domingo, 25 de novembro de 2012

David e a "opinião pública" - Alberto Gonçalves (2)






Enquanto os senhores que mandam em Gaza recusam aceitar a existência de Israel e fazem o que podem para torná-lo inexistente, Israel não procede da mesma forma com os seus intolerantes vizinhos. O motivo? Israel é uma sociedade civilizada e Gaza uma ilimitada barbárie.

Porém, esta ligeira diferença não chega para iluminar a avaliação geral do conflito, que continua a ser tratado pelos media e por boa parte do público como um "embargo" israelita, entrecortado por "agressões" israelitas aos psicopatas do lado. O consenso actual, portanto, acha que proteger a fronteira de homicidas armados e reagir ocasionalmente aos respectivos e sistemáticos ataques constitui uma violência sem desculpa nem perdão. Na terça-feira, por exemplo, as notícias davam conta de um cessar-fogo na região e, em simultâneo, de uma explosão num autocarro em Telavive. Na quarta-feira, o mesmo noticiário de uma rádio nacional informava acerca das tréguas e dos mísseis que continuavam a cair sobre o Sul de Israel. Etc. Perante isto, é lícito inferir que o uso da força só é reprovável quando perpetrado pela proverbial "nação judaica": o belicismo incessante do Hamas é tomado à conta de necessidade genética ou exotismo cultural.

Não tenho dúvidas de que, caso a Galiza jurasse exterminar Portugal e decidisse presentear o Minho com bombardeamentos quase diários, o nosso país enviaria um comité de boas-vindas para Valença e responderia aos mortos mediante a organização de duas ou três jornadas gastronómicas em Vigo. Mas isso somos nós, portugueses, compreensivos e fraternos. Já os judeus não são de fiar pelo menos desde que, apenas para evitar a escravidão dos seus ou minudência afim, o malvado David apedrejou e decepou o amável Golias, mercenário dos filisteus, povo de Gaza.

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