Escola Secundária Sebastião e Silva
Retoiçava eu cerca de uma semana
atrás, mais ou menos distraído, pela relva noticiosa da TVI24, quando,
subitamente, as palavras do tratador, perdão, do pivot comunicador (ou ao contrário) zuniram com a força de um raio
que me houvesse atingido os tímpanos, deixando-me em vertiginoso estado de
desequilíbrio momentâneo. Num esforço quase sobre-humano, consegui, porém,
retomar a presença de espírito necessária para perceber o que me acometera e
dar-me conta das evoluções do fenómeno.
A força do que quase me derrubara provinha
do inesperado do seu carácter: num qualquer concelho, cujo nome o choque me fez
esquecer, autarquia, sindicatos de professores e associações de pais
concordaram em que a extinção, decretada pelo ME, de onze (onze!) escolas era
benéfico para as crianças, as quais passarão agora a frequentar uma outra, a
estrear, maior e com melhores condições. Nem vestígios de bullying político, sindical ou outro. Harmónico consenso e tal.
Quase pensei ter acordado senão no
céu pelo menos noutro país. Era bom demais e os (suponho eu) igualmente desorientados
jornalistas deverão ter pensado o mesmo mas na perspectiva oposta, a do “ai!,
que lá se vai o nosso negócio!, ai!, que querem dar cabo do nosso lindo
Portugal!”. Pelo que terão ido a correr, em meio de atarantados tropeções, na
direcção do telefone, ligar ao sr. presidente da CONFAP, o dr. Albino Almeida,
que nunca lhes falhou com o sustento da indispensável tirada crítica.
Quando o presidente de todos os papás
de Portugal entrou no ar, já eu me refizera o suficiente para o ouvir com uma
atenção que se foi transformando em espanto: é que o PPP (presidente de - todos - os papás portugueses) nada tinha a dizer quanto ao fenómeno em si mesmo! Mas de
Albino Almeida ainda o país terá muito a esperar, sem que sequer precise de
gerar regularmente cidadãos pela vida fora ou sequer de os adoptar, para, deste
modo, manter o estatuto que lhe permitiu alcandorar-se à nobre missão a que há
anos se dedica. Pelo que não surpreenderá que, em quem o ouviu, haja ido
diminuindo gradualmente o espanto, substituído uma vez mais pela admiração face
à adequada, justa e subtil argumentação que desenvolveu perante os aplaudentes
e reconhecidos profissionais da notícia.
Foto obtida aqui
Não se referindo, pois, ao assunto, frisou,
todavia, Albino, algo que é vital ter em conta: se estas novas escolas foram
construídas para resolver o problema do isolamento dos alunos que a diminuição
da taxa de natalidade provocou nos pequenos agregados populacionais e, em
simultâneo, proporcionar-lhes melhores condições de aprendizagem, o acentuar
dessa diminuição fará, a médio prazo, que igual problema se ponha quanto às que
agora se inauguram. E que é indispensável começar, desde já, a encarar
frontalmente o problema e prover, na medida do possível, às suas consequências.
Porque isto vai ser um “grave problema para o ensino” em Portugal.
Fiquei a matutar no significado
profundo das palavras do PPP. A justeza do que apontou é indesmentível, a
verificar-se a continuidade da tendência para a diminuição da natalidade. Não
me parecia, no entanto, que isso pudesse vir a constituir um problema para o
ensino e para a educação em si mesmos, a não ser que se considere como tal a
redução do número de professores necessários para essa tarefa. Até porque, por
outro lado, tal permitirá, tanto a alunos como a professores, usufruir de um
maior espaço disponível para libertar e multiplicar e desenvolver as suas
eventuais capacidades criativas e de investigação.
Lembrei-me, aliás, das escolas do
regime do ditador Salazar da minha infância. O Liceu Nacional de Oeiras, por
exemplo, a actual E. S. Sebastião e Silva, única escola secundária pública
existente, até 1969, entre Algés e Cascais, foi construída para ser frequentada
por 500 alunos. Disseram-me que, na década de 80, chegou a ser de 3000 a sua
população escolar, e que, dadas as suas dimensões e estruturas, o ME terá mesmo
pensado em instalar ali uma Faculdade. Imagine-se o potencial que, hoje, essa
mesma escola não representaria para os alunos, em número para o qual foi
originalmente planeada, num país livre e que promovesse um verdadeiro ensino.
