Por isso, mais uma vez deixo que Alberto Gonçalves fale por mim.
Um verão português
Para um
país cuja actualidade é tão pateta durante o ano inteiro, seria de esperar que
a silly season portuguesa não se distinguisse das temporadas restantes.
Gloriosamente, distingue-se: o nosso Verão consegue elevar o ridículo a níveis
desconhecidos para cá da Venezuela, onde "um passarinho" acaba de
contar ao Presidente Maduro que Hugo Chávez - o "grande profeta" - se
sente "feliz".
Ele é a
passagem à "clandestinidade revolucionária" do Partido da Nova
Democracia na Madeira, embora que se saiba ninguém, incluindo os cidadãos com
direito de voto, persiga a referida agremiação. Ele é a "praia
urbana" no centro de Lisboa. Ele é a "pipa de massa", o termo
técnico utilizado por Durão Barroso para explicar a próxima vaga de fundos
europeus. Ele é o "génio do Euromilhões" que descobriu que a
multiplicação das apostas aumenta a probabilidade de sucesso e nem assim
arranja 500 euros para ir aos EUA apresentar a boa-nova. E ele é o presidente
de uma Federação Portuguesa de Cicloturismo, que quer os automobilistas a pagar
os acidentes provocados pelos ciclistas (ou apenas os acidentes de autoria
duvidosa, as notícias não são claras).
O caso do
senhor José Caetano merece atenção redobrada. Segundo este repentino herói da
classe operária, quem anda de bicicleta fá-lo por falta de dinheiro para um
carro, um passe social ou, lá está, um vulgar seguro de responsabilidade civil
(cerca de 25 euros, pelas minhas pesquisas). Como é que semelhante desgraçado
foi capaz de comprar uma bicicleta é mistério que me escapa. Mas essa não é a
questão levantada pelo senhor José Caetano. A questão é a necessidade de
constatar com urgência que todos os condutores de automóveis são uns nababos
arrogantes e empenhados em estraçalhar os sucessores de Eddy Merckx que se lhes
atravessem à frente. A questão é a presunção da inocência dos que têm menos, ou
dos que aparentam ter menos.
Razão
tinha Enver Hoxha, que por via das dúvidas pôs os albaneses em peso a pedais.
Na falta de regime tão justo, Portugal debate-se com os ressentimentos
decorrentes da desigualdade, os quais levam o milionário do Hyundai a maltratar
o pobre que sprinta na contramão e, para cúmulo, a exigir o arranjo do
pára-choques. No fundo, é a lengalenga do Brecht, do rio e das margens
revisitada. E é a luta de classes em versão Código da Estrada. Certo, certo é
que as massas se agitam e a revolução não tarda. Só se atrasou um bocadinho
porque de bicicleta as massas demoram a chegar.
"Gays" pela Palestina: a sério?
Três mil
pessoas protestaram junto à embaixada de Israel contra a "ocupação
sionista", o "massacre da Palestina", o "genocídio de
Gaza" e o "estado terrorista" que "mata mulheres e
crianças".
Curioso.
Haverá em Lisboa dezenas de embaixadas de regimes de facto terroristas que
ocupam ilegalmente territórios, praticam massacres e arremedos de genocídio e
assassinam mulheres e crianças. Porém, nunca nenhum desses edifícios é
incomodado com aglomerações de ociosos aos gritos. À primeira vista, ou os
indignados profissionais só se preocupam com as vítimas árabes ou com os
"crimes" israelitas. À segunda vista, fica claro que, como as
matanças de sírios, líbios ou palestinianos "dissidentes" não merecem
um resmungo, o problema é apenas com Israel. Deixo à imaginação, ou às
recorrências da história, a tarefa de perceber porquê.
Mas não
falemos de coisas tristes. Na manifestação em causa, além dos lencinhos fedayin
e geral parafernália típica destas pândegas, exibiu-se pelo menos um sujeito
com a bandeira do arco-íris, marca do "orgulho gay". Não imagino nada
tão peculiar quanto a defesa do Hamas através de um símbolo que o Hamas pune
com prisão, tortura e, quando calha, execução. Já que os indignados
profissionais gostam de comparar a invasão de Gaza ao Holocausto, seria o mesmo
que um apoiante de Hitler ostentar a estrela de David nos comícios do
Deutschlandhalle. Seria, não: é.
1 comentário:
Os beneméritos islamofascistas do Hamas ainda hão-de agradecer aos esquerdistas portugueses gays por estabelecerem excepções no caso. Ainda se há-de ver um carrasco islamita matar um gay (sempre esta palavra rasca...) com cócegas nos...calções.
Lupino
Enviar um comentário