É este o título do artigo de FilomenaMartins, no DN, que transcrevo de seguida:
Apesar de
ainda faltarem três anos e picos para as presidenciais em Portugal, várias
figuras começaram já a posicionar-se. Interessa perceber quais e com que
intenções. Além dos nomes oficiais que cada partido irá escolher, há uma longa
lista de protocandidatos da esquerda à direita: começa em Carvalho da Silva e
acaba em Durão Barroso, mas engloba, ou pode vir a englobar ainda, Francisco
Louçã, António Guterres, Carlos César, o próprio José Sócrates, Jaime Gama,
Marcelo Rebelo de Sousa ou até Mota Amaral. E seguramente que me estão a falhar
alguns. Mas a este rol faz todo o sentido acrescentar uma figura da tendência
que cada vez ganha mais força entre os portugueses, alguém que emane da dita
sociedade civil, independente e, digamos assim, apartidário. Marinho e Pinto, o
bastonário da Ordem dos Advogados está claramente a fazer esse caminho.
Comecemos
pelos mais óbvios. À esquerda, Carvalho da Silva tenta há mais de um ano uma
candidatura mobilizadora, que conta com um apoio que ainda tem um significativo
peso público: Mário Soares. As ligações ao PCP, de que nunca se demarcou
totalmente, e o suporte sindical, onde fez carreira, serão a sua base de
partida que pode pescar muitas outras franjas partidárias. O ex-líder da CGTP
corre agora o risco de poder ter como concorrente Francisco Louçã, que liberto
das funções no Bloco e da tribuna da Assembleia da República ganhou uma espécie
de estatuto de senador da República.
Já à
direita, o duelo pode ser muito mais complicado. Os dois nomes que saltam à
vista "marcam-se" mutuamente. Durão Barroso seria a candidatura mais
consensual, mas talvez ache que ainda não está na idade nem no tempo de
regressar ao País a que um dia virou as costas, preferindo prosseguir a sua
carreira internacional, na Europa ou no mundo, provavelmente até no sector
privado. Por via das dúvidas, Marcelo Rebelo de Sousa vem fazendo os trabalhos
de casa. Tirando partido da força do seu espaço televisivo, arma-se todas as
semanas no crítico do regime, na voz da consciência do Governo, porque sabe que
assim ganha pontos na opinião pública. Quer tornar-se um híbrido partidário.
Mas como não é fácil descolar do papel que teve, e tem, dentro do PSD, pode ter
de jogar em antecipação e formalizar a sua intenção para obrigar Passos Coelho
- ou quem for o líder do partido na altura - a definir-se. Seja como for, é um
nome fortíssimo.
E
chegamos então ao PS. Se fosse possível convencer António Guterres a voltar ao
pântano da pátria - agora ainda mais lamacento -, poderia estar tudo resolvido.
Mas se Guterres preferir a ONU ou a UNICEF, José Sócrates, que no seu retiro
parisiense assiste de camarote ao facto de ser o atual Governo quem mais faz
pela limpeza do seu nome, é sempre uma hipótese. Mas só o tempo dirá se será o
tempo certo.
E é aqui,
ao centro, que melhor se pode posicionar um nome como o de Marinho e Pinto. Até
os menos atentos se terão apercebido de como o bastonário da Ordem dos
Advogados se tem desdobrado em declarações, conferências, presenças e tomadas
de posição. Ainda que algo conotado com o socratismo, Marinho e Pinto é,
concorde-se ou discorde-se, a voz do povo, dos "descamisados" contra
os poderosos. Está à frente dos advogados como podia estar a guiar o táxi onde
a maioria dos portugueses viaja. E entre todas as guerras em que se mete, as
polémicas em que se autoenvolve e os erros que comete, é preciso dizê-lo, traz
para a discussão muitas verdades que se perdem na enxurrada. O poder odeia-o e
seguramente escorraçá-lo-á. Mas o povo gosta e revê-se nele. O seu populismo, a
roçar a demagogia, insisto, pode fazer caminho. Até acho que um qualquer José
Manuel Coelho faz sempre falta. Mas Marinho e Pinto é muito mais perigoso: por
ele próprio e pela votação que pode conseguir. Não se riam. Foi a isto que
chegámos. Foi isto que criámos.
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