sexta-feira, 19 de abril de 2013

"Porque virei à direita"





Chegou-me às mãos, dias atrás, este livro, editado pela Três Estrelas, de S. Paulo. Com pouco mais de 100 páginas , é constituído por três textos de filosofia política, assinados por Luiz Felipe Pondé, Denis Rosenfield, ambos brasileiros, e pelo português João Pereira Coutinho. O prefácio é de Marcelo Consentino. Deixarei de lado os textos de Pondé e Rosenfield, para me centrar no de Pereira Coutinho.

Conhecia-o das suas participações em programas televisivos de debate sobre a actualidade política em Portugal bem como das crónicas que assina regularmente no jornal Correio da Manhã. Em ambos os casos, o que distingue as suas participações das dos restantes comentadores ou cronistas é a elegante irreverência e, frequentemente, a subtil ironia (haja alguém!) com que costuma responder ao que lhe perguntam ou tratar o que se sentiu motivado a abordar.

O texto incluído neste livro mantém essas características, aliadas a um tom mais intimista, tornando a sua leitura muitíssimo fluida. E surpreende ainda duplamente quem avalie a dimensão intelectual de João Pereira Coutinho pela inevitável maior leveza dessas suas intervenções públicas.

Em primeiro lugar, porque nele se organiza e estrutura, sinteticamente mas com rigor, uma reflexão documentada e aprofundada sobre a relação possível entre racionalidade, utopia e Estado, sobre as oposições entre “políticas de fé” e “políticas de cepticismo” (para utilizar os termos de um inspirador maior de qualquer dos três ensaístas: Michael Oakeshott  - cuja obra continua, quase completamente, por traduzir, sinal inequívoco do obscurantismo a que o reinante e opressivo quadro mental da esquerda nos conduziu). Em segundo lugar, porque consegue que as sucessivas conclusões, mesmo as mais complexas, sejam facilmente apreensíveis pela sua formulação numa linguagem do melhor (leia-se: mais sábio) e delicioso senso-comum.

Um texto a descobrir, com a urgência justificável pelo vazio de ideias que, dia a dia, vai engolindo irremediavelmente o país.

1 comentário:

Anónimo disse...

Inteiramente de acordo. Ou melhor, só uma coisa queria inflectir no texto de Gonsalo: o vazio que vai engolindo o país. Melhor será dizer-se: os vazios que nos vão engolindo, pois trata-se de uma acção deliberada, fascizante e opressora que tem agentes bem conhecidos. E não se pode exterminá-los...essa é que é a realmente má.

Noiva de Barcelos e Tonho de Carcavelos