Eminem (foto obtida aqui)
Sonha mas não ressones
A televisão por cabo é uma maravilha. Em momento de ócio, uma
pessoa começa a praticar a ancestral arte do zapping e, num daqueles canais esquisitos que
irrompem quase todos os dias, depara com uma entrevista ao maior humorista
português, Boaventura Sousa Santos. A parte má é que o programa estava a chegar
ao fim. A parte boa é que mesmo poucos minutos de Boaventura, sempre mordaz,
prometem galhofa farta. E cumprem.
Perante um entrevistador dissolvido em natural veneração,
Boaventura, sempre trocista, lançou pérolas sucessivas, desde a crítica ao
"neoliberalismo" (a mera expressão já é hilariante) que domina (?) a
Europa até à receita para uma revolução como deve ser. Na opinião de Boaventura,
sempre pândego, o nível de degradação social ainda não atingiu o ponto que ele,
cito, acha necessário: "As pessoas estão na rua mas depois voltam para
casa", frase que aos néscios parecerá um apelo a serões nas esplanadas ou
ao campismo. Nada disso: para Boaventura, sempre zombeteiro, é preciso
empobrecer mais as massas para que estas se enervem a sério e desatem a partir
tudo. E se ele não parte tudo sozinho é apenas porque o dinheiro ganho a servir
o "sistema" que se contesta permite uma vida confortável.
O conforto, porém, não impede que Boaventura, sempre
sardónico, sinta "indignação", "raiva" e, de quinze em
quinze dias, certo "desespero". Felizmente para a comédia, não se
alivia a incendiar automóveis mas a escrever letras de rap, o derradeiro
assunto da entrevista e, para mim, uma novidade. A acreditar em Boaventura,
sempre sarcástico, o rap é a canção de protesto do nosso tempo e uma reacção à
mediocridade. Sempre irónico, Boaventura finge ignorar que as reais canções de
protesto nunca se deixariam vender no iTunes e que a reacção musical à
mediocridade da época consiste em compor concertos para oboé.
Em consulta posterior na internet, apurei que os modelos de
Boaventura, sempre satírico, são Kanye West e Eminem. Numa segunda consulta,
descobri quem são Kanye West e Eminem. Numa terceira, encontrei uns versinhos rap assinados pelo alegado académico.
Deleitem-se: "sonha/mas não ressones/que a polícia está atenta/que a
polícia tudo tenta/até te inventa/a atenção é detenção/o governo/são os
governados/em posição/de distração//direitos humanos/reinserções anuais/celas
resort/donde sais por sorte/donde sais por morte/tudo pago/um dia te farão a
operação/à salvação/evangelho segundo/santa sinistra/hall of shame/hall of
fame/hall [sic] the same."
Quem ler isto sem rir até às cólicas não é humano. Países
desprovidos de sentido de humor, género Portugal, Brasil ou Paraguai, tomam
Boaventura por intelectual. Nos países restantes, ninguém o conhece. Azar o
deles.
(foto obtida aqui)
Os bárbaros do
"photoshop"
No Porto, um casal decidiu produzir descendência. A novidade
é que passou ao lado da fecundação, da gravidez e das choradeiras e foi
directamente à conservatória local, onde registou o rebento fictício a fim de
beneficiar de isenções fiscais e dos apoios ditos sociais, os quais incluíam
habitação gratuita de maiores dimensões. O caso acabará no tribunal. São
questões culturais: pelo menos por cá, inventar o nascimento dos filhos dá
chatices.
Noutras paragens, inventar a morte dos filhos dá prémio - a
fotógrafos. Foi o que aconteceu a Paul Hansen, o sueco que venceu o World Press
Photo (WPP) do corrente ano graças à imagem de uma multidão a carregar os
cadáveres de duas crianças em Gaza. Segundo especialistas, a fotografia sofreu
manipulações diversas a fim de melhorar a tonalidade e agravar o drama. O WPP
garante que não. Conclusão? Nenhuma em especial.
Independentemente da autenticidade do retrato em causa, o
facto é que o currículo do Hamas e a credulidade da imprensa ocidental em
matéria de falsificação fotográfica das vítimas de Israel são assunto antigo e
recorrente. Tivemos crianças "assassinadas" por Israel que já haviam
sido "assassinadas" por Israel em ocasiões anteriores. Tivemos
crianças "assassinadas" por Israel que morreram na Síria. Tivemos
crianças "assassinadas" por Israel que morreram de morte natural. E,
na maioria das vezes, tivemos crianças "assassinadas" por Israel que
na verdade faleceram devido às mãos do próprio Hamas, visto que esta prestimosa
organização é muito chorosa em frente às câmaras mas não se coíbe de lançar
mísseis a partir de áreas civis.
Vale a pena notar as fraudes? Nem por isso, já que o seu
destinatário é a vasta parcela da opinião pública internacional convicta de que
tudo o que de mau sucede no Médio Oriente é culpa de Israel. Mais do que artimanha
propagandística, as fraudes constituem uma reivindicação de audiências
empenhadas em confirmar delírios em detrimento dos factos. Percebe-se: os
factos, leia-se as circunstâncias de um conflito que opõe uma democracia livre
a uma cultura de barbárie, são desagradáveis. Para os partidários da barbárie,
claro.
(foto obtida aqui)
(para ler todas as crónicas de Alberto Gonçalves desta semana, clicar aqui) )
1 comentário:
Este senhor Boaventura, poetastro medíocre e "cientista social" (?) levou uma magistral ensaboadela do Prof. António Manuel Baptista, que a dada altura perguntava se não seria altura de se questionar os pilins recebidos pelo homem a pretexto do seu estabelecimento ONG, ou lá o que seja. Teve logo em sua defesa, entre outros, o famoso Eduardo P. Coelho, especialista em apoiar, com frases estruturalistas, o mais abstruso luso pinsamento.
Que se espera para colocar em bolandas o "cientista social" e autor de pessegadas puéticas?
Nortenho mas benfiquista
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