É o título deste texto de António Justo:
José
Gomes Rodrigues, assistente social, foi agraciado com o Prémio
Municipal de Integração pela sua extraordinária dedicação em benefício
da população de Neuss, durante 35 anos. Apresento aqui um bocado de
história migrante documentada e narrada pelo próprio homenageado:
“Falar de si mesmo é ser-se suspeito, assim define a sabedoria popular
sobre o que aqui irei relatar. Perdoem a minha ousadia, mas faço-o,
obedecendo ao desejo de alguns amigos e instituições que solicitaram a
descrição e o desenrolar dum acontecimento agradável de que fui alvo. As
entidades
alemãs desta cidade de Neuss, responsáveis pela inserção social dos
imigrantes, decidiram agraciar individualidades e associações que se
tenham notabilizado de diversas formas na integração desta população
específica.
No próprio dia em que viajava a Portugal para participar no acostumado
encontro anual de ex-colegas de estudos, recebo uma carta do Presidente
da Câmara desta cidade solicitando a minha presença urgente na semana
seguinte, dia 14 de Maio numa das novas salas de recepção oficial da
Câmara. Teria sido uma das pessoas propostas, segundo o teor do convite,
para a atribuição do prémio de integração da cidade
(Integrationsförderpreis).
Esquivar-me, seria a melhor alternativa, mas, segundo o coordenador da
efeméride, a minha presença era irrefutável. Após o regresso da cidade
de Viriato e vestido a rigor, de fato bem polido e engomado, de gravata a
condizer com as riscas verdes da camisa, lá me apresentei no bem
delineado anfiteatro, há pouco inaugurado. A minha esposa e companheira
fiel de longa data, acompanhou-me, não fosse o fato ainda engelhar ou
os passos me conduzirem para outro local sem tanta praxe.
A sala estava repleta. Muitos dos presentes eram-me familiares, pois
tínhamos cooperado e partilhado experiências e vivencias do ofício ao
longo destes 33 anos de serviço. O meu trabalho estava, há anos,
orientado na integração de estrangeiros ou, melhor dito, concidadãos
oriundos de diversas culturas e do mundo. Estes totalizam, nesta cidade,
dormitório da metrópole de Düsseldorf, mais de 15% dos habitantes o que
perfaz numa população de 151.000 habitantes, 20 mil com cidadãos
possuidores dos de passaportes de mais de 90 nacionalidades
Representantes das mais diversas associações, organizações e
instituições que se dedicam à promoção sócio-cultural destes concidadãos
não faltaram ao evento. O diversificado colorido partidário da cidade,
os representantes das Igrejas e de outras religiões, coroaram, com a sua
presença, a ocorrência. Uma orquestra da câmara emoldurou o evento.
Foram galardoados comigo, com um lindo certificado-diploma, devidamente
autenticado com as insígnias da cidade e a assinatura do Presidente da
Câmara, outras individualidades e grupos que se tinham notabilizado pelo
esforço abnegado em prol da integração da população migrante. Ao ouvir o
meu nome, entre os agraciados, alegrei-me, levantei-me do meu lugar e,
após uma pequena apresentação oral sobre a minha ação profissional
rebatido com algumas palmas por parte da assembléia presente.
Ao ser-me entregue este galardão pelas mãos do Presidente Conselho de
Integração da cidade, em representação do Presidente da Câmara e,
perante este importante auditório, revi, como uma película a cores,
toda a minha vida profissional durante os 35 anos dedicados à emigração.
Mergulhei nas minhas singulares raízes. Pensei nas gentes calejadas e
bem temperadas pelo abrasador sol dos áridos campos da minha aldeia,
Vila Nova do Campo, que marcaram o meu caráter e a minha maneira de
atuar. Os diversos professores, os muitos colegas de escola e de
seminário, os amigos que, durante tantos anos, comigo caminharam,
estiveram presentes como atores neste rápido filme. Sou, nada mais e
nada menos, o fruto das muitas encruzilhadas.
Agradeci o gesto tão simpático das autoridades civis e dediquei-o a
todos com quem convivi e servi no meu caminho profissional e que foram
os sujeitos e os obreiros desta pequena festa de reconhecimento publico.
