segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Duas crónicas...



... das quatro que Alberto Gonçalves publicou aqui

Alívio cómico

Todo vaidoso, o Governo jurou não existirem quaisquer indícios de que entidades nacionais tenham sido escutadas pelas agências de espionagem americanas. Em vez de orgulho, o Governo deveria mostrar vergonha e perguntar-se porquê. O pior era a resposta: porque não pesamos no mundo. A menos, claro, que a CIA e aparentados andem com demasiado tempo livre e reservem o fim do dia para a merecida galhofa. Temos um país falido cuja população exige nas ruas a manutenção das causas da falência. Temos um Governo que demora nove meses a parir um "guião" para a reforma do Estado que se limita a reformar, com pensão vitalícia, a lucidez dos que o levarem a sério. Temos um ex-primeiro-ministro vocacionado para o embuste e preparado para voltar a mandar no exacto país que arruinou com empenho. Temos a dra. Assunção. Temos o "repúdio" ao sr. Blatter. Temos o dr. Seguro. Temos os "trabalhadores" da CGTP em greves e manifestações tão sucessivas que não há quem lhes retenha as datas. Temos uma "inteligência" convencida de que o nosso atraso de vida é culpa do "estrangeiro". Temos, em suma, os ingredientes necessários para que os espiões dos EUA passem um bom bocado. Fora do expediente.


Isto não é o "Zeca"

Entre as inúmeras homenagens a Lou Reed, certamente uma das mais estranhas aconteceu sexta-feira em Lisboa, onde uma série de músicos portugueses interpretou canções óbvias do norte-americano. Interpretaram ou, pelo que testemunhei nas notícias, demoliram. Mas o mais espantoso foi contemplar indivíduos associados ao PCP e a partidos similares mostrarem devoção por um anticomunista primário, que é como todos os anticomunistas devem ser. Veja-se o papel de Reed na resistência checa ao totalitarismo soviético. Ouça-se Black Angel"s Death Song, tema do disco inicial dos Velvet Underground e de oblíqua repulsa pela URSS. Recorde-se o ataque ao terrorismo palestiniano no álbum New York. Ecumenismo? Hipocrisia? Provavelmente ignorância, que é do que a casa gasta.

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