Dr. José Marcolino, director do Notícias Diárias
Sr. Director
De
acordo com o prometido, aqui vimos cumprir a nossa palavra honrada e mais sete
adjectivos apropriados, dando a Vexa. e concomitantemente aos seus leitores a
entrevista do Doutor Jagodes, que...Mas vossência verá!
Com
os protestos da minha muita admiração e um pouquinho de inveja pelo seu espaço
multifacetado, fica o atento, obrigado e quiçá venerador
José
Marcolino, esquire e director do Notícias Diárias
Dr. Jagodes com o seu new look
O TRIUNFO
DO JAGODES (Jagodes’
best of)
“A sobriedade sempre foi uma das minhas
características” - declarou ao “Notícias Diárias” o Doutor José Jagodes antes de iniciarmos
propriamente a entrevista que nos concedeu com foros de inquestionável quase
exclusividade.
(Um trabalho da jornalista freelancer Inês Bandarra, com a
supervisão e apresentação de José Marcolino, esquire e director deste órgão de informação luso-universal).
Ao entrarmos na aprazível vivenda de
Linda-a-Velha, ladeados por dois espadaúdos apoiantes do Doutor (“apenas por causa das moscas”, para o
citarmos correctamente) o que de imediato nos saltou aos olhos/ouvidos foi que
da salinha onde costuma receber os mídias não se propagava como habitualmente nem
o som do seu bem timbrado vozeirão, trocando frases com o seu braço-direito
(ex-comandante assessor Tomás Figueira) nem o também sintomático riso
cristalino da sua actual e cremos que totalmente futura companheira, a actriz-cantautora
venezuelana Eládia Gonzalez que com o seu temperamento esfuziante abrilhanta as
tardes, as manhãs e naturalmente as noites do grande pensador cada vez mais
devotado à coisa pública desde que se iniciou o período central da Crise, que é
como quem diz o provável espalhanço do actual premier Pedro Paulo Coelho.
E quem poderá estranhar que a primeira
pergunta que lhe dirigímos fosse precisamente para inquirir do porquê deste
relativo silencio conceptual e, concomitantemente, gestual se assim nos podemos
exprimir?
E
aduzimos também, outrossim, que a proverbial maneira-de-receber que ao Doutor
exorna, já com o fornecimento de amêndoas torradas, caju, nozes sem casca e
pastelinhos de nata, já com a competente pièce
de resistance ou seja a garrafa ou garrafas se a conversa se prolonga, de
uísque “Queen Margot 20 anos”, foi substituída por um sucinto “bagaço” de Vila
Boím e um tímido pacotito de bolacha Araruta.
Ares dos tempos, diria eu com algum jornalístico senso de humor.
E cedo então as operações a Inês Bandarra.
INÊS BANDARRA (IB) – Doutor Jagodes, sinto pairar no seu lar,
neste seu ninho, um silêncio…uma contenção que não me parece habitual…
DOUTOR JOSÉ JAGODES (JJ) – Tem toda a razão,
moçoila. Mas tranquilizo-a já. Como decerto sabe, apesar do que certas lendas
maldosas tentam estabelecer, a sobriedade sempre foi uma das minhas
características. Pode dizer-se, até, que sou do tipo proverbialmente em sério…excepto
naturalmente quando me rio. Mas isso é comum a muitos de nós, incluindo membros
do governo como o sincopado dr.Vitorino Baltazar, que parece sempre o austero Buster
Keaton quando nos anuncia novas catástrofes financeiras. Será o físico do
papel, digamos, pois a austeridade com que nos fulmina deve necessitar daquele
tipo de colocação de rosto…de estilo comunicacional…
Mas no meu caso é assim: a minha sobriedade, nomeadamente a que aqui se verifica,
reflecte uma vivência, diria mesmo uma proposição de fraternidade psico-social,
é uma forma integralmente patriótica de me solidarizar com os cidadãos
identificando-me com o cada vez mais vincado ricto de tristeza que neles sinto,
pois isso não se vê apenas no rosto que noto amargurado, ou eu muito me engano,
do dr. Carlinhos Zorro ou mesmo no do nosso estimado presidente Prof. Silva que
ostenta uma cada vez mais pronunciada aparência fúnebre mau grado os esforços
cívicos que faz para parecer risonho.
IB – Percebo.
Mas entrando agora no cerne da questão eu pergunto sem estar com circunlóquios:
é verdade ou não que o Doutor teria tido umas reuniões de trabalho, vulgo conversas
de bastidores, com o dr.Paulino Pontes, com o profissional-sindicalista
Harmónio Carloto e, até, com o pró-líder António José Segundo que o teriam
sondando sobre a sua disposição de, se fizesse falta e em vista das exigências do
dr.Xicão Louceiro e do dirigente Gerânio de Souza, comandar uma equipa governamental
de salvação, por assim dizer, nacional?
JJ – A Inês está a ver o que são os
boatos nesta terra? Eu, com o risco de estilhaçar um certo suspense que tem navegado pelos mentideros,
desminto formalmente. Fui sondado sim mas para eventual próximo candidato à
presidência da coisa pública…!
