domingo, 17 de fevereiro de 2013

"O monólogo das civilizações"




Um outro artigo de Alberto Gonçalves, aqui, no DN:

Uma das poucas reacções dissidentes à abdicação de Bento XVI veio, sem surpresas, do chamado "mundo muçulmano". Um porta-voz dos sunitas egípcios mostrou-se esperançado de que o próximo Papa retome o diálogo entre o Vaticano e pelo menos aquela parcela do Islão, aliás interrompido por esta quando Bento XVI, por acaso um paradigma de ecumenismo, não apreciou devidamente os recorrentes atentados contra minorias cristãs e citou uma descrição menos abonatória de Maomé.

Eis mais um exemplo acabado do multiculturalismo unilateral que teima em presidir às relações entre o Ocidente e os observadores de Alá. "Eles" têm o direito e até o dever de discriminar e ocasionalmente assassinar os infiéis que estiverem a jeito. "Nós" temos o dever de tolerar o exercício e até o direito de o legitimar mediante "argumentos" sobre a tolerância, a compreensão e a paz universal. A "eles", sobra-lhes crença cega e fúria purificadora. A "nós", com raras excepções, resta-nos a dúvida e o medo. Joseph Ratzinger é uma dessas excepções.

Outra é o historiador e jornalista dinamarquês Lars Hedegaard. Conhecem? Não admira, dado que os media internacionais nunca lhe deram particular atenção, a não ser para referir o "populismo" de "extrema-direita" da força política a que pertence (na verdade, o Partido Popular rejeita a islamização da sociedade) ou o caso em que se viu acusado de violar as leis anti-racistas do seu país (na verdade, Hedegaard decidiu discordar do simpático tratamento a que os muçulmanos remetem as mulheres; acabou indultado). Hedegaard também fundou a International Free Press Society, a qual premiou os responsáveis pelos célebres cartoons do Profeta.

Há dias, Hedegaard foi alvo de uma tentativa de homicídio na sua própria casa. O homicida, com aspecto árabe, chegou disfarçado de carteiro e a arma falhou. Hoje, Hedegaard é forçado a esconder-se. O falso carteiro continua à solta. Numa prova de que vão longe os tempos da solidariedade para com Salman Rushdie, praticamente ninguém noticiou o facto. O Islão, seja o radical, seja o "moderado" que raramente condena a falta de moderação, já conquistou o nosso silêncio e a nossa subserviência. De batalha em batalha, não tardará a ganhar uma guerra brutalmente desigual.

1 comentário:

Anónimo disse...

Excelente artigo de Gonçalves, um dos cronistas que aprecio pela sua lucidez, o seu desassombro, a sua força de democrata que não vai em pinoquiadas extensivas aos outros partidões que jogsm no escavar paulatino de quinta-coluna. Em tempos, o que me valeu enxovalhos, discriminações que ainda duram e "discretas" ameaças, que inda duram também, ainda que mais mitigadas porque os seus próceres estão a ganhar a partida, eu referi em artigo dado a lume em Portugal, Espanha e Franças e, depois, inserido num livro saído no Brasil, que, por este andar, seria "só uma questão de tempo" a vitória islamita, ou seja, termos de andar sob a sua sapata propiciada pela força anímica com que subjugam os ocidentais "politicamente correctos". Como é natural, pouca gente "responsável" ligou. Mas ultimamente têm-me chegado mais vozes de apoio, algumas para mim surpreendentes. Não fico satisfeito, pois isso só demonstra que os islamitas estão a subir em pleno. O que se percebia. Espero durar ainda uns 15 anos. Mas não tenho dúvidas de que nessa altura o Ocidente, pela sua própria acção estúpida e cobardola, já terá ido para o galheiro. Vou ter pois um fim de vida triste - mas o que mais me custa é que os meus descendentes vão ter uma existência lixada. Não, não é pessimismo, é apenas mágoa. E de que maneira! Mas foi nisto que os nossos "dirigentes europeus" jogaram. E pelos vistos o manobrador Obama vai na mesma rota. Pois o problema não está no "extremismo islâmico", está nos "moderados", que pé ante pé vão comer pacificamente as papas na cabeça a um Ocidente imbecil e cobarde. E invisual, com licença da mesa.

ns