O que está
acontecendo na Síria é, de fato, muito simples: um governante e seu grupo se recusam a
deixar o poder, e para isso massacram seu próprio povo, o verdadeiro soberano
do país. Nada pode ser mais ilegítimo, infame e obsceno. Por que, então, aviões
ocidentais simplesmente não bombardeiam os palácios de Assad e acabam com a
obscenidade, a infâmia e a ilegitimidade? Porque a guerra civil não cessaria,
até que alguém emergisse com força bastante para impor-se como novo governante.
Nesse momento, se o Ocidente quisesse influir na escolha (e certamente teria de
fazê-lo, tendo em vista a experiência do Afeganistão, de cuja guerra civil
emergiu o Taleban, sunita como a maioria síria), o único modo seria se envolver
na luta. E isto, depois do próprio Afeganistão e do Iraque, não acontecerá. Há,
porém, uma alternativa: o apoio em armas, informações e logística para os
rebeldes, a fim de que estes destruam Assad e tomem ao mesmo tempo o poder,
encerrando a guerra. Acontece que os rebeldes são muitos. Muitos grupos
diferentes unidos pela causa comum contra o ditador genocida. O risco, então, é
uma repetição agravada da Líbia, que após a queda de Kadafi se encontra, na prática,
dividida entre senhores da guerra. Mais uma vez, volta-se ao fantasma do
prolongamento da guerra civil, com resultados imprevisíveis, a não ser que
haja uma intervenção ocidental... O que acontece na Síria não é uma mera
guerra civil, mas uma tragédia na acepção da palavra, em que o herói luta
porque tem de lutar, enquanto o próprio fato de lutar é a realização de sua destruição, não a chance, como acredita, de se livrar de seus
infortúnios. O herói, aqui, naturalmente é o próprio povo sírio. A frase de
Brecht (“Triste do país que precisa de heróis”) poucas vezes foi tão real e tão
amarga.
4 comentários:
Excelente texto! Parabéns!
http://fiel-inimigo.blogspot.pt/2013/03/a-simplicidade-da-situacao-siria.html
(chegado aqui pelo FI)
O Luiz pede para o ocidente contribuir para o fim de Assad. Penso que o Luiz não tem em atenção que o ocidente contribuiu para o fim de de Mubarak e Gadafi , com os resultados que se conhecem.
Não eh previsivel que saia algo de bom da guerra civil siria.
O mal tamben combate o mal, foi sempre assim. E na Siria estah em curso mais uma luta do mal contra o mal. Soh isso.
É certo que Assad eh uma ponta de lança dos iranianos. Assim mesmo, com Assad as mulheres andam de cabelos descobertos e os cristãos não são perseguidos. Como será com os sunitas que estão para apear Assad?
Lembro ter escrito isto;
http://fiel-inimigo.blogspot.pt/2012/02/siria-entre-escuridao-e-as-trevas.html
Na questão Síria, o Ocidente deve agir tendo em conta apenas os seus interesses. E os seus interesses, na minha opinião, passam por salvaguardar um melhor futuro para os seus cidadãos. E isso passa, neste conflito, por garantir que as partes ( sunitas e xiitas), se degladiem o máximo de tempo possível, esgotando-se e enfraquecendo-se mutuamente. Ajudar os sunitas? Claro, desde que os xiitas estejam prestes a vencer. Ajudar os xiitas? Obviamente, desde que os sunitas estejam na mó de cimaa.
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