quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

DEMOCRACIA MUÇULMANA


1 Nota introdutória


Talvez a questão político-ideológica mais importante da atualidade seja a sintetizada por este título: a democracia muçulmana. Pois é tão fácil aproximar as duas palavras no papel quanto parece difícil integrá-las na realidade política dos países islâmicos. E essa dificuldade está na raiz de uma grande instabilidade sociopolítica que afeta ou ameaça afetar inúmeros países em várias partes do mundo. A imprensa mundial participa naturalmente desse debate, mas, como regra, de modo fragmentário. Esta é, em suma, uma tentativa de ser mais abrangente (e menos tímido) do que o habitual.


2 Alguma história


Os países árabes, ou as regiões em que hoje estão os estados árabes, foram, em sua maior parte, colônias do Império Otomano por cerca de meio milênio, até o fim do século XIX e, principalmente, até a Primeira Guerra Mundial. Com o fim do Império Otomano após sua derrota na guerra, tornaram-se colônias de impérios europeus, notadamente França, Inglaterra e Itália (Líbia), por umas poucas décadas, até o período pós-Segunda Guerra Mundial. A maioria desses países conquistaria a independência nos anos 1950 (outros já nos anos 1930).

Mas em nenhum desses países a independência significou o início da construção de uma sociedade civil com direitos políticos, jurídicos e econômicos realmente robustos. Certo senso comum desinformado ou ideologicamente interessado imputa esta circunstância às potências ocidentais, que teriam imposto ditaduras títeres aos novos Estados independentes, a fim de garantir governos dóceis em países mergulhados em petróleo. Muito pouco disso resiste minimamente aos fatos.

A maioria dos países árabes não tem petróleo. Marrocos, Tunísia, Egito, Líbano, Síria, Jordânia, Iêmen e Oman, por exemplo (o Egito produz gás natural em escala razoável, mas não é um exportador importante de hidrocarbonetos). Além disso, muitos foram controlados por governos antiocidentais durante a maior parte da segunda metade do século XX.


3 O caso egípcio


  O caso paradigmático é o Egito. Em 1952, um movimento político-militar nacionalista depôs o pró-ocidental rei Farouk, proclamando a república em 1953, sob comando do general Naguib.
 Em 1954, o coronel Gamal Abdel Nasse deu um golpe dentro do golpe e assumiu a presidência vitalícia, declarando a independência integral do Egito, com a nacionalização do canal de Suez, ainda sob domínio britânico. O governo Nasser era nacionalista e antiocidental, além de anti-israelense. No contexto da Guerra Fria, seria um aliado figadal da União Soviética.

Foi, portanto, com armas e instrutores soviéticos que Nasser, ao longo de duas décadas, construiu um grande exército a fim de invadir Israel, o que tentaria em julho de 1967. Sua derrota na Guerra dos Seis Dias fez seu governo se arrastar por mais três anos, até sua morte, em 1970. Foi substitído por um homem de seu staff, Anuar Sadat, que tentaria mais uma vez invadir Israel em 1973. A nova derrota na guerra do Yom Kippur obrigou o establishment político-militar egípicio a repensar o caminho nasserista, ou seja, criar uma grande potência militar que imporia sua liderança ao mundo árabe pela derrota de Israel. Em 1979, Sadat assinou a paz com Israel. Com isso, deveria haver uma inflexão para a política interna, a fim de afinal se começar a resolver os multisseculares problemas socioeconômicos do país. Mas Sadat foi assassinado por terroristas islâmicos ligados à Irmandade Muçulmana. Seu sucessor, também do staff de Nasser, o general Hosni Mubarak, incrementou o combate à Irmandade, que vinha sendo travado por todos os governos egípcios, com destaque para o próprio Nasser, desde os anos 1930. O mesmo Mubarak, a partir dos anos 1980, ante o fracasso histórico das políticas nasseristas e com o crescente enfraquecimento da União Soviética, afinal “mudou de lado” e tornou-se um aliado dos EUA. As três décadas do governo Mubarak, enfim derrubado pela Primavera Árabe, não podem, em todo caso, ser responsabilizadas pelo que o Egito é hoje.

O Brasil viveu sob um governo militar por um período equivalente, entre 1964 e 1985. Não foi a ditadura militar quem criou as históricas mazelas do país, como a distribuição de renda obscena, o analfabetismo sistêmico, a infraestrutura atrasada, o sistema político oligárquico. É verdade que o governo militar brasileiro serviu para desarticular as forças políticas populares e de esquerda que, pretensamente, visavam implementar reformas históricas no país. Mas é igualmente verdade que tais forças, integradas por parte da burguesia nacional (a nacionalista), movimentos agrários politicamente atrasados e uma esquerda urbana pró-soviética, trazia em seu bojo tantas contradições que apenas a derrota histórica frente à direita e aos militares permitiu a criação do mito anacrônico de uma unidade de propósitos reformistas, democráticos e modernizantes que, mais mítica do que verdadeira, muito dificilmente teria chegado aos resultados imaginados. A história do Brasil teria sido outra, sem dúvida. Mas não é sem dúvida que teria sido a que se desejava. Os grupos de esquerda urbanos, como dito, pretendiam implementar uma ditadura do proletariado ao estilo soviético. Para isso, teriam de derrotar não apenas a direita, mas também o centro democrático. E uma ditadura à la União Soviética, com sua inépcia econômica, difilmente resolveria os históricos problemas nacionais. Em países como Brasil e Egito, de profundos e profundamente históricos problemas socioeconômicos, imputar as causas a um governo recente, ou projetar as soluções num governo milagroso, é ilusão ou mentira.

Derrubado o governo do general Mubarak pela Primavera Árabe, a solução milagrosa apontada para o Egito foi a democracia.

O exército secularista, de origem nasserista, recuou do centro da cena política pela primeira vez na história egípcia republicana, e promoveu eleições para a presidência e para um novo Parlamento constitucionalista (que teria de redigir a nova Constituição). Tanto as eleições legislativas quanto a executiva foram vencidas pela Irmandade Muçulmana.

O atual presidente egípcio, Mohamed Morsi, apesar de proclamar sua adesão ao islamismo moderado e de evocar o “modelo turco”, logo impôs medidas de exceção, que aumentaram ditatorialmente o poder executivo, tentou limitar e controlar o poder judiciário e, por fim, levou à volta das revoltas populares, também atiçadas pelo caminho que tomou a nova Constituição, muito mais islâmica do que parte importante da população gostaria, principalmente a urbana. A neonata democracia egípcia parece, agora, correr o sério risco de se tornar natimorta.


4 O ocaso tunisiano


O mesmo acontece na Tunísia, berço da Primavera Árabe. O partido islâmico também autoproclamado moderado e seguidor do “modelo turco”, o Ennahda, tomou o poder nas primeiras eleições gerais, ao lado de um Parlamento igualmente comandado por grupos islâmicos. O resultado foi uma rápida e crescente onda de pressão pela islamização da sociedade tunisiana, uma das mais seculares do mundo árabe, por grupos militantes que, sob a conivência ou indiferença do governo islâmico “moderado”, passaram a ameaçar jornais e jornalistas, partidos seculares, escolas mistas e cinemas. A pressão ismalita e a conivência ou indiferença governamental resultaram, na semana passsada, no assassinato do principal líder da oposição democrática e secular, Chokri Belaid, uma das mais importantes e críticas lideranças políticas, líder do Movimento dos Patriotas Democratas, o principal grupo da coligação Frente Popular, que se apresenta como uma alternativa secular de poder. Sua morte levou à atual revolta popular, à dissolução do governo e à ameaça de uma guerra civil. Para usar um clichê repetido pela imprensa internacional, a Tunísia está à beira do caos.


