sábado, 29 de junho de 2013
Carlos Reis: Nova Ordem Mundial e Foro de S. Paulo
"Análise da conjuntura atual e da estrutura, a qual revela o Foro de São Paulo como braço da Nova Ordem Mundial e origem da nossa desgraça.Carlos Reis, que cursou Medicina, História e Ciência Política em nível de mestrado na UFRGS (carlos alberto reis lima no facebook) mostra que FHC foi o precursor do caos no Brasil, introduzindo drogas, gayzismo, racismo, e uma péssima educação freireana com o objetivo de destruir a família cristã brasileira. O governo Dilma está desacreditado interna e externamente e se agarra em desespero a grupelhos revolucionários cheguevaras e a conselheiros LBGT (novo ministério petista) para aplicar uma ditadura comunista através de plebiscito e reformas políticas que o povo nas ruas nunca pediu antes de 22 de junho.O povo brasileiro ainda não conhece o Foro de São Paulo mantido em segredo pela mídia alinhada, mas reconhecido pelo próprio apedeuta Lula. Para ler sobre o Diálogo Inter Americano ver brasilsoberano.com de Marco Coimbra; ver Plano Global 2000 (Robert MacNamara, Eric Holden, Zbigniev Briezinsky). Sobre o Foro de São Paulo ver atas e história em Olavo de Carvalho. Para ver sobre comunismo, Farc, cocaina, Venezuela e Cuba ver Notalatina de Graça Salgueiro."
Os efeitos das manifestações nos três poderes
Augusto Nunes, Reinaldo Azevedo, Marco Antonio Villa e Ricardo Setti falam sobre as consequências dos protestos na presidência da República, no Congresso e no Judiciário.
"Brasil, o princípio do fim do embuste"
Um texto de Francisco José Viegas:
As televisões gostam muito de revoluções. A
revolução, segundo parece, está em marcha no Brasil. O que eu disse de Lula, do
PT e dos metralhas brasileiros defende-me. Dilma Rousseff não me interessa; é
uma personagem secundária de opereta local, arrastada pelos acontecimentos e
por Lula, o homem que «não sabia de nada». Por isso, devia rejubilar e pôr-me à
espreita: vêem como eu tinha razão?, o povo está em armas nas ruas, protesta
contra o PT, contra o aparelho que montou nos últimos dez anos, contra o
desregramento da economia brasileira, contra a ignorância e a oligarquia,
contra a corrupção. Mas, em vez disso, acho que vale a pena explicar.
A era de Collor de Mello, com aquele
personagem trágico PC Farias, não foi nada comparada com corrupção engendrada
pelo governo de Lula, completamente leninista: apoderou-se do aparelho de
Estado, da polícia, das empresas estatais, dos bancos do Estado, fez circular
dinheiro entre partidos, montou negócios entre as grandes corporações e os
interesses do Estado que controla. E tudo isto deu no Mensalão e, agora, no
escândalo da secretária de Lula, o homem que «não sabia de nada» e que tem uma coluna
de opinião no New York Times, cujo correspondente no Brasil (Larry
Rohter) quis expulsar, o que seria inédito desde lá atrás, muito lá atrás, logo
depois do AI5.
Ora, os últimos dez anos foram anos do PT e de
Lula no poder. Um poder tentacular e ambivalente, negociado com os partidos
mais estranhos. Repare-se nos interesses que levam Lula e Dilma a desenhar,
presentemente, com a colaboração do marketing de João Santana, uma grande
coligação que vai do PC do B ao PP, passando pelo PMDB e pelos evangélicos.
Porquê? Bom, para prolongar o poder a todo o custo.
Este clima de imunidade e impunidade feriu
lentamente a sociedade brasileira. Há aquela frase do «rouba mas faz», e há a
fase em que o lulismo, toda a tralha do PT, incluindo Dilma, pode meter-se em
negócios e em experimentalismos sociais, mas é absolvida porque é amiga
dos pobres. Isso pegou durante a reeleição de Lula, pegou durante a eleição de
Dilma, pegou durante o primeiro ano do governo de Dilma, em que a corrida de
ministros se sucedia mês-sim-mês-não, pega de cada vez que a assembleia de
mirones internacionais desata a canonizar Lula. Mas deixa de pegar quando a
inflação aparece ao dobrar da esquina, quando o crescimento zero deixa
de ser uma ameaça para passar a ser a realidade e quando o paraíso na terra
passa a ser o inferno ao alcance da mão.
