(imagem obtida aqui)
Todos
conhecem a anedota do homem que, perdendo à noite a chave à porta de casa, vai
procurá-la debaixo do candeeiro da rua por aí ter luz. Os portugueses fazem
isto há muito, insistindo numa solução nacional por sucessivos governos
falhados, sem notar a realidade socioeconómica que passa ao lado.
Na
recessão o pêndulo da popularidade anda mais depressa. O anterior Governo, que
nos trouxe à crise, caiu em desgraça ao fim de uns anos. Foi substituído pelo
actual que, após poucos meses de esperança, já o seguiu no descrédito. É
espantoso, mas ainda há quem acredite que mudar o Executivo fará diferença. Há
séculos que se repete o ciclo, sem que se aprenda. Continuamos fiéis adeptos do
Estado mas violentos inimigos do Governo da altura. A política há-de ter a
solução nacional, embora os políticos não prestem. O paradoxo merece reflexão,
em especial no momento em que o Governo, de forma totalmente inesperada,
conseguiu algo espantoso. E é violentamente zurzido por isso.
Em 2011,
pela primeira vez desde 1950, o total da despesa pública desceu em termos nominais.
Caso único nos últimos 60 anos, é fenómeno histórico que ninguém achava
possível. A responsabilidade é partilhada, porque nesse ano o Ministério das
Finanças foi dirigido por Teixeira dos Santos até 9 de Julho e Vítor Gaspar
depois. Embora o maior esforço seja do segundo, a execução orçamental dos
primeiros seis meses, de acordo com o Relatório do OE para 2012 (quadro
II.2.1.), reduziu a despesa total em 1.9%, boa ajuda para a descida de 5,5%
nominais no ano. Mais impressionante, o feito repetiu-se em 2012, em que haverá
uma descida da despesa total em 10,2% nominais, algo a que ninguém vivo
assistiu.
E não se
prevê que volte a assistir, pois as contas para 2013 já dão uma subida nominal
e real da despesa. Mas ao menos contaremos aos nossos netos que vimos o
impossível: o Estado cortou a despesa duas vezes. Todos os Governos, em
democracia ou ditadura, falam disso há décadas. Todos têm rigor e contenção,
mas houve um que teve mesmo. E é considerado o pior Governo de sempre por causa
disso. Não admira que ninguém o volte a fazer.
Governos
criticados são a sina nacional pelo menos desde o Dr. João das Regras. Nunca se
viu um executivo de quem a opinião pública tenha boa opinião e só será louvado
anos depois, como argumento para atacar o sucessor. Mas há aqui algo errado.
Ouvindo as opiniões comuns acerca da péssima qualidade das políticas e
ministros, a única conclusão razoável é que Portugal está tão mal quanto o
Zaire. Como constatamos que, mesmo com crise, somos mais ricos que a Coreia do
Sul, alguma coisa falta na análise.
O motivo
é que passamos a vida a procurar no lado errado. A capacidade da nossa
sociedade e economia são espantosas e têm conseguido ao longo das décadas
resultados únicos. Desta vez, perante o choque brutal da crise internacional e
austeridade interna, de novo se estão a notar excelentes capacidade de
ajustamento, flexibilidade e imaginação por parte das nossas famílias,
empresas, trabalhadores e cidadãos. No meio dos sofrimentos fazemos maravilhas.
Na taxa de poupança, balança externa, transformação sectorial, criatividade
empresarial há efeitos rápidos e inesperados que, embora devidos ao choque e
desespero, farão o País sair da crise. Só que ninguém nota por todos estarem
fascinados com a dança nas cadeiras ministeriais.
Talvez o
mais incompreensível seja encontrar tantos economistas que, esquecendo aquilo
que aprenderam, se sentam à porta do Parlamento e ministérios, esperando daí o
processo de desenvolvimento. Dado que o Estado tem de fazer dieta, é evidente
para eles que a economia não poderá crescer, como se estivesse nas páginas do
Orçamento a origem da dinâmica produtiva. Por isso boa parte das análises que
ouvimos devem mais ao Conselheiro Acácio e Conde de Abranhos que a Adam Smith e
Paul Samuelson. Os intelectuais portugueses continuarão a procurar a chave
debaixo dos holofotes partidários. Felizmente a economia não espera por eles
para arrumar a casa.
2 comentários:
As meias-verdades do costume do César das Neves; o governo anterior reduziu as despesas do Estado; este reduziu unicamente os ordenados dos FP, fazendo aquilo que prometeu que nunca faria. Nada de heróico nem de meritório, portanto. Além disso, esqueceu-se também de comparar a actual recessão com os dados históricos, esse sim, um "feito" notável deste governo.
Caro Alf,
Quando uma empresa chega à beira da falência (o estado já a ultrapassou há muito), adapta-se ou fecha.
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