5 A experiência argelina


A Argélia contemporânea é um fruto político da guerra de independência contra a França, travada duramente entre 1947 e 1962. Tanto a guerra de independência quanto os governos argelinos subsequentes foram liderados pela Frente de Libertação Nacional (FLN), que além de partido governante, também daria origem ao novo exército nacional.

Após quase 30 anos de governo nacionalista da FLN, em 1989 inicia-se um processo de abertura política através da redação de uma nova Constituição, que instituiu o pluripartidarismo. No primeiro turno das eleições parlamentares subsequentes, em dezembro de 1991, a Frente Islâmica de Salvação, FIS, conquistou 188 cadeiras, contra 43 dos demais partidos. O segundo turno, em que se disputariam as 199 cadeiras restantes, apontava para uma vitória literalmente esmagadora da FIS. Esmagadora porque a vitória da FIS significaria a morte da recém-nascida democracia argelina, pois seu programa de governo pretendia reconstruir o Estado sob diretrizes religiosas. Ou seja, não apenas extinguir a democracia representativa pluripartidária, como a própria república, que seria substituída por uma teocracia. Tratava-se, nas palavras do grande orientalista Bernard Lewis, da estratégia do “um homem, um voto, uma vez”. O exército deu um golpe republicano e abortou o segundo turno das eleições, levando a uma guerra civil que se estenderia até 1995. Eleições subsequentes foram realizadas, mas sem a participação da Frente Islâmica de Salvação, posta na ilegalidade.


6 Alguma teoria política: o governo representativo


As democracias modernas têm origem nos governos representativos ocidentais que nasceram das experiências históricas da monarquia constitucional inglesa, da república norte-americana e da revolução francesa. No campo das ideias, o liberalismo, em suas diversas correntes, impôs-se na formulação de princípios e modelos teóricos. Da conjugação da experiência concreta e dos diversos matizes do pensamento liberal, há alguns elementos possíveis de se identificar como inerentes à democracia moderna.

Um deles é ser a sua origem, justamente, o governo representativo, e não a democracia direta: isto significa que as decisões são tomadas por representantes eleitos pelos cidadãos, ou seja, não por todos os cidadãos nem por seus delegados. Isto traz consequências aparentemente óbvias, nem por isso desimportantes. O senso comum tende a imaginar que, para haver democracia, o compromisso do representante com seu eleitor deve ser o de realizar promessas e compromissos de campanha, dedicando seu mandato a cumpri-los fielmente. Mas não é este o princípio que rege um governo representativo. Desde a origem deste tipo de governo, os representantes eleitos gozaram de autonomia para tomar decisões. Uma autonomia necessária.

Qual seria o sentido de formarem uma assembleia e debaterem questões políticas, se estivessem atados aos desejos prévios de seus eleitores, sem autonomia decisória? Mas se os representantes têm e devem ter autonomia para decidir, como se estabelece uma relação de representação? Em que medida representam, então, seus eleitores? Em que medida é garantido um compromisso entre representante e eleitor? Em suma, como o grande paradoxo da democracia representativa pode ser e é, se não eliminado, racionalizado e equacionado?

Esse compromisso, a essência desse tipo de democracia, baseia-se na liberdade de informação e na transparência dos debates e decisões parlamentares. Daí o voto secreto (por exemplo, para as presidências da Câmara e do Senado), praticado e defendido por muitos no Congresso brasileiro, ser radicalmente antidemocrático. Pois se os representantes eleitos não podem, para participar de uma assembleia política, que deve decidir e legislar sobre inúmeros e às vezes imprevistos aspectos políticos e legais, ater-se de modo puro e duro a compromissos de campanha (cuja natureza então algo falaciosa e suas possíveis soluções não cabem discutir aqui), eles devem, em compensação, participar de tal assembleia de modo a poderem ser julgados politicamente pelos eleitores. O veredito desse julgamento será dado nas eleições seguintes.

A democracia representativa, como bem a sintetiza a expressão inglesa, é um complexo e sutil sistema de “checks and balances”, ou “freios e contrapesos”. Esta expressão, normalmente utilizada para definir a divisão do poder em poderes vários (como executivo, legislativo e judiciário), o que impede o poder unitário e, portanto, absolutista, também serve para descrever a ideia por trás da representatividade política da democracia liberal. A fim de equilibrar e contrabalançar a capacidade do eleitor de pressionar seu representante, existem a opinião pública e o mandato por tempo limitado. O representante será julgado durante seu mandato pela opinião pública, e receberá um veredito a posteriori, quando se candidatar à reeleição. Para que o sistema funcione, tanto a liberdade de informação e de expressão quanto a transparência do debate político e das decisões são sine qua non.
[1]


7 Alguns pressupostos
 

A democracia representativa, portanto, pressupõe a existência de uma sociedade civil, que se manifesta pela opinião pública e pelo voto. A sociedade civil, então, não surge pela manifestação pública ou pelo voto. Estes é que nascem da existência da sociedade civil. Os exemplos citados, a monarquia constitucional inglesa, a república norte-americana e a revolução francesa, resultaram de embates políticos e debates ideológicos, em que se destacam as ideias do liberalismo inglês e do iluminismo francês. Onde esses embates e debates puderam levar a reformas, a democracia representativa foi instituída por reformas, como no caso inglês. Onde não puderam, foram necessárias revoluções, como nos casos francês e americano. Tudo isso pressupõe a existência de classes sociais e circunstâncias sociopolíticas que nasceram e se desenvolveram à sombra do Antigo Regime, como a burguesia, o proletariado industrial, a população urbana, a imprensa, a filosofia política, criando uma sociedade civil com direitos políticos, jurídicos e econômicos mínimos. Essas classes e essas circunstâncias afinal geraram as demandas e as condições para o surgimento da moderna democracia representativa, à custa da extinção reformista ou revolucionária do poder absolutista ou oligárquico.

Um problema diferente se coloca quando se pretende instituir o governo representativo na ausência de uma sociedade civil. As soluções também devem ser, necessariamente, diferentes.


8 A famosa (e falsa) solução turca
 

A Turquia, mais sólido exemplo de democracia muçulmana, e famosa exceção histórica a confirmar a regra de sua dificuldade, depois de quase cem de anos de governos de partidos seculares, é hoje governada por um partido islâmico moderado, o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP). Este fato é evocado pelos partidos islâmicos “moderados” dos países da Primavera Árabe como um “modelo”. As coisas, porém, não são o que parecem à primeira vista. Para começar, o AKP não se moderou sozinho, ou por decisão ou vontade própria. Ele é, na verdade, uma dissidência do Partido da Virtude (PV).


O PV não tem como adjetivo definidor ser moderado ou imoderado, mas islâmico. Por definição, um partido islâmico tem um projeto de poder islâmico (assim como um partido comunista tem, originalmente, um projeto de poder comunista), que pode ser resumido pela imposição de normas islamicamente corretas à política, à sociedade e ao Estado. O PV foi historicamente impedido de participar de eleições na Turquia até que, em 2001, o atual primeiro-ministro turco, Recep Erdogan, deixou-o para fundar o moderado sem aspas AKP. Isto significou aceitar explicitamente o estatuto secular do Estado turco, assim como a alternância do poder e o respeito aos adversários políticos, ou seja, respeitar os princípios históricos de uma república laica.

