terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Da estrutura da fome




Poderia ser um título comum a estas três crónicas de Alberto Gonçalves:


A fome e a vontade de comer


O universo dos blogues recuperou um extraordinário texto do ordinário (no sentido não pejorativo do termo) Paulo Pedroso, antigo ministro da Solidariedade. O texto, velho de um ano na prática e de décadas na teoria, é um excelente exemplo dos argumentos por detrás do ódio ao Banco Alimentar (BA) em geral e à sua presidente, Isabel Jonet, em particular.

A tese, se tamanha infantilidade merece o nome, é a de que o BA não passa de um sistema de escoamento dos excedentes dos supermercados, o qual alivia "as consciências sem resolver nenhum problema estrutural". Através de evidências, meias-verdades e cabeludas mentiras (os que doam os serviços ao BA não se reduzem a "escuteiros e toda a rede de voluntários ligada à Igreja Católica"), só falta ao dr. Pedroso reproduzir a linda rábula do peixe, da cana e do pescador para concluir, cito, que prefere dedicar a sua "energia" a "perguntar-se" o que pode "fazer para que diminua este tipo de procura de bens alimentares enquanto a senhora Jonet escoa a oferta".

Talvez seja altura de questionar o dr. Pedroso sobre se a energia que dedica e as perguntas que se faz já deram frutos e respostas. Aposto que não deram: pensar "estruturalmente" a pobreza é tarefa de uma vida e, à semelhança de matutar acerca do destino desta, não leva a lado nenhum. Ou leva a cargos em governos, universidades, fundações, observatórios e empresas "públicas" empenhadas em não suprir as necessidades de nenhum desgraçado até que se possa satisfazer todos os desgraçados da Terra em simultâneo. A "caridade" que tanto repugna o dr. Pedroso compõe a barriga de mil, dez mil ou cem mil famintos, mas isso de nada serve quando não se resolve os problemas que tornam a fome possível, ainda que o processo demore séculos. E se, no entretanto, o pessoal continua à míngua, trata-se de um pormenor que não afecta a cósmica generosidade do dr. Pedroso, corajosamente indiferente a casos individuais e apenas interessado no "conceito". Em tempos, os ricos tinham, e alimentavam, o "seu" pobrezinho. Gente como o dr. Pedroso chama a si os pobrezinhos em peso - desde que não precise de alimentar nenhum.

Não acredito na bondade "pura". Não me custa aceitar que Isabel Jonet também se mova por ambições íntimas, incluindo desejos de notoriedade ou outros. A questão é que, no processo, há pessoas que infelizmente precisam do trabalho da senhora e dele aproveitam. Em contrapartida, abro uma excepção para o dr. Pedroso e similares, que possivelmente são guiados pelas melhores intenções e pelo mais cristalino altruísmo sem que daí resulte qualquer benefício para alguém - excepto, vejam lá a ironia, os benfeitores.

Agora a sério, mesmo que o dr. Pedroso dificulte a tarefa: não me esqueci do autor da maior acção de caridade da história do regime. Falo, evidentemente, do "rendimento mínimo", proeza de propaganda que incluía a "superficialidade" inconsequente que o dr. Pedro critica no Banco Alimentar sem incluir o voluntariado que, em prol da coerência, o dr. Pedroso continua a detestar: no RSI (eufemismo actual), os donativos são arrancados à força.


O reino dos céus


Perante as críticas do Papa Francisco ao capitalismo e aos "mercados", as pessoas que gostam do Vaticano recordam que isso não é mais do que a costumeira doutrina social da Igreja. As pessoas que abominam o Vaticano acham que a retórica é novidade e não só vai arrasar o capitalismo e os "mercados" como, se a coisa correr pelo melhor, arrasará a Igreja. Eu, neutro na matéria, prefiro notar que, apesar do aparente embaraço de uns e do evidente entusiasmo dos outros, o próprio Papa talvez fizesse melhor em começar por comentar o desemprego, a pobreza e a fome nos felizardos países sem inclinações capitalistas e nos quais os mercados se limitam aos lugares onde o povo compra, quando consegue comprar, hortaliças e galinhas. Se a devoção materialista tem muitos defeitos, uma virtude ninguém lhe nega: não se confunde com nenhuma das maravilhosas alternativas disponíveis.


Um caso



O Governo prepara o agravamento do IRC para as empresas com lucros superiores a 50 milhões. O PS defendia a subida da taxa para 7%, o Governo ficou-se pelos 6%, mesmo assim prova suficiente de que, entre nós, o crescimento económico é severamente castigado por lei. As empresas exemplares, dignas de comendas e carinhos fiscais, são as muito pequeninas ou as muito inviáveis. O resto, que felizmente já é pouco, é corrido a toque de impostos, às vezes literalmente e para lá da fronteira. Dado que nos contribuintes particulares a dimensão do saque é ainda maior, a mensagem de quem manda é claríssima: não prosperem. O "neoliberalismo" de sabor português é de facto um caso, não sei se de estudo se de polícia.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Burros e sindicalistas (ou vice-versa)





Eis do que se fala em duas crónicas de Alberto Gonçalves:



