domingo, 10 de junho de 2012

Economia e estatal sapiência



Quando um país se encontra numa situação financeira difícil há duas hipóteses: ou tem uma economia substancial ou, o mais provável, tem debilidades de variado tipo. A este respeito e porque inevitavelmente operam apenas no território, as empresas exclusivamente voltadas para a procura interna não têm qualquer significado. Não estão em concorrência com outras de outras economias e vice-versa. São exemplo deste tipo de actividade a restauração, as empresas distribuidoras (não os produtos que vendem) as empresas de serviços, as empresas de reparação e manutenção, etc,. Chama-se-lhes mercado de produtos não-transaccionáveis. O valor de uma economia afere-se pela pedalada das empresas que concorrem no mercado internacional, mercado de produtos transaccionáveis.

Quando as empresas de transaccionáveis minguam, com elas se esfuma a criação de riqueza. Nesta matéria Portugal está debilitadíssimo. Energia cara, regulamentação asfixiante e caótica, pesadíssimos impostos acompanhados de baixa produtividade, regulamentação laboral demasiado rígida, burocracia paralisante, justiça caótica e bloqueada, falta de segurança são, entre outros, motivos mais que suficientes para que as empresas fechem e ninguém se sinta incentivado a abrir novas. As empresas estrangeiras debandam, as nacionais que podem "internacionalizam-se" (vão para outra freguesia) as restantes remetem-se, quanto muito, a uma existência larvar.

É neste tipo de cenário que presentemente se encontra a Grécia (autêntico buraco negro) Portugal, a Itália e Espanha. Os casos não são iguais mas são parecidos. Nuns casos o estado está mais directamente encalacrado, noutros encalacrou mais a banca, noutros a banca encalacrou-se com o seu e outros estados e com as empresas de regime desses estados ... De uma forma ou outra, entrou-se no precipício porque os respectivos governos acharam que as economias precisavam do seu intervencionismo e os disparates sucederem-se em catadupa. Em Espanha, por exemplo, há composições TGV que transportam uma media de 10 pessoas. Nem que fossem 100, nem a electricidade pagaria. Em Portugal, além de auto-estradas por onde ninguém circula temos um aeroporto, em Beja, onde aterra 1 (um) avião por semana. Na generalidade da "europa" os governos impuseram (deviam ter proibido) às empresas de electricidade que incorporassem energias "verdes" que fizeram subir à estratosfera o preço da electricidade. À revelia de todas as evidencias pelas quais as energias fosseis estavam para durar (a descoberta de novas jazidas tem sistematicamente suplantado as previsões em 10x) os governos insistiram na "independência energética" afogando o país em dívidas relativas à montagem da infraestrutura. Para pagar as dívidas resultantes da implementação gasta-se muito mais do que se gastaria em hidrocarbonetos (os clientes pagam mesmo que estrebuchem). Entretanto as fontes "verdes" são intermitentes, é necessário sistemas de recurso (a hidrocarbonetos) e para os viabilizar os estados implementaram um sistema de rendas que mais parece saído das aventuras de Ali Bábá.

Os credores desconfiaram, fartaram-se e estamos onde sabemos.

Há então que tentar inverter a situação em que os sobrantes e hipotéticos credores (FMI, etc.) precisam  de confiar no endividado. Em boa verdade, é o endividado quem precisa apresentar algo que mereça confiança. Está-se no reino daquilo que muitos odeiam - a confiança. Sem confiança não há negócio e os estados aprestam-se a mostrar trabalho, uns trabalhando mas outros encenando sempre convencidos que a sua particular visão prevalece face ao discernimento alheio. Os primeiros conquistam os carris (continuando sem motor) os segundos ficam a contemplar as chulipas com um olhar fulminante que as incendeia sobrando o cascalho.

Para se chegar ao primeiro estádio de ajuda externa há que demonstrar e anunciar que tudo se faz para evitar lá chegar (mesmo que seja certo que será inevitável), para se chegar ao segundo há que cumprir o primeiro e tudo fazer (anunciando) para se evitar o segundo e assim sucessivamente. Esta conversa não agrada a muitos porque soa a "rebaixamento" perante suspeitíssimas forças, curiosamente as de que eles nunca suspeitaram quando a elas recorriam para endividar o país. A conversa da "renegociação", "inevitabilidade", "compensação", ... pretende apenas sabotar a última oportunidade (daí para a frente resta a fome, a revolta de todos contra todos, a guerra civil).

A conversa não agrada mas é assim e doutra forma não poderia ser. A única certeza que o devedor tem é de precisar do credor, e o credor só tem, à partida, razões para suspeitar do devedor. De outra forma uma das partes não seria a devedora em estado extremo, e a outra parte o credor de última instância.

5 comentários:

Joaquim Simões disse...

Manuel Graça:

O último "Olhos nos olhos", com Medina Carreira e Silva Lopes, é muito interessante.
Se tiver arte e engenho para pôr aqui o vídeo, agradeço.

Manuel Graça disse...

Se tudo correr bem, lá pr'a meia noite.

RioD'oiro disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
RioD'oiro disse...
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Manuel Graça disse...

... está difícil. Há instabilidade no servidor.