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Em 1996, Alan Sokal, professor de Física na Universidade de Nova Iorque, fez publicar na respeitada revista Social Text, um artigo com o estranho título “Transgredir as fronteiras: para uma hermenêutica transformativa da gravitação quântica”,
uma paródia basicamente feita de citações disparatadas dos mais
proeminentes filósofos franceses do pós-modernismo, nomeadamente Lacan,
Kristeva, Irigaray, Latour, Baudrillard, Deleuze, Virilio, etc.
Nas revistas científicas de referência, nenhum artigo é publicado sem peer review, isto é, o artigo tem de ser validado pela comunidade científica, através da apreciação pelos pares, dois ou três especialistas que desempenham o papel de referees e que basicamente funcionam como advogados do diabo, analisando o artigo sob todos os pontos de vista, para detectar incorrecções e erros.
O hilariante artigo de Sokal, foi aceite à primeira.
O que caracteriza os textos dos filósofos citados, é a mistificação e a linguagem deliberadamente obscura e impenetrável, construída com rendilhados retóricos que exibem uma erudição superficial, lançando palavras eruditas e malabarismos de forma, à cara dos leitores.
O objectivo desta intoxicação é impressionar e intimidar, dissuadindo a crítica ao vazios dos conteúdos, pelo conhecido síndroma do "Rei vai nu".
A que propósito vem isto?
Como é sabido, o blogue 5 dias é um dos meus sacos de treino.
E um destes dias dei de caras com um personagem que se chama Ezequiel, fértil em pendantismos deleuzianos e que ali posta sob o alto patrocínio de Nuno Ramos de Almeida.
O poste Ezequiel-um-aspecto-do-liberalismo-contemporaneo, é um exemplo do tipo de linguagem deliberadamente obscura que Sokal denunciou.
Quem for lendo os comentários, há-de reparar na verdadeira orgia de absurdo que se espraia por ali abaixo, como se os comentaristas (sempre os mesmos cromos) se encorajassem um ao outro em apoteose masturbatória.
Os únicos textos escritos em linguagem clara, e que se entendem, são os de David Mestre, que tenta desesperadamente encontrar naquele abuso polvilhado de terminologia “sábia”, alguma consistência que possa ser discutida.
Nas revistas científicas de referência, nenhum artigo é publicado sem peer review, isto é, o artigo tem de ser validado pela comunidade científica, através da apreciação pelos pares, dois ou três especialistas que desempenham o papel de referees e que basicamente funcionam como advogados do diabo, analisando o artigo sob todos os pontos de vista, para detectar incorrecções e erros.
O hilariante artigo de Sokal, foi aceite à primeira.
O que caracteriza os textos dos filósofos citados, é a mistificação e a linguagem deliberadamente obscura e impenetrável, construída com rendilhados retóricos que exibem uma erudição superficial, lançando palavras eruditas e malabarismos de forma, à cara dos leitores.
O objectivo desta intoxicação é impressionar e intimidar, dissuadindo a crítica ao vazios dos conteúdos, pelo conhecido síndroma do "Rei vai nu".
A que propósito vem isto?
Como é sabido, o blogue 5 dias é um dos meus sacos de treino.
E um destes dias dei de caras com um personagem que se chama Ezequiel, fértil em pendantismos deleuzianos e que ali posta sob o alto patrocínio de Nuno Ramos de Almeida.
O poste Ezequiel-um-aspecto-do-liberalismo-contemporaneo, é um exemplo do tipo de linguagem deliberadamente obscura que Sokal denunciou.
Quem for lendo os comentários, há-de reparar na verdadeira orgia de absurdo que se espraia por ali abaixo, como se os comentaristas (sempre os mesmos cromos) se encorajassem um ao outro em apoteose masturbatória.
Os únicos textos escritos em linguagem clara, e que se entendem, são os de David Mestre, que tenta desesperadamente encontrar naquele abuso polvilhado de terminologia “sábia”, alguma consistência que possa ser discutida.
Em vão...
Resolvi então fazer uma experiência e intervim com o nick “Mostrengo”, debitando também frases completamente ocas, e apologéticas, algumas delas retiradas do artigo de Sokal.
Nada do que ali escrevi, faz qualquer sentido, é um mero amontoado de palavras e frases que parodiam a retórica do Ezequiel e do Ondevaisrio.Como exemplos do completo no sense, escrevi coisas como
“O meu objectivo, ao citá-lo, é uma tentativa metodológica de prolongar a desconstrução derrideana, aplicando-a numa hermenêutica totalizante.”