E o burro somos nós


Já quase toda a gente foi informada de que a edição europeia do New York Times cedeu boa parte da primeira página ao burro mirandês, um animal doce cuja preservação depende de subsídios e que o autor do artigo usou como metáfora para a situação portuguesa, ou pelo menos do interior português. Em vez de nos resignarmos à galhofa e a outras, e evidentes, metáforas, convinha ler o artigo com atenção e notar as palavras de Orlando Vaqueiro, ex-presidente da Junta de Freguesia de Ifanes (160 habitantes), que declarou ao NYT: "Os subsídios são necessários para manter os burros, mas sucede que todos se tornam completamente dependentes deles, logo não existe espírito de inovação nem vontade de modernizar ou produzir mais." Aqui, já nada é metafórico, mas a pura verdade, e é curioso que tenha sido um político a resumi-la. É natural tratar-se um político obscuríssimo e sem sombra de carreira. Para os hábitos caseiros e as vulgares perspectivas de ascensão, o homem é (preencham o resto com o nome de um animal da vossa, ou nossa, predilecção).


Humilhados e ofendidos

(imagem recolhida aqui)

Na falta de um povo que execute arruaças por eles, os próprios sindicalistas resolveram entreter o ócio e passar um dia a forçar a entrada em ministérios. Na falta de um Governo com vestígios de coragem, os sindicalistas não foram recebidos por uma ordem de detenção, conforme seria razoável, mas pelos governantes ou seus representantes, cheios de compreensão e agendas para marcar reuniões com os arruaceiros. Percebo a ideia. Se meia dúzia de larápios me invadirem a casa, a minha reacção natural é aprazar uma almoçarada com os ditos. E se, numa perspectiva diferente, o chefe da repartição de Finanças não me desempatar uma chatice qualquer com a brevidade desejada, furo-lhe dois pneus do carro e tudo terminará entre abraços. Ou não?

Se calhar, não. Num país em que as desigualdades são pasto da demagogia mas raramente preocupam mesmo alguém, é possível que o cidadão comum contemple este espectáculo e sinta que alguma coisa lhe escapa. Porque é que alguns são livres de violar a lei e outros não? Porque é que alguns são julgados instantaneamente após dirigirem uns remoques ao Presidente da República e outros incitam à violência popular sem que lhes aconteça nada? Porque é alguns vêem a vida a andar para trás a pretexto de uma mísera prestação à Segurança Social e outros vêem dívidas de 17 milhões "assumidas" pelos contribuintes em peso? Porque é que eu, você e o meu vizinho do lado devemos obediência à autoridade e um conhecido treinador da bola consegue tratar a autoridade ao tabefe sem consequências dignas do nome? Porque é que delinquentes sem posto são impedidos de trepar a escadaria do Parlamento e centenas de polícias em fúria não? Porque é que deputados recorrem à nostalgia revolucionária para montar "piquetes" e aos benefícios do cargo para evitar represálias?

A impunidade de que tanto se fala e que tanto se condena não se esgota no estereótipo do banqueiro anafado, de preferência com cartola e monóculo. Há imensos privilégios à solta, e cada um implica a humilhação dos que não os gozam. E um gozo a cada menção do lendário Estado de direito.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

E viva o "combate" ao desemprego

Esta ideia genial do marxista Maduro de criar um ministério para aprovação dos preços e da margem de lucro de todos os produtos e de todos os comerciantes venezuelanos é "genial". Vai certamente ser uma forte medida de combate ao desemprego. Para desempenhar tal tarefa é provável que 50 milhões de funcionários públicos seja suficiente.

... nem quero imaginar o grau de corrupção que se vai instalar.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

E muito bem ...

... por Helena Matos.

Decálogo do português mediático

1. A Igreja é boa se for progressista. O Tribunal Constitucional é bom se for progressista. O Papa é bom se for progressista. Cavaco Silva nunca é progressista mas às vezes tem umas intermitências em que apoia os progressistas e nesses fugazes momentos deixa de ser "Cavaco" para ser senhor Presidente da República. Mas só nesses!

2. A ‘troika' até às eleições de 2011 era boa porque ia ajudar o País a entrar numa nova etapa de desenvolvimento que graças a um choque reformista colocaria Portugal na primeira linha das nações mais avançadas.

3. A ‘troika' a partir das eleições de 2011 é má porque nos impõe uma austeridade que impede o desenvolvimento económico e social que o País aliás registava até à sua chegada. Assim o fim da intervenção da ‘troika' em Portugal deve ser referido como libertação e todo o progressista acredita que após esse dia o Estado português não só pode como deve voltar a gastar como fez até 2011.


4. No passado as reformas não foram feitas porque os líderes políticos preferiram ganhar votos a salvar o País e o Estado social. No presente as reformas não podem ser feitas porque são feitas à bruta, com cortes cegos e sem tempo de adaptação. No futuro já não vamos a tempo de fazer as reformas porque no passado - que por sinal é o nosso presente - não houve homens que tivessem coragem de as fazer. Em resumo, o presente nunca é o tempo certo para fazer reformas (ou o que quer que seja) mas quando o presente se torna passado é óbvio que as reformas deviam ter sido feitas. Se houvesse homens, claro! (Confesso que esta conversa sobre a falta de homens me parece um pouco reacionária para não dizer mais!)

