A misoginia do islã deveria ser coisa
tão evidente quanto uma mulher de burca numa praia de nudismo. De fato, a
misoginia do islã é tão evidente quanto uma mulher de burca numa praia de
nudismo. Mas quando os fatos contrariam as ideologias, as ideologias dispensam
os fatos “ideologicamente incorretos”.
Uma ideologia, como uma religião, é
uma forma seletiva de ilusão, ou uma perda voluntária da lucidez – mecanismo
necessário para se crer nas coisas mais inacreditáveis, como virgens parindo
deuses em forma humana, depois de inseminadas pelo próprio Criador do Universo.
Dito assim, parece o resumo de um enredo de história em quadrinhos, mas é um
resumo da teologia cristã. Não vai aqui nenhum anticristianismo particular: as
religiões – como as ideologias – são ecumenicamente equidistantes da lucidez. Isso desloca os consagrados
termos do velho antagonismo entre razão e fé. A fé pode utilizar e utiliza
instrumentos racionais, ao lado dos irracionais, para se estruturar e defender
seus argumentos; mas, sinônimo de crença, ela é verdadeiramente incompatível
com a lucidez: mitos religiosos e modelos ideológicos são inverossímeis, ou
seja, dessemelhantes à realidade, enquanto a lucidez é a capacidade de
separar os fatos das fantasias.
Tudo isso para dizer que a misoginia
do islã só pode ser desevidenciada por força da falta de lucidez, ou seja, da
fantasia e da ilusão. E não me refiro aqui aos muçulmanos (que, aliás, não negam sua
misoginia, mas a defendem por inúmeros argumentos, apesar de lhe recusar seu
nome), mas aos ocidentais mais ou menos influenciados pela ideologia hoje
francamente disseminada do “politicamente correto” – que prefiro chamar do “culturalmente
correto”. Não é culturalmente correto reconhecer a misoginia como traço
dominante do islã. Portanto, o islã não é predominantemente misógino.
O que
parece, então, evidentemente misógino no islã deve ser “interpretado”, “circunstancializado”,
“relativizado”. O mesmo, obviamente, poderia ser dito de toda forma de preconceito,
incluindo o racial e o antissemita. Mas ideologias são seletivas. Hoje, importa
“relativizar”, “circunstancializar”, “interpretar” os mais evidentes e
evidentemente mais feios traços dominantes do islã, como a misoginia – ao mesmo
tempo em que, para garantir a ocupação do campo de debates, tenta-se lançar à lona os resistentes, sob a pecha sem meias medidas da “islamofobia”.
Mas se a crítica ao islã é sinônimo automático de “islamofobia” apenas na cabeça
apequenada dos “culturalmente corretos”, o islã é larga e profundamente misógino na
mais crua realidade dos fatos.
É, portanto, natural que a beleza
feminina seja incompatível com os “valores islâmicos”. O islã convive melhor
com a feiura. Ao se encobrir ou se esconder (dentro das casas) as
mulheres, o que se esconde e se encobre é, além da mulher, a possibilidade da
beleza feminina.
Frequentemente são notificados
episódios que desvelam tais fatos, mas eles logo afundam no raso e revolto mar
de informações diuturnas. Desta vez, antes que afunde, tento manter um desses
inacreditáveis episódios à tona um pouco mais.
VEREADORA É IMPEDIDA DE ASSUMIR CARGO NO IRÃ POR SER 'BONITA DEMAIS'
Uma jovem candidata a vereadora
no interior do Irã foi impedida de assumir o cargo por ser "bonita
demais", segundo a imprensa local.
Candidata em Qazvin (norte), Nina
Siahkali Moradi, 27, obteve 10 mil votos na eleição ocorrida junto com o pleito
presidencial, em junho.
O resultado a colocou na 14ª
posição num ranking que qualificava os 13 primeiros entre 163 candidatos.
Com a desistência do primeiro
colocado, Moradi entrou na lista dos vencedores. Mas conservadores barraram sua
ida à prefeitura.
"Seus votos foram anulados
por [causa de] suas credenciais", disse Reza Hossaini, do comitê local de
monitoramento de eleições.
"Não queremos uma modelo
desfilando na prefeitura", disse um clérigo local.
Seus adversários já a haviam
acusado de manter um comitê de campanha que atraía comportamentos incompatíveis
com valores islâmicos.
Moradi conquistou apoio ao defender direitos da mulher e incentivos culturais.
Moradi conquistou apoio ao defender direitos da mulher e incentivos culturais.
A falta seletiva de lucidez imposta por toda crença
para poder ser mentalmente absorvida por seu seguidor (por exemplo, todo muçulmano
acredita que Maomé subiu ao céu montado num burrico mágico), se afeta, digamos,
a “visão mental” da realidade, não afeta a visão em si, como este mesmo caso demonstra.
Não há como discordar da acuidade
visual dessas autoridades islâmicas quanto ao fato de Nina Moradi ser uma mulher
bastante bonita (ainda que eu discorde de ela ser "bonita demais"; não por ser bela de menos, mas porque não creio que qualquer beleza possa ser excessiva). Porém minha concordância com tais autoridades começa e termina aí: é impossível palatar uma religião que teme a beleza,
ou as pretensões “democráticas” de um regime e de uma ideologia (o islã
político) capazes de usar a beleza para impugnar, repugnantemente, uma eleição
e uma eleita (sou míope, mas votaria na srta. Moradi de olhos fechados; refiro-me, claro, ao último parágrafo da notícia em questão).
PS. Naturalmente, muito mais séria e muito mais feia é a face do que acontece agora no Egito. Mas se a matança promovida pelo exército não pode ser defendida, a repressão política à Irmandade Muçulmana (que aliás chegou ao poder em aliança com os salafistas, os mais fascistas entre os fascistas islâmicos) não pode ser evitada, ao menos segundo a demanda da população egípcia, que saiu às ruas aos milhões pedindo a deposição do governo Morsi, afinal realizada pelo exército. Entre outras coisas, porque a Irmandade Muçulmana ignora os principais preceitos da democracia, como a defesa das minorias. O fato de Morsi ter sido eleito com 65% dos votos não lhe facultava o direito de tentar implantar um regime de viés totalitarista, impondo à totalidade da sociedade egípcia seus preceitos islamizadores. Por isso ele foi derrubado, não por qualquer antidemocratismo irredimível do exército. Irredimivelmente antidemocrático é o islã político. Na confusão e na estultícia de se tentar reduzir democracia a rito eleitoral, e portanto pretender que qualquer partido, ideologia ou governo é automática e necessariamente democrático por ter conquistado maioria numa dada eleição, pode-se, eventualmente, eleger mesmo alguém chamado Adolf Alois Hitler. Um governo não é democrático porque eleito democraticamente, mas porque, além disso, governa de modo democrático. Nenhum governo islâmico jamais passou por este teste (incluindo o famoso “caso turco”, em que Erdogan apenas foi mais hábil em enganar mais pessoas por mais tempo).
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