos males do mundo, desde a falta de papel higiénico na Venezuela à derrota do Benfica, passando pela nossa dívida pública, peso excessivo do Estado, etc.




O chamarem ao Papão, “neoliberalismo”, não é por acaso. O liberalismo é um sistema de ideias mais ou menos coerente, tem obras, autores, é possível ler o que eles escrevem e raciocinar sobre essas ideias. Não é possível atribuir-lhe maldades imaginárias. E ser-se contra o liberalismo, é perigosamente inconsistente, porque num instante se está a retomar as teorias espatafúrdias do nazismo, do fascismo e do comunismo, os seus grandes inimigos.
É como alguém dizer-se antissemita. Não fica bem, é revelador de uma personalidade que não funciona com os fusíveis todos. Mas como a pessoas alimenta mesmo essas ideias disparatadas, cria novas palavras, inventa um newspeak, para as expressar sem se sentir como fazendo parte da população internada no Júlio de Matos. A palavra “antissionismo” serve exactamente para isso, tal como a palavra “neoliberalismo”. Com uma grande vantagem: como não existe em si, podem-lhe ser atribuídas todas as maldades do mundo, sem temer que os “neoliberais” desmintam a imputação. Porquê? Porque estes são como os OVNIS....todos falam neles, todos os viram, mas nunca ninguém nos mostrou um, ao vivo e a cores.

Criado o Mafarrico, agora é apenas uma questão de o vestir convenientemente ao gosto do freguês, e de vender o boneco.
Portugal nacionaliza o BPN? É o neoliberalismo.
Portugal privatiza o Metro? É o neoliberalismo.
Uma empresa dá lucros “excessivos”? É o neoliberalismo?
Dá prejuízo? É o neoliberalismo?
Endividamos-nos? Neoliberalismo
Emprestam-nos dinheiro? Neoliberalismo.
Não nos emprestam? Neoliberalismo.


E a malta compra o boneco retórico e usa-o em contínuos orgasmos de estupidez, debitando asneiras com a mesma naturalidade com que expira CO2.


A questão de um milhão de dólares, a que nenhum critico do “neoliberalismo” jamais respondeu é: Se o neoliberalismo é assim tão importante, e tão culpado de todos os males, que é afinal o neoliberalismo?

terça-feira, 21 de maio de 2013

PRIMAVERA ESCALDANTE


(foto obtida aqui)



Em Tunes os bondosos militantes islamitas, sob a sua capa salafista invadiram o centro da cidade e, para não ficarem mal na fotografia como mansarrões, escavacaram quanto lhes apareceu na frente. A certa altura a polícia, farta de levar garrafadas, pedradas e alguns tiritos para compor a festa, puxou dos galões e deixou-se de cantigas: prendeu 200 mais aguerridos.

E fez muitíssimo bem, para desespero contudo dos grandes democratas do Hamas e do Hezbollah, que já juraram ir pôr tudo a ferro e fogo.

Os esquerdistas de todo o mundo, cuja característica mental/intelectual é pensarem tudo ao contrário (citando o Prof. Jorge Gaillard Nogueira, assumirem "expectativas de milagre") fartaram-se de apregoar uma tal "primavera árabe", que afinal qualquer pessoa lúcida suspeitava ia ser um"inverno salafista". Ou seja, negrume islamita.

E aí está a dura realidade, insofismável, real como punhos. Ou será que, como refere por seu turno o ensaísta Pedro Lopes Cardigos, eles sabiam isso, apenas simulavam para, dessa forma, darem apoio ao fascismo verde? A dúvida faz sentido.

Curiosa é esta aliança, aparentemente contranatura, entre a verbosidade esquerdista e as acções muçulmanas. Os "bons espíritos"encontram-se?

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Brasil: A tragédia da bolsa-família

No Brasil, o mesmo pensamento mágico, o mesmo socialismo, o mesmo gasta-agora-e-depois-logo-se-vê. O Brasil no caminho da Venezuela.



"No último sábado as televisões mostraram as multidões, em vários estados da federação, se dirigindo às agências da Caixa Econômica Federal para sacar a renda do programa bolsa-família. O desamparo daquela gente era evidente. Que semeou boato cometeu crime. Mas o que fica é a lição, de ver nossa gente dependo da esmola estatal e, em troca, dando votos ao partido governante. É um erro político alimentando vícios e taras com graves consequências psicológicas. É a quebra a disciplina do trabalho. Essa gente não sabe que seu infortúnio deriva diretamente do gigantismo estatal e que não precisaria dessa esmola. Não sabe que é usada para fins torpes do poder. Não sabe que qualquer solução racional começa por eliminar esse humilhante maná inventado por Lula."

