Nicolau Saião, Dos costumes dos girinos
Eu, que me tenho lembrado de tanta coisa, nunca me
lembrei de escrever sobre as denominadas “secretas”. Por medo, por receio, por
timidez, porque sou português e, ainda por cima, alentejano – o que me faz ser
um quase inerme ainda que não inerte? Não o sei.
Só posso,
digamos, conjecturar.
Talvez seja
por doçura de maneiras. Por esta ternura, muito minha, que tenho pelas coisas
do Estado, que é como se sabe geralmente – e eu sei muito particularmente – uma
entidade que nos merece o maior respeito e até mesmo um pouco de carinho. E de
admiração.
Dir-me-á,
talvez, do lado algum leitor mais arguto, ou malandreco:” O amigo deve estar a
brincar…! É aquele seu senso de humor, entre o amargo, o doce, o cruel e o
amigável, não é?”. E olhará para mim com um timbre algo jocoso posto que
fraternal.
É que tenho
pelo Estado luso, mormente o que se abrilhanta entre nós com os operadores que
o enformam, uma enorme admiração. E não só pela sua intrínseca…sobriedade.
De facto,
enquanto Estados estrangeiros andam enfronhados em casos tenebrosos (ministros,
primeiros-ministros e até presidentes protagonistas de putanhices, fraudes e
patifarias de alto coturno), por cá humildemente andam metidos apenas em
coisinhas como “sugerirem” ou “destaparem” que uma namora com um da esquerdalha
mais agitada. Ou que outro apanhava detalhes de que um truta tinha amigos,
meio-amigos ou inimigos – coisa que toda a gente sabe e é pois um “segredo de
Polichinelo”.
Onde, em
certos países, há assassinatos e matanças bravas para se taparem segredos e
conluios, por cá há alfenins que guardavam mails e sms como se fôssem entradas
diarísticas…
Ontem
chegou-me um mail, do nosso Nuno Rebocho, que confirma à puridade, creio, esta
característica patriarcal, caseira – em jeito de coisinhas de opereta - de
gente da nossa terra. E que vos dou a seguir.
… E espero que
nenhum leitor, lembrando-se de repente, numa súbita iluminação, solte do lado a
frase de Brassens, que reza: “Olha meu filho, lembra-te disto: (e agora, para
manter o sabor, vai no original) les plus grands cons sont les petits cons!”.
A ser verdade, isso é que me deixaria a
tremer…
Tenho pensado no charivari que vai por aí
no caso das Secretas. Mas ninguém se preocupou quando, há alguns anos, quando
foram "formados" os primeiros secretas, tiveram logo como teste a
Comunicação Social.
Caíram na Rua Augusta, no "Século"
- era o primeiro e elucidativo ensaio.
Deram nas vistas e foram fotografados. Eu
era então subchefe de redacção e fui avisado de movimentos muito suspeitos;
sujeitos que estavam sentados nas esquinas, a controlar as portas de entrada,
anotando entradas e saídas. Mandei-os fotografar, o que foi feito. E depois,
interpelá-los.
Foi uma bronca das antigas. Telefonaram a
correr ao director (Jaime Nogueira Pinto), pedindo desculpas de tudo isto e
explicaram que era uma espécie de exame final das "secretas".
O caso foi abafado, e não devia ter sido: como teste era perigoso... O
Jaime deve lembrar-se disto. Se como teste se "lembraram" da CS, como
ficar espantado com o "Público" e o "Expresso" agora (Só
estes?).
2 comentários:
Atenção, não esquecer que todas estas macacadas das "secretas"(?) aconteceram no tempo do menino de oiro, do animal feroz da política agora a viver dos rendimentos da mãe na cidade luz. E para quando chamarem o gajo a capítulo por outras ipsis verbis?
Garâncio Lopes
O estado a que as secretas chegaram são a exacta aferição (pleonasmo) da idoneidade a que o estado chegou.
Socialismo com secretas que não sejam do partido, não existe, mas uma das formas de lá chegar é transformar as secretas em testa de ferro da sekreta.
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