terça-feira, 3 de julho de 2012

Da vilania do lucro

Imaginemos 10 pessoas (ou 10 empresas) a trabalhar em concorrência. Imaginemos que um deles tem uma ideia que, aplicada, lhe dá vantagem. Segundo a esquerda, esse trabalhador deve submeter-se ao interesse geral porque o colectivo deve ter prioridade relativamente ao individual. Nesta perspectiva ninguém se dará ao trabalho de ter ideias e tudo morrerá de bafio porque ter ideias põe em causa o interesse de 9 tudo ficando permanentemente estagnado. Evidentemente que neste contexto o somatório de interesses afectados é sempre superior ao interesse individual.

Em liberdade, em que o interesse colectivo resulta do somatório de interesses individuais sobreponíveis ao colectivo (quer seja grande quer pequeno, a sua totalidade ou parte dele), o trabalhador que tem uma ideia avança com ela e tira dela partido ficando, naturalmente com uma margem de lucro acima do anteriormente possível e em vantagem perante a comunidade (novamente seja de que tamanho for, a totalidade ou parte dela).

Os restantes nove ficam, evidentemente em desvantagem, mas têm uma arma: desvalorizam o seu trabalho para minimizar a falta de vantagem. “Vilania” grita a esquerda. Treta, respondo eu.

Por um lado quem teve a ideia não pode abusar da margem porque sabe que os restantes dispõem de alguma margem para ceder atenuando (até anulando) o efeito da inovação. Por outro, nada impede os restantes de reagirem procurando uma sua ideia ou optando, de alguma forma, por aplicar a inovação do colega anulando-a desta forma.

“Luta absurda pelo lucro”, diz a esquerda. Treta, digo eu. Das inovações entretanto conseguidas lucram também os clientes e, clientes, somos todos nós.

A inovação de cada um tem que ter prioridade face ao interesse geral porque é do interesse geral que haja inovação. Muito embora o interesse geral seja temporariamente afectado, não é possível que haja inovação se assim não for. Cada um no seu campo, inovando na medida das possibilidades e necessidades, embora ponha sempre em causa o interesse imediatos da comunidade, sejam grande ou pequena, uma parte ou a totalidade, permite que o progresso geral tenha lugar.

Pedra Filosofal (António Gedeão)

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

In Movimento Perpétuo, 1956

2 comentários:

alf disse...

parece que há aqui uma pequena grande confusão entre as ideias da esquerda e as ideias de JJ Rousseau; as ideias liberais são excelentes ao princípio, quando a desigualdade é pequena; o problema é que já não estamos nessa fase e agora as suas consequências são terríveis. Este texto ignora isso, fala dum mundo que já não é este.

O PCP deve estar a acender velinhas à troika e à senhora Merkel e a preparar-se para voltar ao poder. Note-se que eu não sou nada comunista.

Manuel Graça disse...

Esse mundo não existe porque vivemos num mundo que não existe, defunto, caótico, empedernido, regulado, encravado, endividado, parado, subsidiado ... o mundo do socialismo como Hitler o aplicava sem as SS.

Vamos pelo caminho que desembocou na queda do muro de Berlim e os sinais são mais que muitos. Se se seguirá a regime da Coreia do Norte, não sei, mas ou nos libertamos da tralha socialista ou estaremos quilhados.