O Império Otomano (origem da atual República da Turquia), depois de um longo período de lenta decadência, afinal se desfez ou foi desfeito após sua derrota na Primeira Guerra Mundial, na qual se aliara à Alemanha. A própria existência de qualquer estado turco ficou então em suspenso – até a reação chefiada pelo coronel Mustafá Kemal Ataturk, líder da Revolução Turca de 1919 e fundador, em seu rastro, da República atual.

Portugal já foi um império. Também a Espanha, a Rússia e, mais recentemente, a Inglaterra. Porém o mais correto seria dizer que esses países tiveram um império. Ao perderem suas colônias, voltaram, de certa forma, a ser o que haviam sido antes de conquistá-las. O Império Otomano era diferente. Não houve uma Turquia que depois conquistou um império. Houve, primeiro, o império turco, nascido da lenta expansão militar de um pequeno núcleo tribal. Esse núcleo tribal, de cultura centro-asiática, era originário da região do atual Turcomenistão, e fizera parte das várias levas de invasores nômades que, historicamente, se deslocavam do centro da Ásia para o oeste, como mongóis e hunos. Essa tribo turca em particular, cujo líder se chamava Osman, ou Otman, e daí o seu nome, seguira o avanço árabe na direção do Império Bizantino, estabelecendo-se afinal na Anatólia em torno do ano 900. Nos séculos seguintes, os turco-otomanos incorporariam regiões e estruturas – físicas e políticas – de antigos estados árabes, assim como do Império Bizantino, incluindo sua própria capital, Constantinopla. Quando o Império Otomano afinal se desfez, no início do século XX, não havia um antigo centro nacional a preservar, ou para o qual retornar, como havia, no centro do Império Britânico, a Inglaterra. Para haver uma Turquia depois do fim do Império Otomano, era preciso criá-la.

 Na lista dos maiores estadistas do século XX, Roosevelt e Churchill têm um lugar natural por sua vitória na Segunda Guerra Mundial. Porém há outra lista, não menor do que a primeira, apenas diferente, ou seja, não a dos grandes líderes político-militares, mas a dos grandes construtores de nações, em que se destacam Gandhi e Mandela. E na qual o primeiro lugar, o de maior estadista do século XX em sua acepção mais ampla, deveria caber a um coronel turco, Kemal Ataturk, o criador, no sentido mais puro da palavra, da República da Turquia a partir dos escombros do Império Otomano.

Ataturk foi um déspota esclarecido, o último e o maior deles, na tradição e na linhagem de Pedro, o Grande e de Catarina, a Grande, na Rússia, ou do marquês de Pombal em Portugal. Se Pombal chegou a proibir a Ordem de Jesus, ou seja, os jesuítas, Ataturk foi mais longe: pretendeu eliminar o islã, não da cultura turca, mas da cultura pública turca, levando-o então a se tornar uma questão privada de cada indivíduo, como nas modernas sociedades laicas. Quem sai às ruas nas cidades modernas não é um judeu, um cristão, um budista ou um ateu, mas um cidadão que pode ser ateu, budista, cristão ou judeu, e tem todos os direitos e deveres de um cidadão, não de um judeu, de um cristão, de um budista ou de um ateu. Não apenas o Estado deve ser separado da religião, como a religião deve ser separada da esfera social comum, regida pelas leis igualitárias do Estado democrático. Ataturk o considerava necessário como uma das etapas principais, senão a principal, na construção do novo país, se ele quisesse escapar do destino dissolvente do antigo Império Otomano. Maior líder militar turco moderno e pai-fundador da República (ataturk significa “pai dos turcos”), ele talvez soubesse o que estava fazendo. E dizendo:
 


"Afirma-se que a unidade religiosa é um fator na formação das nações. No entanto, vemos o oposto na nação turca. Os turcos eram uma grande nação antes de adotaram o islã. Essa religião não ajudou os árabes, iranianos, egípcios e outros a se unirem aos turcos para formar uma nação. Ao contrário, ela enfraqueceu as relações nacionais turcas, e anestesiou os sentimentos e o entusiasmo nacionais turcos."

[2]

"Estamos tentando não misturar assuntos religiosos com os negócios da nação e do Estado, e evitando ações reacionárias baseadas em más intenções."
[3]

"Não consideramos nossos princípios como dogmas contidos em livros vindos do céu. Nossa inspiração vem não do céu, ou de um mundo invisível, mas diretamente da vida."
[4]

"Temos que ser independentes do ponto de vista da religião."
[5]

"A humanidade é feita de dois sexos, homem e mulher. É possível que um povo se desenvolva pelo desenvolvimento de apenas uma de suas partes enquanto a outra parte é ignorada?"[6]



Muito antes da França, Ataturk proibiu o véu feminino. Como o marquês de Pombal proibiu a ordem dos jesuítas, ele fechou as ordens de dervixes, espécies de mulás místicos. Também fechou as escolas religiosas, as madrassas, onde se estudava o Corão – e onde tudo o que se estudava era o Corão. Ao mesmo tempo, instituiu o ensino universal e laico. Mudou o alfabeto turco, que utilizava caracteres árabes, para um novo alfabeto, baseado nos caracteres latinos. Como Lutero e o rei James da Inglaterra traduziram a Bíblia, respectivamente, para o alemão e o inglês, Ataturk encomendou, pela primeira vez, a tradução do Corão do árabe para o turco, a fim de que os fiéis não ficassem reféns das interpretações dos mulás. Determinou o domingo como dia de descanso, em lugar da sexta-feira. Anulou a legislação religiosa, incluindo as leis sobre casamento, divórcio e herança, baseadas na lei islâmica, a shariá, e instituiu uma legislação civil. Proibiu a poligamia. Substituiu o calendário muçulmano pelo gregoriano. Fechou inúmeras mesquitas, e transformou a principal delas, a de Sófia, em Istambul, em um museu. A lista é interminável. Entre outras coisas, Ataturk também aboliu o califado.

O Império Otomano era, ao mesmo tempo, o sultanato, o império do sultão turco, e o califado, pois o sultão era também o califa, o sucessor de Maomé e, portanto, o “Defensor do islã” e sua máxima autoridade religiosa. Algo como se o imperador romano fosse simultaneamente o papa. Pois Ataturk, além de destituir e exilar o último sultão, acabou com o papado – digo, com o califado.

Ataturk não criou apenas um novo estado, a Turquia, dos escombros do Império Otomano. Também criou uma república laica e institucionalmente moderna no lugar de um estado religioso. Além disso, e acima de tudo, tentou mudar e remoldar a cultura do país, a fim de que a racionalidade e o empirismo modernos substituíssem, na vida pública, jurídica e política, as crenças e as práticas religiosas. Ele foi o único reformador a fazê-lo com relativo sucesso em todo o mundo muçulmano.