Ou seja, o caldeirão estava preparado. Bastava
pôr ao lume. Está ao lume, e acrescido de outro problema, que é o da impunidade
da violência e da ilegalidade com protecção política do Planalto, como aconteceu
nos últimos dez anos (assisti a várias campanhas eleitorais no Brasil e recordo
o inflamado Jacques Wagner, na Bahia, por exemplo, fazendo campanha contra a
polícia para agradar «às massas»; resultado, a violência e a criminalidade
dispararam em Salvador, e «as massas» estão sitiadas por uma elite de
criminosos; o PT sabe do assunto). O MST, por exemplo, habituou os brasileiros
aos seus actos de violência ao mesmo tempo que recebia a bênção de Lula e o
dinheiro do Estado e dos seus aparelhos. O PT mais radical ainda não saiu
verdadeiramente da clandestinidade e tem mesmo uma imprensa que defende a
censura, a acção directa e violenta, a perseguição aos adversários – como se
não estivesse no poder. A imprensa afecta ao PT é uma colecção de pérolas sobre
a insurreição violenta – desde a linguagem usada até à substância que ali se
defende.
Por isso, a primeira surpresa: o PT vê a rua
voltar-se contra o PT. Só foi surpresa para alguns que o próprio ministro da
Justiça aparecesse a condenar a polícia de S. Paulo diante da bandidagem. Não
venham com a história da «explosão social». Ela existe, mas não tem nada a ver
com a bandidagem. [Uma amiga dizia-me: «No Rio, tudo acordou como se não fosse
nada.» Pudera: os pobres limparam tudo durante a noite.] Gilberto
Carvalho (ministro da Presidência) disse anteontem que o governo está «a ser
atropelado pela história» e tremeu meio mundo. Porque o PT sempre incentivou
este género de protestos — o PT sempre esteve no poder e na rua ao mesmo tempo,
nos últimos dez anos. E ficou surpreendido porque a rua, hoje, não é do PT – um
partido, aliás, tão ruidoso como minoritário. E o rosto de Dilma,
vestida de fantasia para um drama de segunda ordem, é esse: «Como é possível?
Então a rua não era nossa? Não foi para isso que armámos a CUT, o MST e outros
grupos de companheiros? Não foi para isso que tivemos os melhores do
marketing? Não foi para isso que hostilizámos “as elites” e depositámos a nossa
esperança no povo?» Mas Dilma não percebe. E por isso, quando se tratou de
analisar «a questão das tarifas», Dilma reuniu com Lula, Aloíso Mercadante
(ministro da educação e futuro director de campanha da própria) – e o homem do
marketing, João Santana. Tudo se resolveria com uma contracampanha. Que
está a ser organizada, descansem.
Sim, estes são sinais de insatisfação da
sociedade brasileira. São sobretudo expectativas goradas. Só que houve um
momento em que a guarda avançada do PT acusava todos os protestos de serem
armados pela direita, pela tucanagem, por FHC... Mas acontece que esse
discurso passou momentaneamente – mas vai voltar. E, enquanto não volta, «as
massas» deram sinais de rebelião e de desconfiança radical. Acontece que essa
fase já não pode desculpar-se com o governo de FHC — que aliás desenhou a maior
parte das políticas públicas sustentáveis de redistribuição de riqueza na
sociedade brasileira.
Recordo um dos pontos altos da gigantesca
manifestação pacífica de São Paulo, anteontem: quando as pessoas cantaram
«Dirceu pode esperar, a cadeia é o seu lugar». Isto é muito importante — porque
o que José Dirceu representa, com aquele grupo onde entram José Genoíno, Marcos
Valério, Delúbio Soares, a banda do Mensalão (todos condenados à prisão pelo
Supremo), é o pior do lulismo. Lula sempre foi protegido (pelo PT,
naturalmente; mas também por Sarney, por Maluf, por Calheiros, pelo PMDB, pelas
grandes corporações...). Ele é o que não sabia de nada, o que estava na sala ao
lado mas «não sabia de nada». E que, mesmo diante da condenação do gang do
Mensalão, apareceu, como ele diz, «a defender os companheiros nesta hora
difícil em que estão a ser perseguidos». Não estão a ser perseguidos: foram
efectivamente condenados em tribunal. E toda a gente viu. Mesmo que o seu
aparelho esteja ao serviço de Dilma, que foi, aliás, ministra da Casa Civil de
Lula e que, portanto, não se sabe se «não sabia de nada» do Mensalão e dos
outros casos afastados da cena política por serem «invenção das “elites”».
É isto – além da violência que não comanda –
que o PT não percebe. É por isso que Fernando Haddad, o prefeito petista de São
Paulo, está a ser odiado pelo próprio partido (se bem que o PT aprecie a
desordem de SP, porque pode culpar Alckmin, o governador do PSDB e adversário
de Lula na reeleição).
