sábado, 5 de julho de 2014

Rui Tovar por Nuno Rebocho





Recordando um amigo – Rui Tovar


Há anos que o não via nem com ele falava, mas tinha por ele uma longa amizade – desde que, em 1974, pouco antes da revolução, o conheci na redacção do velho “República”, onde então trabalhava, como revisora, a minha mulher. Desde essa época aprendi a respeitar o bom Rui Tovar e manter com ele amizade enquanto a vida o ia atirando de redacção para redacção, tantas vezes ao sabor das ondas do amor pela liberdade e democracia que nos unia – o antigo “Século”, o “Dia”, as bancas da “Rádio Comercial”.

Morreu o Rui Tovar. Ele, que abominava colocar-se em bicos de pés, foi notícia em todos os jornais e poderia ter falecido com a consolação de que até aqueles que o criticavam e ferozmente o perseguiram, afinal, o admiravam… até quando o procuravam isolar. Vamos descobrindo tais coisas à medida que envelhecemos.


Algumas vezes o visitei. Com alguma constância quando nos uniu a mesma revolta contra a extinção da ANOP (de boa memória) ou quando eu buscava colaborações para o “Novo Observador”, onde fui subchefe de redacção, ou o Carlos Plantier mo invocava nas mesas do “Jornal Novo” e, depois, de “A Tarde”. Tive então oportunidade de conhecer de perto as suas capacidades como jornalista, dos melhores, sempre amplamente informado do assunto que, como poucos, dominava – o desporto.


Foi com indignação que assisti à perseguição que os sicofantas (que hoje vejo chorarem “lágrimas de crocodilo”) lhe moveram. Tentaram arrasá-lo e hoje incensam-no. Muitas vezes por motivos politiqueiros (porque o Rui não se vendia nem se bandeava e sempre recusou os acenos dos inimigos da liberdade e rechaçou qualquer forma de censura), tantas vezes por ciúme ou inveja: a verdade é que quantos o amesquinhavam pouco ou nada valiam.


Custa-me este comportamento de “duas caras” que se tornou hábito de muita gente. Bem sei que “todos os mortos são bons”, sobretudo porque já não pode directamente denunciar as infâmias. Todavia, o dever da amizade, do respeito e solidariedade que, para com ele, tinha impele-me a condenar veementemente a reles hipocrisia de certos sabujos que, infelizmente, cada vez mais encharcam os meios de Comunicação Social.


Nuno Rebocho 

Luís Morgadinho, No país dos lambe-botas
(imagem recolhida aqui)

4 comentários:

Anónimo disse...

Nono Rebocho sempre se distinguiu pela sua frontalidade, já nos jornais onde escreveu já na Antena 2 onde depois esteve na direção de informação. A sua dignidade e inteireza vinga-nos da existencia de tanto horizontal nas ondas da medíocre rádio nacional que temos e que é hoje uma vergonha se a compararmos com a rádio espanhola para não irmos mais longe. Cá é futebol e politiquice e, um truque de hoje, entrevistas com músicos e mais nada pois só o que nos dão é música.

Mário de Andrade

ora viva disse...

Mário de Andrade:

O meu amigo é um optimista ou um visionário. Porque eu cá não ouço música nenhuma nem músico nenhum, mas uma mediocridade confrangedora aos berros em feira de vaidade, ignorância e falta de um mínimo de cultura. Um nojo.

Manuel Graça disse...

Tenho estar a ler um dos livros de Artur Agostinho onde parece ficar claro que a encenação do julgamento dos PIDEs foi montada para esconder que estavam, entretanto, a trabalhar para o PCP. Não surpreende que Agostinho e Tovar tenham andado permanentemente em bolandas.

Manuel Graça disse...

http://www.conversasdabola.com/2011/03/artur-agostinho-rui-tovar.html