A grande
delícia, que é também a grande aventura de leitores encartados, é apanharem-se
belos livros ao preço da uva mijona.
Nem
precisam de ser primeiras edições, que isso é apenas um quitute mais neste
esforço glorioso de se mercarem, mediante quantias modestas, exemplares que nos
saciem esta paixão relativamente douda de se terem obras amoráveis de autores
que sabem como se ergue um mundo muito próprio e que nos verdadeiros casos de
alto talento ou de génio não precisam de encómios dos habituais fogueteiros da
crítica que se esfalfam para fazer fins de meses ou de se auto-elevarem através
das qualidades dos outros.
Creio que me
faço entender. Ou seja, já me perceberam na perfeição...
E não falo
desses livros produzidos por cavalheiros/as que os obraram para uma dúzia de
anos de imortalidade (ou mais ou menos), mas de obras realmente poderosas,
suscitadoras e únicas, onde se sente o frémito que Samuel Pepys dizia exalar-se
das obras-primas.
Eu, com os
livros recebedores de Nobel, tenho tido experiências muito positivas.
Pecuniariamente falando.
Sabem como faço? Como é o meu procedimento ?
Pois é simples!
Tenho calma. Aguardo pacientemente como o chinês da
estorinha exemplar.
Sento-me, salvo seja, aos portões dos espaços de
leilões. Vou fumando uns cigarritos, deitando a terra umas cervejolas, olhando
a paisagem ensolarada ou contemplando o vasto céu nocturno. E enquanto trato da
saúde a umas bejecas e despacho uns paivantes, sinto-me assim como aquele filósofo
que contemplava o imutável mundo com um sorriso nos lábios.
Fico nisto
uns três quatro meses.
E a pouco e
pouco ei-los que começam a chegar: uns bem estimadinhos, outros com algumas
dobritas, uns vincos de cansaço – que, todavia, não lhe afectam o miolo…a
substância folhosa.
Passada a
novidade – engordada no anúncio na santa tv ou no florete do conspícuo jornal
literário cá da s’nhora pátria – degustada a novidade (salvas as naturais
excepções dos mangas que os lêem a valer e os guardam por real amor à escrita),
os tomos, como guerreiros que já cumpriram o seu dever, entram nesse limbo que
são os interactivos espaços de leilões, com os seus “licitação, tanto” e
“compre já, tanto”.
E como um guerreiro comanche ou um zulu, ali
estou eu (como outros da mesma bitola) à espreita.
Em suma:
da malta nobelizada (com excepção da saramagal figura, que dessa qu’é que
querem, não gasto) tenho apanhado quase tudo.
Daí que, para esta excelente Alice Munro deste
ano, me pareça que lá para fevereiro março irá cantar nas minhas estantes, na
minha banca-de-cabeceira, uma resmazita mui aprazível. Mercada a preçozinho
convidativo.
Como os pescadores
e os caçadores de tocaia, já aprontei o meu espingardum simbólico.
Alice,
grande senhora canadiana habitante desses lugares que me foram tão acolhedores
nas duas vezes que visitei o Ontário, cá a espero no fim do Inverno ou no
começo da Primavera.
Evohé!
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