Ora, o que existe é uma explosão a três
tempos. O protesto mais imediato tem a ver com as tarifas dos
transportes — e foi esse que mais chamou a atenção das televisões e jornais, enquadrado
pelo grupo Passe Livre. [Na verdade, um dos grupos foi lançado por um
partido de esquerda, o PSOL, de Luciana Genro, filha de Tarso Genro,
ex-ministro de Lula e actual governador do Rio Grande do Sul. E, na sua génese,
foi financiado pelo próprio PT.] A sua última reivindicação é tarifa zero
para os transportes, mesmo depois de as principais capitais terem baixado
as tarifas (o que prova a natureza da sua agenda). O problema dos transportes é
dramático num país em que os empregos estão no centro e os salários mínimos
estão na periferia. Essa travessia, nas capitais, chega à centena de
quilómetros. Os transportes urbanos vão entre 1 e 3 reais. Se multiplicarmos 2
reais por 26 dias de trabalho, vezes dois, temos 104 reais com um salário
mínimo de 680 reais. Não é diferente da situação portuguesa, com a diferença de
os transportes, no Brasil, serem muito piores e de estarem sujeitos a todo o
tipo de violência. Mas, ao contrário do que pretendem mostrar as televisões
portuguesas, inflamadas com o desejo de revolução desde que não seja ao pé da
porta, são os pobres os principais prejudicados com essa violência, cujos
detritos têm de limpar no dia seguinte. O que os orquestradores deste protesto
não esperavam é que houvesse uma vaga de fundo que os ultrapassasse — e
houve.
Portanto, há um segundo protesto, e
esse teve início moderado em Brasília, quando as vaias a Dilma surgiram — um
protesto inicial contra a Copa 2014, e que foi adquirindo cada vez mais
notoriedade até chegar a São Paulo, muito mais geral, e que o PT olha como
profundamente hostil, porque levou para a rua «manchas da classe média»,
habitualmente silenciosa (Dilma foi eleita com 56% dos votos, contra os 54% de
Serra — com uma abstenção de 21,5% num país onde o voto é obrigatório, e que
somados aos nulos dá 26,7%) mas devastada pelo anúncio da recessão que chegará
logo depois da Copa. E esse protesto é o que dói mais, porque pode ter um
efeito definitivo na campanha de reeleição, que está a ser preparada por Lula.
Vi, nesses ajuntamentos, um cartaz curioso:
«Não cabem aqui...» Essas razões que «não cabem aqui» podem querer dizer que há
um sector da sociedade brasileira que desperta para o embuste do petismo. E,
pior, são manifestações pacíficas, tranquilas, de pura demonstração de um
cansaço que estava anunciado – e de um desconcerto diante da enormíssima
despesa pública de que a construção dos estádios da Copa (com a sua inevitável
carga de suspeitas de corrupção) é apenas um exemplo. Estas são manifestações
em que o PT é vaiado, em que Lula e Dilma são vaiados (alguém viu na televisão
a manifestação diante da casa de Lula, por exemplo?), em que a CUT é expulsa,
em que o gang do Mensalão é assobiado.
Finalmente, aquilo a que as televisões dão
destaque, à procura de espectáculo: as cenas de bandidagem e de
descontrolo. O PT, mais uma vez em sintonia com a sua tradição, ataca a polícia
e envia grupos profissionais para se associar aos protestos — porque está
encurralado e tem de manter o hábito de dançar com ruído na sua lógica de
selvajaria. As franjas radicais estão lá, em pleno, tentando obter na rua
aquilo que não podem fazer no Congresso, nos tribunais, nas eleições e na vida
de todos os dias. Essas franjas são compostas por todos os «aliados históricos»
do lulismo, desde os «companheiros» das ocupações selvagens até àqueles que
querem impedir investigações do Ministério Público e condenações no Supremo (é
curioso como o PT se tornou racista ao ponto de relembrar, em surdina, a cor do
presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, que desmontou o Mensalão e provou a
cumplicidade do Planalto dos tempos de Lula). Essas franjas não só aprovam as
cenas de bandidagem como reclamam a rua do Brasil. Nem que para isso
tenham de «compreender» e de «fornecer uma explicação sociológica» para os
assaltos, violência contra a imprensa, assalto ao Congresso e ao Itamaraty,
etc. Desconsolem-se os que festejam a violência — o PT já se solidarizou com
ela e deu-lhes as boas vindas, se bem que tenha sido recebido com apupos para
já, e felizmente. Mas, fiel aos seus princípios, bem tentou festejar.
