quarta-feira, 13 de junho de 2012

O estranho amor dos douktores do social, ou de quando deixaram de se preocupar e passaram a armar a bomba




O estado-social vem sendo implementado na Europa (não confundir com "europa", a Comunidade Europeia) desde há muitos anos. Basicamente pretendia-se e pretende-se valer às pessoas na saúde e na reforma.

É fácil defender-se o estado-social, difícil é encontrar-se verbas para o manter a funcionar. Encontrar-se verbas para o manter a funcionar é fácil, difícil é garantir-se que a fonte dessas verbas se mantém mais ou menos permanentemente disponível.

Sendo simpático defender-se o estado-social, parece ter-se entrado num divórcio crescente entre as metas que se pretendem atingir de imediato e as respectivas implicações ao longo do tempo.

No frenesim que entretanto se instalou, todos os estados ocidentais entraram, uns mais que outros, tendo sido os EUA aquele que durante mais tempo se manteve mais longe do modelo. Na Europa houve mais homogeneidade.

Sendo agradável a qualquer cidadão sentir que o estado-social está a seu lado, não perece ter havido generalizada consciência que infernizar a vida à galinha dos ovos de ouro era perigoso. A verdade é que não só, rapidamente, se começou a forçar o aparelho produtivo em tributo ao estado-social como se passou a meter no mesmo saco a defesa do ambiente.

No primeiro caso, à medida que mais e mais recursos financeiros eram consumidos em estado social, no segundo caso mais e mais recursos financeiros eram dedicados à implementação de políticas ambientais. Convém ainda não esquecer que muita da política ambiental dos países do sul da "europa" eram torrados em infra-estruturas que só muita re-engenharia em semântica se poderia considerar ambiental.

Tendo havido um sistemático divórcio entre os benefícios imediatos da aplicação recursos ao estado-social e as respectivas implicações a médio e longo prazo, o passar do tempo não resolveu esse dilema antes trouxe mais e mais imaginativas formas de fazer a mesmíssima coisa com os mesmíssimos resultados a médio e longo prazos.

Nas sociedades, com o passar dos anos, algumas coisas importantes foram acontecendo. A longevidade aumentou e a idade de reforma foi-se mantendo sem se olhar bem para o facto de ser necessário aumentar exponencialmente os descontos para manter o sistema alimentado. As políticas ambienteis e em particular no que respeita ao preço da energia foram sufocando as empresas, única ferramenta de criação de riqueza. Países anteriormente considerados do terceiro mundo, como a China e a Índia, foram encetando o caminho do desenvolvimento cujas populações vindo de um patamar em que a fome imperava, estavam e continuam as estar dispostas a trabalhar muito por pouco, sempre perante a promessa que tem vindo a ser cumprida de se vir, amanhã, a ganhar mais e viver melhor.

Em Portugal, por exemplo, este cenário transformou o sistema de reformas pela capitalização de descontos num sistema de solidariedade. Nos anos 80, todo o dinheiro amealhado foi sendo consumido irresponsavelmente trazendo benefícios imediatos perante promessas de que o futuro permitiria 'aguentar' o sistema via crescimento económico.

Por toda a Europa, nuns locais mais que outros, o cenário anterior foi provocando um garrote que fez falir a segurança social. A idade média aumentou aumentando o período de despesa sem aumentar o de descontos, a população não cresceu o suficiente para que a solidariedade dos que hoje trabalham consiga fazer face às despesas dos que hoje estão reformados, o crescimento foi raiando o zero, as empresas foram tendo mais e mais dificuldade em fazer face à concorrência dos países do extremo-oriente não só no mercado interno como no externo (os europeus passaram a comprar muito mais produtos não europeus) e o estado-social começou a apresentar brechas.

Incapazes de trazer a verdade à tona, as forças políticas regra geral implicadas na mentira de ontem não se reformaram nem às suas ideias e insistiram numa irresponsável manobra de 'comida para hoje fome para amanhã' tentando tapar o sol com a peneira com recurso a crédito.

O crédito foi aplicado em toda a espécie de erros dos quais se salientam dois: mau investimento e despesa directa com o estado-social.

O primeiro caso resolve o hoje deixando um problema acrescido para amanhã que, por sua vez e tendo presente que apenas a criação de riqueza é capaz de atenuar o estado de coisas, requer que algo aconteça ou a derrocada aproxima-se. Os governos entraram decididamente pelo investimento.