A minha família teve também, nesta efeméride, um lugar de relevo, não
fosse a paciência e a necessária compreensão que sempre demonstraram.
Não sendo eu a pessoa indicada para nomear as razoes que levaram a esta
nomeação, deixo aqui a tradução do alemão da proposta escrita
apresentada pela responsável dos serviços de Integração sócio-cultural
da Caritas, instutuicao que servi:
“Desde
1977 até Dezembro de 2010, o José Gomes Rodrigues foi Assistente
Social, no departamento de Integração da Caritas. Antes desta data,
tinha exercido funções pedagógicas como professor da escola
complementar de Língua e Cultura Portuguesa das crianças e jovens nas
cidades de Dortmund, Mulheim/Ruhr, Duisburg e Bochum.
Dedicou-se exemplarmente e durante a maior parte do seu tempo de
serviço à Integração dos concidadãos com passaporte estrangeiro.
Iniciou, deu forma e levou a cabo um grande número de projetos
de inserção social. Duma forma exemplar, é de mencionar a
fundação dum projeto piloto de teatro intercultural, em
colaboração com a escola superior de teatro, a OFF-Theater da
Renania do Norte e Vestfália. Ele mesmo manifestou-se talentoso como
ator em palco. Esta iniciativa obteve tanto êxito, que lhe valeram
três honrosos prêmios. Transformou-se, desde então, num campo de
trabalho e um método pedagógico frutífero e prioritário na
Integração intercultural dos concidadãos
estrangeiros que ganhou raízes.
O diálogo entre as diversas religiões presentes na cidade constituiu
também um dos seus campos de atuação tendo, com as suas diversas
iniciativas, aproximado os indivíduos na sua diversidade
biográfica, cultural e religiosa. Provocou o conhecimento
recíproco, o respeito e a aceitação mútua entre as diversas religiões de
maior presença nesta sociedade: o cristianismo e o Islão,
entre outras. O interesse e tenacidade que demonstrava no seu atuar
era de tal ordem que ultrapassava o seu horário regular de
trabalho.
Apesar de desligado atualmente destas funções, por escolha própria, e
por idade, continua a dedicar-se como voluntário e mostrando
muito interesse nestes projetos de inserção”. Até aqui a
responsável pelos serviços!
Termino este trabalho descrevendo o testemunho de alguém que deixou escrito no facebook.
“O José Rodrigues vai ser, na próxima segunda-feira, homenageado pela
Câmara da cidade de Neuss, na Alemanha, com o prémio de
integração „Integrationsförderpreis „ Esta condecoração serve
para reconhecer o grande contributo deste português na área das
integrações dos povos e das culturas nesta cidade germânica, na
Renânia do Norte e Vestefália. Destaca-se que José Rodrigues foi ao
longo dos anos Assistente Social da Caritas. Ultimamente,
deslocou-se por alguns meses a Moçambique, onde está
envolvido em projetos de promoção social. Sem a mínima dúvida, José
Rodrigues, é na atualidade uma das personalidades da
Comunidade Portuguesa na Alemanha que mais simbolizam um espírito
puro de humanidade. Uma das suas áreas profissionais preferidas
foi o diálogo intercultural a nível religioso. O nosso parabéns e
nosso reconhecimento!“
Perdoe-me
quem me achar ainda suspeito, mas a minha intenção foi e continua a ser
simplesmente a de elevar a comunidade portuguesa e de valorizar as
nossas raízes.
Continuo, e sem estar preso a horários a disponibilizar os meus
serviços como solidariedade humana e crista. O voluntariado dá-me asas
para sonhar num mundo mais justo, onde e ser cristão se traduz, antes de
mais, numa maior responsabilidade na edificação da sociedade, nos
moldes da fé que professo.
Procuro libertar-me do peso dogmático e dum certo espiritualismo
passivo, que me possam afastar do bater do coração do homem da rua que é
meu próximo. O seu passaporte ou a crença religiosa que possam
professar tem pouco ou nenhum peso nas minhas decisões.”
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