Parte do Brasil pode estar a arder. Talvez
seja a agonia do petismo, do lulismo e da «imensa sabedoria» que o dr. Soares
vislumbra em Dilma. Mas, entretanto, vem aí o marketing, e talvez nada fique
por aqui.
sexta-feira, 28 de junho de 2013
A AURORA BOREAL DAS “DEMOCRACIAS FELIZES” ou DE COMO O ESCRITOR TEM RAZÃO ANTES DO TEMPO
A PROPÓSITO DE “EXTERMÍNIO NO 31º
ANDAR”, DE PETER WAHLÖÖ
Sem comentários – para quê? – aqui fica o texto que dei a lume em
páginas culturais do Brasil, de França e de Portugal em 2007/2009.
O livro, por seu turno, foi escrito em 1964 (‼!) e publicado entre nós
em 1990.
…e é assim que se faz a Estória. E a História
também…
“Porque vos ensinam eles a
amá-los, se é para vos tratar assim? Porque não vos deixam eles em paz?” –
William Irish
Há livros assustadores. Uns
pelo espírito, como por exemplo o “Lázaro” de Andreiev, que nos coloca de
chofre e sem complacências em frente do facto de que uma vida de ressuscitado
seria, afinal, tão angustiante e repugnante como a degustação de uma refeição
apodrecida. Outros pela letra, como o Drácula
de Bram Stoker sobre o qual já se disse que só um leitor completamente
destituído de sensibilidade conseguirá ler numa casa deserta e pelas horas
mortas da noite.
Outros, por seu turno – e é o
caso desta “utopia negra” vasada nas
luzes boreais que conformam as sociedades escandinavas – porque o que neles se
encena está a acontecer paulatinamente.
E não só naqueles rincões.
O caso sucedido tempos atrás na
politicamente correcta Noruega, onde os monstros particulares são produto de
uma administração cuja tenaz cegueira é a prova do seu cinismo suave e perito em enterrar a cabeça na neve (e já não, como
os avestruzes, na areia do deserto) para sagração de um oportunismo que finge
supor que os cidadãos são um resíduo
angélico para que se não vejam as partes demoníacas do seu poder
governativo, mostra-o sem véus e sem disfarces.
Nicolau Saião, O grande guerreiro
Nesta obra de entrecho quase
linear, duma secura de estilo necessária para que a sugestão resulte, Peter Wahlöö (que com sua mulher Maj Sjowal deu na
época a lume um belo punhado de polars
bem inseridos no género, mas com um timbre de novidade que os distinguiu) segue
passo a passo os sete dias duma investigação que um inspector da polícia
efectua para que naquela sociedade pacífica
e onde o Estado mais ou menos cordial procura que o cidadão viva sem
traumas (e onde o único crime significativo e punido aliás sem muita violência
expressa é a embriaguez, que
entretanto se multiplica) tudo continue a ser sereno.
Nesta sociedade o controle é
exercido pela leitura: leitura de
revistas e de jornais com visão positiva, onde o próprio fenómeno desportivo
(fautor de paixões e frequentemente de conflitos) não recebe muita atenção a
não ser a que possibilita que se possa epigrafar televisivamente o sucesso das
vedetas que o integram.
O consórcio que o domina é
constituído por gente esclarecida e de “boa formação” partidária e propugnadora
de uma igualdade social estabelecida
de maneira amena e que até quando despede dos empregos o faz cordatamente: o
indivíduo ou indivídua em causa recebe uma reforma razoável e um diploma por
bons serviços, assinado por altas individualidades. E o além está muito
longe…mesmo quando ao virar da esquina.
Mas há sempre alguém que, com
impetuosidade maldosa, “sem olhar à
felicidade social a que se conseguiu chegar” (sic), resolve meter um
pauzinho na engrenagem. Por puro sadismo
(como se diz neste ocidente cristão, civilizado e culto) ou por maldoso anarquismo (como há dias disse
publicamente um comandante da polícia metropolitana inglesa, que ao mesmo tempo
solicitou aos cidadãos britânicos que, e cito, denunciassem os vizinhos que
soubessem que perfilhavam ideias
anarquistas – o que quer que isto seja…)? Ou, ainda, por impiedade, como se diz naqueles países
do oriente que têm a dita de existir em teocracias?