 Mas as reformas modernizantes e democratizantes de Ataturk foram, paradoxalmente, implementadas à força – então necessária para mudar tanto as instituições quanto as práticas e as mentalidades, e assim criar tanto um novo país quanto uma sociedade civil moderna. Daí a referida falácia dos islâmicos “moderados” que evocam o “modelo turco” a fim de defender sua subida ao poder nos países da Primavera Árabe. Pois se referem ao fato de a Turquia ser hoje governada por um partido islâmico e manter sua república democrática. Acontece que essa democracia não foi construída por um partido islâmico no poder, mas por forças políticas anti-islâmicas lideradas por Ataturk (se não bastasse, o partido islâmico moderado hoje no poder na Turquia vem, na verdade, tentando paulatina mas consistentemente minar o laicismo do Estado, conforme reiteradas manifestações de importantes intelectuais turcos na imprensa internacional, que nossa mídia provinciana solenemente ignora).

Enfim, o modelo turco simplesmente não pode ser hoje copiado, pois seria impraticável e impalatável. O famoso modelo turco, portanto, não é modelo nenhum para nada.
[7]


9 A grande cláusula


É preciso reconhecer, corajosa ou, ao menos, honestamente, que não se pode servir igualmente a dois amos. O islã como religião privada de um indivíduo ou de um bilhão é um direito fundamental, o da liberdade religiosa. Mas o islã como projeto político e social, ou como “referência” de um projeto social e político, como pretendem os partidos islâmicos “moderados”, é uma falácia, uma mentira ou uma contradição. A própria liberdade religiosa pressupõe a completa separação entre Estado e Igreja, pois apenas um Estado – e um governo – laico não está comprometido com nenhuma crença e pode, portanto, garantir que nenhuma crença tente se impor. Mas não é apenas a liberdade religiosa que depende do Estado – e do governo – laico. As liberdades civis em geral e as liberdades políticas em particular também, pois um projeto político religioso pressupõe a imposição de práticas e regras religiosas grupais. O islã como projeto político é, de fato, incompatível com a moderna democracia representativa. As patéticas esperanças de que a autoproclamada “moderação” de partidos islâmicos resolva milagrosamente o problema são apenas esperanças patéticas.

Comentei acima que o Partido da Virtude turco, historicamente o mais importante partido islâmico do país, era historicamente impedido de participar de eleições, forçando afinal um de seus líderes, o atual primeiro-ministro turco, Recep Erdogan, a abandoná-lo e fundar um novo partido, o moderado sem aspas AKP. Sem aspas, pois obrigado a adequar seu estatuto às cláusulas republicanas da Constituição turca (eis, aliás, mais uma diferença fundamental da situação turca, que torna o modelo irreprodutível: há uma Constituição turca que é laica e republicana, à qual todos os partidos, notadamente os islâmicos, têm de se submeter; nos países da Primavera Árabe, ao contrário, novos Congressos constituintes estão sendo eleitos, com a participação de partidos islâmicos: portanto, com grande possibilidade de que nasçam Estados nem republicanos nem laicos, mas islâmicos; o que isso tem a ver como o modelo turco?). Mas se o Partido da Virtude turco era proibido constitucionalmente por certas cláusulas de participar de eleições, como pode ser esta uma Constituição republicana, ou essa uma democracia representativa?

 Trata-se de um aparente paradoxo, semelhante ao paradoxo aparente que contrapõe a tolerância à intolerância. Como disse o filósofo Mário Bunge, ser tolerante implica ser intolerante com a intolerância, caso contrário, a tolerância com a intolerância resultaria na vigência da última, logo, na morte ou no enfraquecimento da tolerância. Do mesmo modo, uma Constituição republicana e democrática deve prever a necessária defesa da República e da democracia, logo, impedir que forças antirrepublicanas e antidemocráticas possam ameaçá-la, principalmente pelas próprias vias do governo representativo. Um exemplo histórico bastaria: Hitler foi eleito.

 Em 1945, a própria razão de ser da criação da ONU (ou seja, o nazismo e a Segunda Guerra Mundial), fez com que se pensasse, então, numa cláusula democrática, segundo a qual apenas democracias poderiam integrar a nova instituição internacional. Uma rápida olhada no mapa-mundi, porém, obrigou os redatores da Carta das Nações Unidas a abandonar a ideia dessa cláusula. Pois, se incluída, a maior parte dos países ficaria de fora. Daí a ONU não ter uma cláusula democrática. Mas a Organização dos Estados Americanos, a OEA, tem. Também a possui a Alemanha. Enquanto a França possui uma cláusula de defesa do laicismo do Estado.

 No caso alemão, a cláusula em questão impede partidos que professem ou defendam a ideologia nazista de participar de eleições, ou permite que seus eleitos sejam cassados caso se demonstre que seu partido o faça. Sim, isso impede que uma parte do eleitorado alemão, aquela que gostaria de votar em nazistas, possa fazê-lo. Mas isso não limita o caráter democrático da Constituição alemã, ao contrário, garante e defende esse caráter. No caso francês, a Constituição obriga o Estado a defender o caráter laico da República francesa. Por fim, em inúmeros países há cláusulas numéricas, pelas quais um partido precisa obter um percentual mínimo de votos a fim de que seus representantes possam tomar posse. Neste caso, os votos dados aos partidos que não obtêm esse percentual são automaticamente anulados, assim como é anulado o exercício do voto de quem os escolheu. Isso elimina a representatividade política desses eleitores, mas, em compensação, aumenta a representatividade geral dos partidos no Parlamento, o que não pode ser considerado antidemocrático. Checks and balances.

O caminho para a democracia muçulmana não é o modelo turco, que nada tem de modelar. Muito menos a democracia automática e, por isso mesmo, ilusória ou falaciosa, dos países da Primavera Árabe, que sem sociedades civis robustas e, principalmente, sem Constituições que possam defender o governo representativo, não podem constituir, por mágica ou meras declarações de boas intenções, governos representativos e democracias modernas, que devem ser necessariamente laicas, além de constitucionalmente autopreserváveis. O caminho para a democracia muçulmana, ou seja, para a implantação e a manutenção da democracia representativa nos países muçulmanos, é o modelo argelino.


10 O modelo argelino

 
Os representantes políticos da parte nacionalista, secularista e republicana da sociedade, respaldados por um exército nacionalista e secular, comandam o processo de implementação de uma república laica, incluindo a redação de uma Constituição que sintetize e incorpore cláusulas constitucionais como as alemã e francesa (que não deixa de ser, em essência, a mesma da Constituição turca; eis, afinal, o verdadeiro campo de pertinência do modelo turco). É o que vem acontecendo na Argélia desde 1995, com o fim da guerra civil, decorrente do golpe republicano dado pelo exército secular e nacionalista e pela histórica Frente de Libertação Nacional contra a eleição da Frente Islâmica de Salvação. O erro da FLN foi decretar da noite para o dia, depois de décadas de regime de partido único, uma democracia “geral e irrestrita”, portanto, não restringida sequer por mecanismos legais de defesa da própria democracia nascente. Uma democracia ideal e, portanto, falsa, além de frágil, pois falta de mecanismos de combate à intolerância e ao antidemocratismo nas esferas política e institucional. O resultado foi a quase eleição da FIS e, assim, a quase extinção da democracia representativa argelina, que seria, conforme os honestos estatutos da própria FIS, substituída por uma teocracia. Como a teocracia não é uma forma de governo, mas um modo de organização do Estado, a eleição da FIS significaria um golpe fatal na República argelina. Daí a situação paradoxal de o exército, sob orientação política da FLN, abortar uma eleição democrática a fim de defender a República (pois poderia agora, como de fato já feito, organizar novas eleições protegidas por cláusulas democráticas).

