terça-feira, 25 de novembro de 2014

Sócrates e a banalidade do Mal ou A volta do condottieri (2)


Sem título, gravura de Nicolau Saião

  Não nos deixemos equivocar: o caso Sócrates não é fundamentalmente um caso de polícia ou de justiça, mas sim eminentemente e no mais alto e triste grau um caso de política.

  De política especiosa ou, mesmo, especial? Talvez… Mas claramente um caso onde o que emerge é a panorâmica de uma prática política que pelos anos fora - nos lugares expressos em que este sedutor aventureiro político pôde estribar a sua maneira de estar e de fazer estar – foi criando um estilo entre a arrogância, a agressividade e o descaramento demagógico que não só colocaram o País à beira da bancarrota mas, ainda pior, à beira da falência ética e moral.

   Basta termos acompanhado, com algum pormenor, durante o par de anos transactos, os espaços públicos onde a mentalidade do condottieri (pois não é verdadeiramente, nem nunca foi, um líder, mas claramente um condottieri, com toda a carga ideológica e pessoal que essa condição arrastava) extravasava no exemplo dos seus partidários e áulicos, para se entender tudo: a agressividade compulsiva, a arrogância pesporrente, a ausência de ética nos escritos e nos ataques aos oponentes, em suma: a sombra extremamente perceptível de um posicionamento a que poderemos dar a classificação de cripto-fascista típica, jogando no revanchismo, na postergação de uma atitude tolerante, muitas vezes descendo ao enxovalho e à violência verbal desbragada.

  O indivíduo político em causa cifrou na sua figura e no seu estilo tudo o que de pior tem existido no ambiente conceptual da nação. Por isso não admira que tenha sido o chefe sonhado e amado pelos seus asseclas, para quem os antónios josés seguros e os antónios costas não passam de passageiros secundários para a ocupação provisória da barca em que apostavam por não terem outro remédio, mas que os não fazia esquecer do “chefe” real onde se concentravam as suas nostalgias e as suas esperanças de poderem voltar a dominar intangivelmente, mas muito consistentemente, o País que ajudaram a depredar.

  Os elogios e as declarações sistemáticas de reverência ao condottieri, propiciadas pelos seus partidários intransigentes, seduzidos pelo seu carisma de “animal feroz da política” (expressão que traz bem o selo de um discurso cripto-fascista típico, pela brutalidade da frase) não traduz senão a captura por um tipo de prática política contra os interesses do Povo e da nação.

   Não podem portanto os membros do Partido Socialista, que por excesso ou por diferença consentiram no domínio interiorizado da mentalidade e da postura material socrática, virem agora eximir-se a responsabilidades alegando que uma coisa é a política em que se mergulham e, outra, as responsabilidades do foro judicial em que ele – o político que sempre epigrafaram e desculpabilizaram – está metido.

  O caso de Sócrates é directamente dependente de um estilo e uma prática política evidente, muito própria e muito marcada.

   Pretenderem convencer-nos do contrário é apenas uma simulação mais que agora tentam para sacudirem do capote a água pantanosa em que se deixaram ir existindo!

3 comentários:

ora viva disse...

Apoiado!

Anónimo disse...

Quem fala assim não é gago, nem socrático!

Marcos Louro

Anónimo disse...

As declarações de Mário Soares às portas da prisão de Évora terão sido descabeladas, mas se as soubermos ler colheremos algo de proveitoso. Ele disse que o PS estava todo com Sócrates e é simplesmente VERDADE. Falemos claro, o apreciadíssimo ancião disse, na sua exaltação a que alguns chamam senil, o que todos os socialistas no fundo pensam mas por estratégia não se atrevem a dizer: que os socialistas sofrem por não poderem pôr Sócrates em liberdade, seguindo a famosa frase do "Coelhone", "quem se mete com o PS leva!". Embora o disfarcem, todos eles estão do lado do ex-primeiro-ministro, gostariam de o eximir ao próximo julgamento, pois sabem bem que com Sócrates é toda a prática política do PS que vai também ser julgada. Sócrates, tendo eventuais responsabilidades pessoais, é um produto deste PS que se julga dono do destino manifesto de ser o dominador do país. Foram-no durante anos e não querem deixar de o ser. E o resto é conversa.
O ancião interpretou e manifestou a vontade secreta deles todos.

Vicente Nunes