Alguém, portanto, usando
precisamente uma folha anexa não preenchida dum desses diplomas, (uma vez que o
papel é pacificamente controlado), endereçou às autoridades uma carta
inquietante, sugerindo que inquietantes acontecimentos iriam dar-se. E embora
as forças vivas tenham essa carta por eventual simples brincadeira, tal como
uma outra insistência significante, nunca fiando – a própria brincadeira
indicaria já um escabroso, quiçá injusto, desvio e Jensen - polícia
compenetrado e eficiente sofrendo no entanto de um doloroso e crónico
desarranjo gástrico que nem a comida cientificamente confeccionada e posta à
disposição dos cidadãos pelo ministério da saúde que tem a seu cargo as dietas
racionais consegue tranquilizar – mergulha num universo de entrevistas e de
encontros que pouco a pouco lhe patenteia os meandros do jornalismo, se
jornalismo se lhe pode chamar, e da criação escrita quando a criação escrita é apenas um simulacro
que ora leva ao suicídio dissimulado (ou assistido) ora à entrega a um ambiente
de mundanidade, de sucesso e de notoriedade bastante semelhantes ao que usa
utilizar-se nesta Europa das pátrias e, suspeito-o com alguns tremores
relativos, nas sociedades alfabetizadas de outros continentes…
Homem sério e bom profissional,
ético tanto quanto as circunstâncias peculiares o permitem, nesta viagem
iniciática de uma semana nem sequer negra em que a desesperança do protagonista
é irmã colaça da desesperança sentida pelo leitor enquanto mergulha na
naturalidade do relato, a regra da “detective
novel” é subvertida, ou melhor: invertida. Os chefes que o comandam
preferiam não saber e a demanda de Jensen dirige-se não à descoberta mas à ocultação.
Nas sociedades racionalmente policiadas, como por exemplo a sociedade lusa, o
polícia, (que funciona como Némesis justiceiro) age preferencialmente como
aquele que camufla o enigma ou,
dizendo ainda mais esclarecedoramente, faz com que o enigma seja uma camuflagem que garante ou sustenta o “equilíbrio”
entre as classes, para que a paz e o progresso coabitem salutar e airosamente…
No entanto, nem nestas mansões
quase celestiais as coisas são como deviam ser (ou se esperava que fossem).
Dizia António Maria Lisboa,
numa frase bem respigada por Cesariny, que “Todo
o acto premeditado ou todo o acto leviano tem a sua guilhotina própria”.
A mim sempre me pareceu que
ele tinha razão ao cunhar este conceito. E, se o pudesse ter lido, creio que
Jensen – e muito mais os seus chefes – teriam dolorosamente entendido a verdade
que assistia ao infausto poeta surrealista lusitano.
À sua deles própria custa – mas isso seria já
uma outra estória…
quarta-feira, 26 de junho de 2013
terça-feira, 25 de junho de 2013
De volta de Arronches com passagem por Espanha
Caros/as confrades
Ontem, depois de um fim-de-semana em
Arronches acompanhado a sardinhada e a Monte do Rei - dado que não
consegui mercar por fraqueza no stock o benquisto e
sapientíssimo Reynolds Tinto (que só se apanha por preço mais módico
precisamente no market daqui, na terra onde fica a quinta do
prudente criador desta iguaria sem par) - fui cumprir num salão em
Espanha uma promessa já com algum tempo de "repouso":
efectuar uma palestra com tema a meu gosto.
Lá fui e lá orei.
Eu escolhera uma coisita potável, "As
Metamorfoses de Ovídio na pintura moderna", o que deu ensejo a que com
ardil creio que puro e justificado pudesse excursionar por autores do
meu prazer: Renoir, Picasso, Saura e, the last but not the least como
gosta de dizer um certo crítico luso com a mania dos monstros, Pedro Moro
e os seus touros surpreendentes transfigurados em cavalheiros espanhóis
provavelmente de boas famílias.
Dentre o público, como depois vim a
saber vários professores assistiam amavelmente. Um deles, no fim do cavaco
(se assim o digo...), teve a fineza de se me dirigir para, revelou-mo,
concretizar alguns pontos nomeadamente sobre a maravilhosa edição que
Albert Skira artilhou um dia com os buris e os carvões do fogoso
malaguenho.
Palavra puxa palavra, veio-nos à baila a questão
do professorado. Na Ibéria.
Durante alguns momentos apenas, porque se fazia
tarde, ouvi-o encantado pelo bom-senso que se soltava do que dizia, pela
justeza dos conceitos que explanava. O seu falar não tinha qualquer sabor
a rolha nem aquele jargão que, de certas bocas amoráveis, se solta com chavões
politicões à mistura. (Não havia necessidade...).
Tempos atrás, de um outro professor que
é também confrade triplóvico e para mim muito querido (claro!) recebi
um textinho que, sendo de pequena talha, me calou fundo pela justeza singela do
que nele era dito. E tenho para mim que muito do que de mais acertado se
vai dizendo, afinal, é fácil de dizer e fácil de entender - se, é
claro, estivermos e lhe dermos a direcção adequada...
Poderá, igualmente, com outro grau de robustez e
profundidade devido aos temas que os enformam (Hieronymus Bosch, a
construção de novas sociabilidades mediante a Arte, enfoques sobre Raul
Proença, entre outros), ler textos (e ver pinturas) deste confrade na
Revista Sibila, no preclaro TriploV e na acerada Agulha, da Fortaleza que é
também a minha debilidade.