5. Quem pensa como os progressistas são pessoas muito inteligentes, muito amigas dos pobres e naturalmente com certificado de anti-fascismo e de lídimos defensores do Estado Social. Em certos graus de progressismo até se chega ao estatuto de pai da Constituição, do Estado Social ou da democracia. Quem não concorda com os progressistas são pessoas atrasadas, reacionárias e analfabetas porque mesmo que saibam ler não retiram a devida mensagem do que lêem e naturalmente são estéreis em matéria de paternidades honoris causa.


6. A desigualdade é um espinho cravado no coração dos progressistas. Se formos todos igualmente pobres não há problema algum. Mas haver pobres e ricos isso é uma afronta. Para alguns progressistas mais progressistas a pobreza resolve-se confiscando os bens dos ricos que uma vez espoliados ficavam igualmente pobres (ou, mais provavelmente ainda, iam ser ricos para outro lado). Outros progressistas mais pragmáticos propõem um regime alternado: às segundas, quartas e sextas diz-se mal dos ricos, às terças, quintas e sábados exige-se-lhes que invistam no País para criarem emprego. Aos domingos descansam, que o progressismo agora anda beato.


7.Todos os dias o progressista tem de falar de fome, acompanhando a palavra "fome" de uma espécie de movimento dos músculos faciais como se estivesse a pronunciar a palavra Guantanamo nos tempos de Bush (fazer esgar). Depois veio Obama, o homem que ia fechar Guantanamo (pausa para fazer ar sofredor) que por acaso não fechou mas isso não interessa nada. Até à eleição de um presidente republicano, claro.


8. Se o povo não faz aquilo que os progressistas mandam tal deve-se ao facto de o povo estar cheio de fome e já não conseguir mover-se ou de estar aterrorizado e não vir para a rua por medo. Mas nunca, jamais, em tempo algum por discordar dos progressistas, pois a essência do progressismo radica na transmigração das almas: a alma do povo comunica com as mentes progressistas (e apenas com estas) e diz-lhes o que quer, sente e deseja. Quanto às outras almas, a sua natureza não progressista condena-as à partida ao inferno da bruteza, embora algumas consigam redimir-se, particularmente se tiverem sido salazaristas pois nesse caso basta-lhes repetir o que na década de 50 do século passado diziam sobre os partidos e ficam automaticamente progressistas.


9. Estão momentaneamente autorizados a celebração do 1º de Dezembro e o uso da expressão protectorado que noutros tempos seriam coisa de gente muito reacionária mas agora ficam assim a meio caminho entre a direita pita shoarma e a esquerda patriótica que trocou o caviar pelo pão com chouriço.


10. Discordar dos princípios atrás enunciados é sinal inequívoco de anti-progressismo, atitude que em Portugal equivale a pecado mediaticamente mortal. Amen.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Dos iluminados encandeados






Só mais esta de Alberto Gonçalves:


A fava

Enquanto a polícia procurava o psicopata que andou aos tiros por Paris (e pelo jornal de esquerda Libération), inúmeros jornalistas preparavam os teclados para uma história-tipo do solitário de extrema-direita que abomina imigrantes em geral e árabes em particular, além de manter conversas no Facebook com organizações protonazis. Acrescentavam-se dois parágrafos acerca do perigo dos nacionalismos e o artigo estaria pronto. Azar. Saiu-lhes Abdelhakim Dekhar, com um interessante dinamismo em grupos de extrema-esquerda e participação em acções de "okupas", aliás já envolvido em diversos homicídios nos anos 1990. Para cúmulo, é árabe. E, surpresa das surpresas, muçulmano. Não se faz.

Alguém duvida de que isto seja inaceitável e escandaloso?




Alguém duvida de que isto seja inaceitável e escandaloso para os pedagogos "igualitários" que sufocam o ensino em Portugal desde os tempos de Roberto Carneiro?

Dois a dizerem o óbvio





Por um lado, Helena Cristina Coelho:



A má memória de Soares

"O principal para que o Governo tenha êxito é saber persistir. Ter a coragem de não mudar de rumo, independentemente dos acidentes de percurso. Recomeçar, pacientemente, quantas vezes forem necessárias. Tomar decisões. Não se deixar perturbar por agressões verbais, por incompreensões ou por injustiças. Aguentar de pé. Para os homens de convicção e de recta consciência, o que conta é sempre - e só - o futuro". O texto foi-me recordado por uma amiga de boa memória, que se lembra de quem o escreveu há 29 anos. 

E foi igualmente repescado por outras figuras, como José Manuel Fernandes, que o replicaram para recordar as palavras e, sobretudo, o seu autor: Mário Soares, em Maio de 1984, quando era primeiro-ministro. O país não estava como agora, estava bem pior. Havia empresas a fechar portas e os salários em atraso tornaram-se uma chaga social, havia bolsas de fome e protestos irados nas ruas, os preços dispararam, a moeda desvalorizou, o crédito acabou.E o que fez o governo de bloco central? Acabou a estender a mão para assinar um memorando de entendimento e receber dinheiro do FMI. Foi então o tempo de ouvir pequenas pérolas de austeridade como a de que "Portugal habituara-se a viver, demasiado tempo, acima dos seus meios e recursos" ou que "a única coisa a fazer é apertar o cinto" ou ainda que "não se fazem omoletas sem ovos, evidentemente teremos de partir alguns". O autor? Acertou: Mário Soares.