Os aparentes paradoxos das cláusulas democráticas revelam-se afinal menos paradoxais. E as únicas soluções políticas, realistas e factíveis caso se queira sair do terreno escorregadio da aposta histórica, bem como do instável atoleiro com que as frias chuvas do inverno islâmico ameaçam as frágeis florações da Primeira Árabe.

 



[1] Esta seção contou com os subsídios inestimáveis da profa. dra. Miriam Dolhnikoff, do Departamento de História da USP, do curso de Relações Internacionais (RI) e do CEBRAP.
[2] Yurttaslik Bilgileri, Yenigun Haber Ajansi (1997), p. 18 (acessível em http://en.wikiquote.org/wiki/Mustafa_Kemal_Atat%C3%BCrk [tradução de minha autoria]).
[4] “Statement” (1 November 1937), as quoted in Atatürk: The Biography of the founder of Modern Turkey (2002), by Andrew Mango (acessível em http://en.wikiquote.org/wiki/Mustafa_Kemal_Atat%C3%BCrk).
[5] Acessível em http://tekadamdevrimi.com/tekadamdevrimi/tad_ingilizce/tad_ingilizce_02.htm.
[7] A maior parte desta seção é parte integrante do capítulo “Islamismo versus kemalismo”, do meu livro inédito As asperezas da crença – a religião no mundo contemporâneo.

 

Quatro apontamentos de Alberto Gonçalves...



(imagem obtida aqui)


... aqui, no DN:



Os fascistas espontâneos

O adjectivo mais divertido para qualificar o movimento de pândegos que calam e insultam governantes ao som de Grândola, Vila Morena é "espontâneo". Aparentemente, os pândegos não se conhecem de lado nenhum, por sorte encontram-se em eventos que contam com a presença de ministros e, num fenómeno que desafia a lei das probabilidades, desatam a entoar a referida cantilena e a gritar "Fascistas!" em uníssono.

Notável, não é? Os pândegos podiam não se ter cruzado, podiam ter ido à bola ou ao circo, podiam ter cantarolado um sucesso de Shakira e gritado "Olha o robalo fresquinho!". Mas não. Uma e outra e outra e outra vez acertaram na hora, no local, na cantilena e na palavra de ordem. Tudo, claro, de forma espontânea. Desde que um gémeo comeu ostras e o irmão apanhou uma intoxicação alimentar que não havia notícia de coincidência assim. Nem de patranha assado.

A tentativa de sublinhar a "espontaneidade" destes episódios não é inocente. O facto de os incidentes serem encomendados (e convocados via Facebook) pelos grupinhos do costume, especialistas em recorrer à tolerância do regime para treinarem os sonhos do derrube do regime, não cai tão bem. Tratar a Grândola e os insultos como obra do acaso confere à coisa uma aura inevitável e genérica. No fundo, sugere-se que o povo em peso ciranda por aí a silenciar "fascistas" com a sua indignação.

E há quem não se fique pela sugestão. Numa coluna lindamente intitulada "Keynesiano, graças a Deus", Nicolau Santos, director-adjunto do Expresso, jura que "as pessoas" estão "fartas, fartissimas [sic], de políticos que não respeitam e a quem não reconhecem um pingo de credibilidade." Logo, prossegue o dr. Nicolau, "o facto de não o deixarem falar em público só mostra que o ministro Relvas não percebe isso mesmo: que foi julgado e condenado."

Naturalmente, o dr. Nicolau confunde, ou finge confundir, os inúmeros cidadãos que desconfiam dos méritos académicos do dr. Relvas com as dúzias de intérpretes ambulantes da Grândola. O dr. Nicolau não percebe, ou finge não perceber, que o bizarro exercício de censura a membros de um Governo eleito é uma afronta aos que o elegeram. Por fim, o dr. Nicolau esquece-se, ou finge esquecer-se, de que a falta de credibilidade do político que aldraba o currículo é idêntica à do jornalista que promove um currículo aldrabado - e ao que se vê nenhuma implica necessariamente a demissão.

Em matéria de "keynesianos", prefiro, Deus me perdoe, Augusto Santos Silva. Embora movido pela (defensável) vontade de reprovar a apatia de Cavaco Silva, o ex-ministro socialista afirmou, sem nenhum dos habituais "mas" pelo meio, que a praga de "Grândolas" é um comportamento, cito, "anti-democrático": "O que esteve em causa foi uma limitação ilegítima à liberdade de expressão de uma pessoa."

Nunca fui admirador do dr. Santos Silva e nunca deixarei de achar que a permanência de Miguel Relvas consome escusadamente um Governo com consumições de sobra. Porém, nunca, quer no apogeu da tragédia "socrática" quer na demência fiscal dos seus sucessores, me passou pela cabeça que não podia haver pior. Pode, sim senhor, e os bandos de cançonetistas "espontâneos" dissipam todas as dúvidas a propósito. Perante tais emanações totalitárias, na boca das quais a palavra "fascistas" é uma afirmação identitária e não um ataque, uma pessoa quase se sente inclinada a gostar do "dr." Relvas e a pedir-lhe que se demore no ministério um bocadinho. Só um bocadinho.


A procuradora Cândida

Para que serviu a excelentíssima senhora procuradora Cândida Almeida, agora enxotada das funções no DCIAP? Para, entre outras coisas bonitas, chefiar a investigação a uma série de casos duvidosos ligados à política e à finança, do Freeport aos submarinos, do Monte Branco às Parcerias Público-Privadas, e, no fim, concluir jovialmente que "os nossos políticos não são políticos corruptos, os nossos dirigentes não são dirigentes corruptos, Portugal não é um país corrupto".

Cândida, de facto. O Índice de Percepção da Corrupção, elaborado pela Transparência Internacional (TI), coloca-nos em 33.º lugar na matéria em 2012, três degraus acima do lugar de 2011 mas, ainda assim, nos fundilhos do Ocidente. Salvo pelo último ano, Portugal mostra uma tendência longa e inabalável para se afundar na tabela, onde por exemplo em 2006 ocupava o 26.º posto. De resto, mesmo sem a ajuda de instituições externas, o cidadão médio é capaz de concluir sem dificuldades que os negócios caseiros assentam mais na impunidade do que na honestidade. Ou o cidadão médio é idiota e a TI trapaceira ou a excelentíssima senhora procuradora não procurou bem.


Assédio ideológico

Não me compete julgar o caso de D. Carlos Azevedo, suspeito de assédio sexual a pelo menos um sacerdote católico. Em primeiro lugar, não sou juiz. Em segundo lugar, não sou crente. Em terceiro lugar, consta que as eventuais indiscrições do bispo envolvem cidadãos adultos. Em quarto e espero que último lugar, todos recordamos histórias nas quais suspeitos similares, inclusive de pedofilia, acabaram celebrados pelos representantes do povo no edifício da Assembleia da República. No que respeita a sexo, nosso e dos outros, é preciso cautela.

De resto, o julgamento que tinha a fazer de D. Carlos Azevedo já o fiz há muito, sempre que essa prestigiada figura da Igreja irrompia a proclamar a "indecência" do sistema económico ocidental, o fim do capitalismo "mercantilista" e a "selvajaria" da "gestão neoliberal". Pior do que um devasso, o homem parece-me um dos muitos especialistas instantâneos que disparam frases sem sentido de modo a caçar a simpatia dos pasmados. Não é crime, mas aborrece.