Bom Verão e boa semana vos desejo.
...................§§...................
"É
com muito gosto que aqui vos deixo umas palavras que expressam, enquanto vosso
Professor e Coordenador do Curso de Animação Sociocultural, o apreço que temos
por vós.
Na verdade, ao longo destes anos sempre fostes alunos interessados, de trato
afável e cordial, nunca mostrando estar dependentes de preconceitos e modas, de
superstições espúrias e de desonestidades intelectuais, que maculam o espírito
humano e enegrecem a sua liberdade interior, inevitavelmente limitando o seu
florescimento na comunidade em que nos foi dado viver.
João Garção, Sabedoria
Não procurámos, somente, dar-vos informações e transmitir-vos métodos e
técnicas, visando cumprir meros formalismos académicos. Tentámos, sobretudo,
criar conjuntamente um estimulante ambiente relacional, assente em princípios
éticos irrenunciáveis, que permitisse que pensamentos e práticas mostrassem a
sua beleza e a sua utilidade e onde, afinal, pudesse ter lugar o ‘jogo’ da
construção, destruição e reconstrução que é intrínseco à maravilhosa aventura
que constitui a edificação do Saber.
‘Liberdade cor de Homem’, escreveu um dia, apropriadamente, André
Breton. Em Educação (como nos demais domínios da Vida, assim o cremos), a exaltação
da Liberdade, da Coragem e da Dignidade humana é tão importante como os apelos
ao estudo dedicado, ao trabalho árduo e à responsabilidade individual. De outra
forma, não haverá quem volte a roubar o fogo aos Deuses nem quem insista em
saber ‘o que está para lá da montanha’, para parafrasear Rudyard
Kipling…
João Garção, Pintura
É esta atitude perante a Vida que deixamos nas vossas mãos, esperando que a
acarinhem e a façam brilhar pelos anos vindouros. Sabemos que não será em
tempos difíceis - como estes que estamos a viver – que os ‘heróis’ se
forjam; mas acreditamos que é neles que os ‘heróis’ se revelam. Por
isso, fazemos votos para que não vacilem, não cedam nem abdiquem dos vossos
sonhos, dos vossos direitos (e deveres!) e da vossa dignidade, como seres humanos
irrepetíveis que são - e com os quais, para nosso privilégio, temos tido o
gosto de conviver.
Bem
hajam e obrigado por aquilo que nos têm dado. E muitas felicidades, é claro!
O Coordenador do Curso de
Animação Sociocultural
João Garção
(Docente do Instituto Superior de Ciências
Educativas de Felgueiras, onde leciona diversas Unidades Curriculares a cursos
de Licenciatura e de Mestrado e onde é Coordenador do Curso de Animação
Sociocultural.
Pequeno texto escrito em junho deste ano,
a solicitação de alunos, para ser incluído num álbum de caricaturas de
finalistas daquele Instituto).
...............
PSCriptum - Em próximos envios: "As
Paredes de C.Ronald", "Imagens que me chegaram pelo Tempo",
"Louvor de Cruzeiro Seixas"," António Salvado,
simplesmente", etc.
Nota - Neste, como em qualquer texto de sua autoria (incluindo os falados...) o autor
não segue os preceitos do chamado Acordo Ortográfico.
segunda-feira, 24 de junho de 2013
AS PALAVRAS-DE-ORDEM NAS MANIFESTAÇÕES BRASILEIRAS (ATÉ AGORA)
Olha que legal, o Brasil parou e
nem é carnaval
o povo acordou
Ah, mas que vergonha, o ônibus está mais caro que a maconha
Vem pra rua, vem, contra a
tarifa!
Odeio bala de borracha, joga um Halls
Ô motorista, ô cobrador, me diz
aí se seu salário aumentou
Copa do Mundo eu abro mão, quero
dinheiro pra saúde e educação
Ei, perua, sai do shopping e vem
pra rua
Era um país muito engraçado, não tinha escola, só tinha estádio!
Não é mole não! Dormir com fome
pra pagar a condução!
Ô, Fifa! Paga a minha tarifa!
Brasil! Vamos acordar, o
professor vale mais que o Neymar!
Se a passagem não baixar, olê,
olê, olá, eu vou protestar!
Ia ixcrever augu legau, maix
fautô edukssão
O povo unido não precisa de
partido!
Sem demagogia, R$ 0,20 foi o
início da guerrilha!
Vem pra rua, vem! Ficar em casa
não ajuda a ninguém!
Eu quero: ( ) tchu ( ) tcha (x)
10% do PIB para a educação
Ei, qual é a sua? Vai depredar o
muro da sua rua!
Hoje eu tô feliz! Saí na rua pra mudar o meu país!!!!