Não há notícia de que alguém na altura tenha partido as pernas ao primeiro-ministro como represália por estas declarações ou pela dureza das medidas - nem mesmo quando teve de enfrentar manifestantes violentos na Marinha Grande, na campanha de 1986. Aliás, foi premiado por essa valentia e acabou por ganhar as eleições.

A política não tem a virtude (nem sequer a presunção) de ser coerente. E, se faltarem provas, Mário Soares está a encarregar-se disso. Aquilo que usou como sua defesa enquanto governante, é exactamente aquilo que hoje ataca sem pudor. Não pode ser apenas um problema de memória e a idade não pode ser desculpa para algo que não é só irresponsável:é inflamável. Com o país ainda de garrote apertado, polícias a escalaram o Parlamento para darem sinais do que são capazes, sindicalistas a invadirem ministérios para expressar indignação, uma simples palavra pode ser incendiária e deitar tudo a perder.

Independentemente de se gostar ou não da figura ou do seu passado, Mário Soares teve um papel relevante na história do país. Só por isso, e porque pelos vistos continua a reclamar a paternidade da democracia (que ninguém quer aniquilar) e de uma ideologia de esquerda (com óbvias crises de identidade), devia ser o primeiro a preservá-la. Mas não é isso que está a acontecer: ao atacar o presente (leia-se, quem hoje governa o país) de uma forma tão agressiva e estéril, Soares está a destruir um passado que passou por si e a hipotecar um futuro que devia ajudar a construir. E um país sem memória não pode ter grande futuro. Soares devia ser o primeiro a lembrar-se disso.

Por outro, Alberto Gonçalves:


Cabeças perdidas

Manuel Alegre (poeta). Vítor Ramalho (soarista). Carlos do Carmo (fadista). Boaventura Sousa Santos (latinista). Vasco Lourenço (abrilista). Marisa Matias (bloquista). Ruben de Carvalho (comunista). Pedro Silva Pereira (socrático). Jorge Sampaio (sampaísta). António Capucho e Pacheco Pereira (embaixadores do "centro-direita"). Pinto Ramalho (general). Helena Roseta. Maria de Belém. Carlos Zorrinho. Alberto Martins. Ferro Rodrigues. Jorge Lacão. João Semedo. António Costa. Manuel Tiago. Domingos Abrantes. Almeida Santos.

Estas são algumas das personalidades que, através de mensagem de apoio ou presença corpórea, disseram "sim" à convocatória de Mário Soares e iluminaram a Aula Magna a fim de alegadamente defender a Constituição e o Estado "social". Na verdade, o exercício versou mais o ataque ao Governo e ao presidente da República, a quem se exige imediata demissão a bem ou posterior remoção a mal. As sugestões de violência, os apelos à violência e as ameaças de violências foram tantos e tão explícitos que apenas a transmissão televisiva do evento nos lembrou não se tratar de uma reunião da Carbonária a conspirar o regicídio. O Dr. Soares "aconselhou" os governantes (e Cavaco) a regressar a casa pelos próprios pés enquanto podem. Vasco Lourenço incitou que os corressem, cito, "à paulada". Helena Roseta defendeu que "a violência é legítima para pôr cobro à violência". E, visto que as camisas de força nunca chegaram, um longo etc.

Talvez não valha a pena notar que, em 2013, a "família real" em causa foi eleita pela maioria dos cidadãos. Vale a pena notar que ninguém elegeu os revolucionários em questão. Sobretudo ninguém lhes passou procuração. Os amiguinhos do Dr. Soares falam em nome de um "povo" que, abençoadamente, não existe. O "povo" que existe pode não gostar do Governo e lamentar o Prof. Cavaco, mas boa parte da população é capaz de abominar com maior empenho o bando de privilegiados da Aula Magna, que no entender de muitos devia estar na cadeia pelo que outrora fez ao país ou pelas desmioladas soluções que agora propõe.

Sou avesso a excessos. É claro que umas centenas de malucos fechados numa sala (de que infelizmente não se perdeu a chave) não definem o espírito do tempo. O que o define é a importância que se dá à coisa. Assim de repente, os augúrios não são simpáticos: sem discernível ironia, os media dedicaram ao encontro a seriedade que se dispensaria a um encontro de gente séria, e quando se vê comentadores solenes interpretarem as palavras do Dr. Soares como interpretariam as de alguém digno de atenção, é lícito constatar que a democracia não atravessa um período radioso. Não discuto que o Governo não seja um paradigma de incompetência. Digo que enquanto a alternativa reconhecida implicar múltiplas exibições de demência, aliás em nítido desrespeito pelo Código Penal, isto não vai longe.

De resto, não imagino se o "povo" um dia pegará em armas e varrerá a tiro ou à paulada os poderosos. Porém, tenho a certeza de que o "povo" não berra a uma só voz e sem dúvida não pensa pelos cerebelos do Dr. Soares e respectivo séquito de parasitas: o trágico caos que se seguiria à hipotética sublevação varreria também a estirpe de poderosos que inflama as massas por diletantismo ou preservação de regalias. Os Robespierres de trazer por casa já perderam a cabeça no sentido figurado. Vê-los perdê-la no sentido literal seria, para os menos piedosos, o único alívio cómico do caos.

