domingo, 10 de junho de 2012

Foi amanhã

Barbara Olson
Uma das coisas que se tem vindo a perder é a noção do tempo. A noção do tempo, a noção de que há fenómenos que se desenvolvem rapidamente, outros lentamente, outros ao retardador. Daqui resulta não só a recorrente queda ao anacronismo relativamente a factos passados como à análise do que está a acontecer em função do que aconteceu mais ou menos recentemente. Não há a noção da escala de tempo a que determinados se desenvolvem ou, havendo, atropela-se propositada e desonestamente o relógio.

Quando o estado lança dinheiro numa economia tudo parece ir de vento em popa. Há consumo, as pessoas adquirem bens, a vida corre sem percalços de maior. Ninguém pergunta de onde vem o dinheiro ou para onde vai porque o resultado parece imediato. O problema é que as economias não são hoje, regra geral, abertas e, como agravante, o dinheiro que injectam na economia não é proveniente de riqueza própria mas de empréstimo. Se a riqueza própria for injectada na economia está-se perante um razoável desperdício, mas, não havendo riqueza própria, está-se perante um suicídio.

Quando se diz que não há riqueza própria está-se, implicitamente, a afirmar que essa economia não está a gerar riqueza o que implica que ela está, largamente, dependente de importações. Injecta-se dinheiro na economia, as pessoas compram, e o dinheiro sai para os países fornecedores cuja indústria é desta forma alimentada a dinheiro alheio, criando a consequente riqueza no local não originalmente previsto.

O que deste cenário resulta não é inicialmente claro porque há que dar tempo ao tempo, e tempo não faltará para que a asneira seja ciclicamente repetida até que os credores comecem a suspeitar que o devedor tem as contas em desalinho e poderá vir a cair na impossibilidade de ir pagando os empréstimos que, entretanto, se irão vencendo. O credor vai-se desinteressando de fornecer crédito à entidade em causa e o campo fica por conta daqueles que apenas estarão dispostos a emprestar a um juro mais alto ... e mais alto ... e mais alto ... até que ninguém esteja disposto a alinhar em fantasias de mau pagador.

Neste ciclo decorrem anos, muito embora bastem alguns meses para se entrar naquilo a que se chama acção comutativa, acção que acelera à medida que vai subindo.

Em Portugal, no primeiro reinado do "querido líder" Sócrates, entrou-se definitivamente na espiral de dívida. Ela vinha já a acentuar-se desde 1975, intercalada por algumas intervenções de último recurso pela mesma e exacta razão que hoje se tem que aturar a Troika. Sócrates, como nenhum outro líder, exponenciou tanto a procura de dinheiro para alimentar uma reclamada procura interna, investimento virtuoso, direitos sociais, que o cheiro a esturro começou a chegar aos credores. O juro subiu rapidamente e, sempre perante injúrias aos credores, o poder tentou, a todo o custo, ignorar o óbvio insistentemente sem nada fazer para suster o monstro das bolachas: uma administração central que torra dinheiro que nem um vulcão.

Sem possibilidade em manter o status quo surge a "austeridade". A austeridade não é algo que se aplique, é algo a que se fica sujeito quando não se tem dinheiro para gastar onde se pretende. A verdade é que a maior parte dos políticos da praça preferem, sabendo que mentem, inventar "almofadas".

Entretanto as parcelas de dívida vão-se vencendo e o país encontra-se sem máquina de criar riqueza, sem dinheiro, com uma dívida monstruosa e com gigantescos encargos não só em salários da administração central mas também reformas e aposentações (os reformados do estado são chamados aposentados). Também o dinheiro descontado pelos trabalhadores ao longo da vida, vem a saber-se, já foi torrado.

Dando de barato que a derrocada da "europa" não nos leva com ela ou que os portugueses não resolvem entregar-se a mais uma aventura "social", implementadas as medidas que, a prazo, mais longo que curto, permitirão estabelecer uma economia equilibrada, os mesmos políticos que demoraram uma legislatura a destruir completamente o que já periclitante era, pretendem ver ... resultados imediatos.

[Não tive tempo para rever]

1 comentário:

Joaquim Simões disse...

Nem precisa. Está bom assim mesmo.