Ô seu prefeito, governador! A sua
batata já assou!
Haddad, seu bocó, o preço da
passagem tá mais caro que o pó
Parasita, otário! Não percebeu
que o movimento é apartidário?!
Zé Dirceu, pode esperar, tua hora
vai chegar
Ão, ão, ão, vem pra rua, Felipão!
Se a Dilma não acordar, olê, olê,
olá, Brasil Vai Parar!
Vai ser tão legal! Ver partido
sem poder com o voto distrital!
Não é mole, não! Tem dinheiro pra
estádio e cadê a educação
Catracas vão rolar!
Maconha: R$ 5; ir e voltar do
trabalho: R$ 6,40
Sem partido! Fora, militante
Todos contra a corrupção
Menos vândalos no Congresso
Nacional
Você aí de gravata, vem pra
passeata
Não é a Grécia, não é Turquia, é
o Brasil que sai da letargia
Desculpem o transtorno, estamos
tentando mudar o país
V for Vinegar
A tarifa abaixou, mas o povo não calou
Isso é só o começo, espera chegar
a eleição
Futebol, que nada, acabou a
palhaçada
O importante não é vencer todos
os dias, mas lutar sempre!
Saímos do Facebook, quem falou
que era impossível?
Seja a mudança que você quer ver
no mundo
Não sou bacon para morrer
queimado
Foda-se o Brasil, nacionalismo é
coisa de imbecil
6ª maior economia do mundo, então
cadê nosso dinheiro
Quando seu filho ficar doente,
leve ele ao estádio
Seu gás de recalque bate no meu
vinagre e volta
Ideias são à prova de bala
Se não baixar, a cidade vai parar
Prefiro ser confundido com um
vândalo a ser comparado a um político
Meu partido é um coração partido
Professor, te desejo o salário de
um deputado e o prestígio de um jogador de futebol
Copa pra quem?
Fora todos os partidos
Os bandidos de verdade estão em
Brasília
Fifa, go home
Ei Neymar, a Copa é pra roubar
Ora, ora, ora, cadê a Dilma
agora?
O povo unido não precisa de
partido
Me chama de Copa e investe em
mim. Ass.: Saúde e Educação
Queremos hospitais padrão Fifa
Tem tanta coisa errada que nem
cabe em um cartaz
País desenvolvido não é onde
pobre tem carro, é onde rico usa transporte público
Eu represento você aí sentado no
sofá
O país do futuro chegou
E ainda nem é primavera
Nossa vitória não será por
acidente
Saímos do coma
Ei, governo!! Por que vocês
merecem mais que a gente?
Ô, soldado, você também é
explorado!
Não é Turquia, não é a Grécia, é
o Brasil saindo da inércia!
Governador, pode escolher, cai a
tarifa ou cai você
Mãos ao alto! R$ 3,20 é um
assalto
Paz sem voz é medo!
Somos a rede social
O Congresso é nosso!
Polícia, seu juramento é para a
pátria, e não para os governantes
Obrigado por lutarem pelo meu
futuro!
Dilma, cadê você?
Afaste de mim esse cale-se
Oh Dilma, que papelão, foi
guerrilheira e agora apoia a repressão
O povo unido não precisa de
partido
Haddad, cu*, paga o meu busão
Ei, você aí, não vai deixar a prefeitura
te engolir
Tira a gravata e vem para a
passeata
Meus inimigos estão no poder!
Se você acordou agora, a
periferia nunca dormiu
Esse protesto não é contra a
seleção, mas sim contra a corrupção
Protesto NÃO é crime!
A borracha da polícia não apaga a
minha ideologia
Enquanto você se ilude com a TV
estamos mudando o país!
Desculpe o transtorno #OBRASILACORDOU
Se a tarifa não baixar, São Paulo
vai parar
Stop police violence
Sem luta não há conquista
Liberté, Egalité, Fraternité,
Vinagré
Não é por R$ 0,20, é por direitos
Japão, eu troco nosso futebol
pela sua educação
Recalque de ditadura bate na minha
geração e volta!
O inimigo não é a polícia, é o
governo
Futebol: Brasil 3x0 Japão.
Educação: Brasil 0x10 Japão
Prepara que agora é a hora que o
gigante acorda
O meu futuro agradece a sua luta
Povo que não tem virtude acaba
por ser escravo
Ei, polícia, vinagre é uma
delícia
R$ 3,20
só por teletransporte
Closing
streets to open ways
O povo não deve temer o governo,
o governo deve temer o povo!
Uma cidade muda, não muda!
O povo unido é gente pra caralho
Ih, fodeu, o povo apareceu
É muito motivo!!! Não cabe aqui!