Do Estado com carácter...



... e do jornalismo da ignorância e do veneno.

sábado, 23 de novembro de 2013

Nada de novo?




Disse assim Alberto Gonçalves:


O socialismo que não ousa dizer o seu nome

O socialismo tem imensas faces. Na Venezuela, por exemplo, persegue os comerciantes que vendem produtos acima dos preços que os senhores no poder consideram aceitáveis (esta semana, o Imperador Maduro incitou os clientes a invadirem as lojas a fim de obter o "reembolso"). Em Portugal, multa os comerciantes que vendem produtos abaixo dos preços que os senhores no poder consideram aceitáveis (há tempos, a ministra da Agricultura e da UDP em exercício assim procedeu).

A vantagem venezuelana é a sinceridade. Lá, o socialismo, às vezes chamado de "revolução bolivariana", orgulha-se de o ser e é reconhecido como tal. Aqui é envergonhado e passa inexplicavelmente por "neoliberalismo". Dito de outra maneira, o nosso querido Governo disfarça as verdadeiras convicções sob retórica de sinal contrário. É por isso que quando, há dias, o ministro da Economia defendeu a obrigatoriedade de uma disciplina escolar dedicada ao "empreendedorismo", a primeira coisa que apetece é recomendar ao Dr. Pires de Lima e respectivos colegas que a frequentem.

À semelhança de tantos crimes passionais, o amor do Governo pela iniciativa privada é de uma intensidade que termina invariavelmente com o homicídio desta a golpes de faca. Ou de lei: quase em simultâneo às arrebatadas declarações do Dr. Pires de Lima, um secretário de Estado adjunto do ministro da Saúde anunciou, muito contentinho, que para o ano será proibido fumar em todos, todos, todos os espaços "públicos", conceito que no peculiar "neoliberalismo" indígena inclui os espaços particulares dos restaurantes, bares e discotecas.

Prometo não voltar a discutir os "perigos" do fumo passivo e o direito de cada um a arruinar a sua saúde da forma que entender. Limito-me a notar uma fulminante banalidade, a de que os proprietários dos estabelecimentos em causa deviam decidir sozinhos aquilo de que a casa gasta - e os potenciais clientes apreciariam ou não. Desde que não promova actividades criminosas, género sacrifício de virgens, parece-me natural que o dono de um restaurante, afinal o sujeito que investiu no dito, possa escolher a comida que serve, os comensais que atende e os hábitos que tolera. É tão absurdo abolir o fumo quanto forçar uma casa de pasto minhota a servir chop suey no lugar de sarrabulho. Por azar, sendo o Governo o que finge não ser e o país o que é, esse dia também não tardará. E ninguém se manifestará na rua. Em Portugal, a liberdade, palavra linda, assusta mais do que o enfisema pulmonar.


Em defesa dos trabalhadores

Os trabalhadores que confiam na CGTP para expressar o seu descontentamento deveriam acompanhar com maior assiduidade a forma como o descontentamento dos trabalhadores de outras paragens é tratado nos regimes com que a CGTP simpatiza.

A proeza está longe de ser inédita, mas segundo jornais da Coreia do Sul a vizinha do norte acabou de fuzilar oitenta infelizes por suspeita de subversão das regras da casa. E não, os trabalhadores em causa não fizeram greve, não marcharam aos berros contra o comunismo na Avenida da Liberdade lá do sítio nem organizaram um protesto contra a remoção de "direitos adquiridos" - até porque não têm direito nenhum. Os trabalhadores em causa, que frequentemente ganham um ou dois euros mensais (lá, a classe média aufere cerca de 20 euros e os empresários ricos a exorbitância de 70 euros), acabaram assassinados por crimes tão graves quanto a contemplação de programas televisivos sul-coreanos ou filmes proscritos (essencialmente, todos) e lerem, ou pelo menos possuírem, um exemplar da Bíblia. Alguns viram-se acusados de espalhar pornografia, esse palpitante instrumento da decadência ocidental. De acordo com as fontes citadas, decerto ao serviço do imperialismo americano, milhares de pessoas foram obrigadas a testemunhar as execuções e os familiares das vítimas enviados para campos de concentração (ou reeducação, de modo a poupar os espíritos sensíveis).

Nada disto pretende concluir que os portugueses não se devem manifestar. Apenas que conviria repararem nas companhias em que o fazem. Se, por absurdo, os sonhos mais profundos do Sr. Arménio Carlos se realizassem um dia, para milhões de criaturas a troika haveria de tornar-se uma saudade, e a austeridade uma lembrança de tempos felizes. E se, numa democracia europeia do século xxi, é um bocadinho primário usar a Coreia do Norte como termo de comparação, mais primária é a democracia que torna a comparação legítima.


Casos de miséria

Pelo menos um jornal diário conta a história, presumivelmente trágica, de um rapaz que paga um euro e tal pelo almoço na cantina da escola para depois queixar-se da qualidade da comida e, cúmulo dos cúmulos, de o impedirem de repetir a dose. Os responsáveis da escola negam. O pai do rapaz garante que o filho tirou fotografias com o telemóvel a comprovar os factos. Suspeito que nenhuma foto explicaria o resto, a saber: que espécie de refeição "gourmet" se espera obter a troco de trezentos escudos? Se a refeição é péssima, porque é que os comensais desejam repeti-la? O que faz com telemóvel um adolescente de 14 anos, membro de uma família que quer parecer necessitada? O mistério permanece.