Os trabalhadores querem ganhar mais ou ganhar menos?

Não é novidade a exibição da figura do saudoso "Che" Guevara em manifestações a favor de melhores salários. Novo, pelo menos para mim, é o recurso a bandeiras da Venezuela em eventos similares. Trata-se de um inequívoco progresso nos objectivos. O salário mínimo cubano ronda os 3 (três) euros sob uma inflacção de 4%. O salário mínimo venezuelano subiu recentemente para cerca de 300 euros, mesmo que fundamentado numa conversão fictícia para o dólar e sob uma inflacção de 8%. É, sem dúvida, muito melhor, embora ainda bastante abaixo dos indicadores portugueses, os quais constituem o alvo do protesto dos trabalhadores embalados pela CGTP.

Corrijam-me se estiver enganado, mas não seria preferível ostentar iconografia de países onde, com ou sem salário mínimo definido, se ganha muito mais do que aqui, género Holanda e Alemanha? Porque é que os desfiles da CGTP não incluem crachás em forma de moinho e t-shirts com o rosto de Angela Merkel? Idolatrar economias arruinadas é como marchar contra a pedofilia empunhando cartazes de crianças despidas: uma confissão de estupidez e um argumento de peso em prol dos ordenados baixos ou de ordenado nenhum.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Ai que perfeitos "nós" somos ... !!!

Hoje, a "europa" não passa de uma sardinha esborrachada por um penedo de burocracia. Acha-se muito abrangente sem perceber que a amplitude resulta de estar espalmada.

Os balões de vento são perfeitos até que toquem num alfinete.

Coisas da aventura ao sabor da deriva.

Desaparecimento misterioso

O súbito desaparecimento do nome de Luís Dolhnikoff da  lista de colaboradores do blogue deve-se a uma falha técnica desconhecida, que procurámos já resolver.
Muito em breve poderão ser lidos novos textos seus, aqui, no Ablogando.

Duplamente disparatado



Hoje de manhã a RTP entrevistou alguns duplos de cinema. Segundo um deles há cerca de duas dezenas de duplos em Portugal.

Que há falta de trabalho, .... etc, etc, e que têm que ser eles próprios a ir ao estrangeiro em busca de formação profissional e que [extraordinário] devia haver em Portugal formação para duplos de cinema.

A profissão dificilmente justifica mais de uma vintena de profissionais que, de momento, estão sem trabalho ... e deve haver formação nesta actividade. Por quem? Nas entrelinhas leio ESTADO. Quem mais seria capaz de gastar dinheiro sem saber bem com quê e para quê?

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Pobre José Sócrates!

(imagem obtida aqui)

Já não bastava o que se passou em Portugal, agora até no estrangeiro se querem aproveitar do pobre homem!

Transcrevo o que aqui se diz:


Sócrates e a Máfia dos Vampiros

A empresa farmacêutica em que José Sócrates é, desde dia 1 de janeiro, consultor para a região da América Latina, está envolvida numa megafraude de enormes proporções.

O caso, que ganhou mediatismo sob o nome de "Máfia dos Vampiros", levou o Ministério Público brasileiro a exigir, em 2008, que fossem proibidas quaisquer negociações futuras entre a farmacêutica, Octapharma, e o poder público.

Foi neste contexto que a reunião entre o ex-primeiro-ministro português e o ministro da Saúde brasileiro, que decorreu na passada quarta-feira, levantou suspeitas.

Entre uma série de nomes de altos funcionários do governo brasileiro, pode encontrar-se o de um condenado do "Caso do Mensalão".

Em ação concertada com outros dois laboratórios de produtos derivados do sangue (principalmente destinados a doentes hemofílicos), a Octapharma é suspeita de inflacionar preços para valores muito superiores aos do mercado. Estima-se que cerca de 800 milhões de euros tenham sido desviados dos cofres públicos, no âmbito deste esquema fraudulento, detetado já em 2004.

(imagem obtida aqui)

RDA socialista: puro fascismo



A "mocidade" internacionalista socialista.

As visitas ao papá-socialista ...

A bailarina que pintou de vermelho o bigode de Estaline e foi parar a um campo de concentração.

A busca pelo escaravelho americano que 'bombardeado' de aviões americanos estavam a destruir as colheitas.

Os pioneiros do socialismo que propagariam o socialismo pelas futuras gerações.

O culto de personalidade face a Estaline.

A fuga ao perigo de quem não estava de acordo com a música do "partido".

As mulheres da Alemanha oriental, "libertadas" e politicamente orientadas face às alemãs, que apenas pensavam em jóias.

As manifestações por democracia e a intervenção do exército da "URSS" disparados reais munições sobre a multidão. 50 mortes, 25.000 prisioneiros, muitos foram executados.

A falta de comida e os fornecimentos recebidos da República Federal da Alemanha (Alemanha ocidental).

Os bairros exclusivamente para funcionários do partido comunista.

O colar usado apenas para filme e o aspirador do povo.

A alegria de comer bananas chegadas do ocidente.

A construção do muro de Berlim, "protecção anti-fascista".

O problema das antenas de TV que apontavam a ocidente. A pidesca investigação, nas escolas, pelas famílias onde se via televisão do ocidente.

O cantor que recebia instruções do partido sobre o que cantar.

A propaganda para 'consumo' ocidental.

As eternas e repetitivas tentativas de fuga para ocidente e, em caso de insucesso, a inevitável prisão.

A invasão da Checoslováquia.

A esperança de que o comunismo fosse estabelecido no espaço.

1/6 da população espia 5/6.

O doping no desporto levado ao ponto de 'transformar' mulheres em homens.

As mordomias da kamaradas da nomenklatura socialista.

A importação ao ocidente de animais para serem caçados pela nomenklatura socialista.

O nudismo como derradeiro bastião de liberdade.

O nudismo 'espacial' para a polícia política ... e o acesso a dinheiro e comida.

A degradação generalizada ...

A miséria em que os velhos viviam.

A fotógrafa que gostava de fotografar o inconveniente e as ameaças da Stasi.

Os maravilhosos Trabant sem combustível.

Viver na Alemanha Oriental era como conduzir com o travão de mão puxado".

Dresden, o valo do desconhecimento ... por não haver TV ocidental.

Marx fica ... 'no ar'.

Gorbachov ...

As eternas tentativas de fuga para o ocidente.

E o capitalismo continua a ser uma coisa terrrrrível.

O socialismo factura pela venda de "cidadãos" seus ao ocidente.

O Rato Mickey ... propaganda ocidental.

Manifestações por reformas... por quem acreditava poder haver "outro" socialismo.

Exigência por liberdade ilimitada para viajar.

"Pluralismo" ...

... os ficheiros da Stasi, entretanto revelados.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Do fascismo anti-fachista...


(imagem obtida aqui)

... escreve Henrique Raposo aqui:


O fascismo do "Grândola Vila Morena"

Sophia de Mello Breyner cunhou uma expressão engraçada para classificar as tácticas inquisitoriais dos companheiros de estrada do PCPo "fascismo do anti-fascismo" .

Esta intolerância de esquerda foi criada antes do 25 de Abril e, como é óbvio, agressividade dos virtuosos reemerge. Nos últimos dias, por exemplo, têm caído alguns pinguinhos: meninos e meninas têm usado "Grândola Vila Morena" como forma de calar outras pessoas. Uma música criada para promover a liberdade de expressão foi assim transformada numa arma contra a liberdade de expressão.

