Caros/as confrades
Ontem, depois de um fim-de-semana em
Arronches acompanhado a sardinhada e a Monte do Rei - dado que não
consegui mercar por fraqueza no stock o benquisto e
sapientíssimo Reynolds Tinto (que só se apanha por preço mais módico
precisamente no market daqui, na terra onde fica a quinta do
prudente criador desta iguaria sem par) - fui cumprir num salão em
Espanha uma promessa já com algum tempo de "repouso":
efectuar uma palestra com tema a meu gosto.
Lá fui e lá orei.
Eu escolhera uma coisita potável, "As
Metamorfoses de Ovídio na pintura moderna", o que deu ensejo a que com
ardil creio que puro e justificado pudesse excursionar por autores do
meu prazer: Renoir, Picasso, Saura e, the last but not the least como
gosta de dizer um certo crítico luso com a mania dos monstros, Pedro Moro
e os seus touros surpreendentes transfigurados em cavalheiros espanhóis
provavelmente de boas famílias.
Dentre o público, como depois vim a
saber vários professores assistiam amavelmente. Um deles, no fim do cavaco
(se assim o digo...), teve a fineza de se me dirigir para, revelou-mo,
concretizar alguns pontos nomeadamente sobre a maravilhosa edição que
Albert Skira artilhou um dia com os buris e os carvões do fogoso
malaguenho.
Palavra puxa palavra, veio-nos à baila a questão
do professorado. Na Ibéria.
Durante alguns momentos apenas, porque se fazia
tarde, ouvi-o encantado pelo bom-senso que se soltava do que dizia, pela
justeza dos conceitos que explanava. O seu falar não tinha qualquer sabor
a rolha nem aquele jargão que, de certas bocas amoráveis, se solta com chavões
politicões à mistura. (Não havia necessidade...).
Tempos atrás, de um outro professor que
é também confrade triplóvico e para mim muito querido (claro!) recebi
um textinho que, sendo de pequena talha, me calou fundo pela justeza singela do
que nele era dito. E tenho para mim que muito do que de mais acertado se
vai dizendo, afinal, é fácil de dizer e fácil de entender - se, é
claro, estivermos e lhe dermos a direcção adequada...
Poderá, igualmente, com outro grau de robustez e
profundidade devido aos temas que os enformam (Hieronymus Bosch, a
construção de novas sociabilidades mediante a Arte, enfoques sobre Raul
Proença, entre outros), ler textos (e ver pinturas) deste confrade na
Revista Sibila, no preclaro TriploV e na acerada Agulha, da Fortaleza que é
também a minha debilidade.
Bom Verão e boa semana vos desejo.
...................§§...................
"É
com muito gosto que aqui vos deixo umas palavras que expressam, enquanto vosso
Professor e Coordenador do Curso de Animação Sociocultural, o apreço que temos
por vós.
Na verdade, ao longo destes anos sempre fostes alunos interessados, de trato
afável e cordial, nunca mostrando estar dependentes de preconceitos e modas, de
superstições espúrias e de desonestidades intelectuais, que maculam o espírito
humano e enegrecem a sua liberdade interior, inevitavelmente limitando o seu
florescimento na comunidade em que nos foi dado viver.
João Garção, Sabedoria
Não procurámos, somente, dar-vos informações e transmitir-vos métodos e
técnicas, visando cumprir meros formalismos académicos. Tentámos, sobretudo,
criar conjuntamente um estimulante ambiente relacional, assente em princípios
éticos irrenunciáveis, que permitisse que pensamentos e práticas mostrassem a
sua beleza e a sua utilidade e onde, afinal, pudesse ter lugar o ‘jogo’ da
construção, destruição e reconstrução que é intrínseco à maravilhosa aventura
que constitui a edificação do Saber.
‘Liberdade cor de Homem’, escreveu um dia, apropriadamente, André
Breton. Em Educação (como nos demais domínios da Vida, assim o cremos), a exaltação
da Liberdade, da Coragem e da Dignidade humana é tão importante como os apelos
ao estudo dedicado, ao trabalho árduo e à responsabilidade individual. De outra
forma, não haverá quem volte a roubar o fogo aos Deuses nem quem insista em
saber ‘o que está para lá da montanha’, para parafrasear Rudyard
Kipling…
João Garção, Pintura
É esta atitude perante a Vida que deixamos nas vossas mãos, esperando que a
acarinhem e a façam brilhar pelos anos vindouros. Sabemos que não será em
tempos difíceis - como estes que estamos a viver – que os ‘heróis’ se
forjam; mas acreditamos que é neles que os ‘heróis’ se revelam. Por
isso, fazemos votos para que não vacilem, não cedam nem abdiquem dos vossos
sonhos, dos vossos direitos (e deveres!) e da vossa dignidade, como seres humanos
irrepetíveis que são - e com os quais, para nosso privilégio, temos tido o
gosto de conviver.
Bem
hajam e obrigado por aquilo que nos têm dado. E muitas felicidades, é claro!
O Coordenador do Curso de
Animação Sociocultural
João Garção
(Docente do Instituto Superior de Ciências
Educativas de Felgueiras, onde leciona diversas Unidades Curriculares a cursos
de Licenciatura e de Mestrado e onde é Coordenador do Curso de Animação
Sociocultural.
Pequeno texto escrito em junho deste ano,
a solicitação de alunos, para ser incluído num álbum de caricaturas de
finalistas daquele Instituto).
...............
PSCriptum - Em próximos envios: "As
Paredes de C.Ronald", "Imagens que me chegaram pelo Tempo",
"Louvor de Cruzeiro Seixas"," António Salvado,
simplesmente", etc.
Nota - Neste, como em qualquer texto de sua autoria (incluindo os falados...) o autor
não segue os preceitos do chamado Acordo Ortográfico.
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