Rui Rio, lembram-se?


domingo, 19 de maio de 2013

E aqui ficam mais duas crónicas de Alberto Gonçalves



Eminem (foto obtida aqui)



Sonha mas não ressones

A televisão por cabo é uma maravilha. Em momento de ócio, uma pessoa começa a praticar a ancestral arte do zapping e, num daqueles canais esquisitos que irrompem quase todos os dias, depara com uma entrevista ao maior humorista português, Boaventura Sousa Santos. A parte má é que o programa estava a chegar ao fim. A parte boa é que mesmo poucos minutos de Boaventura, sempre mordaz, prometem galhofa farta. E cumprem.

Perante um entrevistador dissolvido em natural veneração, Boaventura, sempre trocista, lançou pérolas sucessivas, desde a crítica ao "neoliberalismo" (a mera expressão já é hilariante) que domina (?) a Europa até à receita para uma revolução como deve ser. Na opinião de Boaventura, sempre pândego, o nível de degradação social ainda não atingiu o ponto que ele, cito, acha necessário: "As pessoas estão na rua mas depois voltam para casa", frase que aos néscios parecerá um apelo a serões nas esplanadas ou ao campismo. Nada disso: para Boaventura, sempre zombeteiro, é preciso empobrecer mais as massas para que estas se enervem a sério e desatem a partir tudo. E se ele não parte tudo sozinho é apenas porque o dinheiro ganho a servir o "sistema" que se contesta permite uma vida confortável.

O conforto, porém, não impede que Boaventura, sempre sardónico, sinta "indignação", "raiva" e, de quinze em quinze dias, certo "desespero". Felizmente para a comédia, não se alivia a incendiar automóveis mas a escrever letras de rap, o derradeiro assunto da entrevista e, para mim, uma novidade. A acreditar em Boaventura, sempre sarcástico, o rap é a canção de protesto do nosso tempo e uma reacção à mediocridade. Sempre irónico, Boaventura finge ignorar que as reais canções de protesto nunca se deixariam vender no iTunes e que a reacção musical à mediocridade da época consiste em compor concertos para oboé.

Em consulta posterior na internet, apurei que os modelos de Boaventura, sempre satírico, são Kanye West e Eminem. Numa segunda consulta, descobri quem são Kanye West e Eminem. Numa terceira, encontrei uns versinhos rap assinados pelo alegado académico. Deleitem-se: "sonha/mas não ressones/que a polícia está atenta/que a polícia tudo tenta/até te inventa/a atenção é detenção/o governo/são os governados/em posição/de distração//direitos humanos/reinserções anuais/celas resort/donde sais por sorte/donde sais por morte/tudo pago/um dia te farão a operação/à salvação/evangelho segundo/santa sinistra/hall of shame/hall of fame/hall [sic] the same."

Quem ler isto sem rir até às cólicas não é humano. Países desprovidos de sentido de humor, género Portugal, Brasil ou Paraguai, tomam Boaventura por intelectual. Nos países restantes, ninguém o conhece. Azar o deles.


(foto obtida aqui)




Os bárbaros do "photoshop"

No Porto, um casal decidiu produzir descendência. A novidade é que passou ao lado da fecundação, da gravidez e das choradeiras e foi directamente à conservatória local, onde registou o rebento fictício a fim de beneficiar de isenções fiscais e dos apoios ditos sociais, os quais incluíam habitação gratuita de maiores dimensões. O caso acabará no tribunal. São questões culturais: pelo menos por cá, inventar o nascimento dos filhos dá chatices.

Noutras paragens, inventar a morte dos filhos dá prémio - a fotógrafos. Foi o que aconteceu a Paul Hansen, o sueco que venceu o World Press Photo (WPP) do corrente ano graças à imagem de uma multidão a carregar os cadáveres de duas crianças em Gaza. Segundo especialistas, a fotografia sofreu manipulações diversas a fim de melhorar a tonalidade e agravar o drama. O WPP garante que não. Conclusão? Nenhuma em especial.

Independentemente da autenticidade do retrato em causa, o facto é que o currículo do Hamas e a credulidade da imprensa ocidental em matéria de falsificação fotográfica das vítimas de Israel são assunto antigo e recorrente. Tivemos crianças "assassinadas" por Israel que já haviam sido "assassinadas" por Israel em ocasiões anteriores. Tivemos crianças "assassinadas" por Israel que morreram na Síria. Tivemos crianças "assassinadas" por Israel que morreram de morte natural. E, na maioria das vezes, tivemos crianças "assassinadas" por Israel que na verdade faleceram devido às mãos do próprio Hamas, visto que esta prestimosa organização é muito chorosa em frente às câmaras mas não se coíbe de lançar mísseis a partir de áreas civis.