Os novos cantadeiros do "Grândola Vila Morena" dizem que sãoanti-fascistas. Bom, sobre isso nada sei, mas sei que são bons aprendizes de fascistas. Têm todas as sementes do bicho. Em primeiro lugar, revelam uma total intolerância em relação ao outro lado; há que malhar na "direita" (assim mesmo: a "direita", um bloco compacto, monolítico, desumanizado, desprezível e espezinhável). Em segundo lugar, respiram e transpiram ódio, um ódio que escorre pelos cartazes, pelos rostos, pelas vozes. E, de forma mui fascista, esta malta tem orgulho nesse ódio. Aquilo que os define é o amor que têm pelo seu ódio, adoram odiar a "direita" ou seja lá o que for. Esta elevação do ódio à categoria de virtude é a marca do fascista, seja ele castanho ou vermelho. Em terceiro lugar, temos a consequência lógica das duas premissas anteriores: o culto da violência. Se a "direita" é espezinhável, se não vale a pena ouvir o outro lado, se o ódio é uma virtude que confere uma legitimidade superior, então a violência é legítima e não faz mal dar uns carolos no Relvas. Aliás, só faz bem dar uns tabefes no Relvas.

Para terminar, só queria dizer que gosto bastante deste PREC cantado. É que assim já não tenho de recorrer à história para explicar a profunda intolerância das extremas-esquerdas portuguesas . Agora basta-me apontar para o presente. Ela, a intolerância progressista e revolucionária, está aí, anda por aí. Até peço uma coisa: aumentem o volume da violência, continuem a mostrar que não sabem viver em democracia, que não sabem aceitar opiniões contrárias, continuem a ameaçar, continuem a ser fascistazinhos de vão de escada.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Do inovador Magalhães à filosofia em comprimidos



Texto e foto aqui:


O ex-primeiro-ministro José Sócrates confirmou ao DN que é desde o dia 1 de janeiro o presidente do Conselho Consultivo do grupo farmacêutico Octapharma para a América Latina. Segundo José Sócrates, esta é uma atividade que exerce "a par dos seus estudos em Paris"

No seguimento de uma notícia hoje divulgada no 'Correio da Manhã', a multinacional suíça esclarece que o ex-governante "foi convidado há cerca de oito meses para exercer funções" na empresa.

Funções que, adianta, "não envolvem qualquer atividade em Portugal ou qualquer atividade de âmbito comercial". Segundo a farmacêutica, Sócrates ocupa desde "o dia 1 de janeiro de 2013 o lugar de Presidente do Conselho Consultivo da Octapharma AG para a América Latina".

Quanto à deslocação de José Sócrates ao Brasil, a Octapharma refere que "foi neste quadro que participou, a pedido da empresa, numa reunião no Ministério da Saúde brasileiro". Uma atividade que, diz a empresa, "visa o aconselhamento da empresa em diversas matérias ligadas a saúde pública".

Dialéctica marxista

Uma multinacional desloca-se para Portugal. Os marxistas, monopolistas em internacionalismo proletário, ignoram que a multinacional se deslocalizará para cá deixando outros trabalhadores, algures, pendurados. O patriotismo toma predominância, a coisa avança, os trabalhadores portugueses merecem gozar do direito ao trabalho.

A multinacional instala-se, e passa a ser um agente de exploração dos impérios financeiros e do consumismo desenfreado. Vem para cá "apenas" para nos explorar. Nunca 'reparam' que o seu internacionalismo proletário permitiu "libertar" os trabalhadores que ficaram, noutro país no desemprego, da mesma e exacta "exploração desenfreada".

A multinacional vai-se embora e salta-lhes a veia nacionalista e patriótica. O internacionalismo proletário esfuma-se e com ele a solidariedade para com os povos irmãos onde a multinacional se pretende instalar. Passa a ser uma vergonha que trabalhadores portugueses fiquem no desemprego e evapora-se a exploração dos impérios financeiros e do consumismo desenfreado. Agora é tudo patriotismo. Se a multinacional desistir da deslocalização, tratar-se-á de uma "retumbante vitória da luta dos trabalhadores contra o capital explorador e reaccionário".

...

A dialéctica marxista caracteriza-se por este tipo de coisa. Diz o que tiver que dizer independentemente dos factos ou da verdade, e, para um mesmo fenómeno consegue dizer, ao mesmo tempo, tudo e o seu contrário. A "vitória" é sempre uma "certeza".

Boaventuras

Os Boaventuras deste mundo já estão nas televisões a desculpar o comportamento dos jovens que nos últimos dias se têm dedicado a impedir os governantes de se expressarem em público. Só é pena que os jovens, assim de repente, não se lembrem de impedir um Boaventura de falar.

O seguro de vida

Neste momento a permanência de Miguel Relvas no Governo começa a ter mais vantagens do que desvantagens. Enquanto a populaça foca nele as suas atenções e as mediáticas, os outros ministros ficam à solta para fazerem o que bem lhes apetece. Para além disso, há ainda a inevitável calimerização da coisa: o nível de agressividade em torno de Relvas é de tal ordem que não tarda nada e passará de malandro a vítima inocente. 
Com tantas vantagens Miguel Relvas é já uma espécie de seguro de vida do Executivo. Enquanto lá estiver não haverá trambolhões para ninguém.

Bullying do passado

"(...) Fui alvo de demasiadas provocações. Verifiquei que havia uma equipa de cerca de 200 manifestantes - sempre os mesmos - que andava de um lado para o outro, com bandeiras pretas para me contestar e insultar. Onde quer que eu fosse, eles apareciam. Eram profissionais. Apercebi-me disso, porque um dia fui a Coimbra e, quando cheguei, reconheci as bandeiras pretas, as mesmas caras, as mulheres a chorarem, a falarem-me de fome e, naturalmente, homens também a injuriarem-me!"
Relato de Mário Soares a Maria João Avillez sobre sobre os constantes protestos de que era alvo durante o Governo do Bloco Central. Soares, Democracia - Maria João Avillez e Mário Soares, 1996, Círculo de Leitores.
Bullying do presente.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Depois do Adeus



Tenho andado a seguir obsessivamente, na RTP 1, a série “Depois do Adeus”, que decorre no tempo do PREC e se foca numa família de retornados.

Reconheço a retórica, as situações, as imagens, e até me reconheço a mim próprio, no adolescente retornado.
Eu era aquele rapaz. Tinha aquela idade, sentia aquela raiva, aquela revolta, o bullying e a hostilidade permanente.
Vivi o drama de não ter onde morar, de a minha mãe não ter emprego, de estar em casa de familiares, de esperar as malas que nunca vieram, das filas no IARN, de ver tudo negro à minha frente, de o ano escolar estar já no 2º período e eu em casa, sem conseguir sequer provar que tinha feito em Malange, o 4º ano do liceu.

Felizmente a minha família acolheu-me bem e nunca me fez sentir a mais.

Felizmente sempre fui mais de bater do que de levar e algumas refregas bem sucedidas acabaram rapidamente com as tentativas de bullying.

Felizmente em algumas encruzilhadas da vida a sorte e a boa vontade de algumas pessoas, puseram-me no caminho certo.

Somos (também) o que vivemos.