"Na minha opinião, o movimento dialógico em direcção à redefinição dos sistemas, à visão do mundo não apenas como uma totalidade, mas também como uma série de sistemas (comunidades) em competição, um mundo unido pelas tensões entre os diversos interesses naturais do homem, oferece um relance sobre a contaminação liberal que condiciona o social, profundamente marcada ainda pela sua origem na crise das relações de produção do capitalismo tardio."
"Na verdade o real não é assombrado pela sua própria unidade, mas pelo plano de referência constituído por todos os limites ou fronteiras através das quais confronta o caos."
"Mas enfim, isto é apenas uma ideia minha, exploratória, e não me atrevo ainda sustentá-la para lá dos círculos virtuais da ideia."
Como eu previa, o Ezequiel, se bem que aqui e ali franzisse a sobrancelha (o que demonstra que não é estúpido) foi incapaz de perceber a paródia e reconhecer que não percebia patavina do que eu tinha escrito.
No fundo sucumbiu ao síndroma do "Rei vai nu".
Eis algumas das suas respostas:
Resolvi então fazer uma experiência e intervim com o nick “Mostrengo”, debitando também frases completamente ocas, e apologéticas, algumas delas retiradas do artigo de Sokal.
Nada do que ali escrevi, faz qualquer sentido, é um mero amontoado de palavras e frases que parodiam a retórica do Ezequiel e do Ondevaisrio.Como exemplos do completo no sense, escrevi coisas como
“O meu objectivo, ao citá-lo, é uma tentativa metodológica de prolongar a desconstrução derrideana, aplicando-a numa hermenêutica totalizante.”
"Na minha opinião, o movimento dialógico em direcção à redefinição dos sistemas, à visão do mundo não apenas como uma totalidade, mas também como uma série de sistemas (comunidades) em competição, um mundo unido pelas tensões entre os diversos interesses naturais do homem, oferece um relance sobre a contaminação liberal que condiciona o social, profundamente marcada ainda pela sua origem na crise das relações de produção do capitalismo tardio."
"Na verdade o real não é assombrado pela sua própria unidade, mas pelo plano de referência constituído por todos os limites ou fronteiras através das quais confronta o caos."
"Mas enfim, isto é apenas uma ideia minha, exploratória, e não me atrevo ainda sustentá-la para lá dos círculos virtuais da ideia."
Como eu previa, o Ezequiel, se bem que aqui e ali franzisse a sobrancelha (o que demonstra que não é estúpido) foi incapaz de perceber a paródia e reconhecer que não percebia patavina do que eu tinha escrito.
No fundo sucumbiu ao síndroma do "Rei vai nu".
Eis algumas das suas respostas:
"Mostrengo . Muito interessante. Acho que deves optar pelo atrevimento"
"Sim, um grande trabalho teórico. Monumental, diria eu. Comentários muito interessantes.
obrigado, ezequiel"
"O real reflecte e codifica as ideologias dominantes e as relações do poder da cultura, dizes tu, caro Mostrengo. E assim geraste uma inteligibilidade: Poder, cultura e ideologias… a fine construction! "
Em resumo uma pequena demonstração de que o nada, desde que devidamente enfarpelado em retórica, passa por inteligência em determinados círculos da esquerda. E eis como, tendo escrito um amontoado de bostadas completamente esféricas, sem ponta por onde se lhe pegue, gerei "uma inteligibilidade...uma fine construction".
À laia de moral da história, fiquemos então com um comentário de Richard Dawkins (o dos memes, do gene egoísta, do ateísmo militante), à paródia de Sokal:
“Existe linguagem concebida para ser ininteligível, de modo a ocultar a ausência de verdadeiro pensamento”
“Existe linguagem concebida para ser ininteligível, de modo a ocultar a ausência de verdadeiro pensamento”
P.S.
Como é evidente, desvendei a paródia no próprio blogue "5dias". Num
hino à amplas liberdades de expressão, o comentário esteve lá durante
algum tempo, mas foi pressurosamente apagado, quando se aperceberam do
ridículo.
Esta malta detesta que lhe descubram a careca...
Posteriormente,
a própria Fernanda Câncio explicou que o comentário tinha sido apagado
"por engano" e, aquele tom enfastiado que adopta quando a conversa não
lhe agrada, explicou que poderia colocá-lo novamente.
O que fiz.
À segunda ficou!
3 comentários:
Intalou a Fernandinha (sem machismos maliciosos!)
Fernanda Câncio ou a existencia inexistente. Chapeau!
Mochila
Também em Portugal temos um exemplo sublime: um poeta surrealista, para desmascarar pantufos rateiros e pedantes tarimbeiros, escreveu uma série de contos e ensaios atribuídos a autores estrangeiros que, pura e simplesmente, não existem. E foram festejados por muita gente esperta e de destaque. Chapeua!
Mochila
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