A propósito das centenas de pessoas que obedeceram, perdão!, responderam à convocatória da CGTP e se encontravam, há pouco, em frente ao Palácio de Belém, reproduzo aqui esta crónica de Alberto Gonçalves, publicada no DN do passado domingo:
No
entendimento dos sindicatos, cada greve geral é sempre a maior de sempre, o que
se por um lado significa que as anteriores eram comparativamente pelintras, por
outro pretende significar que a capacidade de mobilização da CGTP nunca esteve
tão viçosa. A greve de quinta-feira parece ter sido a excepção: já antes
Arménio Carlos previa apenas "uma grande adesão"; depois, confessou
que não passara de "uma grande greve", enquanto recusava mencionar
números e implicitamente admitia o fracasso. Mesmo nas fantasias que os amigos
do sr. Arménio costumam elaborar, é certo que esta não foi a maior greve de
sempre. Em compensação, as manifestações com que se entretêm os grevistas foram
sem dúvida das mais ridículas.
Após o
pífio ajuntamento promovido pela central sindical à porta da Assembleia da
República, susceptível de envergonhar qualquer animador de massas grego ou
brasileiro, duzentas e vinte e seis insatisfeitas alminhas, algumas menores de
idade, decidiram apimentar o protesto. Vai daí, rumaram às Amoreiras e, em
sinal de desafio aos senhores da troika, tentaram interromper o acesso à Ponte
25 de Abril. Dado ser altamente improvável que o sr. Selassie circulasse por
Alcântara àquela hora, os prejudicados com a proeza resumiam-se aos desgraçados
que, por falta de consciência de classe ou excesso de sensatez, ocuparam o dia
a trabalhar e regressavam a casa à tardinha. Não constituiu, portanto, surpresa
que a polícia recordasse aos intrépidos activistas o facto de ainda habitarmos
um arremedo de Estado de direito e detivesse o bando para identificação.
Naturalmente, a polícia errou.
Errou
porque acreditou tratar-se de um conjunto de criminosos inflexíveis. No máximo,
tratava-se do popular agrupamento Precários Inflexíveis. No mínimo, tratava-se
de criminosos mariquinhas, que mal se viram rodeados pela autoridade desataram
a pedir água e idas ao WC. Valeu a brevidade da detenção, ou os valentes
acabariam a exigir limonada, bolachinhas e a visita dos papás.
Valha-me
Deus: são estes os nossos indignados? Quem, em democracia, se dispõe prejudicar
terceiros deve aceitar que os terceiros, ou os seus representantes, no caso a
polícia, também os prejudique. Por outras palavras, quem se prepara para dar
tem de estar preparado para levar. Com dignidade e sem lamúrias. Já é
embaraçoso ver os insurgentes que, no Brasil, lançam cocktails Molotov num
instante para no instante seguinte gritarem "Ai, meu Deus" sob o
bastão das forças ao serviço da amável comunista Dilma Nãoseiquantos. Porém,
roça o surrealismo que os insurgentes caseiros corram a queixar-se aos media da
brutalidade policial quando a brutalidade em causa consistiu na falta de um
serviço de catering e sanitários. Parecem, e se calhar eram, crianças, donde um
conselho: cresçam e apareçam. Ou, de preferência, desapareçam.
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