Do horror luso-nético nas suas obras vivas…
Uns estão no ramo da diplomacia, outros no do
professorado. Ainda outros e outras, prevalecem-se no meio-termo que é qualquer
coisa pública, assessorias e jornalismos de meia-mantença. Ou de mantença
completa. Propagam-se, como as orquídeas do deserto, digamos. Ou os malmequeres
da estepe. E têm blogues e escrevem blogues e entesouram blogues. Não se
masturbam, fornicam entre eles as frases com que se entesoam. Que andaram quase
todos na mesma faculdade, a da notoriedade obrigada a mote.
São gente fina e reivindicam-se gastrónomos.
Ou dizem-se. Ou apelam-se. Comem do bom e bebem do fino. Quando acaso comem, banqueteiam-se
e fotografam-se porque nunca perceberam que, como dizia Beau Brummel, “se tiveres necessidade de dizeres quem és,
não és ninguém”. Vestem bem se lhes apetece e mal se lhes quadra. São
solidários, dessolidários, inteligentes ou encenadamente estúpidos. Porque isso
é belo lá entre eles. Ou outra palavra qualquer, porque o seu signo é a
crueldade e o desdém que disso parte. Sem saberem, acederam à maior santidade,
a da distracção no meio da lama. Por isso, de vez em quando vão de ventas à torneira.
Para terem um bocadinho de sonho? Creio que
nem isso. Usam a cara como se usa a petulância de um sorriso sardónico. Ou a
sobranceria ratona de um pulidovalentismo de opereta. São portugueses
portuguesas até à medula, mas só nos fundilhos. De esquerda ou de direita tanto
faz, isso é apenas um detalhe inócuo. Mas que os ajuda a fingir que são de
fora, como aquela pedante loira e depois morena e depois loira televisivamente
que escrevendo como se escreve nos croniquentos jornalitos de cá se sentia
redactora de grande semanário americano. Para se compensar de ser uma criada de
políticos ratoneiros? Muito provavelmente. Velhacazita como um abutre com cio?
Tão natural como a sua sede de urubu. De urubua. Pois o céu está-lhes
prometido, a ela e aos seus parceiros de charneca.
São da bela rapaziada. Decididos mas frascários.
Canalhas mas vencedores. E se vencidos por qualquer razão, ficarão sempre na mó
de cima. É da sua condição de classe média alta. Ou de fidalgotes que como a
pescadinha antes de o ser já o era. Ainda que republicanos.
Espertíssimos, mas o país que controlam jamais
passou da cepa torta. Talentosos, mas o sarro nunca o tiraram das esquinas e
das paredes da pátria. Quando rebentam, quando estoiram (não morrem, fundem-se,
esta gente não é digna de morrer) imortalizam-se na conversa rôta dos seus pares.
Nunca escrevem nada de permanente, de
sóbrio, de fundacional e sincero. E da emoção apenas sabem a lágrima fácil. Que
pode ser arroto. Ou peido. Mas nunca grito desgarrador e comovente.
Pululam nos espaços interactivos. Unem-se em
irmandades informais e em cooptações estarrecedoras. Ou afectuosas.
Lusitanamente doloridos, mas no fundo do poço da alma, trazem nela a marca, o
ferrete da hipocrisia mansa e do cinismo de bom tom.
Nunca serão fuzilados num terreiro. Nem
pendurados num carvalho da Califórnia. Nem empalados num zimbreiro da
Transilvânia.
Quase eternos, omnipresentes como piolhos por
costura, nunca nos veremos livres deles.
São a garantia da raça. E têm opiniões.
Autónomos na sua infâmia civilizada e moderna, durarão até ao fim dos séculos. Ou
mesmo um poucochinho mais.
Mas nem dão nem darão p’ra tabaco.
2 comentários:
Um grande texto, digno de figurar entre os melhores do género na literatura portuguesa.
Parabéns, ns!
Alentejano dum raio, que os tem como um camião. Por isso tem sido sempre um outsider. E ainda bem. Não come o pão envenenado da vileza nem da moral, essa puta fina. Já o traduzi e o coloquei no meu espaço londrino, by the way.
Manuel Caldeira, Ingla Terra
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