Foto obtida aqui
Voltando, pois, àquilo que me motivou
a escrever estas linhas de fim-de-semana. Posta de parte, por absurda e indigna
do brilho da sua mente, a interpretação literal das palavras do dr. Albino
Almeida (a não ser no caso de um oportuno, mas para todos impensável, mano-a-mano
pontual com Mário Nogueira) apenas me restava supor nelas a existência de um
outro significado, de carácter mais profundo e, como já disse, subtilmente
enunciado. E foi então que o génio de Freud irrompeu na minha mente, não para
que aplicasse os meus parcos conhecimentos de psicopatologia ao Querido Líder
da paternidade lusa, mas antes a mim próprio. Porque, sem aparente razão
plausível, irrompeu na minha zona de consciência uma frase de Tony Blair em
simultâneo com uma outra, que se podia ver a cada passo em cartazes
governamentais, nos anos 80 e 90. Passo a explicar.
Nenhum país - Portugal, nesta fase da sua História, muito
menos - poderia prescindir de um cidadão
com a envergadura intelectual e o dinamismo de Albino Almeida. O seu estofo
levá-lo-á, quase inevitavelmente, a assumir, mais tarde ou mais cedo, um cargo
governativo onde possa desenvolver uma acção decisiva para o sucesso do nosso
destino colectivo. E o dr. Almeida, dotado de imparável argúcia, já se terá
disso apercebido há muito tempo: a nação anseia por alguém com uma visão como a
sua. Sendo, contudo, o PPP - como Cavaco
Silva - um homem simples, que utiliza
uma estratégia chã e directa na abordagem dos problemas mais complexos, não
poderia, nesse plano, afirmar-se e competir com os chamados políticos de
carreira, que utilizam nos seus discursos uma linguagem quase sempre
aproximativa e, com frequência, metafórica. Pelo que haveria que adoptá-la e adaptar-se-lhe.
Foto obtida aqui
Esta intervenção de Albino Almeida terá,
provavelmente, dado o sinal de partida para o seu futuro percurso político, com
um grau de elegância equivalente à deslocação que o sr. Presidente da República
fez, em 1985, à Figueira da Foz, para rodar o seu novo Citröen. Aproveitando uma
das mais recentes manifestações de preocupação do Professor Doutor Cavaco com o
Portugal do século XXI, o PPP reforçou-a e apelou indirectamente à nação para
resolver o verdadeiro problema, o que se encontra na raiz mesma do das escolas
abandonadas.
A única solução é, efectivamente, aumentar
a taxa de natalidade ou, em linguagem popular, fazer filhos. Cavaco já disse
aos seus concidadãos que é dever de todos gerá-los, que a Pátria precisa de
meninos. Nisso se opõe a Tony Blair que incitava os ingleses a fazerem mais
sexo oral. E foi também no decorrer dos governos de Cavaco Silva que houve um
enorme incremento de incentivos ao FEDER, que em múltiplas obras se viam
cartazes em que se podia constatar o apoio que o FEDER lhes dera. Freud, tal
como o algodão, não me enganou nos seus caminhos ínvios.
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O dr. Albino não o disse, porque
seria pouco aconselhável ir assim directamente ao assunto. Mas terá assumido,
em espírito, e exprimido, sugestivamente, essa linha traçada por aquele que
poderá vir a ser, um dia, um seu antecessor
- afinal, em que é que o dr. Albino Almeida é menos do que o dr.
Fernando Nobre para poder encabeçar qualquer candidatura de cidadania? Pois bem,
eu declaro desde já a minha decisão de, nesse caso, lhe dar o meu voto. Nada me
agradaria mais do inserir-me incondicionalmente na acção patriótica para que o
seu discurso aponta, da qual sou um adepto entusiasta desde muito novo.
A minha única dúvida reside no mote
da campanha que, para maior contundência, Albino Almeida deveria adoptar. Num tom assertivo, de comando, talvez
QUE SE FODA A NAÇÃO!
ou, tout-court,
FODA-SE!
Não sei, mas sei que ganhei aquele dia. É que se a
espertalhice me enoja, a inteligência encanta-me.
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1 comentário:
Reclamemos pelo General Ripper, que dizia «the Communist plot to pollute Americans' "precious bodily fluids."»
Daí o ditado, "quando a direita cansa a esquerda avança". Há que algemar, pelo menos, a esquerda.
Referência bibliográfica (fica sempre bem):
http://en.wikipedia.org/wiki/Dr._Strangelove
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