quarta-feira, 28 de novembro de 2012

À atenção da esquerda, do sr. Arménio Carlos e dos portugueses em geral



(imagem obtida aqui)

Vem escrito aqui (julgo que, pelo menos, parte disto também se encontra estabelecido na Alemanha):


A maneira como se vive e pensa o trabalho em Portugal tem muito pouco a ver com o modo como os países do Norte da Europa o perspectivam. A questão é debatida esta quarta-feira à tarde na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, pelos embaixadores da Noruega, da Finlândia, da Dinamarca e da Suécia em Portugal, com a participação do secretário de Estado do Emprego, Pedro Martins. 

A Renascença falou com alguns dos protagonistas para saber que medidas concretas Portugal deveria "importar" e aplicar no mercado de trabalho nacional. 


Governo com papel secundário nas negociações laborais na Noruega 
O embaixador da Noruega, Uva Thorsheim, considera que as negociações em matéria laboral devem ser menos centralizadas – ou seja, o Governo deve ter um papel secundário, para que as relações entre patrões e empregados sejam mais transparentes.

“As negociações são tripartidas, temos os empregados, temos os trabalhadores com as uniões sindicais e depois, se necessário, temos o Governo. Não começamos com o Governo. Temos como ponto de partida que a paz é bom para os lucros e ambos, empresa e trabalhadores, vivem dos lucros. E concordamos em que os trabalhadores recebam parte dos lucros”, explica. 

O embaixador norueguês destaca também alguns benefícios sociais que permitem melhorar a competitividade dos trabalhadores, como a possibilidade de ficar em casa se os filhos ficarem doentes sem ter o salário reduzido. 

“Isso permite que as pessoas admitam depois ter dias de trabalho mais longos. São condições de trabalho que tornam possível ter uma família e trabalhar ao mesmo tempo”, defende Uva Thorsheim. 


Negociação laboral ajudou a recuperar emprego na Finlândia 

A Finlândia já viveu um período negro. Na década de 90, teve uma elevada taxa de desemprego. O seu representante em Lisboa, Asco Numinen, diz que uma das medidas que ajudou à recuperação da economia do país foi a negociação laboral: é descentralizada, feita ao nível local, empresa a empresa, entre patrões, sindicatos e empregados. 

“As negociações são feitas por comissões industriais, que têm lugar ao nível das empresas e são resolvidos ao nível das empresas de acordo com a situação económica de cada uma delas”, conta. 

O diplomata destaca a ainda a mobilidade no trabalho existente no seu país, factor que contribuiu para melhorar a competitividade. Mas Asco Numinen lembra que existe uma lei na Finlândia específica para proteger a segurança na mudança. 

“Se tiver uma empresa que vá à falência, por exemplo, de acordo com esta lei há uma obrigação da companhia de cooperar com as pessoas que ficaram desempregadas e o Estado também tem de participar com o seu contributo, de modo a garantir que nenhum desempregado fique sem ajuda. Terá formação para poder ser reintegrado noutra empresa”. 


Dinamarca aposta em mobilidade e protecção 
Para o embaixador da Dinamarca em Lisboa, Hans Micaell Koloed-Hansen, a mobilidade no trabalho é a chave para melhorar a competitividade num país, mas para tal, reforça, tem de haver protecção para quem fica no desemprego. 

“Na Dinamarca, as pessoas mudam de emprego com grande frequência, em média de três a quatro anos. Na maior parte das vezes, com um salário melhor, mas esse não é o ponto. Número dois, isto só é possível porque os empregados assim o desejam ou porque patrões querem mudar. Por outro lado, existe um elevado nível de protecção social para todos aqueles que estão sem trabalho”, explica o diplomata. 

Por outro lado, Hans Micaell Koloed-Hansen considera ser necessário que a negociação laboral seja feita pelos trabalhadores e patrões: são eles que conhecem a realidade das empresas. 

“Nós desenvolvemos um modelo em que os patrões, os empregados e os sindicatos podem e devem decidir porque são eles que conhecem bem a situação local…e são eles que sabem o que é preciso fazer”, descreve. 

2 comentários:

alf disse...

Amigo Simões, esquece aqui o aspecto essencial do problema: na sociedade humana, as pessoas têm de ter condições mínimas de vida asseguradas, sejam quais forem as circunstâncias. Nos países nórdicos, o Estado assegura isso. É isso que permite que as empresas tenham total flexibilidade laboral, porque as pessoas têm poder negocial que lhes é conferido pelo Estado.

Cá, o que se quer é que as empresas tenham total flexibilidade mas o Estado não apoie as pessoas. O que se quer é as mesmas condições da escravatura, que se caracteriza exactamente por isso.

A questão é, portanto, exactamente ao contrário do que transparece deste texto: nos países nórdicos, porque há estado social, é possível a total flexibilidade laboral. É para isso que existe o estado social. A flexibilidade laboral é objectivo e consequência do Estado social

Aqui quer-se acabar com o pouco estado social que existe e adoptar a prática laboral dos países com estado social.

Joaquim Simões disse...

Alf:

" Nos países nórdicos, o Estado assegura isso. É isso que permite que as empresas tenham total flexibilidade laboral, porque as pessoas têm poder negocial que lhes é conferido pelo Estado."

E porque é que o Estado dinamarquês tem - hoje - a capacidade de o fazer e de o conferir?