Vale a pena notar as fraudes? Nem por isso, já que o seu destinatário é a vasta parcela da opinião pública internacional convicta de que tudo o que de mau sucede no Médio Oriente é culpa de Israel. Mais do que artimanha propagandística, as fraudes constituem uma reivindicação de audiências empenhadas em confirmar delírios em detrimento dos factos. Percebe-se: os factos, leia-se as circunstâncias de um conflito que opõe uma democracia livre a uma cultura de barbárie, são desagradáveis. Para os partidários da barbárie, claro.

(foto obtida aqui)

(para ler todas as crónicas de Alberto Gonçalves desta semana, clicar aqui) )

sábado, 18 de maio de 2013

ELES SÃO OS MESTRES… DA CULINÁRIA!





   Um dos casos mais interessantes de todos os séculos, mas principalmente da modernidade e da época contemporânea (dada a emersão da consciência histórica assinalada, entre outros, por Pérec, Simmel, Sidney Hook…) é o das modas comportamentais que, sendo um verdadeiro fenómeno societário, circulam através dos anos de forma indiscernível.

   Na nossa “democracia tendencial”, protagonizada por uma classe dominante geralmente sacrista e hipócrita cujo provincianismo estrutural a faz efectuar cá, em cópia alfacinhista ou regional, ritmos naturais (ainda que nefandos) dos granjolas de lá; e que uma classe média de “fraque roto” tenta imitar em sucedâneo, a imagem de tal facto é uma coisa típica e aflitiva.

   Quem não se lembra das conversas - fosse nos mídia ou nas escritas - a que se entregavam “emissores de opinião” representativos da sua classe, forcejando por estatuir que a culinária e a gastronomia era cultura fundamental (o que sempre se soube…) como se estivessem a descobrir a pólvora?

   O que essa gente visava era, claro, poderem encher o bandulho sem má-consciência, enfrascarem-se divinalmente sem se sentirem mecos tabernículas, exibirem o charuto sem se antolharem exibicionistas meio-freudianos…

   Nos últimos tempos tem tido largo curso aquilo a que chamam, com potência e desenfado (?) erotismo, livre comportamento, etc. E multiplicam feiras, exposições…

  E isto curiosamente num país que acima dos outros pares segue fazendo a vénia às sacristias e às entidades do perímetro sacral – veja-se a referência  escabulhada – e que provocou na colectividade ora o gáudio ora a irrisão - do mais alentado magistrado da nação, o nosso estimado Prof. Cavaco que Noss’Senhora de Fátima proteja.

  Fará pois sentido dar um novo olhar ao texto já publicado neste blog, o qual, infelizmente, parece ganhar novos perfumes e novos volteios… lusitanamente falando.

Musicalmente falando, do pai de tudo:

J. S. Bach.

A martelo:

É disparate? Espeta-lhe a palavra "solidariedade" e tudo ficará bem.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

RAP BRANCO

 
 
 
Nota: “Rap branco”, não porque feito por um branco, mas porque sem rimas sistemáticas. E “rap” porque criado para o público, com o público na alça de mira, ao contrário da poesia atual em geral (e a brasileira em particular), geralmente feita para nada e ninguém além do espelho barato da vaidade do poeta. Na direção e no sentido contrários, aqui foi utilizado o Twitter, para o qual as frases que compõem o poema foram originalmente criadas. Com três vantagens ou objetivos: o Twitter exige que as frases tenham um mínimo de interesse público potencial; determina uma medida, uma “métrica”, em função do limite de 140 toques; e induz uma temática não descolada do mundo imediato. O material bruto da coleção de frases foi então recolhido e retrabalhado, sem que seu paralelismo, sua autonomia original, fossem totalmente apagados ou mesmo muito diluídos, pois a coerência, a integridade, a inteireza, não são mais deste mundo. Outro motivo para o uso do Twitter: a fragmentariedade congênita do futuro poema, impedido de nascença de apresentar qualquer ilusória e ociosa organicidade. Enfim, melhor talvez um rap branco do que um poema pálido.
 
 
 

Lágrimas são salgadas porque não há doçura na dor.


Pompeia também era assim.
Velha vila a salvo
à sombra morna
da montanha sólida
que por acaso
desabrochou a grande flor do caos.

Pequenas flores
de calor
bocetas são agridoces.

Não há doçura pura.

A pura aspereza da dor.

Telefone então para a farmácia:
tudo se entrega na cidade.
Cidade-delivery.
Cidade entregue.

Aberta sobre o inseto do planeta
a noite é uma grande flor negra.
Ao menos seus grãos de pólen
parecem estrelas.

Janelas acesas.
Vidas apagadas.