O meu anticomunismo (primário, secundário, terciário, wathever...) busca raízes nesse tempo. Muito antes de ser racional e cerebral, foi epidérmico. Começou por assentar na percepção vívida e vivida de que aquela gente, ao serviço de utopias delirantes, não hesitou um segundo em sacrificar-me, e a centenas de milhares como eu, no altar da sua megalomania.

Performance PCPIDE

Onde irá hoje representar a horda Goulags Vilas Morenas do grupo PCPIDE?

Sonso mais sonso não há

Como é que num país atafulhado de indignados ainda não houve um que se indignasse com a sonsice do secretário-geral socialista? É que sonso mais sonso não há: lidera o partido que faliu o país e chamou a troika e agora finge constantemente que não soube de nada. 
Todos os dias Seguro aparece na televisão a dizer aos portugueses que é pelo emprego, pelo crescimento - quem não será? -  e contra a austeridade. Como isso pelos vistos não chegava, agora põe-se a escrever cartas à troika nas quais expõe a sua completa vacuidade política e as suas nenhumas soluções para os problemas que o seu partido deixou. Pura politiquice interna: lá na tróika estão-se nas tintas para o Tozé de Portugal.

Nunca se deve achar graça a um 'indignado'

São estardalhaços destes que alimentam os indignados e a esquerda caloteira em geral. Nada de novo a vir dessas bandas. O que é novo é o ministro Relvas entrar na cantoria, rindo-se do episódio. Erro crasso: nunca se deve achar graça a um indignado porque ele de seguida passa sempre à fase do insulto e deixa de ter piada, e quem se estava a rir faz figura de tolo.
Como é que ao fim de tantas vaias e assobiadelas Miguel Relvas ainda não aprendeu a lidar com os indignados?

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Preocupados

Da indignada solidariedade


(imagem obtida aqui)

Muito mais do que curioso, é significativo até à náusea o facto de toda esta gente se "manifestar" contra o videirinho ministro Relvas, mas NINGUÉM se haver manifestado contra a imoralidade de "estudantes" terem entrado, desde há uns cinco anos, nas universidades públicas com médias propulsionadas ao escalão dos 18 e 19 pelas "oportunidades" socráticas. Médias que constituíram verdadeiras burlas legalizadas e que permitiram a quem não tinha nem saber real superior (frequentemente, nem sequer igual) ao nível do 9º Ano nem qualquer currículo ou experiência justificativa, usurpar o lugar que seria, de direito, de verdadeiros estudantes, cujas médias ficaram, por isso, a uma e mesmo a meia décima de lhes permitir o ingresso na faculdade ou no curso que pretendiam.

(imagem obtida aqui)

Repito: não me lembro de NINGUÉM se manifestar contra a burla ou sequer fazer ouvir por todo o lado a sua solidariedade com aqueles que ficaram com as suas vidas adiadas por, pelo menos, um ano  - porque, no ano seguinte, voltariam a ter a concorrência deste surto inédito de genialidade. Ou que foram obrigados a frequentar estabelecimentos de ensino, públicos ou privados, a distâncias muito superiores, arcando por isso com despesas enormemente acrescidas. Ou que, por esse motivo, desistiram.

(imagem obtida aqui)

Pois é. À solidariedade académica com o copianço, à incompetência generalizada, ao estatuto dado pela ignorância vestida de canudo para subir na vida, pisca-se-lhes o olho, cúmplice. Desde que se seja "da cor" e "da corda", é claro. A "rapaziada" e o "bom povo" que a esquerda defende e pelos quais é constituída, gente "felizmente ainda viva", é mesmo assim: hipócrita até à medula e burra como o Big-Bang os fez.

Contra-tertúlias CGTPIDE

Os fascistas 'bem' do PCP e da CGTPIDE, eternos adoradores das mais sanguinárias ditaduras que alguma vez viram a luz do dia, exercitaram cânticos celestiais enquanto interrompiam e ajavardaram uma pacífica reunião.

A velha PIDE não "cantava" tão bem e Salazar está a rir-se na tumba.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Ratzinger e a social-comunicação



(imagem recolhida aqui)



Este artigo de Henrique Monteiro, no Expresso, é bem elucidativo do que vai pelos meandros da comunicação social e de como a "opinião pública", o "bom povo", os idiotas úteis e os "inconformistas", mais ou menos aguerridos, são fácil e gostosamente manipulados para servirem aos "progressistas" desejosos de imporem as suas luzes a este mundo inferior, indigno deles.



Da estupidez como critério jornalístico


 

Leio em diversa imprensa internacional (o primeiro a chamar-me a atenção foi o Hunffington Post) e também portuguesa que a nomeação pelo Papa do novo presidente do banco do Vaticano é controversa. Primeiro, pensei que era por ser alemão ou amigo do Papa (este desmentiu conhecê-lo sequer), mas verifiquei que, afinal, era porque o nomeado Ernst Von Freyberg preside a uma empresa de construção naval que fez barcos de guerra para os nazis.

Pensei, então, que Von Freyberg fosse um idoso. Mas não, nasceu em 58, já a guerra e os nazis tinham acabado há 13 anos. É mais novo do que eu, que nasci em 56. A suspeita não é sobre Freyberg, mas sobre a empresa. Mas será que isso faz sentido?

E a Grundig (agora comprada por investidores turcos), quando se chamava Fuerth, Grundig & Wurzer, não vendeu rádios aos nazis? E a Siemens, fundada em 1847, não aproveitou a mão-de-obra de campos de concentração? E a célebre Volkswagen (que traduzido é o carro do povo), não foi fundada por uma organização nazi em 1937?

Isto tudo se sabe em três minutos de pesquisa na Internet. Eu sei que muitos jornalistas dirão que são os críticos de Freyberg que estão a levantar essas dúvidas e não os próprios jornais. Mas, a verdade é que editar um jornal é também escolher o que tem sentido. E, neste caso, a ligação de Freyberg ao nazismo é forçada e ridícula. Até que porque nem sequer tem idade para isso. A História é a História. Também em Portugal há empresas relacionadas - e muito - com o colonialismo, com o salazarismo, com a escravatura, provavelmente... E de que culpa podemos acusar os seus responsáveis atuais.

Pensar um pouco não faz mal a ninguém. Assim como não pode valer tudo para criticar uma decisão, independentemente de ela ser boa ou má, coisa que eu não faço ideia, embora ultimamente tudo o que rodeie o Banco do Vaticano (ou o Instituto das Obras Religiosas, como oficialmente se chama) tenha sido sempre objeto de controvérsia.

Mas sinceramente choca-me que a necessidade de ser notado tenha feito o jornalismo chegar a este ponto...






A ignorância e a má-fé


Não preciso de escrever muito mais do que isto que o Henrique Monteiro escreveu. Ontem à noite apanhei no Twitter uns excitados a partilhar uma notícia que dizia que o Papa Bento XVI teria nomeado alguém ligado ao nazismo. Ao ler a notícia reparei que o crime do senhor era ter trabalhado para uma empresa que forneceu o regime nazi, apesar de ter nascido apenas em 1958. Logo apontei os exemplos da Mercedes, da Krups, da BMW ou da Allianz, como tantas outras, que também forneceram o regime nazi. E se os ignorantes quiserem explorar um bocadinho mais o tema, até encontram as americanas Ford, General Electric ou as inofensivas Kodac e Nestlé na lista de fornecedores dos nazis. Será que também vão andar a dizer que todos os que trabalham nestas companhias têm ligações ao nazismo? Santa Paciência.