Porém, o mistério não se compara com o da indignação dos juízes portugueses, os quais, com vasta repercussão na imprensa em geral, se queixam dos "ataques" ao Tribunal Constitucional, do número de empregos previstos no novo mapa judiciário e, muito principalmente, dos cortes salariais. As críticas ao TC, órgão de derivação partidária, deveriam constituir uma portentosa trivialidade em democracias adultas. As vagas disponíveis para o cargo são aquelas que, correcta ou erradamente, quem de direito acha indicadas (e a ministra Paula Teixeira da Cruz até jura que serão mais do que as actuais). E os lamentos da classe acerca da quebra nos rendimentos são um insulto a todos os infelizes que ganham misérias ou não ganham nada de nada.

A propósito: se o jornalismo ambiciona a suprema redundância de mostrar que a crise fomenta apertos e casos dramáticos, o jornalismo que esteja à vontade. Mas convém limitar os relatos a situações aflitivas de facto, sob pena de reduzir a aflição a uma anedota e a crise a um pretexto para a rematada estupidez.


Tal como era de prever...


(imagem obtida aqui)

... entre muitas outras coisas, as que já vieram e as que ainda hão-de vir...

domingo, 17 de novembro de 2013

DO SURREALISMO COMO PONTAPÉ-DE-CANTO





Deco tem dificuldade em encontrar adjetivos para qualificar o muito criticado comportamento de Joseph Blatter para com Cristiano Ronaldo.


Nicolau Saião, O sedutor


Nota 1– Não sei quem é este Blatter, mas temo pelos penalties dos dois talentosos craques.

Nota 2 – Agora que vai acontecer, levado a efeito e muito bem por diversas entidades culturais, um Colóquio Internacional sobre o surrealismo, será de colocar a ênfase no facto de que Portugal – república de timbre cripto-fascista cleptocrata judicializado de fachada democrática – é um entreposto onde na verdade e na realidade vigora um tipo de surrealismo específico centrado no absurdo e na irrisão mais fagueira e desportivista.

In hoc signo vincis…

sábado, 16 de novembro de 2013

Com quase uma semana de atraso...


(imagem obtida aqui)


... mais duas crónicas exemplares de Alberto Gonçalves:




O irrealismo mágico




Fui só eu a achar encantadora a criação, na Venezuela, do vice-ministério para a Suprema Felicidade do Povo? Segundo o Maduro que manda naquilo, a coisa destina-se a "elevar a qualidade social dos venezuelanos até ao céu", e só estranho que o céu seja o limite quando, em vez de lidar com a realidade, a política decide inventar uma realidade alternativa. Naturalmente, trata-se de uma característica do socialismo, que começa científico e depressa descamba para o folclórico. Deve ser por isto que, pelo menos na literatura, se associa a América Latina ao "realismo mágico", embora conste que, a certa altura, mesmo o sisudo Estaline começou a financiar investigações psíquicas. Em Caracas, as investigações nem são necessárias: é costume o sr. Maduro afirmar que "vê" Hugo Chávez a pairar junto às montanhas da cidade e, na semana passada, o actual Presidente convocou a imprensa para anunciar que o rosto do presidente falecido surgira na parede de um túnel do metropolitano local. Há dias, o sr. Maduro antecipou o Natal, que de facto é quando um ditador quiser, para Novembro.

Entre nós, devido às greves, é frequente que nem o fantasma de um maquinista se mostre nos "metros" de Lisboa e do Porto. Falta-nos esse mergulho no fantástico, essencial sempre que a despesa com a propaganda e o "bem comum" leva um país a descer sem remédio ou vergonha à indigência e à mendicidade. A miséria aumenta exponencialmente? Tomem um ministério da Felicidade. A crise não parece ter saída? Experimentem uma aparição mística. O povo sofre? Venha uma revolução no calendário religioso.

É verdade que a Constituição caseira já pressupõe uma dimensão paralela, desde logo evidente no "caminho para uma sociedade socialista" do Preâmbulo, mas decretar o direito ao emprego e a uma habitação jeitosa não é igual a impor por lei a alegria das massas. É verdade que o principal responsável pela penúria vigente anda por aí a preparar um inconcebível regresso ao poder, mas dificilmente as aparições do eng.o Sócrates são passíveis de interessar parapsicólogos. É verdade que os senhores ministros prometem a retoma para daqui a dez minutos, mas isso não se compara a bulir na data de nascimento do menino Jesus. É verdade que uma pequena percentagem dos descontentes sai regulamente à rua a fim de exigir que os nossos satânicos credores nos deixem em paz conquanto continuem a enviar o dinheirinho, mas, se bem que por pouco, uma manifestação da CGTP não corresponde às premissas de uma manifestação do reino sobrenatural. É verdade que os gestos e as palavras dos socialistas dissimulados do Governo, dos socialistas assumidos da oposição corrente e dos socialistas maluquinhos das franjas vêm evoluindo vertiginosamente rumo ao delírio, mas ainda carecemos do golpe de asa que nos resgate da pobreza e eleve à irrealidade absoluta.