Ceci n'est pas une transporte
Dilma, se você não mudar, eu
trago minha avó pra cá
Queremos direitos, não direita!
Polícias, abaixem as armas e
troquem carícias que a gente chegou
O movimento é sexy
Meu cu é laico [contra a atuação de parlamentares evangélicos]
A geração Coca-cola acordou
BRASIL: TUDO FALSO, TUDO FARSA
Publiquei o texto abaixo em 21-12-2011 (no site Sibila). Acredito que, dois anos antes do "surpreendente" terremoto anual, ele explica, premonitoriamente, algumas coisas.
O Brasil é um BRIC. Ou seja, faz parte do “luminoso” e ominoso grupo dos superemergentes, ao lado, literalmente (ou literamente), de Rússia, Índia e China. Portanto, também é um bric, um tijolo que arrima o futuro do mundo... Lula pode ter perdido a voz e a barba, mas o Brasil não tinha perdido a pose de país da “nova classe média”,que compra feliz e febril nos crediários sem fim ofertados a toda a imensa multidão de novos e velhos otários. Qual o problema de pagar por uma Mercedes e levar um Gol, se antes não se conseguia sequer ter um Fusca? Mas acabou.
As compras podem continuar febris, porém o comprador não é feliz. Nunca foi. E isto não é uma opinião.
A organização Legatum Institute, que pesquisa o Legatum Prosperity Index, índice de prosperidade relativa entre os países de todo o mundo, acaba de publicar a sua pesquisa de 2011. A lista dos primeiros dez não surpreende: Noruega, Dinamarca, Austrália, Nova Zelândia, Suécia, Canadá, Finlândia, Suíça, Holanda e EUA. O que talvez surpreenda sejam as variáveis envolvidas: economia, oportunidade, governo, educação, saúde, segurança, liberdade pessoal e capital social. E tudo isso se traduz no grau de “life satisfaction”, satisfação com a vida, ou sensação de bem-estar, de cada população – o que o Prosperity Index, enfim, mensura. Ou seja, os noruegueses, aqueles pálidos nórdicos frios, são os mais satisfeitos da vida. E os americanos não fazem nada feio, apesar das cassandras canhotas que vivem a decretar e redecretar sua infelicidade. E onde fica, afinal, o Brasil varonil com seu céu de anil e seu alegre povo mestiço, sambista, futebolista, carnavalesco e tropical? Em um triste, insatisfeito e insatisfatório 42º lugar...
Economia: a do Brasilzão é uma das maiores do mundo, mas isso não muda nossos preços estratosféricos, nossos impostos insanos, nossos juros obscenos, nosso capitalismo primitivo e parasita etc.;
Oportunidade: não é muito difícil imaginar que a vida de um norueguês médio oferece oportunidades de todos os tipos maiores e melhores que as de um brasileiro médio em sua mediania provinciana;
Governo: a ineficiência e a corrupção do Estado brasileiro, em todos os níveis, estão além da capacidade de imaginação do norueguês menos satisfeito;
Educação: ocioso comentar;
Saúde: idem;
Segurança: idem idem;
Liberdade pessoal: qual a verdadeira liberdade de quem vive preso pela necessidade de enfrentar dia a dia pequenos, médios e grandes problemas evitáveis que a inépcia, a incúria e a ignorância nacionais oferecem em doses mais do que satisfatórias?;
Capital social: em meio à deseducação, à insegurança, ao desperdício etc., muito pouco resta. Resta concluir que o mito do povo alegre e brejeiro não passa de renomada besteira.
Trata-se, afinal, tão-somente de aparência. No Brasil se sorri e se ri muito fácil. Também se abraça muito facilmente. Tudo falso, tudo farsa. O sorriso é a arma maior contra o “horror à distância” (Sérgio Buarque) que caracteriza a brutalidade e a caipirice social do bravo povo brasílico. O abraço idem. Encurtada a distância, nem se apanha nem se acanha.
O fácil sorriso dos brasileiros é uma promessa facial de uma felicidade não dificultosa, mais do que a tradução muscular de uma satisfação conquistada. E tem tanto valor quanto qualquer promessa feita com um sorriso fácil. A seriedade norueguesa é, na verdade, mais verdadeiramente alegre. Apesar do samba, dos bambas, dos bambambans e de todos os balangandãs. Ou por causa deles.
O fácil sorriso dos brasileiros é uma promessa facial de uma felicidade não dificultosa, mais do que a tradução muscular de uma satisfação conquistada. E tem tanto valor quanto qualquer promessa feita com um sorriso fácil. A seriedade norueguesa é, na verdade, mais verdadeiramente alegre. Apesar do samba, dos bambas, dos bambambans e de todos os balangandãs. Ou por causa deles.
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