É melhor se render aos fatos
antes que eles atirem em você.

Bala abstrata
entranhada na carne
a dor
sangra no cérebro.

Em mar aberto
japoneses matam

os mais magníficos animais
que jamais existiram
soberbas baleias
para que logo se tornem
merda humana.

Tanta gente insana:
porque foram crianças
nas mãos de gente um tanto insana.

O que se quer
de uma mulher
é algum alívio para a dor
tantas vezes por ela excitada.

Where is God
when I´m making love?


As asperezas da crença
não aparam as rugosidades do caos.

Se o mundo não parece mais
poder ser mudado
mude-se a si mesmo.
Foi um chamado à cirurgia plástica.

Minha libido foi pro saco.

Não há mais como ser como Rimbaud
repudiar a poesia
e a Europa.
Pode-se repudiar a Europa
e a poesia
mas grande porcaria.

Não tenho nada contra a poesia contemporânea.
Se acaso achar algo nela, aviso.

Perigo.
Risco de explosão do não-sentido.

Nas esquinas, mendigos
fazem um malabarismo distraído
com as moedas e os dias
enquanto malabaristas mendigam
centavos de atenção.
 
A esponja do cérebro
não pode mais absorver
o dilúvio de loucura líquida.

Quando chove
a cidade alaga
seu caos seco.

A computação em nuvem é o melhor reflexo
da cultura-espuma.

A poesia contemporânea levou a obsolescência programada ao estado de arte.

A renúncia do papa não me interessa
mas a dos poetas.

"Fora da Igreja não há salvação".
Dentro também não
principalmente para menores.
 
"Nenhum livro é tão ruim
que dele nada se aproveite"
disse Santo Agostinho.
Naturalmente
ele não conhecia a poesia contemporânea.

Só há um mandamento:
"Não faça a ninguém
o que não quer que lhe façam".
Não exige Deus
mas decência.

A poesia brasileira vai muito pior que a Igreja.

O sexo é a melhor coisa do mundo depois das preliminares.

Flores sem caule
não se colhem com cortes
mas com sementes.

Laranjeiras têm flores brancas.
Tão brancas quanto a luz do sol
no branco solar da pele branca
como pétala de flor de laranjeira.

Xoxotas têm pétalas roxas.

Se não existe poesia abstrata
ela que trate de dizer coisa com coisa.

A líquida luz quente do sol
sobre o veludo frio da sombra.

Não há mais nada a dizer sobre o amor
além de que tudo
o que ainda seja dito
sobre o amor é bendito.

O embate não é
entre fé e razão
mas entre fé e lucidez.

O islã é uma religião de paz.
Para quem duvidar
há a guerra santa.

Há uma guerra civil sutil no país.

São Paulo não é uma cidade
mas uma esperança, uma espera e um desespero.

Suicidas vegetarianos usam herbicidas.

Flores caídas nas calçadas
nunca recolhidas.

O sal da saudade só se tempera
com o açúcar do tato.

O amor é o sexo abstrato.
O sexo não é o amor concreto.
O amor é concretamente líquido.

A internet é uma máquina de liquefazer a timidez dos idiotas.

Entre a liberdade e a igualdade
a esquerda escolhe a segunda
a direita, a primeira.
Uma prefere a ilusão
a outra, a mentira.

A prosa pode ser ruim
e ainda conter uma história bem contada.
Um poema ruim é uma conquista da física:
puro punhado de nada.

A tristeza é uma dor descarnada.

Não há mais contra o que se bater
ser beat, hippie, punk, dark
anarquivanguardicomunista:
o ácido da realidade
derrete tudo.

Atenção: chão escorregadio.

Atentos pombos pedestres
partem dos prédios-pombais
fazem o que têm de fazer
incluindo muita merda
e logo retornam.

A cidade teme
até a doçura da chuva.

A chuva é o sêmen de Deus.
A Terra, sua boceta aberta.

Com 7 bilhões de humanos no planeta
a solidão
é o animal mais ameaçado de extinção.

O islã é a maior ameaça à paz dos muçulmanos.

Com 7 bilhões de humanos no planeta
a solidão
é o segundo animal que mais prolifera.

Madrugada. O silêncio da cidade é áspero.

O Brasil poderia ser um grande país
não fosse sua pequenez.

"Somos feitos da matéria dos sonhos" (Shakespeare).
A mesma dos pesadelos.

Se o inferno são os outros
o céu sou eu ou a solidão
que são, afinal, a mesma coisa
e igualmente infernal

Don't matter where you are
everybody gonna
need some kind of ventilator
.

Algum que ventile a dor.

A poesia parou.

Se não há Deus
só a vida importa.


Bitches.