Precisamos de entregar o destino colectivo nas mãos de xamãs, cartomantes e videntes. Precisamos de confiar o défice aos astros e aos búzios. Precisamos de ler o futuro do Estado "social" nas entranhas de um bicho. Precisamos de responder à rigidez dos "mercados" com festa, dança e candomblé. Precisamos de uma Secretaria de Estado das Energias Positivas. Precisamos que as botas de Salazar ou as sobrancelhas de Cunhal se revelem num muro ou numa torrada. Precisamos de assombrações patrióticas. Precisamos, em suma, de alcançar a dimensão espiritual e transcender a material. Nesta não vamos longe.


A esquerda contra o desemprego




A título de intróito, palavra que nunca escrevera até este momento, deixem-me falar-vos de Rui Tavares, nome que espero não voltar a escrever depois de hoje. O dr. Tavares é o eurodeputado "independente" que se candidatou pelo BE ao Parlamento Europeu e, numa portentosa exibição de independência, saiu do BE a seguir à eleição, embora mantendo o cargo, o salário e a influência. Por azar, uma das maçadas dos processos eleitorais é o seu carácter temporário, pelo que o dr. Tavares vê aproximar-se o fim do mandato e, o que é compreensível, teme que coincida com o fim do cargo. E do salário. Desde já, o dr. Tavares rejeita com veemência uma candidatura nas "listas" do PS, proeza facilitada pelo facto de, salvo por uma vaga simpatia manifestada pelo dr. Assis (em contraponto à antipatia de outros socialistas), o PS não o ter convidado. Dado que o PCP não costuma recrutar no exterior das fileiras, sobra ao dr. Tavares a solução óbvia. Abandonar o sujo universo da política? Esse é o plano B. O plano A consiste em fundar um partido que devolva o respectivo fundador a Estrasburgo. Sucede que, na impossibilidade de enveredar pela franqueza e resumir os estatutos desse hipotético partido aos factos, leia-se preservar o emprego do líder, o dr. Tavares foi obrigado a congeminar uma complexa tese que envolve a falta de "convergência" entre as forças da oposição, a crítica às "plataformas fulanizadas" e, sobretudo, a urgência em criar um "espaço de liberdade à esquerda".

Compreendo a urgência e confirmo a lacuna. Se considerarmos que PSD e CDS são economicamente liberais - o que, a atentar pelas políticas em curso, implica uma desmesurada liberdade poética -, a esquerda caseira conta apenas com o PS, enquanto alternativa de governo; com o PCP, enquanto porta-voz dos "valores democráticos" no sentido não democrático do termo; com o BE, enquanto representante dos jovens que abominam o "sistema" embora ignorem o que o "sis-tema" seja; e com grupelhos microscópicos género PCTP e POUS, que em podendo enforcavam os "ricos" e não se voltava a falar no assunto. É, pois, óbvio que a nossa esquerda ainda é insuficiente, como são insuficientes os marsupiais na Austrália e a dengue no Brasil. Há ali "espaço" para a "liberdade" do dr. Tavares, o visionário que em 2011 descobriu a distância que vai do marxismo à tolerância e que em 2013 oferece à Europa o feliz matrimónio de ambos. Naturalmente, não oferece o ordenado.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Duas crónicas...



... das quatro que Alberto Gonçalves publicou aqui

Alívio cómico

Todo vaidoso, o Governo jurou não existirem quaisquer indícios de que entidades nacionais tenham sido escutadas pelas agências de espionagem americanas. Em vez de orgulho, o Governo deveria mostrar vergonha e perguntar-se porquê. O pior era a resposta: porque não pesamos no mundo. A menos, claro, que a CIA e aparentados andem com demasiado tempo livre e reservem o fim do dia para a merecida galhofa. Temos um país falido cuja população exige nas ruas a manutenção das causas da falência. Temos um Governo que demora nove meses a parir um "guião" para a reforma do Estado que se limita a reformar, com pensão vitalícia, a lucidez dos que o levarem a sério. Temos um ex-primeiro-ministro vocacionado para o embuste e preparado para voltar a mandar no exacto país que arruinou com empenho. Temos a dra. Assunção. Temos o "repúdio" ao sr. Blatter. Temos o dr. Seguro. Temos os "trabalhadores" da CGTP em greves e manifestações tão sucessivas que não há quem lhes retenha as datas. Temos uma "inteligência" convencida de que o nosso atraso de vida é culpa do "estrangeiro". Temos, em suma, os ingredientes necessários para que os espiões dos EUA passem um bom bocado. Fora do expediente.


