Escreve Alberto Gonçalves, no DN:
O
humanista que venerava Estaline
Uma
ocasião, ao conduzir à toa por São Paulo, deparei com a Mão de Oscar Niemeyer.
A Mão é uma escultura que integra o conjunto de edifícios do Memorial da
América Latina, também projectado pelo arquitecto, e, grosso modo, representa o
continente a sangrar. Naturalmente, foi concebida enquanto a típica denúncia da
opressão que marcou e marca a história daquelas paragens. Contra os tiranos,
tudo, não é verdade?
Parece
que nem tanto. O autor da Mão manteve uma longa, jovial e pública amizade com o
tirano mais duradouro dos séculos XX e, no fundo, XXI: Fidel Castro. Além
disso, admirava o tirano mais mortífero de sempre, sob o argumento de que as
suas acções se justificavam pela "defesa da revolução":
"Estaline era fantástico", declarou numa entrevista.
Ou seja,
Niemeyer legitimou através do exemplo os assassinos de que as suas criações
fingiam queixar-se. Não se trata apenas de um caso em que a arte é maior do que
a vida: a estética de Niemayer, do desconforto à "disfunção", é
discutível; o carácter, uma vergonha sem discussão. Na hora da sua morte, os
media chamaram-lhe humanista, conceito que não sendo irónico começa a parecer
pejorativo. Ainda iremos a tempo de canonizar Albert Speer?
3 comentários:
Pese à boa vontade artística de quem admirava o estilo de Niemeyer, aliás um produto tropicalista "imitado" de Frank Lloyd Wright com cheirinho de Pão de Açúcar, ele mesmo estava-se cag...do para a arquitectura. Foi ele que disse, (com uma sinceridade cínica que mostrava bem a mentalidade deste justificador de Estaline que um dia afimou que o Pai os Povos teve razão em mandar para os anjinhos tanta gente, pois assim "acabava com os inimigos do povo") esta frase clarinha que cito de memória:"A arte da arquitectura não me interessa nada, ou só me interessa na medida em que ajuda aquilo que me interessa mesmo, a revolução social comunista". Percebe-se que era o indicado, como foi, para erguer o edifício da sede parisiense do Partidão, um dos mais estalinistas e corruptos do Ocidente, com as justificações do Caso Kravechenko e outros de triste memória.
A arte dele era a do copianço travestido, e sabe-se os manejos que houve para se erguer Brasília com ele no comando...
Quentirubro
Quentirubro:
Frank Lloyd Wright foi o revolucionário. O Nienmeyer, tal como outros, é, sob esse prisma, um dos devedores e continuadores de algo que ele iniciou. Mas não me parece que seja um mero copiador ou adaptador, um oportunista. Julgo encontrar, no que dele vi até hoje, algo de autêntico, aliás, o único lado autêntico da personalidade execrável que se lhe conheceu. O ele ter dito que se estava cag... para a arquitectura, entra-me por um ouvido e sai-me pelo outro, era o veneno a sair. Freudianamente falando, se o consciente era lamentável e condenável, as pulsões do inconsciente mantiveram-se relativamente a salvo. Aproveitou-se e pôs-se a jeito de ser aproveitado pelos comparsas que escolheu, com tão maus fígados como ele; quanto a mim, o mel sobressai do fel que, mesmo em algumas das suas obras, deixou deliberadamente à superfície. Não o acho medíocre. Pudéssemos nós dizer o mesmo do Saramago...
Um outro artigo aqui: tratava-se de um buguês indiferente ao sofrimento de todos os não comunistas perseguidos por estes.
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