Inês Bandarra, jornalista freelancer
IB – À…à
presidência? Mas…mas isso é ainda mais mediaticamente sensacional! Mas como é
que houve uma tal unanimidade…do Pontes, do Gerânio, do Harmónio e…e dos outros?
Como é que…
JJ – É fácil…é compreensível. Senão
veja: a não ser o pequeno mas dinâmico comentador Marcos Montes, na sua
condição de ex-líder do PDS e de animador das hostes nas universidades de verão
e, vamos lá, talvez os doutores Lima e Dias Louceiro mas esses por razões
provavelmente muito diferentes um do outro, praticamente nenhum mangas da
classe política vai à bola com o Prof. Silva. Desde o estoriador Prurido
Valete, passando pela aguerrida deputada Luiza de Santa Apolónia, até ao coadjutor
do Minibloc Hernando de Rojas e ao opinador-geral televisivo Marcial Ribeiro da
Silva, que vai não vai lhe afinfa umas ferroadas, todos são unânimes na crítica
que dirigem ao dito estadista: só sabe, quando não está caladinho, recomendar
calma à malta, juízinho meninos e tal…Uma lengalenga que já não faz chispa.
Mas, num país de brandos costumes como o nosso, em que o povinho quer é sopas e
descanso e, como disse o ministro do Interior cujo nome não me vem de momento,
aquele de cabelo branquinho e voz de galo capão, são mais as cigarras que as formigas, as maneiras do nosso estimado Prof. Silva agradam a uma boa parte
dos cidadãos…e se os tais não se precatam ainda ganha de novo as eleições.
E
quem, quando chegar a hora, o iria enfrentar com sucesso não me dirá? O António
Câmara da Costa, com o seu sorriso de boneco de feira? O Lella, com aquele
estilo de animador de bailes para a terceira idade? O Alegrete já está mais ou
menos fanado e no sector militar, apesar de ser sempre giro sentir uma farda a
chegar-se à frente, o homem da rua já não se revê nelas pois cheiram muito a
quartel. Daí que…confesso…me sondaram, mas…
IB - …mas
não vai aceitar??!
JJ – Não sei! Tudo depende… Só se o
Alexandre Pingodoce, o Belarmino de Azeredo, o Alberico Damorim me derem o seu
apoio. Como sabe são eles que mandam efectivamente por cá, embora o Pedro Paulo
Coelho faça as vezes… Ah, não esquecendo o José Temístocles, que apesar de
estar em Montparnasse é quem mexe os cordelinhos da jigajoga mais progressista.
Coreto de Linda-a-Velha
IB – Mas
a situação em que o país se encontra…não aconselharia que o Doutor avançasse
mesmo sem os sustentáculos desses granjolas? Como o Doutor sabe o país real já
não se anda a mirar em “habitués” da política…ganhou-lhes mesmo um certo pó!
Não tem visto que onde quer que vão os ministros são apupados, até o venerando
ex-chefe de Estado Marinho Suarez evita participar em gangadas públicas para
não o xingarem e insultarem até às fezes? O povão quer é
descomprometimento…naturalidade…diria mesmo verdade!
JJ – Bom, lá nisso terá razão…Mas não se
esqueça, moça, que na realidade real se um manguelas que tenha de se submeter
ao sufrágio popular não tiver um aparelho, ou seja os bolsos, bem areado, a
breve trecho dá com os burrinhos na água. Veja por exemplo o grande Orbama,
essa flor da democracia social americana e de vez em quando meu interlocutor,
que apesar de ser do povo, pelo povo e para o povo, tem de andar a lamber os
calcantes, passe a expressão, aos milionários de lá para eles se chegarem com
as lecas que lhe permitam entrar de novo na ovalidade da conhecida sala…Senão o
Rominey rapa-lhe a taça e é que nem ginjas, que além de ter melhor figura presidencial
qual actor de Holywood, tem muito mais palheta que o nosso estimado
afro-americano…Pois é!
IB – Ó
Doutor, não me diga que não acredita na democracia directa, enfim, no querer
popular sem intermediários que…que façam valer o seu poder de…
JJ – Acredito! Então não acredito?! Na
directa, na indirecta, na transversal, na proto-metafísica…Em tudo isso! Mas
como sabe e os nossos homens públicos bem se têm fartado de o proclamar, os
lirismos não dão dinheiro, logo não são realistas e a coisa pública vive é de
realidades excepto, é claro, quando se trata de pagar dívidas soberanas, porque
aí…
IB – Veja
que até altas figuras da Igreija têm posto a tónica na simplicidade que advém
da união com o querer popular, da necessidade de voltar aos antigos valores da
honra e da…
JJ – Siiim…Da simplicidade que se
continua a notar lá p’rós lados de Roma…e não só…
IB – O
Doutor agora está a ser irónico…
JJ – Eu??? Nem pense! Ironias e risos
com a Igreija… tá quieto! Aliás, se há comunidade menos atreita à receptividade
irónica, são precisamente os seus próceres. Falam sempre a sério! Ali não há
fosquinhas. Dizem que aqui e ali poderá haver uma necessária pequena
hipocrisia…sempre aliás condizente com a
boa condução dos esquemas da fé…mas nada mais. E eu aprecio-os muito e estou
empenhado em os trazer para o meu projecto global. Sem eles não se faz quase
nada! Se os curas põem um líder de lado, por mais que tente emendar…está frito.
