sábado, 6 de julho de 2013

"A manifesta parvoíce"





A propósito das centenas de pessoas que obedeceram, perdão!, responderam à convocatória da CGTP e se encontravam, há pouco, em frente ao Palácio de Belém, reproduzo aqui esta crónica de Alberto Gonçalves, publicada no DN do passado domingo:


No entendimento dos sindicatos, cada greve geral é sempre a maior de sempre, o que se por um lado significa que as anteriores eram comparativamente pelintras, por outro pretende significar que a capacidade de mobilização da CGTP nunca esteve tão viçosa. A greve de quinta-feira parece ter sido a excepção: já antes Arménio Carlos previa apenas "uma grande adesão"; depois, confessou que não passara de "uma grande greve", enquanto recusava mencionar números e implicitamente admitia o fracasso. Mesmo nas fantasias que os amigos do sr. Arménio costumam elaborar, é certo que esta não foi a maior greve de sempre. Em compensação, as manifestações com que se entretêm os grevistas foram sem dúvida das mais ridículas.

Após o pífio ajuntamento promovido pela central sindical à porta da Assembleia da República, susceptível de envergonhar qualquer animador de massas grego ou brasileiro, duzentas e vinte e seis insatisfeitas alminhas, algumas menores de idade, decidiram apimentar o protesto. Vai daí, rumaram às Amoreiras e, em sinal de desafio aos senhores da troika, tentaram interromper o acesso à Ponte 25 de Abril. Dado ser altamente improvável que o sr. Selassie circulasse por Alcântara àquela hora, os prejudicados com a proeza resumiam-se aos desgraçados que, por falta de consciência de classe ou excesso de sensatez, ocuparam o dia a trabalhar e regressavam a casa à tardinha. Não constituiu, portanto, surpresa que a polícia recordasse aos intrépidos activistas o facto de ainda habitarmos um arremedo de Estado de direito e detivesse o bando para identificação. Naturalmente, a polícia errou.

Errou porque acreditou tratar-se de um conjunto de criminosos inflexíveis. No máximo, tratava-se do popular agrupamento Precários Inflexíveis. No mínimo, tratava-se de criminosos mariquinhas, que mal se viram rodeados pela autoridade desataram a pedir água e idas ao WC. Valeu a brevidade da detenção, ou os valentes acabariam a exigir limonada, bolachinhas e a visita dos papás.


Valha-me Deus: são estes os nossos indignados? Quem, em democracia, se dispõe prejudicar terceiros deve aceitar que os terceiros, ou os seus representantes, no caso a polícia, também os prejudique. Por outras palavras, quem se prepara para dar tem de estar preparado para levar. Com dignidade e sem lamúrias. Já é embaraçoso ver os insurgentes que, no Brasil, lançam cocktails Molotov num instante para no instante seguinte gritarem "Ai, meu Deus" sob o bastão das forças ao serviço da amável comunista Dilma Nãoseiquantos. Porém, roça o surrealismo que os insurgentes caseiros corram a queixar-se aos media da brutalidade policial quando a brutalidade em causa consistiu na falta de um serviço de catering e sanitários. Parecem, e se calhar eram, crianças, donde um conselho: cresçam e apareçam. Ou, de preferência, desapareçam.

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