quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Medina Carreira «Se Governo não tem autoridade deve sair»


Medina Carreira (MC) vê bem o filme mas escapam-lhe enquadramentos que ele detecta nuns casos e noutros não. De resto, concordo com ele.

MC diz que a subtracção de rendimentos via impostos não permite sustentar a procura. O que ele diz é verdade, deixemos para depois se a coisa seria ou não evitável. Entretanto MC defende que o nº de funcionários do Estado seja substancialmente reduzido mas, a menos que deixem de receber qualquer espécie de rendimento, nada o Estado pouparia e, neste caso, a procura de consumo seria igualmente afectada.

MC refere que o Governo não pode deitar mãos a impostos para desviar para as PPPs e haverá que chamar os concessionários e declarar-lhes que o Estado está falido e .... Eu parece-me que do ponto de vista da jurisprudência, o Estado não pode falir. Tenho muito pena se não se conseguir despachar ao galheiro as PPPs e o negócio ruinoso das eólicas e afins mas, pelo andar da carruagem, ou há uma revisão constitucional qualquer (e mesmo assim não sei que diriam instâncias do direito internacional) ou o TC se convence que, de facto, Portugal tem a soberania mo prego e com ele a soberania do TC, ou a coisa está encravada.

MC refere que um governo que tem maioria não deve ter medo. O governo tem medo dos que o elegeram porque sabe que o conhecimento de causa do eleitor é quase nulo. Esta luta para que Portugal não caia no abismo tem a desvantagem de esconder a dura realidade e a percepção do que está, de facto, em causa. A população em geral não percebe que o estado está, de facto, falido e bem falido. É uma desgraça que assim seja, mas o Portugal é uma desgraça.

MC tem razão quando ao secretismo das PPPs inclusive por haver demasiada gene com as mãos no caldeiro, mas há a hipótese (optimista) de que isso esteja a ser usado como forma de pressão sobre os gangs das PPPs e eólicas. Não sabemos ainda que ramificações internacionais há nisto tudo, particularmente entre os nossos credores.

É verdade que o governo não sabe comunicar (já passou a fase em que se podia dar ao luxo do silêncio), particularmente não sabe falar grosso.

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A nossa dívida externa é de 500.000 milhões de euros, a "grande" medida de apoio económico aprovada pelo Tribunal Constitucional alemão para ajuda à Grécia, à Itália, a Portugal e a Espanha (pelo menos) é de 190.000 milhões de euros.

Leitura complementar: "Pelos disparates que fizemos, até estamos a pagar barato

2 comentários:

José Gonsalo disse...

"MC refere que um governo que tem maioria não deve ter medo. O governo tem medo dos que o elegeram porque sabe que o conhecimento de causa do eleitor é quase nulo."

Eu diria: o conhecimento e sequer a vontade de conhecer - essa é a raiz do problema.

Esse medo, porém, é um medo interposto. Porque o drama deste governo e do país em geral é que, além da ignorância e do chicospertismo culturalmente enraizado, é que Portugal é um campo de luta de mafias saloias e, neste sentido, ingovernável.
Mesmo um ditador como Salazar só se aguentou no poder pelo extraordinário jogo de cintura que fez entre elas, pondo-as umas contra as outras. As mafias de hoje, porém, são ainda mais numerosas e diversificadas - embora se mantenham impenitentemente saloias. E este governo ou qualquer governo de um regime democrático num país com estas características será tanto mais depressa apeado por essas mafias quanto mais honesto procurar ser e quanto mais a direito pretender cortar. O fiscalista Tiago Guerreiro disse-o, sem papas na língua, na SIC, anteontem e o próprio Medina Carreira o diz também neste "Olhos nos olhos".

Joaquim Simões disse...

É... A falta de honestidade sufoca por estrangulamento este país.
Anteontem, a sra. (chamemos-lhe assim) deputada Heloísa Apolónia vociferava: "Se o governo tivesse vergonha, demitia-se!".
Ela! Deputada, desde há quase duas décadas de um partido que nunca existiu, inventado por outro partido em 1980!