sábado, 15 de setembro de 2012

Os ricos

É sobre os ricos que, em Portugal, se afiam, qual fio de catana, os mais finos ataques. E qual o motivo de tão viperina cacetada? Não há trabalho, não há dinheiro, há demasiada corrupção, demasiada gente pendurada directamente e indirectamente do Estado e, consequentemente, do contribuinte e demasiado poucas perspectivas de não ser assim, e os ricos têm dinheiro e, tendo-o, podem tapar o buraco.

As manifestações que têm ocorrido lembram as das "primaveras árabes". No médio oriente pedia-se liberdade mas acabou-se em regimes ainda mais duramente teocráticos. Nunca foi pedida a separação estado, igreja e justiça nem direito à livre informação e expressão nem à livre iniciativa. Feitas as contas, pedia-se dinheiro. Mais dinheiro sem se pretender saber de onde iria ele sair. Em Portugal reclama-se por mais dinheiro mas ninguém reclama que mais empresas apareçam instaladas nem que sejam removidos os obstáculos à instalação de empresas (não penduradas no Estado).

Em Portugal, 90% das empresas são minúsculas ou pequeninas, e nelas trabalha a maioria das pessoas. Nesta perspectiva, estas empresas dificilmente poderão ter a pedalada necessária para ir além do baixo salário porque o trabalho é essencialmente manual em consequência de curto investimento. Digamos, que os donos destas empresas são, em termos de 'rico', pelintras.

E os ricos, os realmente ricos?

Para os ricos, muito ricos, ter dinheiro ou 10 fábricas cheias da mais requintada tecnologia é indiferente desde que não brinquem com o dinheiro deles, como quem diz, não atentem contra o património seja em dinheiro seja em maquinaria. Para eles, destruir uma máquina que custa milhões de euros é tão grave quanto rapar-lhes igual quantia em impostos. Para eles o dinheiro (como para o pequeno empresário) não tem o mesmo significado que para o comum cidadão. Para eles o dinheiro é uma mercadoria que tão depressa existe sob a forma de uma maquina como em depósito num banco.

Portugal está de tanga e sobrevive sem fome generalizada e desemprego a raiar os 60-80% apenas porque uma tal troika, tendo tomado as rédeas dos destinos do país num velado e esquisito golpe de estado não apenas consentido como de nossa iniciativa (o que tem que ser tem muita força), obriga Portugal a fazer o mínimo que se impõe deixando escorrer uma quantos milhões para que o que se impõe posa ser executado com algum sossego. Já agora, reclamar insistentemente pela constituição de Portugal nas condições reais de distribuição de poder é, no mínimo, caricato.

Voltando às manifestações, ninguém pede ao governo que remova as encrencas burocráticas,a inoperância dos tribunais, as diatribes do fisco, etc, que assustam os ricos e que impedem que eles aqui invistam. Ninguém pede, também, que o ensino deixe de dar aos alunos 'assim umas quantas noções giras e pós modernas do que deve ser o mundo' e passe a ensinar matéria, pura e dura para que conveniente resposta possa ser dada a quem se apresentar como investidor. Ninguém exige que sejam sistematicamente tornados públicos todos os contratos assinados pelo estado (pelo menos a partir de determinado valor).

Até lá, convém não esquecer a resposta de uma aluno à razão por que os seres vivos precisam comer: "porque se não comerem só subsistem empalhados". As manifestações parecem respostas de bicho empalhado.