Sem título, gravura de Nicolau Saião
Não nos deixemos equivocar: o caso Sócrates
não é fundamentalmente um caso de polícia ou de justiça, mas sim eminentemente
e no mais alto e triste grau um caso de política.
De política especiosa ou, mesmo, especial?
Talvez… Mas claramente um caso onde o que emerge é a panorâmica de uma prática política
que pelos anos fora - nos lugares expressos em que este sedutor aventureiro
político pôde estribar a sua maneira de estar e de fazer estar – foi criando um
estilo entre a arrogância, a agressividade e o descaramento demagógico que não
só colocaram o País à beira da bancarrota mas, ainda pior, à beira da falência
ética e moral.
Basta termos acompanhado, com algum
pormenor, durante o par de anos transactos, os espaços públicos onde a
mentalidade do condottieri (pois não é verdadeiramente, nem nunca foi, um
líder, mas claramente um condottieri, com toda a carga ideológica e pessoal que
essa condição arrastava) extravasava no exemplo dos seus partidários e áulicos,
para se entender tudo: a agressividade compulsiva, a arrogância pesporrente, a
ausência de ética nos escritos e nos ataques aos oponentes, em suma: a sombra
extremamente perceptível de um posicionamento a que poderemos dar a
classificação de cripto-fascista típica, jogando no revanchismo, na postergação
de uma atitude tolerante, muitas vezes descendo ao enxovalho e à violência
verbal desbragada.
O indivíduo político em causa cifrou na sua
figura e no seu estilo tudo o que de pior tem existido no ambiente conceptual
da nação. Por isso não admira que tenha sido o chefe sonhado e amado pelos seus
asseclas, para quem os antónios josés seguros e os antónios costas não passam
de passageiros secundários para a ocupação provisória da barca em que apostavam
por não terem outro remédio, mas que os não fazia esquecer do “chefe” real onde
se concentravam as suas nostalgias e as suas esperanças de poderem voltar a
dominar intangivelmente, mas muito consistentemente, o País que ajudaram a
depredar.
Os elogios e as declarações sistemáticas de
reverência ao condottieri, propiciadas pelos seus partidários intransigentes,
seduzidos pelo seu carisma de “animal
feroz da política” (expressão que traz bem o selo de um discurso
cripto-fascista típico, pela brutalidade da frase) não traduz senão a captura
por um tipo de prática política contra os interesses do Povo e da nação.
Não podem portanto os membros do Partido
Socialista, que por excesso ou por diferença consentiram no domínio
interiorizado da mentalidade e da postura material socrática, virem agora
eximir-se a responsabilidades alegando que uma coisa é a política em que se
mergulham e, outra, as responsabilidades do foro judicial em que ele – o
político que sempre epigrafaram e desculpabilizaram – está metido.
O caso de Sócrates é directamente dependente
de um estilo e uma prática política evidente, muito própria e muito marcada.
Pretenderem convencer-nos do contrário é
apenas uma simulação mais que agora tentam para sacudirem do capote a água
pantanosa em que se deixaram ir existindo!
3 comentários:
Apoiado!
Quem fala assim não é gago, nem socrático!
Marcos Louro
As declarações de Mário Soares às portas da prisão de Évora terão sido descabeladas, mas se as soubermos ler colheremos algo de proveitoso. Ele disse que o PS estava todo com Sócrates e é simplesmente VERDADE. Falemos claro, o apreciadíssimo ancião disse, na sua exaltação a que alguns chamam senil, o que todos os socialistas no fundo pensam mas por estratégia não se atrevem a dizer: que os socialistas sofrem por não poderem pôr Sócrates em liberdade, seguindo a famosa frase do "Coelhone", "quem se mete com o PS leva!". Embora o disfarcem, todos eles estão do lado do ex-primeiro-ministro, gostariam de o eximir ao próximo julgamento, pois sabem bem que com Sócrates é toda a prática política do PS que vai também ser julgada. Sócrates, tendo eventuais responsabilidades pessoais, é um produto deste PS que se julga dono do destino manifesto de ser o dominador do país. Foram-no durante anos e não querem deixar de o ser. E o resto é conversa.
O ancião interpretou e manifestou a vontade secreta deles todos.
Vicente Nunes
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