O que é natural, eles têm como se sabe a ajuda do Mais Alto e contra factos não
há argumentos.
IB – Mas
isso significa que o Doutor tem em mente convidar algum alto eclesiástico…
JJ – Ná! Não me interprete mal! Nisso
eles nunca dão por assim dizer o corpinho ao manifesto e a cara à pública
publicidade em termos laico-civis…Jogam mais na influência moral por fora. Uma
palavrinha aqui…um comunicadozinho ali…a noticiazinha duma reuniãozita ali…Não!
O que eu estou a pensar é criar uma secretaria de Estado, ou mesmo um
ministério, para incrementar de novo o bom e razoável fideísmo, diria mesmo a
religiosidade em termos cívicos porque se a prática do culto se perde…às tantas
vai tudo por água abaixo!
IB – Mas
isso é como se faz mais coisa menos coisa nos países islâ…
JJ – …E daí, moça, o que é que isso tem
de mal? Primeiro não se esqueça que há o diálogo inter-civilizações, a
tolerância inter-praticantes – que apesar de neste momento ser só num sentido,
todos, incluindo o Suarez e o Jorge, esperam que um dia venha a dar frutos
sendo nos dois sentidos, se acaso houver tempo. Depois, não se esqueça de novo
que os países neste momento mais a fugirem para a frente do pelotão são
apreciadores do tal diálogo favorecedor dos que você queria referir e eu,
desculpe, interrompi: a Xina, o Brozil, o Hirão e a Koreia Dunorte e mesmo
outros para os lados das Qaraíbas e do norte da Sulamérica…Se não houver um
cimento agregador, seja a religião bem estimulada seja a pasta, e não me refiro a pasta de fígado, a coisa não anda!
IB – Não
fico espantada porque a originalidade do Doutor é bem conhecida. Mas indo agora
a aspectos mais pessoais, diria da privacidade humana: agora que está neste
período de reflexão e em férias sabáticas da Sourbonne, que é que motiva o
Doutor como particular?
JJ – Como é natural, o ténis de mesa e o
tiro em fosso olímpico. Não viu que foram as disciplinas em que os esforçados
membros da delegação lusa mais se distinguiram…se me não engano? E eu como
patriota a cem ou mais por cento só me revejo em coisas muito nacionais. Aliás,
como percebe estando de boa fé, não me podia neste momento rever na bola, dado
o estado das equipas lusitanas que andam a perder sistematicamente. Só um
detalhe as salva, é que são maioritariamente constituídas por estrangeiros…e
assim digamos que são mais eles a perderem, sempre se safa assim um bocadinho a
honra da casa…
IB - E as
artes, as literaturas…
JJ – Nisso só tenho que dizer bem. Não
viu o triunfo espantoso daquela senhora lá acho que em Verçailes, aquela que
faz coisas abracadabrantes de maravilhosas com bricabraque de panelas e funis,
acho eu? E outros…e outras…que não me vêm agora à memória mas é tudo do fino? E
os livros que têm ultimamente saído, ora da pena de políticos e derivados ora
de publicistas versando esse ramo da aventura de viver em comunidade alfabetizada?
E as revistas como se costuma dizer de grande público com as movimentações
talentosas e incontornáveis de candidatas a futuras actrizes, manequins, globe-troters e por aí? E na música nem
falo, mas o panorama, tendo acabado há pouco a saison dos concertos de praia e de verão, com os e as vocalistas
mais populares, foi de arromba se assim me exprimo e…
IB – Certo,
Doutor, já percebi o seu ponto de vista, obrigado. Mas concluindo: quer então
dizer que a Crise, apesar de tudo, não tem conseguido impedir o proverbial
ambiente desenrascado nacional?
JJ – Não diria tanto. Mas acho que a
malta se está a aguentar bem, e ainda se aguentará melhor se os prémios do
Euromilhões começarem a vir sistematicamente para Portugal, digamos todas as
semanas durante, vamos lá, até e após 2019. E, note, isto não é uma ideia
desajustada ou filha da minha justíssima sôfrega vontade de beneficiar o país. Não! Eu
estou convencido que aí uns oitenta por cento dos nossos economistas pensarão o
mesmo – só que por timidez e para não serem mal interpretados como o Antunes
Burgesso, não o dizem descaradamente.
Olhe,
a ver vamos cara Inês. Alma até Almeida! (e não me refiro ao Santos dos Cantos,
que já me parece estar um pouco demodée).
Mas adiante e até sempre!
IB/JM
(Edição
a partir das cassettes gravadas pelo nosso técnico Favela Rodrigues)
1 comentário:
Qs, qs, qs, qs, qs! Eu voto no Dr., perdão, Doutor Jagodes, o mais monárquico de todos os republicanos. E viva o grande homem de Linda-a-Velha/Sourbonne.
Pedro Lima
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