Isto não é o "Zeca"

Entre as inúmeras homenagens a Lou Reed, certamente uma das mais estranhas aconteceu sexta-feira em Lisboa, onde uma série de músicos portugueses interpretou canções óbvias do norte-americano. Interpretaram ou, pelo que testemunhei nas notícias, demoliram. Mas o mais espantoso foi contemplar indivíduos associados ao PCP e a partidos similares mostrarem devoção por um anticomunista primário, que é como todos os anticomunistas devem ser. Veja-se o papel de Reed na resistência checa ao totalitarismo soviético. Ouça-se Black Angel"s Death Song, tema do disco inicial dos Velvet Underground e de oblíqua repulsa pela URSS. Recorde-se o ataque ao terrorismo palestiniano no álbum New York. Ecumenismo? Hipocrisia? Provavelmente ignorância, que é do que a casa gasta.

sábado, 2 de novembro de 2013

O TRIUNFO DOS PORCOS


Nicolau Saião, A besta

   No seu famoso livro deste título, George Orwell referiu que, naquele cenário onde decorria a acção (e que na verdade era o mundo do politicamente correcto avant la lettre) “todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros”.
  O indiferentismo moral ganhava ali foros de realidade, assentava praça na estratégia ditatorial de esmagar o ser humano.
  Eis aqui, noticiado pelos jornais em geral, um exemplo actual claro/escuro:

  O ex-basquetebolista norte-americano, Dennis Rodman, descreve os norte-coreanos como "pessoas normais" que gostam de "beber cocktails e dar umas boas gargalhadas".
  Para Dennis Rodman Kim Jong-Un, o líder da Coreia do Norte, é "uma boa pessoa", com "bom coração", que oferece tequila aos convidados na sua ilha privada. Rodman falou da sua amizade com o líder norte-coreano em Londres durante a promoção de um jogo de basquetebol entre uma equipa escolhida por ele próprio e uma equipa norte-coreana, que irá coincidir com a celebração do 31º aniversário de Kim Jong-Un e 8 de janeiro.
  Segundo o jornal británico "The Guardian", Rodman afirmou que não mantém relações de amizade com a Coreia do Norte por dinheiro."Não preciso de dinheiro, o que eu quero fazer é diminuir a distância que existe entre a Coreia do Norte e o resto do mundo. Eles têm muito para oferecer e querem fazê-lo", disse.
  Rodman descreve a sua visita à ilha privada de Kim Jong-Un como "uma visita ao Hawai ou a Ibiza, apenas com a diferença de que ele é o único que lá vive", adiantando que o líder norte-coreano "tem sempre 50 ou 60 pessoas à sua volta, pessoas normais, que bebem cocktails e dão gargalhadas durante a maior parte do tempo". Para o basquetebolista, tudo o que Kim Jong-Un faz "é o máximo".
  Rodman não critica Kim nem a Coreia do Norte, afastando-se assim das questões políticas. "Não me interessa o que ele faz lá, o que faz aqui ou o que faz em qualquer lado. A Coreia do Norte é tão má como o Japão, a China ou Hong Kong, a única coisa que me diz respeito é que somos amigos e isso é tudo o que importa", diz.


NOTA - Este Rodman é um semelhante dos que, no tempo deles, visitavam a Alemanha nazi e achavam Hitler um homem inspirado e um sujeito estupendo. Ou dos que visitavam a Moscovo do papá Staline e só viam nela um universo excepcional. Nem campos de concentração, nem calabouços, nem muros de fuzilamento - só locais aprazíveis.

   Eram amorais, babujadores de baixo estofo e totalmente destituídos de escrúpulos. Em suma, cúmplices dos crimes desses regimes. Como este repelente Rodman, casos patentes de baixeza moral, de falsa ingenuidade, de cinismo infame.

  O exemplo do perfeito canalha com discurso inocentinho.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

“E o burro sou eu…?”


Nicolau Saião, O burro sábio


O presidente da Venezuela acredita que viu a cara de Hugo Chávez refletida numa rocha durante a escavação do metropolitano de Caracas. Nicolás Maduro veio a público mostrar algumas fotos onde diz que consegue ver o seu antecessor.

«Vejam esta figura que apareceu aos trabalhadores. Podem perguntar-lhes. (...) É uma cara. E quem está nesta cara? É um olhar, o olhar que está em todos os lados, inclusivamente nos fenómenos sem explicação. (...) Para que vejam que o que dizemos é verdade - Chávez está em toda a parte, Chávez somos todos nós», sublinhou o atual presidente da Venezuela.

Esta não é a primeira vez que Nicolás Maduro diz ter presenciado uma aparição do ex-líder venezuelano, que morreu dia 5 de março, vítima de cancro. Durante a campanha para as eleições presidenciais, o atual presidente da Venezuela revelou que um passarinho que o acompanhara durante uma oração era o espírito de Chávez e assumiu também ter feito reuniões governamentais junto ao túmulo do antigo líder.


(Da imprensa internacional)


Evidentemente que os líderes como Chávez podem aparecer onde lhes der na gana. E dentro em breve começará a fazer milagres, como certas personagens fideístas como as que nós bem conhecemos dos livros sagrados, dos relatos de pequenos videntes, etc.

Por enquanto o ambiente pró-popular, naquele grande país irmão do anterior governo socrático (“Mi casa és tu casa”, recordam-se?) cifra-se neste aparecimento e no simultâneo desaparecimento de inúmeros bens essenciais das lojas e outros locais de venda…

Maduro sabe o que faz (e o morto-vivo também). Espera-se que os índices de aparições vão subindo graciosamente, acompanhando o progresso e o bem-estar que se poderá adivinhar…milagrosamente.

Contra factos (a governação inspirada de um vivente apoiada por um defunto muito operacional) não há argumentos.

 Mesmo de tipo freudiano. E o resto é conversa!