terça-feira, 25 de setembro de 2012

No Fio da Navalha

N'O Insurgente (bold meus):
Quando a democracia falha
De acordo com uma sondagem da Universidade Católica, 87% dos portugueses dizem-se desiludidos com a democracia. Sentimos que se falhou na democracia quando se permite que mais de metade do que auferimos com o nosso trabalho vá para um Estado que está falido.

O Estado não tem dinheiro. Mas se ninguém quer pagar mais impostos, poucos querem que o Estado deixe de sustentar empresas, fundações, institutos, ensino gratuito para quem o poderia pagar, empregos que não são precisos para nada e subsídios culturais de retorno nulo. O Estado não tem dinheiro, mas a maioria não deixa que se mexa em nada, porque isso seria desestruturar o Estado que, dessa forma, está a desestruturar a economia.

São poucos os que não esperam receber o quer que seja do Estado, nem querem viver na dependência da sua generosidade. A grande maioria prefere contribuir para o bem comum, recebendo o seu quinhão. Dessa forma, caímos numa armadilha: instituímos uma democracia que favorece uma maioria sedenta de favores públicos e desprotegemos os indivíduos, vistos como egoístas e insensíveis. Agora, a maioria massificada virou-se contra a maioria de nós, quando individualmente considerados. Como pessoas, sentimo-nos desprotegidos e frágeis perante o poder cego do Estado, quando a maioria que recebe conhece agora o preço individual da factura. A democracia, se falhou, foi porque negligenciámos a liberdade individual e deixámos os cidadãos sós contra uma maioria que ninguém controla.

3 comentários:

Anónimo disse...

Post explícito. No entanto, não tira a conclusão óbvia e nuclear, que a meu ver é esta: as pessoas querem e é humano quererem, o seu bem, ou mesmo bem-estar. O grande e cínico truque, a jogada nefanda, consiste nisto: os asseclas, a maior e "social" parte, dos asseclas do Estado, para poderem "remexer na lama" terem por manipulação diversa, convencido as pessoas que eles eram o garante desse bem-estar. Nos países mais avançados, quer na industrialização quer na socialização personalista, isso tem sido possível por haver um Sistema de Direito que exerce um certo controlo ético-legal. Mas em Portugal, por exemplo, que tradicionalmente tem tido uma classe dominante e um sistema judicial oportunista e mesmo irregular, como ontem mesmo num programa excelente da RDP 2 "Questões de Moral", Joel Costa demonstrou perfeitamente, tal desiderato foi apenas retórica falsa através dos anos.E até criminal!
Ou seja: andaram durante anos, habilidosa e cinicamente, a falar ao povo em democracia e "estado social", para melhor lhe passarem a mão p'lo pêlo...E agora o povo, sem ver muito bem "la petite chose", pega-lhes na palavra e exige que levem à prática o que prometeram ardilosa e chulamente.
Por isso as pessoas dizem"devolvam-me a minha vida"...O Estado, mentiroso e relapso, meteu-se e meteu-nos numa camisa de onze varas! Solução? Tenho uma: leiam pf o meu texto "O crime e a sociedade", em linha na AGULHA e no TRIPLOV e talvez lá achem uma pista útil para sairmos do vespeiro. Este que é ainda pequenino em vista ao que pode vir aí!
Um abraço a todos e, apesar de tudo, viva Portugal!

ns

Manuel Graça disse...

NS:

"as pessoas querem e é humano quererem, o seu bem, ou mesmo bem-estar."

Estou perfeitamente de acordo.

"para poderem "remexer na lama" terem por manipulação diversa, convencido as pessoas que eles eram o garante desse bem-estar."

De acordo.

"Nos países mais avançados, quer na industrialização quer na socialização personalista, isso tem sido possível por haver um Sistema de Direito que exerce um certo controlo ético-legal."

Talvez.

"E agora o povo, sem ver muito bem "la petite chose", pega-lhes na palavra e exige que levem à prática o que prometeram ardilosa e chulamente"

Mas porque insiste o povo em acreditar sistematicamente naqueles que o deixam entalado e representam defuntos regimes que dizimaram em menos de 100 anos mais de uma centena de milhões de pessoas?

E, segundo busilis, quem é o gajo com dois dedos de testa e honesto disposto a meter-se neste saco de gatos?

A democracia tem vantagens e desvantagens. Quanto às últimas, uma delas é co-responsabilizar o votante pelas consequências da sua decisão. Neste caso, parece-me (oxalá esteja enganado) que a coisa vai acabar mal. A malta pede a devolução da vida que tinha e vai ver-lhe devolvida a vida que tinha em 1925.

Vou 'buscar' o TRIPLOV.

Anónimo disse...

Mano e amigo Graça: creio que o texto que lhe sugeri, no TriploV (para quem ainda o desconheça, é neste momento a maior página cultural e de crítica lusa, atingindo os 200 mil leitores, não é "gralha", em certos meses,e totalmente ausente de censura, pelo que vale a pena publicarmo-nos nele), esclarece certas interrogações que aqui mt bem levanta. E eu concretizo já alguns pontos: os mecanismos estabelecidos pela administração, que só aparentemente são/foram democráticos, criaram um melting pot que as pessoas têm muita dificuldade em ultrapassar devido à chamada "bourrage de crâne", que inclui acções programadas e bem reais de "forças vivas" que usam sagazmente constrangimentos psico-sociais diversos. Jogando com medos atávicos, mídias orientados (tv, rádios, jornais, agora net)incapacidades formais e societárias, etc. E, num povo que pelo menos desde João VI, como o nosso Gonsalo diz perspicazmente, é alvo da miséria, da opressão fideísta e estatal, isso cria um ambiente muito pouco favorável aos tais 2 dedos de testa de que muito bem fala.
Churchill, que o meu Pai ainda teve ensejo de conhecer (e por isso me deu apetite para eu ser um leitor e um grande apreciador do "velho leão"), dizia com o seu aceradíssimo senso de humor que "usarmos bem a democracia é muitíssimo fácil: basta sermos tão inteligentes como Lord Beaconsfield e tão sensatos como o seu criado de quarto". E ainda, para confirmarmos com humor negro: "Chama-se política à arte de NÃO se tratar dos assuntos que interessam ao cidadão". O enorme problema que se põe às "sociedades criminais", tais como as descrevo naquele meu texto,e Portugal é uma delas, é que o sistema judicial não existe enquanto entidade moderadora e agregadora. E é esse o cancro que está a destruir Portugal como nação, que já feriu de morte a Democracia eventual em que se tem vivido e, a não ser "curado" e muito depressa, levará inevitavelmente à guerra civil ou a uma ditadura, que nem por ser momentânea por inviável será menos cruel. Digo, repito aqui de novo e mais uma vez: "O sistema judicial luso, que é um verdadeiro empório de que se servem os quadrilheiros legais portugueses, é o cancro que está a destruir a democracia possível". Tenhamos esperança de que os mais altos magistrados da Nação abram os olhos, de contrário esta Pátria acabará no sangue e no ranger de dentes. Ou na emigração macissa e total...para os que tiverem sorte!
ns