Nicolau Saião, O monarca
No diário Destak de ontem, José Luís Seixas, através da sua coluna de
opinião, escreve o que se segue sobre o indivíduo que – perdida toda a contenção
e num arroubo de insensato rancor por ter sido defenestrado do poder pelo povo
que claramente despreza – numa entrevista ao Expresso, deu em côncavo e em
convexo o seu perfil e o seu carácter de ex-político e de despejado por extenso.
Aqui fica o texto, curto mas notável e
corajoso a mais dum título.
“COLUNA VERTICAL
O glossário de Sócrates
Ao longo do seu percurso político, Sócrates sempre transmitiu a
imagem de um narciso empertigado e prepotente. O verniz foi estalando de quando
em vez, como naquele abraço a Barroso, exclamando “porreiro, pá!”. Ou na
expressão de incontido desprezo que marcou os debates parlamentares da época ao
invetivar, salvo erro, Louçã, com um «a tua Tia!». Admito que possa ter sido «a
tua Mãe», mas a minha recordação aponta mais para a colateral.
A entrevista da personagem ao Expresso é uma verdadeira pérola
digna de arquivo para memória futura, não vá o diabo tecê-las. A pretexto de um
«Sócrates íntimo», dedilhou qualificativos depreciativos sobre tudo e sobre
todos, à exceção, claro está, dele próprio. Usou, com eloquência e supina
elegância, o calão mais depurado que se tem lido em jornais supostamente de
referência. Se um dos seus opositores é «um merdas», toda a direita já é «uma
cambada de filhos da mãe» que, curiosamente, aspirava tê-lo por líder. Há um
alemão que é um «estupor», ademais de partilhar o conceito anteriormente
referido de filho da progenitora. «Canalhas» e «pulhas» são referidos a eito,
embora com o seu – dele – critério. O resto são «tipos» e «gajos», «raios os
partam a todos!»
Tem – ele – uma «boa vida» – coisa que os portugueses não
conseguem partilhar – e «não sente nenhuma inclinação para voltar a depender do
favor popular», que é como quem diz: “esse bando de ignaros, que é a populaça,
não merece o meu génio”… Replicando expressões suas, apetece dizer ao “gajo”
que pode estar tranquilo quanto ao favor do povo. Este costuma ser criterioso
relativamente ao “filhos da mãe” que o deixou na penúria!”
Nota – Quando, num artigo dado a lume no TriploV, no Ablogando
e, em periódicos, em Espanha, França e Brasil caracterizei o antigo premier como um aventureiro político com perfil não de líder mas de
condottieri, não o fiz por hostilidade mas por tipificação realista-científica.
Os ulteriores procedimentos e bosquejos conceptuais do dito
sujeito creio que me asseguraram que acertara no alvo.
É patente que, a pouco e pouco, se vão desvelando na sua figura
em recorte os tiques a que Umberto Eco deu o nome de cripto-fascismo: a
violência verbal desbragada carreando rancor, a pequena megalomania, o atiçar
duma violência e duma brutalizada narrativa que não são normais em países
civilizados – mas que são muito naturais num terceiro ou num quarto mundo.
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