Em Portugal (como regra geral, pelo menos, na Grécia, Itália, Espanha, França, Bélgica e Inglaterra), a fraquejante economia torna inviável qualquer investimento privado. A energia é demasiado cara, a regulamentação asfixiante (que inclui legislação laboral anquilosada), a justiça não funciona, a segurança anda em palpos de aranha e, cobrindo tudo, a calcinante burocracia. Nos governos surgem especialistas em matéria empresarial que resolvem ditar quais os bons negócios propondo-os a empresas que, a prazo, se tornarão de regime. Os empresários torcem o nariz e acedem apenas face a garantias estatais ou garantias que que o negócio dará certo, leia-se, que caso não dê o estado pagará.

O investimento estatal, devidamente carimbado de "virtuoso", explicava o futuro, o mesmo em que ninguém pensou quando o estado-social foi alimentado com a carne e os osso da galinha dos ovos de ouro. Este cenário generalizou-se por quase toda a "europa". Uns mais que outros mas toda a "europa" acabou com uma economia muitíssimo debilitada face à promessa. Excepções mais destacadas são a Dinamarca e a Noruega por terem e exportarem petróleo e gás, a Holanda por ter gás natural.


Os principais eixos de investimento foram as obras públicas e a energia eólica. As obras públicas facultariam o desenvolvimento, em particular do interior. Levado a cabo com "garantias" de se pagar a ele próprio, resultou num mais fácil acesso das empresas do litoral ao interior e de quem habitava no interior ao litoral. Prometia-se o contrário mas a ditadura da realidade levou a melhor. Face a empresas de maior arcaboiço, as empresas do interior foram sucumbindo às do litoral e as pessoas foram procurando trabalho mais junto à costa. Entretanto, não havia actividade económica da qual resultasse crescimento capaz de pagar o investimento e, de manobra em manobra, a reengenharia económica fazia desaparecer o buraco.

Com as eólicas foi pior, muito pior. Foi pior porque a energia que geram é muito mais cara e porque se cobriu o país num insuportável tapete de ventoinhas. Prometia-se a independência energética como se tal fosse, em si, algo de bom. Os combustíveis fosseis pagam-se em euros e as ventoinhas também, só que as segundas consomem muito mais dinheiro que os combustíveis fósseis e isso reflecte-se nos custos de produção das empresas. De buraco em buraco "descobre-se" que as eólicas tendem a produzir pouco por haver falta de vento e, quando o há, tendem a produzir quando não faz falta. Face ao percalço é necessário assegurar uma forma alternativa de produzir electricidade, entram as térmicas queimando gás natural. Porque as térmicas trabalham na insuficiência das eólicas, não podem tirar bom partido do combustível que gastam e passam uma boa parte do tempo paradas tornando substancialmente mais cara a sua actividade porque há que rentabilizar o investimento (máquina parada é só prejuízo). De noite, quando as eólicas tendem a gerar mais não há consumo (procura), as térmicas estão paradas e as distribuidoras de energia são contractualmente obrigadas (batuta estatal) a comprar toda a energia que as eólicas fornecem. Não tendo que fazer com essa energia, implementam a construção de mini-hídricas para bombear água para montante gerando posteriormente para jusante. Este processo, além de ter uma perca de cerca de 50% (duplicando o preço da energia armazenada) tem que ter encavalitado o investimento da mini-hídrica.

O que economicamente resulta de todo o virtuosismo em política energética é inicialmente escamoteado da factura apresentada aao consumidor. Não convém levantar a lebre até que todo o projecto esteja implementado. Estando quase todo implementado, rebenta a bronca: a factura sobre estratoesfericamente e, descobre-se, há um gigantesco défice em crédito bancário para ser pago.

Ao virtuosismo descrito, acrescente-se a Parque Escolar que demoliu escolas para as voltar a erguer em moldes de fazer disparar a despesa, os negócios esquisitos em que o fundo de pensões da CGD compra o edifício sede da instituição bancária, a venda ao estado do mais diverso tipo de edifícios estatais, o aeroporto de Beja, o TGV (felizmente parcialmente travado), o novo aeroporto para Lisboa (em cujos projectos se gastou rios de dinheiro em rocambolescas piruetas) e, finalmente, devidamente travado, a "renegociação" das SCUTS, projecto que já sendo ruinoso acabou triplamente ruinoso, a manobra de propaganda da nacionalização do BPN para fazer parecer que não estava tudo à beira do estoiro, ...

Foi o investimento na potenciação da ruína. Quanto mais se gastou mais se investiu em prejuízo e mais se vai ter que gastar para manter as infraestruturas que dão prejuízo.

Adicionemos agora as o efeito que todo o anterior "virtuosismo" tem relativamente ao emprego e suas consequências sobre, simultâneamente, a despesa e a falta de receita.

E o estado social? Quem o alimenta? Há um tique-taque ....

1 comentário:

José Gonsalo disse...

Excelente texto! Há por aí quem contrarie o que nele é dito?